O Diário de Tom Riddle



Capítulo 3 – O Diário de Tom Riddle



Ainda tenho pesadelos.

Pensei que depois que Harry vencesse Voldemort, meus pesadelos acabariam. Mas não acabaram. Ás vezes, acordo no meio da noite, encharcada de suor, meus olhos vermelhos graças às lágrimas que não posso controlar quando estou dormindo, e encontro Harry acariciando meu cabelo, me dizendo que me ama, que tudo está acabado e que estou a salvo.

Até a adaptação de JK Rowling sobre a vida de Harry chegar às estantes, poucas pessoas sabiam que eu havia aberto a Câmara Secreta e quase matado meus colegas. Tudo o que elas sabiam era que a memória de Voldemort havia controlado um aluno. Eu preferia daquele jeito. Não queria pessoas olhando para mim como se eu fosse uma esquisita.

Lucio Malfoy não poderia ter me dado o diário de Tom Riddle em momento mais oportuno. Eu era uma adolescente no início da puberdade, o que significa que minhas emoções já estavam em uma espiral. Estava começando meu primeiro ano em Hogwarts e tinha um monte de roupas para adequar ao meu corpo. Cometi o erro de ficar constantemente perguntando aos meus irmãos sobre Harry Potter, então estava sendo constantemente provocada por eles graças à minha ‘obsessão pelo Menino-Que-Sobreviveu’.

Para piorar, Harry veio. Não me entenda mal, eu estava animada que estávamos sob o mesmo teto, mas não conseguia agir naturalmente na frente dele. Eu parecia esbarrar em pelo menos uma coisa sempre que ele estava no mesmo recinto que eu. Rony, a anta, até mesmo contou a ele que eu gostava dele, quando eu certamente não gostava. E, além de saber que Harry não se importava, nunca fiquei tão envergonhada quando Mamãe contou a ele que meu material teria que ser de segunda mão.

“Ah, você vai entrar para Hogwarts este ano?”, Harry me perguntou. Essas foram as primeiras palavras que o Harry Potter me dirigiu.

“Vai, Gina!”, ralhei comigo mesma, enquanto seus olhos cor de esmeralda encontravam os meus, “Faça algo! Diga algo espirituoso!”, eu estava para lhe dizer que ‘sim, mas duvido que eu vá encarar um trasgo montanhês no meu primeiro ano’, mas não consegui. Quando dei por mim, estava balançando a cabeça e enfiei meu cotovelo na manteigueira.

Você entende, então, porque um diário seria a companhia perfeita para uma garota da minha idade. Era um escoadouro, um jeito de organizar meus pensamentos, um local onde depositar minha paixão crescente. Pouco sabia eu que ao expor minha alma para as páginas do livro, que ele depositaria a sua alma em mim. Não acho que nem mesmo Lúcio sabia o poder daquele diário.

Quando o encontrei misturado entre meus livros, não estranhei. Achei que fosse meu, que fora comprado pelos meus pais como um presente, e nada mais. Obviamente, com o passar dos meses, percebi que não era o caso, mas naquele momento em particular, não pensei demais sobre isso. Até me lembro de minha primeira anotação.

“Querido diário,
Acabamos de voltar do Beco Diagonal, e ele ainda está aqui. Harry Potter está na minha casa. Não consigo pensar direito quando estou perto dele. Não consigo nem falar com ele nas proximidades. Tenho tanto medo de dizer algo estúpido. Fred e Jorge sempre dizem aos seus amigos que bruxinha inteligente sou, mas se nem mesmo consigo falar na frente do Harry, como posso mostrar quão inteligente sou?
Consegui falar pela primeira vez na frente dele hoje. O novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas deu a ele todos os livros de graça, só porque isso faria uma boa matéria de primeira capa. Posso dizer que Harry estava envergonhado e não queria os livros. Ele os jogou no meu caldeirão... meu caldeirão... e um garoto pálido começou a provocá-lo. Não sei o que deu em mim, mas defendi Harry. O garoto, então, teve a coragem de me chamar de namorada dele e me calei. Eu sabia que estava corada.
Mamãe disse que eu gosto dele, mas eu não sei. Nunca me senti assim antes. Se isso é gostar de alguém, eu quero parar. Machuca. Eu quero que ele me note, mas tudo o que faço é derrubar suco de abóbora em mim mesma.
Não sei o que fazer.
Gina.


Com isso, fechei o livro e olhou para o céu pela minha janela. O sol estava se pondo, o laranja, rosa e vermelho faziam uma mistura tão maravilhosa de cores. Senti-me tão bem depois de escrever e olhando o horizonte que abri o livro para adicionar um pouco mais.

E não havia nada ali.

Folheei as páginas, pensando que talvez eu me enganara sobre onde eu colocara a anotação, mas, aparentemente, ela tinha sumido. Franzindo o cenho, e esquecendo pela primeira vez o que Harry estava fazendo, revirei o diário e encontrei as iniciais ‘T. M. Riddle’. Talvez não fosse um diário novo, no fim das contas.

Reabri na página um, mergulhei minha pena no tinteiro, e a trouxe para perto do papel. Hesitei tempo o suficiente para que um pingo de tinta caísse da ponta da pena para a superfície do papel. Não queria perder meu tempo com uma nova anotação se ela ia simplesmente desaparecer como a outra. Enquanto eu observava, o pingo de tinta desapareceu.

Curiosa, desenhei uma linha reta cruzando a página e esperei. A linha, assim como o ponto, desapareceu no papel. Desenhei um ‘X’, e ele sumiu. Desenhei um coração... e ele sumiu. Com um meio sorriso, rabisquei por todo o papel e observei minha confusão de tinta desaparecer, como se eu nem mesmo tivesse tocado na página.

Dessa vez, no entanto, algo estava aparecendo novamente na página. Fitando as palavras se formando, eu li: ‘Sinto muito, pequenina, se você não irá se comunicar comigo propriamente, receio que terei de pedir que pare com isso’.

Automaticamente, mergulhei a pena e escrevi de volta para meu correspondente misterioso. ‘Desculpe. Eu não sabia...’ Não sabia o quê? Que você era um diário falante? Como eu poderia saber disso?

Antes que eu pudesse continuar, mais palavras apareceram no papel. ‘Desculpas aceitas, Gina’.

Ele sabia meu nome e percebi que ele deveria ter visto quando escrevia sobre Harry. Levemente embaraçada que meus segredos estavam expostos, escrevi de volta ‘Ah... Você leu o que eu escrevi mais cedo?’.

‘Sou eu quem devo me desculpa agora. Sendo o que sou, não tenho muita escolha a não ser ler o que escreveu. É o meu diário, afinal das contas’

‘Quem é você, exatamente?’

‘Meu nome é Tom Riddle. Encantado em conhecê-la’

‘Gina Weasley, e é legal conhecê-lo também’

‘Não pude evitar notar que você parecia preocupada. Quer falar sobre isso?’

E isso foi tudo o que foi preciso para que eu me sentisse ligada a Tom Riddle. Ele era sempre compreensivo e sempre bom com conselhos. Encorajou-me a ser mais eu mesma perto de Harry, mas também disse que eu só deveria fazê-lo quando estivesse pronta. Aconselhou-me em como me dar com meus irmãos. Assegurou-me que eu me sairia bem no meu primeiro ano.

Tom era uma charmosa identidade. Era exatamente o que alguém como eu precisava. Ninguém naquele momento parecia me entender como ele. Era como ter um amigo que podia ser carregado no bolso. Ele sabia exatamente o que dizer. Claro, olhando para trás, vejo quais eram as intenções dele... ele queria invadir minha alma... me usar como combustível... mas tudo o que vi, naquela época, foi um amigo.

Ele me permitiu tagarelar sem parar sobre Harry. Eu não tinha problema algum para fazer isso, como vocês devem ter notado. Harry era a única coisa em minha mente e eu não estranhava que ele desejasse tanto ouvir meus problemas. Ele parecia extremamente interessado quando mencionei sua vitória sobre um certo Mago das Trevas.

‘...ele até mesmo derrotou Você-Sabe-Quem duas vezes’

‘Desculpe, Gina. Quem?’

Hesitei, porque dizer o nome de Voldemort era um taboo, mas soletrá-lo? Mordi meu lábio inferior, e esperei pelo melhor. ‘Lord Voldemort’, estremeci, enquanto escrevia o nome.

‘Nunca ouvi falar dele. Quem é? Como Harry o defendeu?’

Falei, detalhadamente, tudo o que eu sabia sobre o encontro deles. Quão inocente eu era? Quão inconsciente? Fez tantas perguntas, mesmo eu tendo dito que não sabia de mais nada. Pensei que ele estava curioso. Pensei que se importasse.

No instante que o colégio começara, já começava a sentir os efeitos de Riddle. Disse a mamãe que não me sentia bem, quando ela me deu um beijo de despedida no trem, mas ela me disse que era apenas nervosismo. Estava tão preocupada que pensou que Rony e Harry já tinham embarcado e encontrado suas cabines.

A primeira dica de que algo estava errado deve ter sido no Chapéu Seletor. Quando posicionado em minha cabeça, a relíquia de Godric disse, “Outro Weasley? Vocês todos são cheios de determinação, coragem e poder. E posso ver que você não é diferente. O corpo tão pequeno e, mesmo assim, um coração tão imenso. Tem todos os requisitos para a Grifinória, mas uma tal ligação com a Sonserina, tornando isso algo bem mais difícil do que deveria ser. Não há duvida, entretanto, de onde colocá-la. Você está na GRIFINÓRIA!”

Eu sinceramente lembro muito pouco do meu primeiro ano em Hogwarts, e eu não me refiro somente aos momentos em que minha memória parecia estar simplesmente vazia e sob o controle de Tom. Tudo que eu fazia e tudo o que lembro é nebuloso. Nem mesmo sei o que fazia na casa de Hagrid aquela tarde.

Encontrei-me fitando uma abóbora gigantesca. Não consegui nem lembrar de como cheguei lá. Ouvia os galos cacarejando em um cercado próximo, e senti uma pintada de familiaridade com eles, como se eu tivesse alguma obrigação para com elas, mas não lembrava qual ela deveria ser. Meus olhos encontraram a cabana próxima a plantação de abóboras. Fumaça saía de sua chaminé. Rony me contou sobre suas visitas a cabana de Hagrid e devia ser isso. Talvez... Talvez Harry estivesse lá.

“E você deve ser a Weasley caçula!”, ouvi uma voz áspera às minhas costas.

Virei-me na direção da voz e vi o gigantesco homem. Concordei e sorri calorosamente em direção ao guarda-caça. Agarrei uma mecha do meu cabelo e o mostrei a ele. “O que exatamente lhe fez pensar isso, senhor Hagrid?”, com um brilho divertido nos olhos.

Hagrid riu. “Rony me disse que você era uma bruxa muito inteligente. Estou contente em ver que não é mentira”, ele disse, “E não me chame de ‘senhor’. Não responderei por nada que não seja Hagrid”, ele deu um tapinha na minha cabeça, “O que faz aqui, Gina?”

Como não tinha vontade de dizer que não sabia, respondi, “Só dando uma olhada por aí. Tinha esperanças de encontrar meu irmão, também. Ele disse que me apresentaria a você”

“Rony não apareceu por aqui, ainda...”, Hagrid respondeu, “Na verdade, acho que deveria mandar um recado para Harry e convidá-los para uma xícara de café”, corei à menção do nome de Harry e Hagrid observou-me, desconfiado, “Se importaria de entregar o recado a ele?”

Não!”, berrei mais alto do que queria, “Quero dizer, não vou para o castelo por enquanto”, alternei o peso de um pé para o outro, tentando evitar os olhos de Hagrid, “Hum...”, consegui dizer, olhando para as abóboras, “Elas estão ótimas, Hagrid”

Hagrid concordou. “Se você quiser entrar para uma xícara de café, te contarei alguns segredos em relação a plantação de abóboras”, e acrescentou, “Gostaria de saber como seu irmão Carlinhos está, de qualquer forma”

Segui Hagrid para dentro. Gostei imediatamente dele. Ele era um meio gigante de aparência dura, mas mesmo um tolo sob o efeito do feitiço Confundus poderia saber que ele era meigo. Carlinhos e Rony me contaram, separadamente, sobre o apego de Hagrid com um perigoso dragão no ano anterior. Eu tinha esperanças de conversar mais com Hagrid com o passar do ano, mas essa foi a última vez que nos falamos em meu primeiro ano.

Essa foi também a última memória clara que eu tinha de antes do Dia das Bruxas. Posso me lembrar de ir para as aulas e comer minhas refeições, mas sentia como se tivesse sob o efeito da maldição Imperius. Era quase como estar no piloto-automático de um avião trouxa. Eu estava fazendo o que eu deveria estar fazendo, mas não como eu, Gina Weasley, estaria fazendo. A maioria dos professores achava que eu era tímida. A maioria dos meus colegas achava que eu era estranha. E eu continuei escrevendo em meu diário, sem saber que o livro de aparência inocente era o culpado pelas minha nova personalidade e ações.

A lembrança do Dia das Bruxas é assustadora. Deparei comigo mesma no dormitório feminino sem nenhuma dica de como eu havia parado lá. Eu tinha certeza de que estava indo em direção ao banquete do Dia das Bruxas, mas nem me lembro de ter chego. Olhando para minhas mãos e roupas, vi tinta vermelha nelas. Essa não era a primeira vez que eu encontrava algo em mim que não deveria estar lá. Uma semana antes, eu havia encontrado penas e sangue.

Tremendo, alcancei o diário. ‘Tom... Não me lembro de onde estava esta noite. Era o banquete do Dia das Bruxas, e eu não acho que sequer cheguei lá...’, aguardei pela resposta de Tom, mas ele estava ausente, ‘Tom! Cadê você? Preciso de você!’, nada. Berrei para o livro, “TOM! RESPONDA!”

Arranquei minhas roupas sujas, num acesso de raiva, e taquei-as em um lugar fora de vista. Eu só podia imaginar o que acontecera comigo durante a minha transe. Quando me troquei, corri em direção ao banheiro mais próximo para tirar a tinta das minhas mãos. Violentamente, e soluçando alto, fechei-me em uma das cabines e comecei a chorar.

Sufoquei minhas lágrimas quando ouvi as gêmeas Patil entrando.

“Quem escreveria uma coisa tão horrível na parede?”, Padma perguntou, “Você acha que era sangue? Ah, Parvati, isso é simplesmente nojento”

“O que é a Câmara Secreta?”, Parvati sussurrou.

“Talvez a idéia de Fred e Jorge de diversão”

“Besteira!”, Padma exclamou, “Eles nunca diriam... aquela palavra...”

“E Madame Norra? Você realmente acha que eles chegariam a machucá-la?”

Tudo na história delas soava familiar. Segurei meu choro até ouvi-las sair. Quando a porta se fechou, não consegui conter minhas lágrimas. Nem mesmo ouvi Hermione entrar no banheiro, até ela bater na porta da cabine.

“Gina? É você?”

Solucei e abri a porta. “Oi”, isso foi tudo o que consegui dizer. Ela se preocupou e me acompanhou até o dormitório. Acho que ela até mesmo me ajudou a colocar minha camisola e deitar na cama. Não dormi muito naquela noite... De um jeito ou de outro, agarrei o diário e escrevi furiosamente tudo o que ouvira para Tom.

‘Gina’, Tom finalmente respondeu, ‘Você está fazendo exagerando. Você usaria palavras tão desagradáveis?’

‘Não’

‘E você machucaria um gato?’

‘Não’

‘Você se lembra de escrever na parede e machucar o gato?’

‘Não... Mas também não me lembro de nada’

‘Então, não é culpa sua’

‘Você sabe o que é a Câmara Secreta, Tom?’

‘Não. Gina, é tarde. Você deveria dormir’

Mas não dormi. E no dia seguinte, as lembranças tornaram-se tão nebulosas quanto anteriormente. Estava chateada a dias, e Rony simplesmente disse eu estava devastada porque adorava gatos. Se ao menos essa fosse a razão.

Apesar de Tom continuar me assegurando de que eu era inocente, não conseguia tirar da minha mente a imagem das minhas mãos sujas de tinta vermelha. Para piorar, Filch desconfiava de Harry, o que me magoava ainda mais. Estava morrendo de medo que ele, Rony e Hermione fossem expulsos. Percy até tentou me convencer de que nada ruim aconteceria a Harry.

Mas a medida que os ataques aconteciam, mais consternada eu ficava. Justino, Colin e Nick-Quase-Sem-Cabeça foram atacados e uma vez mais não consegui lembrar onde estava e o que estava fazendo naquele momento. Estava aterrorizada.

Percy encontrou-me andando a esmo no salão comunal da Grifinória uma noite. “Gina”, ele disse, baixinho, “Você está bem?”, quando assenti, ele disse, “Você está tão pálida. Está dormindo bem?”

“Não gosto de dormir”, engoli em seco, “Se durmo, tenho pesadelos”

“O que está acontecendo com você, Gina?”, Percy perguntou, “É tão extrovertida em casa. Falei a mamãe que você daria prejuízos a Fred e Jorge esse ano, mas você não tem agido como você mesma”

“Não sei o que está acontecendo comigo”, respondi. Não me lembro de ter dito boa noite para Percy, mas apenas indo em direção ao me dormitório. Automaticamente, peguei o diário.

‘Está aí, Tom?’

‘Oi, Gina. Como está?’

‘Não sei’

‘O que quer dizer?’

‘Estou enlouquecendo, Tom. Não consigo pensar direito. Não consigo dormir. Não sou mais eu mesma’

‘Sim, sim, minha criança. Já falamos sobre isso antes. Algum avanço entre você e Harry?’

‘Não estou falando sobre Harry!’, fechei o livro com força. Como Tom podia pensar numa coisa daquelas enquanto existem pessoas deitadas petrificadas na cama da Ala Hospitalar? Como ele podia fingir que não tinha nada acontecendo? Como ele podia ignorar meu pedido desesperado por ajuda? Eu não conseguia me lembrar de onde estava quando os ataques ocorreram. Bufando, abri o diário e escrevi, ‘Acho que sou eu quem está atacando todo mundo’.

‘Gina, você não deve se culpar. Por que não me conta mais sobre sua família? Prometeu me contar com que Carlinhos trabalha e até hoje não me disse nada’

‘Por que você está tentando me impedir de pensar sobre isso?’, quase berrei para o diário. Como ele podia ignorar minha súplica...? E um pensamento me ocorreu. Bem do fundo de minha mente, de algum lugar onde a verdadeira Gina Weasley estava escondida, veio um pensamento poderoso. Ele não estava ignorando; ele estava me distraindo. O que quer que fosse que estivesse acontecendo, qualquer coisa estranha que estivesse acontecendo ao meu mundinho de onze anos estava ligada ao diário... a Tom Riddle... Eu tinha que me livrar disso.

E me livrei. Juntei toda a coragem que consegui encontrar e joguei-o dentro do banheiro feminino, o mesmo que Murta-Que-Geme assombra.

Lentamente, comecei a me sentir normal. Percy comentou que eu me parecia cada vez mais e mais comigo mesma e mencionou que não precisaria mais escrever para papai e mamãe. Apesar das nuvens do inverno terem bloqueado o sol, nunca vi um céu tão maravilhoso. Estava me sentindo ótima e nem mesmo nuvens de tempestade arruinariam meu humor.

Até mesmo juntei coragem o suficiente para enviar um cartão (cantante) para Harry, de Dia dos Namorados. Sei que o poema era medonho, mas Mamãe sempre disse que garotas fazem coisas estranhas quando gostam de garotos. Eu só não esperava estar presente quando o horrível anão o entregasse. A criatura agarrou Harry e cantou meu poema na frente de todo mundo... inclusive eu... e Draco dilacerou meu coração quando disse que Harry não tinha gostado do cartão. Cobri meu rosto e sai correndo.

Não me arrependo de ter enviado o cartão, entretanto. Se não o tivesse feito, Harry nunca teria derrubado seus livros por todos os cantos. Se isso não tivesse acontecido, eu não saberia que Harry havia encontrado o diário. Não poderia permitir que ele ficasse com aquele livro. Não poderia permitir que ele descobrisse o que eu havia escrito para Tom... meus segredos... E se Tom contasse a ele que eu era a culpada pelos ataques? Não suportaria se Harry me olhasse... como se eu fosse uma aberração... se soubesse que era eu. E, o mais importante, não poderia deixar Harry se tornar uma vítima do diário como eu me tornara.

Então, esperei até o dormitório masculino ficar vazio e roubei-o de volta.

‘Contou algo a ele?’, escrevi furiosamente no diário.

‘Contei várias coisas a ele, Gina’

‘Você contou a ele sobre mim?’, estava chorando de novo.

‘Não. Seu segredo está a salvo’

Tentei não escrever mais tanto no diário, mas não conseguia conter a necessidade de fazê-lo. O poder do diário era tão mais forte do que antes. E Tom não agia mais como ele mesmo. Na verdade, acho que ele estava agindo como ele mesmo, mas um lado que eu desconhecia.

‘Você não vai mais se livrar de mim, Gina’

‘Sinto muito, Tom. Eu estava com medo. Não sabia o que fazer’

‘Medo é para os fracos. Não aceitarei você sendo fraca’

‘Não quero mais fazer isso. Não quero ser má.’

‘Não há bem ou mal. Há apenas poder e aqueles que são fracos demais para querê-lo’

As nuvens voltaram. Tom estava agora me guiando em tudo o que fazia. Os pesadelos voltaram. Estava sob seu controle e sabia disso. Pela primeira vez desde que encontrei o diário, entendi o que ele era. Não, não como uma Horcruxe ou uma parte de alma de Voldemort, mas como algo pérfido que não pararia a não ser que eu perdesse o controle sobre mim mesa.

Mas não conseguia combatê-lo; Tom já estava em minha mente.

Quase consegui me libertar, depois de ter atacado Hermione e Penélope, a garota que encontrei beijando Percy o dia anterior... ou o anterior a esse... Sinceramente não me lembro quando foi... mas quase me libertei. Vi Hermione congelada, fria, dura, e lutei o mais forte que consegui, mas a voz em minha mente... ‘Tsc, tsc... Gininha, você não vai a lugar algum’.

Acho que tentei contar a Harry e Rony. Havia um eco dentro de minha mente, que ficava repetindo, ‘Preciso te dizer algo’ que soava com uma versão horrível da minha voz, mas depois uma segunda voz em minha mente disse, ‘Você não vai estragar meus planos para ele’. Depois, Percy veio e me puxou para longe da mesa.

Nem mesmo me lembro de ter escrito a última mensagem na parede. As palavras ‘O esqueleto dela jazerá na Câmara para sempre’ pareciam me observar. Sabia que as havia escrito. Sabia o que ele estava fazendo, estava me usando. Ele ia me usar para chegar a Harry.

Tentei correr. Mas meus pés não aceitavam mais minhas ordens, pertenciam à outra pessoa. Cai inconsciente bem ali, e a próxima coisa de que me lembro é que eu estava deitada na Câmara Secreta.

“Olá, Gina”, a voz disse, mas não vinha da minha cabeça. Olhei para o livro ao meu lado, e também não vinha dele. Virei-me e o vi. Tom Riddle. Cabelos escuros, alto, magro e transparente.

“Você é... você é o Tom?”, perguntei, apesar de já saber a resposta.

“Sim”

“Você vai me matar?”

“Sim”

Abafei um soluço. “P-Por quê?”

“Gina, Gina, Gina”, Tom repetiu, “Você tem sido tão importante. Você tinha tanta necessidade de dividir tudo. Você estava tão disposta a expor sua alma para mim... E isso foi o que quis de você... o que precisei”

“Confiei em você”, berrei.

“Então, você era fraca”, rebateu, “Não existe confiança! Nunca confie em ninguém. Eles irão apenas trair você. Amedronte alguém e ele fará tudo o que você deseja”, apontou para si próprio, maquiavelicamente.

“Você está errado”

“Estou?”, aproximou-se de mim, “Você não tem medo de mim?”, perguntou, mas não aguardou por uma resposta, “E você não me obedeceu?”, seus olhos se voltaram na direção da entrada da Câmara, aguardando pela chegada de alguém.

“Por... Por quem você está esperando?”

“Vamos torcer para que o jovem Potter seja tão tolo quanto você o fez parecer”

“Não o Harry!”, berrei, sentindo-me mais fraca a cada segundo, “Não o machuque. Faça o que quiser comigo... mas... não mate o Harry”

“O mesmo garoto que não te dá importância? O mesmo garoto por quem você suspira? Ele não te ama e nunca amará! Está disposta a morrer por ele?”

“S-sim...”, murmurei. Não era mais neblina que cercava minha mente, e sim escuridão, “Eu morreria pelo... pelo Harry”, mais escuridão. Isso é a morte? Não é tão ruim... é tão tranqüilo...

“Então você é uma tola como ele”, Tom escarneceu. Se inclinou, aproximando-se mais de mim. Estava quase perdendo a consciência. Eu estava quase partindo. Ele se aproximou de minha orelha, e pude sentir a vibração de sua voz. Se ele respirasse, acho que sentiria o calor. Ele sussurrou, “Matarei a ambos”

E apaguei.

A próxima coisa de que me lembro foi abrir os olhos e ver seu rosto. Harry Potter. Harry. Meu herói. Varri o recinto com meus olhos. O basilisco estava deitado no chão, imóvel, sua cabeça entre uma poça de líquido esverdeado.

O rosto de Harry estava ensopado por sangue e a roupa, na altura de seus ombros, estava esburacada, como se algo a tivesse transpassado. Não vi qualquer machucado, no entanto. Segui o caminho de sangue que descia pelas suas roupas e vi o diário em suas mãos. Encontrei seus olhos. Comecei a chorar.

Qualquer sentimento de timidez que eu sentia em relação a Harry sumiu. Comecei a divagar. Dei a Harry uma chorosa confissão de minha culpa. Ele me assegurou de que tudo estava bem e que Riddle tinha partido; e que o diário e o basilisco estavam destruídos. Ele pegou minha mão e continuei murmurando incoerentemente sobre ser expulsa. Reparei, mentalmente, que Harry estava segurando minhas mãos, mas não vi romantismo nenhum naquele ato, apenas alívio.

Ele me guiou para fora da Câmara. Quando encontramos Rony e Lockhart, ele não explicou o que aconteceu nem que eu era a culpada. Senti-me muito grata o que fez com que eu chorasse ainda mais. Nem mesmo me importei quando Rony disse que Murta-Que-Geme seria minha competidora por Harry.

Ouvi o conto de Harry sobre aquele ano; como ele ouvia vozes, como foram visitar aquela aranha horrível, como Hermione descobrira o que estava atacando os alunos. Ouvi as exclamações horrorizadas dos meus pais quando Dumbledore revelou que eu havia sido enfeitiçada por Voldemort. Ouvi o desapontamento deles, quando lhes contei sobre o diário. As lágrimas pareciam não cessar nunca.

Dumbledore, finalmente, revelou que nenhum dano permanente havia sido causado e que nenhuma punição seria feita. Eu não poderia ficar mais contente. Segui suas instruções e fui em direção à Madame Pomfrey. Dando uma olhada em mim, ela receitou nada mais que um chocolate quente e uma cama aconchegante onde dormir.

Horas mais tarde, acordei na cama, rezando para que aqueles acontecimentos tivessem sido um cruel pesadelo. Rezei para que eu não estivesse mais sob o controle do diário. Suspendi minha respiração e me sentei, dando uma olhada ao redor. Meus olhos caíram sobre Professor Dumbledore, segurando uma caneca fumegante.

“Pode respirar, Gina. Sou só eu”, seus olhos brilharam por trás dos óculos de meia-lua. Ele levou a caneca aos lábios e bebericou, “Chocolate quente sempre foi uma das minhas medidas favoritas, depois de um longo dia. A Madame Pomfrey lhe deu uma caneca?”, quando assenti, ele continuou, “Posso dormir essa noite sabendo que isso ajudou você?”

Surpreendentemente, ajudou. “Sim, senhor”

“Pensei em dizer-lhe, eu mesmo, que seus colegas já estão de volta ao normal”, Dumbledore disse, “A senhorita Granger está muito preocupada com você”

Meus olhos marejaram. Não sabia se poderia encarar Hermione depois do que fiz a ela. Não sabia se conseguiria encarar qualquer pessoa que fosse. Tinha certeza de que todas as pessoas já sabiam, àquela altura, que eu era a culpada pelos ataques. Talvez Mamãe pudesse me ensinar em casa ou mandar-me para outro colégio. Talvez eu pudesse começar de novo. Enxuguei minhas lágrimas.

“Não contei a ninguém, é claro, que Voldemort agiu através de você”, Dumbledore disse, como se pudesse ler a preocupação em minha mente, “Essa informação lhe pertence e você deve contar a quem desejar”

O aperto em meu coração afrouxou-se, “Obrigada, senhor”

Dumbledore fitou-me intensamente através das lentes meia-lua de seus óculos. Levando a caneca uma vez mais aos seus lábios, bebeu o líquido. Como se debatendo se devia ou não me dizer algo, o homem se levantou, desejou-me um bom dia e virou-se para ir embora.

“Professor, espere”, disse, rouca.

Dumbledore parou ao lado da cadeira que ocupara. “Há algo sobre o que deseja conversar?”, voltou-se para mim, e sentou-se novamente.

Assenti. “Sou fraca, senhor?”

“Por Deus!”, Dumbledore respondeu, “Quem foi que disse isso a você?”

“Riddle disse”, disse, levemente, “Disse que eu era fraca por confiar...”

“Ah”, Dumbledore disse, “Voldemort sempre teve o talento de fazer que as pessoas duvidarem de si mesmas. Não pare de confiar, Gina. Essa é a marca de uma pessoa verdadeiramente poderosa”

“Mas confiei no diário!”

“E também confiou em Harry”

Fiquei em silêncio. Pensei naquilo enquanto Dumbledore tomava mais um longo gole. Ele estava certo. Confiei em Harry e ele viera para mim.

Dumbledore baixou a caneca e colocou-a em seu colo, segurando a alça firmemente. “Permita-me perguntar-lhe algo. Roubou o diário de Harry por que não queria que ele soubesse como você se sentia em relação a ele?”

Fiquei escarlate. Como o homem podia saber tanto? “Sim”, respondi, “Mas...”, franzi o cenho, enquanto lágrimas se acumulavam no canto dos meus olhos. “Mas eu também não poderia permitir que Harry ficasse sob o controle do diário. Eu simplesmente não poderia...”

“E você se julga fraca por, deliberadamente, ter se colocado novamente sob risco para proteger uma terceira pessoa?”, Dumbledore perguntou, com um brilho em seus olhos.

Sorri. Ele estava certo, afinal de contas. Voldemort nunca sacrificaria a si mesmo para proteger seus seguidores, preferiria vê-los morrer a encontrar-se em uma situação perigosa. “Não, professor”

“Sinto que você está destinada a coisas grandes, assim como o seu herói”, ele pronunciou ‘herói’ com orgulho evidente em sua voz, “Estou correto em dizer que você é a sétima filha da sua família...?”

“Em sete gerações, sim”

Dumbledore assentiu. “Sabe-se que o sete é o número mais poderoso”, disse, “Você não é fraca, Gina”, suas palavras não tinham contestação. Ergueu a caneca para sorver mais um gole e vi seus olhos moverem-se na mesma direção, “Oh, querida, acabo de perceber que preciso, desesperadamente, de mais um pouco de chocolate quente”, levantou-se e virou-se em direção a cama. Com uma mão sobre o recosto da cadeira, ele disse, “Se você já está descansada, seus amigos e irmãos aguardam por você”

Chutei os lençóis e me coloquei de pé. Segui Dumbledore em direção à saída, e nos separamos em caminhos opostos. Caminhei na direção da Torre da Grifinória, em direção ao dormitório em que passei o ano inteiro enclausurada, escrevendo no diário, e em direção à todas as pessoas que permiti que o basilisco atacasse...

Não, que Riddle... que Voldemort permitiu... E não obteve sucesso, porque uma vez mais, Harry estava lá para detê-lo. Harry estava lá para salvar todos.
Harry estava lá para me salvar.

E pela primeira vez, em todo o ano letivo, eu estava feliz.


Continua...



N/A: Alguns podem não concordar que o Chapéu Seletor tenha considerado colocar Gina na Sonserina, e eu não acho que ele teria, não fosse pelo fato de Voldemort já ter algum poder sobre Gina naquela época. O fato de Harry ser uma horcruxe foi provavelmente um dos motivos porque o Chapéu considerou manda-lo para Sonserina, e acho que o mesmo aplicou-se a Gina.

Houve, também, muitas interpretações em relação ao cartão de Dia dos Namorados, alguns dizem que foram os gêmeos... outros que foi Draco... Muitos dizem que não parece ser da personalidade de Gina escrever algo daquele gênero, mas acho que é perfeito para mostrar o desenvolvimento dela ao passar da série. Lembrem, ela é comunicativa e inteligente, mas não parece ser capaz de se portar normalmente na frente de Harry. Banalmente colocado, esse cartão apenas mostra que, inicialmente, Gina era uma garotinha com uma queda.

N/T: AVISO – GENTE, DAQUI PARA FRENTE OS CAPÍTULOS VÃO FICAR IMENSOS, VOCÊS QUEREM QUE EU POSTE TUDO DE UMA VEZ SÓ, OU POSTE EM ‘PARTES’? ME AVISEM NOS COMENTÁRIOS!

Voltando...

Ah, gente!

Muito perfeito esse capítulo, não é?!?

A Gina é tão fofinha!!!

E senti muita dó dela neste capítulo em especial, deve ter sido aterrorizante...


Larrisa Manhães – Aqui está o novo capítulo, Larissa! O que achou dele? Realmente, eu acho essa fanfic incrível por isso, ele manteve os personagens do jeito que a J.K. os criou, fazendo tudo ser muito crível! Aguardo seu comentário em relação a este!
Priscilla Oliveira - Que bom que você gostou! Aqui está o novo capítulo! Gostou?

Aqui está o novo capítulo e espero que tenham gostado!

Aguardo por mais comentários!!!

Beijos,

Gii

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