≈. Uma Trágica História.



- O que vamos fazer?

Vallery tinha se acalmado um pouco, mas ainda estava visivelmente chocada. Amanda olhava á sua volta, atenta a qualquer barulho estranho, apesar da escuridão que agora as encobria.

- Vamos sair daqui, procurar um professor... - disse ela, se abaixando para pegar a varinha no chão e indo para além das árvores. - Por enquanto não podemos fazer nada pela Luna.

- Ela está viva, não está? - perguntou Vallery sobressaltada.

- Acho que sim - murmurou ela, caminhando apressadamente.

Ao entrarem no castelo elas se separaram. Amanda se virou para Vallery:

- Onde você vai? Temos que avisar a um professor...

- Vai sem mim - Vallery a olhou seriamente, fazendo-a entender que era algo importante. - Preciso falar com uma certa vidente.

Vallery entrou correndo na sala comunal da Sonserina, sem dar ouvidos ás insistentes perguntas dos alunos do sexto ano. Para ela só importava uma coisa: saber da verdade.
Ela nem precisou abrir a porta do quarto, Mia ia saindo na mesma hora, mas se deteve ao ver a expressão de raiva dela.

- O que deu em você? - perguntou Mia, ao ver que a amiga passara por ela sem nem sequer falar.

Em um dos cantos do quarto, uma garota de cabelos incrivelmente ruivos lia uma revista á luz de um castiçal. Ela ergueu os olhos, assustada, quando Vallery arrancou a revista das mãos dela e a prendeu contra a parede.

- Natalie, eu vou perguntar uma vez só - disse rispidamente Vallery, puxando a varinha do cós da saia. - Naquele dia do teste,quando você desmaiou por causa daquela visão com a floresta proibida... você sabia qual garota ia ser atacada?

- Val, a Nat fez voto de silêncio, esqueceu? - interrompeu Mia, surpresa com o jeito que a garota estava agindo. - Por que isso?

- Ela vai falar, agora que o que ela esperava se tornou realidade, não é ruivinha?

Houve um minuto de silêncio, no qual Vallery fitou a ruiva ameaçadoramente.

- Então eu estava certa... realmente aconteceu...

Vallery deu um sorriso sarcástico, porém não a soltou. Mia estava boquiaberta.

- ...Espero que agora acreditem nas minhas profecias - disse Natalie com a voz fria, muito diferente do normal. - Não Val, eu não sabia que era a garota, estava muito escuro, mas você parece saber.

- Quem foi? - perguntou Mia, com medo da resposta.

- Luna Lovegood. Eu a vi - murmurou Vallery com o sentimento de culpa.

- Di-Lua? Di-Lua, da Corvinal? - retrucou Natalie, desconcertada. - Não pode ser...

Mia afundou numa cadeira e cobriu o rosto com as mãos. Vallery parecia fazer força pra não chorar.

- Mia, não fica assim... logo vão descobrir quem fez isso...

Ouviu-se outro barulho e Amanda entrou no quarto, com a aparência arrasada.

- Já falei com a professora McGonagall... Val, larga ela! - gritou, se colocando entre as duas. - Na boa, Vallery, por que você tá tão estranha?

A garota soltou a ruiva e começou a andar de um lado para o outro, demonstrando nervosismo.

- Nunca mais duvidem das minhas visões - disse Natalie por fim, voltando a ficar particularmente invisível.

Amanda se sentou no braço da cadeira de Mia, que agora soluçava incontrolavelmente.

- A Luna vai ficar bem, levaram ela pro St. Mungus, não precisa chorar...

A porta se abriu mais uma vez e uma quinta garota entrou no quarto abafado, com um jeito arrogante que parecia desdenhar de todos.

- O que é isso? Reunião das Venom? Não quero toda essa ralé no meu quarto!

- Fica fora disso, Alexy. Ninguém te chamou aqui - respondeu Vallery entediada, pegando uma garrafa de uísque de fogo no armário ao lado da cama.

Os olhos de Alexy faiscaram em direção a ela. Se virou, jogando para trás os olngos cachos loiros.

- Vallery, quando você estiver no lugar daquela garota, na floresta proibida, talvez perceba que o mundo não gira em torno de você só por você ser uma líder.

Alexy pegou a mochila cor-de-rosa e bateu a porta ao sair. Amanda olhou para Vallery em silêncio, porque, assim como ela, não tinha o que dizer.




A notícia de que Luna fora atacada na floresta proibida se espalhou ainda na mesma noite. Gina era quem mais tinha se abalado ao saber disso.
Hermione se sentou na mesma mesa que Harry, Rony e Gina ficavam sempre que ela tinha algo a dizer.

- Gina, eu sei o quanto você deve estar mal pelo que aconteceu com a Luna, nós todos estamos - Gina ergueu os olhos para ela. - Vão descobrir que fez isso, mas por enquanto tenho uma coisa que vai interessar a você.

- Não vão descobrir quem atacou a Luna enquanto não descobrirem que roubou a esmeralda da sala do Slughorn - disse Harry enraivecido.

- Tudo bem, Harry, de um jeito ou de outro vão ter que fazer alguma coisa - interrompeu Rony. - O que você tem aí, Hermione?

Hermione tirou a mochila e puxou um outro recorte de jornal, mais novo e menos amassado que o último.

- Descobri mais alguma coisa sobre a Amanda. Gina, leia você - pediu ela, estendendo o papel. - É um direito seu, e também... eu não conseguiria ler isso de novo.

Descobri mais alguma coisa sobre a Amanda. Gina, leia você - pediu Hermione, estendendo o papel. - É um direito seu e também... eu não conseguiria ler isso de novo.

Gina pegou o papel apreensiva e silenciosamente e revirou-o nas mãos. O recorte de jornal era datado de quase exatamente um ano atrás e não continha nenhuma ilustração, como se a pessoa que publicou estivesse querendo ocultar a notícia do devido destaque. Letrinhas miúdas á esquerda indicavam que se tratava da seção internacional do jornal.
Então Gina começou a ler, com a voz clara porém inexpressiva:

" Noite passada, um terrível massacre abalou uma cidade bruxa em Bordeaux, França, ocorrido em uma antiga casa de família. Trata-se de Kate Hartwell, dona de uma loja da relíquias, onde o Ministério francês descobriu vender também perigosíssimos objetos das trevas não-licenciados. Kate, 33 anos, e um homem desconhecido foram encontrados mortos...

Gina parou repentinamente, evitando olhar para os outros. Sentiu Harry apertar seu braço compreensivamente, respirou fundo e continuou:

... na sala de estar da casa em questão. Havia sinais de luta no local. Junto com eles, em estado grave, estava Amanda Hartwell, 16 anos, filha de Kate. O elfo doméstico da família foi prontamente interrogado, e afirmou que o homem seria pai da garota e que raramente o via ali.
Vale lembrar que Kate Hartwell foi condecorada com a Ordem de Merlim, Primeira Classe, depois que desvendou o mistério das mortes em Paris, três anos atrás.
'Estamos trabalhando no caso' disse o Ministro da França, sem expor mais detalhes.
'No entanto, continua o mistério, pois todo o ouro de Kate 'desapareceu' de seu cofre em Gringotes, e também resta uma dúvida em torno da jovem sobrevivente, isto é, se ela sobreviver' disse um dos investigadores do assassinato. 'A garota tem respostas que precisamos'.

Não há nenhuma pista sobre o cruel assassino. É inegável que Kate e seu companheiro foram atingidos por uma Maldição da Morte. Permanece, porém, outro instigante enigma: por que pouparam a vida da adolescente, atacando apenas seus pais? Poderia Amanda Hartwell sobreviver do coma profundo e ainda por cima se lembrar do terrível ocorrido?

Estes, contudo, permanecem sem resposta. "

Houve um profundo silêncio quando Gina acabou de ler as últimas palavras. Harry entendeu o porquê de Hermione não qurer ler o recorte de jornal novamente. Até a sala comunal parecia silenciosa.

- Desculpe, Gina, eu não poderia esconder isso de você. - Hermione estava visivelmente abalada.

- Tudo bem, fui eu quem quis saber do passado dela, porque... bem, ela não é... normal - murmurou Gina hesitante, que por um doloroso segundo reviveu a cena em que Amanda tentara matá-la, friamente, na escuridão da sala comunal - , mas eu nunca imaginei que ela... tinha passado por isso. É cruel, eu enlouqueceria.

Harry olhou para o papel, sem realmente vê-lo. Estava revivendo, com uma dor no peito, a noite que passara com Amanda, sob efeito da poção do amor. Via perfeitamente os olhos azuius desafiadores dela, ouvia aquela voz falsamente inocente, dizendo "eu não tenho medo de nada". Não teria mesmo?

Harry voltou para o presente. Percebeu que Hermione fitava Rony de um jeito ansioso, como se estivesse esperando ele dizer algo importante a qualquer momento. Mas ele não o fez.

- Você sabia...? - perguntou ela repentinamente, fazendo Gina se sobressaltar de seus pensamentos.

Rony balançou a cabeça, mas estava se dirigindo a Gina.

- Isso Amanda não me falou - disse ele num tom de quem pede desculpas. - Ela confiou em mim quando disse que era uma veela, mas ela nem sempre explicava tudo. Sempre dava uma desculpa esfarrapada, isso sim, quando eu perguntava sobre os pais dela. Enfim, ela é meio perturbada, mas é quase selvagem chamar a loira de anormal.

Gina se levantou com raiva, derrubando a cadeira para trás. Olhou para o irmão como se nunca tivesse visto nada parecido.

- Rony, ela tentou me matar! Você por acaso entende o que é isso? - Gina estava profundamente aborrecida com a ingenuidade que ele havia demonstrado. - Se você acha que é normal uma garota de desessete anos tentar cortar a minha garganta com uma gilete, por vingança, então você deve ser igual a ela.

E com um gesto irritado, ela virou as costas e disparou pelo buraco do retrato no momento em que um terceranista ia entrando. Harry lançou um olhar suplicante a Hermione e foi atrás de Gina. Ela se levantou também, mas Rony segurou-a pelo pulso.

- Não mesmo, Hermione. Você vai ficar.

Hermione parou e olhou para ele, confusa com a repentina seriedade que ele demonstrava. Não parecia nem um pouco incomodado pelas palavras aborrecidas da irmã porque defendera Amanda.
Ela se largou na cadeira que acabara de deixar e deu o seu melhor sorriso encorajador.

- Então...? Alguma coisa sobre a notícia do jornal? Acha que pode ser falsa? - perguntou ela um tanto hesitante.

- Nada a ver, é algo um pouco mais... particular, pra ser sincero.

Rony percebeu que ela corava. Lhe ocorreu de repente a idéia que Hermione também estivesse se lembrando de uma certa noite em um certo corredor (aparentemente) deserto.

- Tá, e o que seria? - retrucou ela e se debruçou na mesa, colocando as mãos sob o queixo.

Ele estava visivelmente embaraçado. As palavras não saíam, mas Hermione o salvou.

- Aquele beijo? - ela manteve o tom de leve indiferença na voz. - Foi pra dar uma desculpa... foi meio técnico, não foi?

- Pra mim não, e pra você?

O coração dela parou uns instantes e Hermione não conseguiu responder. Se Rony por milagre soubesse Legilimência, estaria perdida.
Ela se levantou, evitando encará-lo.

- Não, não foi, e você sabe disso. Você sabe o motivo por que eu briguei com a Amanda há muitos meses atrás, não finja.

Hermione podia ouvir ali a voz de Amanda nitidamente como se fosse ontem: Como se sente, perdendo pra mim o garoto que você ama? e depois o brilho vermelho do próprio feitiço.

- Rony, eu preciso de um tempo... - continuou ela, agora olhando diretamente nos olhos azuis dele. - Quando eu achar que posso, podemos falar sobre isso de novo?

Ele disse um "sim" quase inaudível. Ela sorriu e rumou para o dormitório das garotas, repleta de palavras não pronunciadas.



As semanas passavam rápidas em meados da primavera. Fazia tempo que não recebiam notícias de Luna do St. Mungus. Mas pelo que Harry pôde entender naquela tarde, Hagrid já havia achado alguém para substituí-la na tarefa de alimentar os testrálios.

O sol se infiltrava com facilidade por entre as folhas nos arredores da floresta proibida. Harry andava por uma clareira quando ouviu uma voz de garota mais adiante:

- É realmente estranho, então você não faz a mínima idéia...?

Ele perdeu o fio da conversa quando uma revoada de pássaros barulhentos passou por ali. Harry foi em direção á voz meiga e suave que se tornava cada vez mais clara.

- Não há um jeito possível, eu gosto muito de você, mas não posso me arriscar...

Aquilo era realmente estranho. Ele estava ficando maluco ou a garota entre as árvores estava falando com um testrálio?

Harry se aproximou sem que ela percebesse. Ficou observando-a por longos minutos, e um breve tempo depois estava se sentindo levemente sonolento.
Não estava ventando, mas os cabelos curtos da garota se movimentavam de um lado para o outro, causando um efeito estranhamente hipnótico em Harry.

- Chega, não posso, entenda...

Harry sentiu um abalo no estômago: conhecia aquela voz.

- É a minha palavra final, pronto...

Ela não precisava se virar e guardar alguma coisa na mochila, Harry já sabia perfeitamente quem era. Os olhos azuis dela se encontrararm com os verdes dele e se estreitaram.

- Me espionando, Harry? - perguntou Amanda num tom gelado. - Não esperava isso de você.

Harry hesitou. Ela estava diferente, talvez por causa do longo tempo em que não a via, mas não era só isso. Amanda estava mais parecida com uma veela como Harry nunca havia visto antes.

- Então, Harry, o que quer? Veio me seguindo até aqui? - havia uma inconfundível nota de medo escondida na voz agressiva dela. - Há quanto tempo você está me vigiando?

- Eu não estava vigiando você! - gritou ele, mas não se atreveu achegar mais perto, ela poderia morder.

Amanda cruzou os braços com a varinha na mão. Um testrálio grande e negro abriu as asas ao passar por ela.

- Você fala com testrálios? - perguntou Harry intrigado. Por um breve segundo ela pareceu não entender, e depois retrucou:

- Você fala com cobras?

- Eles te respondem?

- As cobras te respondem?

Harry entendeu que não ia adiantar, ela sempre se esquivava de uma pergunta fazendo outra. Amanda estava agressiva demais por ele ter escutado sua conversa. Não havia outra saída a não ser mudar de assunto.

- Tem notícias da Luna? - perguntou ele, tentando ficar descontraído. - Porque... foi você quem a salvou, eu achei que...

- Eu não salvei ninguém! - disse ela secamente. - Eu não sou uma heroína como o grande Harry Potter!

O tom sarcástico e desdenhoso dela estava começando a irritá-lo. Um esplosivim seria mais amigável. Ele abriu a boca, mas ela o interrompeu mais uma vez:

- Sabe, Harry... tenho um amigo que me fala tudo sobre você, tudo. Fiquei impressionada, algumas vezes achei que ele mentia - ela se aproximou, uma expressão voraz se destacava em seu rosto. - Então você também sobreviveu a uma Maldição da Morte?

- O quê? Você também...? - a voz dele sumiu. Harrry não acreditava no que ouvira. - Impossível...

- Não é impossível, Harry - ela virou as costas e começou a andar pela floresta, aparentemente procurando alguma coisa, mas sem sair do campo de visão dele. - Aconteceu há um ano atrás. Depois disso fiquei internada por mais de seis meses, perdi parte da memória. Meus pais morreram, e depois que eu melhorei, a minha avó, aquela simpatia de pessoa, me colocou pra fora de casa e eu vim parar aqui.

Harry não sabia o que causava mais choque: as palavras dela ou o tom banal que ela usava.

- Temos muito em comum - disse ele enfaticamente. Amanda não deu atenção e se colocou na ponta dos pés para espiar algo atrás da moita. - Mas eu não falo com testrálios.

- É - murmurou ela precipitadamente, e logo depois com o modo de quem perde a paciência, gritou: - SNOW!

- Snow? - replicou Harry, quando um gato peludo desceu de uma árvore e pulou no ombro dela.

- É, Snow - disse amanda apontando para os pêlos incrivelmente brancos do gato. - Neve. E é uma gata - e acrescentou, ao ver o olhar indagador dele. - Quer que eu desenhe?

Harry fingiu não ouvir o sarcasmo dela. O que pensou ser uma coleira com a inicial da gata era na verdade um sinal em forma de um perfeito S.

- Temos muito em comum, Harry - murmurou Amanda, irradiando um belo sorriso.

Ela se virou e foi para o caminho de volta para o castelo. Harry ficou observando-a até ela desaparecer por trás de uma das árvores, então voltou pelo caminho oposto ao dela.

Amanda verificou se ele havia ido embora, se sentou no toco de uma árvore próxima e começou a revirar a mochila.

- Ele engoliu a história do testrálio - disse Amanda sorridente, fazendo carinho na gata peluda em seu ombro. - Afinal, uma mentira sincera é melhor que uma verdade que machuca. Concorda, Snow?

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