≈. Inesperado



Harry se levantou da mesa e encarou Luna, perplexo. Por que alguém roubaria logo a sala de Slughorn?

- Tem certeza que não levaram nada? - perguntou ele, alto demais, pelo olhar de censura de Hermione.

- O professor disse que não levaram nadinha - respondeu Luna vagamente. - Imagino que os narguilés não teriam roubado alguma coisa de lá.

Hermione revirou os olhos para o teto e Rony fitou Luna como se nunca tivesse visto algo tão impressionante.

- Acho que quem fez isso deveria estar procurando ingredientes para alguma poção ilegal - explicou Hermione, ignorando Luna. - É a única coisa que poderiam querer daquela sala.

- Não tinha ninguém patrulhando os corredores? - admirou-se Rony.

- Não naquela hora - respondeu Luna, empurrando-o para se sentar também. - Eu ouvi alguém dizer isso hoje mais cedo.

- Mas quem entrou na sala já a conhecia, porque eu me lembro que o professor Slughorn colocava uma senha todas as noites, depois que andaram afanando alguns ingredientes - interrompeu Gina, se debruçando na mesa. - Tenho que discordar da Hermione. E se Slughorn tiver algo de valor dentro da sala?

- Ele tem.

Todos olharam para Harry. Ele percebeu, tarde demais, que pensara alto.



Em uma tarde de primavera, uma garota contemplava o céu absurdamente azul, deitada na grama sob a sombra de uma árvore, perto do lago. Amanda voltara a pensar no professor Snape e no que ele havia dito. Seu pai ficaria orgulhoso de você... Ela achou muito estranho o modo como ele falou, como se fosse de propósito, só para deixá-la pensando cada vez mais e não chegasse a nenhuma conclusão.
Ela notou também que agora ele a evitava e lhe dava tanta importância quanto dava a Hermione. Amanda se perguntou várias vezes se não seria melhor parar de desconfiar de Snape e admitir que fora coincidência ele mencionar seu pai. Mas isso era difícil.

Ela se sentou encostada na árvore e ficou olhando vagamente para Vallery e Mia, que corriam em volta do lago. Os tons de verde do cabelo de Vallery faziam curvas coloridas no ar, e estavam começando a deixá-la tonta.

- Dia bonito.

Amanda olhou para o lado. Que disse fora um garoto moreno e forte, de longos cabelos castanhos, que ela reconheceu como o irmão de Mia, Lucas, porque tinham os mesmos olhos castanho-esverdeados. Amanda inclinou a cabeça, concordando, e caiu no silêncio.

No momento seguinte, esqueceu-o. Mais a frente, Mia tentava jogar Vallery dentro do lago. Amanda sorriu mas foi distraída e tornou-se consciente de outra coisa, além das duas garotas. Se virou e encontrou os olhos do garoto observando-a.

Ela desviou o olhar, corando com o jeito que ele a olhava. Mais velho do que ela, tinha um rosto marcante e um olhar mais direto do que estava acostumada a ver nos outros garotos, até mesmo em Draco, que era o único de quem Amanda gostava de verdade.

Os lábios dela se encurvaram num sorriso constrangido e ela olhou para o alto, tentando disfarçar. Só então ele percebeu que os olhos dela eram tão azuis quanto o céu que ela contemplava fingidamente interessada.

- Como vai a Alexy? - perguntou ele subitamente, só para ouvir a voz dela. Ela piscou, meio sem entender.

- Perdão? Pensei que você fosse o namorado dela!

- Eu, não. Só fui ao baile com ela, porque ela pediu... e também porque eu não tinha opção.

Amanda ergueu a sobrancelha, aturdida. Um garoto como Lucas, talvez por ser jogador de quadribol, poderia ter uma tsunami de garotas aos seus pés. E Alexy era a garota mais bonita da Sonserina, mas ele falava como se ela fosse uma opção descartável. Ela abriu a boca, mas foi interrompida.

Eles ouviram um barulho e olharam para a frente. Mia tinha conseguido, com muito esforço, jogar Vallery dentro do lago. A garota saiu com as vestes encharcadas e os cabelos verdes grudados no rosto, parecendo incrivelmente surpresa com a coragem da outra. Mia tentou correr mas escorregou na grama úmida. Vallery arrastou-a pelos tornozelos e a atirou dentro do lago.

Lucas riu tão alto que elas perceberam. Lançando um olhar de pura censura para ele, elas foram embora, pingando água. Amanda viu que ele seguia Vallery com os olhos e entendeu.

- É a Vallery, então? - sussurrou ela, embora eles estivessem sozinhos. Ele corou violentamente e não respondeu.

Amanda deu as costas para ele e caminhou até a margem. Ficou observando o reflexo da sua imagem despenteada, mas ainda assim atraente, na superfície esverdeada do lago. Lucas se aproximou silenciosamente dela.

- Sabe o que eu vejo aqui? - sussurrou ele, olhando para o reflexo dela, mas com um tom de voz simpático. - A garota mais bonita da Grifinória.

Ele sorriu e saiu, deixando-a sozinha. Amanda fitou a si mesma durante alguns instantes.

- E sabe o que eu vejo aqui? - murmurou seu reflexo baixinho, num tom de voz frio que não combinava com ela. - Uma assassina.



Hermione estava sentada junto ao dossel da cama de Rony, folheando um livro. Não entendia o porquê de Harry tê-la chamado ali com tanta urgência.

- Preciso da ajuda de vocês - disse Harry calmamente, andando sem parar pelo quarto mal iluminado. - Acho que sei o que queriam roubar na sala do professor Slughorn.

- E o que seria? - perguntou Hermione, que impertigando-se e largando o livro, o fitou com interesse.

- Uma... uma espécie de pedra que protege contra as Maldições Imperdoáveis - explicou ele, observando a reação dos dois. - Está na sala dele, eu vi, ele me mostrou já faz algumas semanas.

- Uau! - exclamou Rony depois de alguns segundos. - Contra as Maldições Imperdoáveis? Harry, eu quero uma dessas!

- Só existem duas, e as duas estão com Slughorn - disse Harry, mas Hermione o interrompeu:

- Tem certeza? Quer dizer, eu nunca ouvi falar disso... - murmurou ela, já pensando em fazer uma visita á biblioteca.

- Pedra das Almas, foi isso que ele disse - respondeu Harry precipitadamente, tentando fazer com que ela se lembrasse de alguma coisa. - É uma esmeralda, tem uns desenhos esquisitos, uma rachadura horizontal e... - ele hesitou. Ia mencionar o fato de que de algum modo aquela pedra o atraíra para dentro da sala, mas desistiu. - ... dizem que pode reviver as pessoas.

Harry ficou em silêncio, juntamente com todos eles. Como ninguém disse nada, ele continuou:

- Tenho quase certeza que era isso que queriam. O professor Slughorn falou que Snape tinha alguma coisa a ver com aquilo - Harry estreitou os olhos. - Só não me lembro o quê.

- Então... o que quer que a gente faça? - perguntou Rony para Harry, engolindo em seco.

- Precisamos descobrir quem tentou roubá-la e por quê - ele se atirou debaixo da cama e puxou o malão empoeirado. - Se foi algum estudante, talvez será mais fácil - Rony registrou o uso do "talvez" - Luna me falou que os professores não vão patrulhar os corredores próximos á sala de Slughorn o tempo todo, por precaução - Harry pegou o Mapa do Maroto e acenou com a varinha. - Juro solenemente que não pretendo fazer nada de bom..., e cá entre nós, ninguém pretende.

Minúsculos pontinhos encheram o Mapa. Harry observou que a professora estava McGonagall três andares acima da sala de Slughorn.

- E a Gina? - perguntou Hermione repentinamente. Rony e Harry sacudiram a cabeça ao mesmo tempo.

- Ela quer saber algo sobre o passado de Amanda - explicou Harry, sentindo um arrepio ao ver, pelo Mapa, que ela se encontrava sozinha em seu quarto. Na verdade, não queria que ela se arriscasse. - Quando eu achar alguma coisa, vou avisá-la, mas por enquanto... - ele acenou com a varinha mais uma vez e murmurou "Malfeito feito" - ... Hermione, quero que você vá na biblioteca antes que feche e procure qualquer informação sobre essa esmeralda.

- Tudo bem - disse Hermione, saindo apressadamente do quarto.

Harry tornou a guardar o Mapa no malão, mas parou, intrigado. Há quanto tempo não via o espelho de Sirius?
Havia uma bagunça interminável ali e ele decidiu que procuraria em outra hora. Ele se voltou para Rony:

- Os professores começam a vigiar os corredores ás dez da noite e nós vamos fazer o mesmo. Temos duas horas até lá. Precisamos de um plano.

Passadas mais de uma hora, Hermione voltou da biblioteca, com uma expressão de intenso desapontamento no rosto. Harry e Rony já tinham resolvido como iriam vigiar a sala de Slughorn.

- Não encontrei quase nada - disse ela, colocando em cima da mesa um livro pesado e velho, de folhas amareladas e já soltando a capa. - O pior é que a maioria dos livros diz que a história dessa pedra é lenda, quando sabemos que não é. Mas nesse livro diz uma coisa bem interessante - Ela puxou uma cadeira e começou a ler: - " A Pedra das Almas é uma esmeralda incrivelmente brilhante e também o único meio conhecido de proteção contra as Maldições Imperdoáveis..." ah, isso eu já sabia... - acrescentou, e Rony fez um gesto para ela continuar. - "... embora haja poucas provas sobre isto. Diz a lenda que só existem duas dessas esmeraldas e há indícios que uma delas pertenceu a Salazar Slyterin, um dos quatro grandes fundadores de... "

- Que foi que você disse? - perguntaram Harry e Rony ao mesmo tempo.

- Salazar Slytherin - repetiu Hermione, fechando o livro com um estrondo e fazendo voar vários grãos de poeira no tapete. - Bem, é só isso que não sabíamos, e é só isso que diz aqui.

- Tem certeza? - perguntou Harry em tom de urgência. Esperava que Hermione talvez achasse algo sobre a pedra reviver as pessoas, e que isso fosse verdade.

- Tenho - disse ela enfaticamente, fitando-o com interesse. - Você desconfia de alguém... algum aluno possa ter invadido a sala de Slughorn?

Harry não respondeu. Pensara em Draco, por ele ser da Sonserina, mas não tinha certeza. Ele abaixou a voz:

- Então você também deve estar pensando...

- ... que foi alguém da Sonserina? - completou Rony, sentindo um nervosismo perceptível. - Sei lá, o Draco?

- Não, mas é uma possibilidade. Não sabemos que tipo de magia usaram para invadir a sala, e invadir uma sala é a coisa mais fácil do mundo - respondeu Hermione, olhando ansiosa para um relógio em cima da mesa.

- Falou a voz da experiência! - brincou Rony, se lembrando que no segundo ano ela invadira o armário de poções de Snape. - Agora será que podemos ir vigiar aquela maldita sala antes que eu fique com fome?



Eles andaram silenciosamente pelo corredor escuro. Com o Mapa do Maroto em uma das mãos e a varinha na outra, Harry apanhou a capa da invisibilidade e parou em frente á sala de Slughorn.

- Eu vou ficar aqui enquanto vocês dois ficam na curva do corredor - Harry baixou a voz, olhanod para eles atentamente através da luz da varinha. - Qualquer movimento ou barulho estranho, tentem me avisar. Não acendam as varinhas. Nox

Todos eles foram para seus postos e esperaram. Harry verificava o Mapa a cada cinco minutos, tomando cuidado para não deixar a luz muito forte. Os professores vigiavam perto das entradas das salas comunais, então, como ele, também deviam pensar que a invasão fora culpa de um aluno. Harry não quaria admitir para si mesmo, mas também cobiçava aquela esmeralda, e tinha certeza que era isso que quem quer que fosse estava procurando.

Do outro lado do corredor, Hermione estava mais preocupada com a detenção que levariam se fossem flagrados fora dos dormitório naquela hora; a cada som estranho que vinha de fora ela apertava a mão de Rony com força.

- Já estamos aqui há horas e nada - sussurrou ela, olhando para a única vela no catiçal ao lado dos dois. - Será que não seria melhor a gente voltar amanhã e...

- Psiu!

- Não faz "psiu" pra mim! - protestou ela em voz baixa, segurando com raiva a blusa de Rony.

- Hermione... - murmurou ele, segurando seu braço e fazendo-a parar. - Tem alguém ali...

Hermione olhou assustada para além do corredor estreito, onde o barulho de passos aumentava cada vez mais. Rony preparou a varinha, mas não poderia atacar sem saber o que era, se fosse um professor, seria pior.
Subitamente, no final do corredor apareceu uma luz fraca que vinha se aproximando devagar. Hermione estremeceu e apertou o braço de Rony com força.

- Não é uma varinha, parece mais uma vela... - murmurou ela, estreitando os olhos. Hermione olhou de relance para o lado direito do corredor e viu que outra luz, bem mais forte, brilhava mais adiante.

- Se for um professor, estamos ferrados - sussurrou Rony com um tom de voz tranquilizador. - A não ser que você tenha uma desculpa bem, bem esfarrapada pra explicar o que estaríamos fazendo à uma e meia da madrugada em um corredor escuro.

Hermione sorriu, nervosa. A luz estava a poucos metros de distância agora.

Rony teve que pensar rápido. Afinal, seria mais fácil explicar. Ele agarrou Hermione pela cintura e a prendeu contra a parede. Ela respirou fundo, com o coração disparado.

- Rony, o quê...

Ele calou o sussurro suplicante com um beijo ardente. Hermione largou a varinha, sem uma idéia consciente, devolvendo o beijo com mais intensidade possível. Foi tão inesperado, tão surpreendente, que Hermione se esqueceu o porquê de estar ali. Só queria que aquele beijo nunca mais acabasse, queria sentir pra sempre o calor dos lábios dele, porque era o que ela esperava há tanto tempo...

Depois de uma eternidade, ou assim pareceu, eles se separaram. Hermione abriu os olhos devagar, encarando-o, depois olharam para o lado, ao mesmo tempo.

Parada ali, segurando uma vela em uma das mãos e uma xícara de chocolate quente na outra, se encontrava uma garota de faces pálidas, cujos cabelos loiros e curtos estavam imensamente bagunçados. Então não era um professor...

- Eu ia perguntar o que vocês dois estariam fazendo a essa hora da madrugada em um corredor estreito - murmurou ela sarcasticamente, esfregando os olhos com as mãos, sonolenta. - , mas acho que não vou precisar.

Rony corou violentamente, mas á luz fraca da vela, ninguém percebeu. Ouviram-se mais um barulho e Harry apareceu, empunhando a varinha contra Amanda. Ela ergueu a sobrancelha e o encarou com voracidade através da luz da varinha.

- O que você está fazendo aqui? - perguntou ele rispidamente.

- Eu pergunto o mesmo a você. Ou a Gina está aqui também? A coisa tá boa hein! - disse ela em tom de sarcasmo.

Harry mirou a varinha para o rosto dela. Amanda não demonstrou reação alguma, ainda sorria levemente.

- Vai me atacar, Harry? Só porque eu estava...

Ela foi interrompida por outro barulho, dessa vez vindo do chão. Harry apontou a varinha para a parede e uma gata branca eriçou os pêlos longos, sibilando baixinho, mostrando caninos pontiagudos.

- É só um gato! - reclamou ela, se virando para Harry. - Como eu ia dizendo se não tivessem interrompido a minha pessoa, eu estava na cozinha porque acordei e fiquei com fome, não posso? Os elfos são legais, mas feios, e acordam quase duas da madrugada só pra te fazerem um chocolate quente! - Os punhos de Hermione se fecharam involuntariamente. - E agora eu quero voltar para o meu quarto, ou será que vocês três não vão deixar?

Ela se balançou para frente e para trás sobre as pantufas de coelhinho, encarando todos e sorrindo com uma expressão inocente. Rony interveio:

- Como você conseguiu sair da sala comunal á essa hora? Que eu saiba a tropa de elite toda tá vigiando os corredores agora!

- E daí? - Amanda sacudiu os ombros e tomou um gole do chocolate quente. - Eu sempre dou um jeito de escapar, não era diferente em Beauxbatons...

- O quê? - perguntaram os três em uníssono, espantados. Ela tossiu metade to chocolate quente e arregalou os olhos, assustada com o que tinha dito.

- Nada - Amanda se apressou em dizer, mas foi rápido demais. - Bem, vou dormir...

Ela virou a curva do corredor tão rápido que parecia ter desaparatado. Harry, Rony e Hermione se entreolharam, perplexos.

- Ainda resta alguma dúvida de que ela seja francesa? - perguntou Harry enquanto voltavam para a sala comunal.

Nenhum dos outros dois estava pensando nisso.

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