Um dia de cão



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CAPÍTULO I ₪


Logo nos primeiros minutos de expediente, Gabriele White se preparou para um dia difícil no escritório. R.J. chegara agitado e inquieto, muito diferente do costumeiro comportamento calmo e afável.
A ansiedade do chefe a deixara preocupada. R.J. nunca se irritava com os pequenos incidentes da Lupin e Diggory. Ao contrario: demonstrava extrema segurança diante das situações mais delicadas e as resolvia com habilidade e sangue-frio. Segundo ele próprio confessava, esse temperamento era um dos grandes responsáveis por seu sucesso como advogado.
Naquela manhã, estava irreconhecível, Gabby pensou enquanto preparava o café. Pela primeira vez em dois anos, via R.J. à beira do descontrole. Cogitou em oferecer-lhe, mas logo desistiu da idéia. O chefe sempre mantivera com ela um relacionamento estritamente profissional. Jamais revelara nem um detalhe sequer de sua vida particular. E Gabriele não achou conveniente mudar justo quando ele estava tão nervoso.
Só algo muito sério o deixaria tão alterado. O que seria? De certo, nada tinha a ver com os problemas dos clientes. Criminalista hábil e famoso, um dos mais conceituados de Chicago, nenhum caso o apavorava, por mais intricado. Refletindo sobre isso, Gabriele entrou na sala do chefe com a bandeja de café. Para sua surpresa, R.J. recusou a bebida com um gesto impaciente.

— Não quero café srta. White! Onde estão minhas anotações? Deixei-as aqui, em cima desta pasta preta! Já disse mil vezes que detesto quando arruma minha mesa antes de eu chegar!

— Acontece que não coloquei nada em ordem ainda. Estava trabalhando nas fichas dos clientes e só depois de lhe servir o café, viria arrumar suas coisas. Não é assim que faço todos os dias?

— Eu preciso das anotações que fiz sobre aqueles envelopes, srta. White! — ele repetiu, como se não tivesse ouvido as explicações, — E também dos cartões de apresentação que me deram ontem.

Quando J.D. a tratava por "senhorita", era sinal de que a situação não estava das melhores. Em geral, ele pretendia lhe pedir para trabalhar até mais tarde. Ou, pior que isso, algum serviço não o contentara. De qualquer maneira, tratamento formal significava algumas horas extras de expediente. E bem naquele dia, quando ela planejara sair um pouco mais cedo para ir ao cinema...

— Deixe que eu procuro — propôs, resignada. — Quem sabe consigo achar.

— Ah, por favor, não! Você vai demorar um século com essa mania de perfeição. Querer tudo arrumadinho vinte e quatro horas por dia é pura perda de tempo, Gabriele.

Sem contradizê-lo, ela esperou as ordens. R.J. cada vez mais agitado folgou o nó da gravata. Gotículas de suor brotavam-lhe das têmporas castanhas, umedecendo-lhe a raiz dos cabelos claros.

— E o café, não vai tomá-lo? — ela perguntou, vendo-o perde-se cada vez mais numa bagunça de papéis e cartões.

— Ah, é! Quero sim.

Sorriu para ela, num mudo pedido de desculpas pela explosão gratuita. Logo em seguida, o sorriso se transformou numa careta de desagrado.

— Que café horrível, Gabby! — exclamou. — Está gelado!

Ela soltou um suspiro, sem esconder a impaciência. Quase o acusou de ser responsável pela temperatura do café e só se controlou com grande esforço.

— Eu vou buscar outro, depois eu arrumo essa confusão para você - anunciou impassível, pegando a bandeja.

— Pois prefiro que termine aquelas fichas de ontem. Aliás, já deviam estar prontas e arquivadas.

— Eu estava terminando de datilografá-las quando parei para lhe servir o café.

— Pois devia tê-las terminado antes! Onde está seu senso de prioridade, Gabriele!

Meio atônita, ela engoliu uma resposta ácida. Numa situação normal, não aturaria tantos desaforos calada. Só relevava porque R.J. sempre fora cortês, principalmente com ela. Mesmo quando não estava satisfeito, jamais usara aquele tom de voz para repreendê-la.

Qual seria a razão de tamanho mau humor?

Com habitual autocontrole, Gaby foi até sua própria sala para buscar algumas das fichas que já havia aprontado. Voltou e estendeu-as na direção de R.J. e sentiu o sangue ferver nas veias diante da expressão surpresa no rosto dele.

— O que é isso? — ele indagou, franzindo a testa.

— As fichas prontas, ora!

— Mas aqui só têm algumas. Eu preciso de todas.

Gabriele saiu de novo em silêncio. Quando retornou, quinze minutos depois, trazia o restante das fichas, um café bem quente e as anotações ininteligíveis do chefe. Colocou tudo sobre a mesa e ergueu o queixo, num desafio.

— Espero que agora esteja satisfeito, senhor!

R.J. soltou um suspiro de fastio.

— Assim não dá, Gabby! Se eu falo com você num tom mais alto, você fica toda melindrada. Aqui não é um internato para adolescentes, moça!

— Já deu para perceber, senhor. Com licença!

Saiu pisando duro e foi para sua escrivaninha, onde datilografou varias petições. Não havia maneira melhor para descarregar a raiva. Estava tão entretida no trabalho que só ouviu o telefone quando o aparelho já tocara duas vezes. Ia tirar o fone do gancho, mas a campanhia emudeceu. Dando de ombros, continuou as petições e, ao terminá-las, levou-as para a sala do chefe, junto com outro café quente e o bloco de anotações.

Encontrou R.J. ao telefone falando um tanto aflito com alguém que ela não conseguiu identificar. Quando desligou, pediu um processo do arquivo, indicando-lhe a página e o parágrafo. Embora não estivesse mais tão irascível quanto no inicio da manhã, não se refizera ainda do súbito ataque de nervosismo.

Embora não o demonstrasse, a mudança brusca no comportamento de R.J. preocupava Gabby. Em mais de dois anos de convivência, era a primeira vez que ele a tratava daquela forma. Um pouco magoada, foi procurar o processo, trouxe-os e em seguida anotou algumas cartas ditadas por R.J. Agradeceu a deus por não ter perdido nenhuma aula de taquigrafia no curso de secretariado, pois a rapidez do ditado era estonteante.

Foi um alivio poder retornar pouco depois a sua saleta para datilografar as cartas. Mal iniciara o trabalho e o telefone tocou novamente. Era uma ligação internacional para o Sr. Lupin. Gabby esperou a telefonista completá-la e, em seguida, transferiu-a para R.J. Só podia ser da Itália onde Marina, irmã dele, morava com o marido.

Logo esqueceu o telefonema, entretida com a rotina do escritório, sempre atribulada. Para não atrapalhar o serviço, prendeu os cabelos longos e ruivos num coque e arregaçou as mangas longas do vestido de viscose verde-água. Nem sabia para que se arrumava com tanto apuro para trabalhar, suspirou, desanimada. Naquela mesa, nem parecia a mesma que se maquilava no espelho todas as manhãs. Um par de óculos de aro leve encobria-lhe metade da beleza dos olhos mel, grandes e profundos. Os cabelos, sedosos e levemente encaracolados, perdiam a vida no costumeiro coque preso por dois ohashi. E ninguém lhe notaria o corpo esguio e bem-feito, pois ela passava a maior parte do tempo sentada na frente da maquina elétrica ou do computador. Uma vida certamente muito diferente da das outras moças
de vinte e três anos.

Talvez por isso nem mesmo R.J. a tratasse como mulher. Naqueles dois anos de convivência diária, sempre fora gentil e atencioso com ela, mas sem abandonar um ar de irmão mais velho. Algumas vezes, Gabby o flagrava numa admiração nada fraternal, observando-a enquanto trabalhava. No entanto, eram momentos tão rápidos que sempre lhe ficava a impressão de estar imaginando coisas.

Quase nada se conhecia sobre a vida particular de Remo J. Lupin. Entre os poucos comentários que ouvira dos outros funcionários, Gabby descobrira que ele fizera faculdade de direito à noite, trabalhando durante o dia para sustentar os estudos. E graças a uma inteligência privilegiada, conquistara uma boa condição social em pouco tempo, destacando-se entre os colegas pelo gosto por desafios. Quanto mais complicado o caso, mais prazer R.J. tinha em defendê-lo.

Elegante e charmoso, de certo fazia sucesso também com as mulheres, mas sobre isso não conversava com ninguém. Não tinha amigos nem família, exceto Marina, a irmã casada. Aparentemente, não possuía compromisso sério, pois sempre que precisava de alguma informação mais feminina, recorria a Gabby. As pessoas que o procuravam no escritório só o faziam por motivos profissionais. E, talvez por morar sozinho, ele costumava permanecer no escritório até mais tarde.
Todos no prédio ficavam curiosos a respeito da vida intima de R.J., inclusive o sócio dele, Amos Diggory. Gabby não era exceção. Arredio e discreto, ele não fazia confidencias a ninguém. Nem mesmo a idade revelava. Apenas pelas linhas profundas do rosto moreno e alguns fios de cabelos brancos nas têmporas, calculavam que estava por volta dos quarenta anos.
Só confiava em Gabby quando se tratava de fazer contatos ou fazer depoimentos. Ela já o acompanhava a encontros secretos com assassinos confessos, em locais e horários nada convencionais. R.J. não media sacrifícios para obter informações importantes para seus processos. Isso o transformava numa espécie de detetive, auxiliando a solucionar os problemas intricados da justiça criminal.
E Gabriele adorava a vida movimentada que a veia de investigador do patrão lhe proporcionava. Saíra da pequena cidade de Lytle, Texas, em busca de uma carreira mais emocionante do que ajudar os pais na administração da fazenda. Viera para Chicago aos vinte anos, depois de lutar muito para convencer a família de sua necessidade de independência. Trabalhara quase um ano para um primo distante, enquanto fazia um curso de secretaria executiva. Não era o emprego de seus sonhos e o salário era muito abaixo de suas expectativas, mas, pelo menos, dava para custear os estudos.

Pouco depois de Gabby terminar o curso, seu primo falecera de um mal súbito. Ela se candidatará a empregos em diversas agências da cidade, mas fora por um anúncio de jornal que entrara em contanto com R.J. Para sua enorme surpresa, levara apenas cinco minutos para conseguir a vaga.
Desde do primeiro contato, existira entre ambos uma simpatia recíproca que, com o tempo, transformara-se em respeito e admiração. Graças a R.J., Gaby acrescentara ao seu currículo de secretaria conhecimentos preciosos sobre advocacia. Agora, dois anos depois seu trabalho ia muito além de datilografar cartas e tirar cópias. Manejava com habilidade qualquer tipo de computador de terceira geração, administrava a parte financeira do escritório e, ainda, acompanhava o chefe em viagens de negócios. Essa ultima atribuição gerava uma série de comentários maldosos por parte das outras secretarias do prédio. Gabriele não se incomodava com os rumores entre ela e R.J. Afinal, ninguém acreditaria que estivesse imune aos encantos do patrão.

Sacudiu a cabeça com um sorriso irônico quando acabou de registrar as cartas no computador. Se alguma das moças visse R.J. naquela manhã, não cobiçaria o emprego dela... Pensava nisso quando ele abriu a porta da sala de repente e saiu apressado, seguido pelo sócio.

— Pelo amor de Deus, R.J., seja razoável! — Amos Diggory dizia, nervoso. — Isso é um caso para a policia resolver. Você só vai se meter em complicações.

Sem lhe dar ouvidos, R.J. parou diante da escrivaninha de Gabby com uma expressão sombria no rosto moreno. Os cabelos cheios e um pouco ondulados estavam em ligeiro desalinho. E nos olhos negros sombreados por cílios espessos, havia uma desesperada determinação.

— Seu passaporte está em dia, Gabby?

— Está sim, por...

— Então vá para casa e arrume a mala. Espero você aqui dentro de uma hora.

— Pode me dizer aonde vamos?

— No caminho eu lhe explico tudo, está bem? Agora não tenho tempo. Leve bastante jeans, camisetas largas, sapatos confortáveis... E não se esqueça daquela licença de radioamador.

Gabriele procurava, em vão, entender aqueles pedidos contraditórios. Roupas de turista não combinava com uma licença de radioamador!

— R.J., isso é uma loucura! — Amos objetou, desesperado. — Não tome decisões de cabeça quente desse jeito!

— Cuide dos meus casos até eu voltar, Amos — R.J. pediu, ignorando os apelos do sócio. — Peça ajuda a Peter Pettigrew se aparecer algum problema. Eu não sei direito quando vou voltar.

— R.J., escute, por favor. Você pode complicar muito as coisas com essa atitude impensada.

— Gabriele, antes de sair, ligue para a agencia de empregos e peça uma secretária temporária para Amos — R.J. mandou já caminhando para a porta. — Vou para casa pegar algumas coisas e volto logo. Por favor, não se atrase, está bem!

Saiu apressado antes que o sócio protestasse mais uma vez. Sozinho com Gabby, Amos passou as mãos pelos cabelos morenos enquanto andava pela sala, inquieto. Depois, parou diante da ampla janela e observou a paisagem com ar ausente.

— Afinal, Amos, o que está acontecendo? — Gabby perguntou, preocupada. — Já fiz muitas viagens com R.J., mas nenhuma foi assim, decidida de uma hora para outra.

— Não é uma viagem de negócios Gabby. Marina, a irmã de R.J., é casada com um armador italiano riquíssimo. E infelizmente, o seqüestro de pessoas importantes está virando moda...

— Seqüestraram o cunhado de R.J.?

— Pior ainda, querida: apanharam Marina. Parece que ela estava em Roma fazendo compras quando aconteceu

— Oh, Meu Deus! Não admira que R.J. esteja tão alterado. Ele adora a irmã!

— É natural: a família Lupin se resume nos dois. Os seqüestradores querem cem milhões de dólares como resgate e Roberto, cunhado de R.J., não possui essa quantia em dinheiro vivo. Está desesperado, coitado! Se não pagar dentro de três dias ou avisar a policia, Marina morre.

— E R.J. está indo para a Itália para salvá-la.

— Acertou. Só resta saber como!

— De certo, levando o dinheiro do resgate. Mas por que eu vou também? Para preencher o cheque para ele?

— E eu sei?! Sou apenas o sócio, lembra? Comigo, ele não solta uma palavra sequer, você sabe disso.

Gabby levantou-se e suspirou, irritada.

— Qualquer dia, eu arranjo um emprego decente! — desabafou. — É claro que compreendo o drama pessoal de R.J., mas ele não permite que ninguém o ajude! E para falar a verdade, ando cansada de correr atrás do chefe, me metendo nas confusões mais loucas. Um dia é um assassino escondido num covil qualquer que temos de encontrar; no outro, os membros da Máfia... — Apesar do tom ressentido, Gabby tinha um brilho divertido no olhar. Sabia que não enganava ninguém: ela adorava aquela vida.

— Marina é irmã dele e, como você mesma disse, R.J. a adora. É capaz de qualquer maluquice para salvá-la, desde que não coloque a vida dela em perigo. E você conhece a teimosia de R.J. tão bem quanto eu. Quando enfia uma coisa na cabeça, nem Deus consegue tirar!

— Mas o que ele vai poder fazer, a não ser pagar o resgate? Se fosse especialista em Direito internacional, ainda haveria chance de arranjar as coisas com o Consulado.

— Ele não quer nenhuma autoridade envolvida nisso, querida. E acho melhor se preparar para uma operação meio... Audaciosa.

— Audaciosa como? - Gabby franziu a testa, intrigada.

— Não sei, mas pelo gênio de R.J., não posso imaginá-lo resolvendo qualquer tipo de problema da maneira mais simples.
Gabby tirou a bolsa da gaveta da escrivaninha com um suspiro resignado.

— Tem razão, Amos. Os métodos de R.J. não são nada ortodoxos. No ultimo caso, tivemos de ir para Miami encontrar um informante num deposito abandonado às duas horas da manhã! Quase levamos um tiro por engano, sabia? Só lhe peço um favor, Amos: vou ligar de casa para minha mãe e dizer que vou com meu chefe para a Itália... em férias. Se eu não conseguir encontrá-la e ela ligar para cá, dê o recado do jeitinho que eu falei, está bem?

— Tudo bem, querida, sua mãe vai ficar contente. Mas, para ser franco, não sei como uma moça ajuizada como você consegue trabalhar para um maluco como R.J. Ele ainda vai metê-la numa bela encrenca! Se eu fosse você levaria a serio essa idéia de pedir demissão. - Ela riu.

— Ora, Amos, foi só maneira de dizer. Essa aparência comportada não passa de disfarce, no fundo sou mais maluca do que ele. Você acha que eu conseguiria trabalhar para um advogado normal? Deus me livre passar o dia inteiro sentada na frente de uma escrivaninha, datilografando petições e cartas! Os métodos de R.J. podem não ser convencionais, mas são muito excitantes! - Amos deu de ombros.

— Então, chame James Bond e peça a ele algumas aulas sobre explosivos e ogivas nucleares. Aposto que vai precisar muito se quiser continuar nessa vida. Agora vá querida e não se preocupe. Eu mesmo ligo para a agencia e peço uma substituta para você. Tomara que não seja por muitos dias!

Gabby jogou-lhe um beijo e saiu apressada. Pela primeira vez em dois anos, sentia-se um pouco apreensiva. Algo lhe dizia que aquela viagem seria muito diferente das outras.

~*~

Oie Gente!
N tenho muito o q falar essa é minha primeira fic.

Mas:

1)Se gostou, plis, COMENTEM !!!
2)Segundo cap não sei quando sai... mais uns comentarios podem dar uma motivação, sabe?

Beijos ;*

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