≈. Verdades Incertas



Um ofuscante lampejo verde e depois a escuridão. Amanda acordava no hospital St. Mungus seis meses depois, sem lembrar por que estava ali. E agora ela estava na mesma enfermaria de antes e se sentia tão mal como nunca.
Então era verdade o que sua mãe lhe dizia no sonho. Amanda era a responsável pelo assassinato dos próprios pais.

- Mandy, eu não queria lhe contar, mas você insistiu...

- CALA A BOCA! - Amanda gritou angustiada, tentando amenizar a dor e a raiva que sentia daquele homem. - Você não sabe de nada! Você acabou com a minha vida!

- Sei como você deve estar se sentindo, foi por isso que escondi a verdade por tanto tempo - murmurou o sr. Borgin, se levantando da cama e indo para perto da janela onde ela estava. - Eu não quero seu mal...

- Você me roubou! - esbravejou ela, virando-se de frente para ele. - O colar aque meu pai me deu de presente quando eu fiz dez anos! O que você queria, afinal? Já não batava ter ficado com todo o ouro da minha mãe, ainda tinha que roubar a única lembrança do meu pai?

- Eu não toquei em um galeão sequer da Kate - disse ele visivelmente aborrecido. - Aquele colar estava amaldiçoado e eu vendi para sobreviver e trazer você pra cá...

Amanda encostou a cabeça na parede fria e fechou os olhos. Nada daquilo deveria ser real, era só mais uma mentira inventada por ele...
Então por que tentara matar Gina?

- Foi sem querer, eu não queria matar meus pais... - disse ela com a voz fraca. Enterrou as unhas com força na mão esquerda até sentir o sangue quente escorrendo pelos dedos. - Eu não sei como aconteceu... eles estavam brigando muito, eu queria que eles parassem, queria que eles ficassem juntos... - Amanda o fitou desamparada. - Por que você me tirou da França? Eu queria viver lá...

- Você não podia continuar na França se sua avó estava aqui. Ela teria que ficar com você, embora não desejasse - explicou o sr. Borgin sem olhar para Amanda. - Ela te trasferiu de Beauxbatons para Hogwarts, onde ninguém te conhecia e não poderiam contar absolutamente nada que te prejudicasse.

Amanda suspirou e fitou o homem é sua frente. Apesar de tudo de ruim que ele havia feito, queria agradecer por ele não a ter deixado morrer, porém seu orgulho falava mais alto. E lentamente, como se algo ali a prendesse, ela virou as costas e saiu da enfermaria em silêncio, sem se despedir, como sempre fazia.



Desde que voltara para Hogsmeade, Amanda sentia como se nada mais fizesse sentido além da terrível verdade que a perseguia. Ela andava solitária como que perdida por aquelas ruas desconhecidas, ás vezes se perguntando por que não ia embora de vez daquele lugar.

Amanda ouviu alguém gritando seu nome, porém não se virou; continuou andando porque não queria falar com ninguém naquele momento. Quando agarraram a sua mão, ela se virou, pronta para pedir a quem quer que fosse " me deixe em paz!", mas quando viu quem era, estreitou os olhos e ficou calada.

- Mandy, onde você estava? Procurei você por todo o lugar de Hogsmeade - disse Draco, cansado de tanto correr. - Queria que você conhecesse o meu pai, mas ele já foi embora... que foi?

Amanda estava quieta e tinha o olhar de raiva para as mãos entrelaçadas. Ele entendeu e soltou a mão dela rapidamente, estranhando o comportamento agressivo dela. Por qual outro motivo ela perguntaria onde fica Borgin & Burkes?

- Você não estava em Hogsmeade.

Ela mordeu o lábio, aflita e com repentina irritação. Odiava não conseguir mentir para ele, mesmo que tentasse.

- Não estava - disse ela rispidamente, sem encará-lo. - E isso não é problema seu.

- Ótimo, e da próxima vez não vou me preocupar com quem não merece - respondeu ele secamente, no mesmo tom de voz arrogante que ela.

Amanda cruzou os braços e continuou andando, enquanto ele ia na direção oposta. Fora tão ingênuo ao pensar que ela era diferente. Estava apaixonado por uma garota completamente imprevisível e tão arrogante quanto ele. Draco tinha raiva dele mesmo por ter se envolvido com ela.
E agora estava num labirinto onde ele não conseguia sair.

Amanda sem querer havia descontado toda sua raiva em Draco. Sabia que ele não tinha culpa, queria implorar para que ele não a deixasse sozinha na hora que ela mais precisava... Lembrou-se das palavras dele " não vou me preocupar com quem não merece"... então ele se importava. Mas eu não mereço que ele goste de mim... pensou ela, enfurecida. - Eu-não-mereço!
Ela se jogou na grama, odiando a si mesma. Idiota, ele gosta de você e você o tratou daquele jeito!, ela disse para si mesma, agora tendo a certeza que havia afastado de si talvez a única pessoa que gostava dela com sinceridade.



Algumas semanas mais tarde Amanda não era mais aquela frágil garotinha de antes. Harry percebeu que o comportamento dela estava diferente e se tornara repentinamente agressiva. Ninguém sabia o motivo da mudança, a não ser ela mesma.
O que Harry menos queria era encontrá-la, mas ela parecia estar em todo lugar que ele ia.

- Harry, poderia me dar um pouquinho da sua atenção? - perguntou ela num tom levemente educado e inocente, que não o convenceu. Amanda se sentou de frente para ele na aula de Herbologia e Hermione lançou um olhar extremamente irritado a ela e foi para o canto oposto da mesa.

- Harry, eu já pedi desculpas um milhão de vezes! - disse ela nervosa, jogando os livros com força em cima da mesa enquanto ele a ignorava completamente. - Não precisa me tratar como se eu não existisse!

- O que você quer que eu faça? Te abraçar e depois sair cantando? - sibilou ele sarcasticamente e continuou, numa fúria mal contida. - Depois do que você fez com a Gina? Por que não me contou que é uma veela?

Amanda se mostrou surpresa que ele soubesse disso. Se virou lentamente para onde Rony estava, no canto perto de Hermione. Ele desviou o olhar, corando ligeiramente.

- Então ele contou... - murmurou ela com o olhar triste. Isso costumava ser um segredo entre nós dois, disse ela para si mesma, agora disposta a não confiar mesmo em quem quer que fosse. Ao pensar nisso, voltou a agressividade de antes: - Mas e daí? Você acha que eu vou me transformar em um monstro e sair atirando bolas de fogo por aí? Harry, você é tão idiota...

- Então, você pode dizer o que quer? Não sou obrigado a ficar aturando você durante uma aula inteira - disse ele enfurecido. Sabia que Amanda era capaz de qualquer coisa por vingança. Qualquer coisa.

- Sei que isso já não importa mais a ninguém, mas mesmo assim eu queria saber - disse ela alisando o cabelo para longe do rosto e o fitando seriamente. - Quem disse para Gina que eu estava com você na sala comunal naquela noite?

Harry parou e avaliou Amanda atentamente, que tinha uma expressão falsamente inocente como se aquela fosse uma pergunta sem importância para ela. Harry sabia ao olhar nos olhos azuis dela, que estava mentindo.

- Luna Lovegood - respondeu ele, olhando para ela. Amanda não demonstrou reconhecimento algum por aquele nome. - Ela é da Corvinal e eu espero que nada de ruim aconteça com ela por acaso - acrescentou ele em tom de ameaça.

- Lovegood? Sei... - ela repetiu distraidamente, se levantando devagar e continuando: - Por que aconteceria algo de ruim com ela? Eu não sabia que alguém além da Mia tivesse a senha das outras Casas...

Ela agradeceu e acenou brevemente para Harry. Tornou a sentar na mesa mais á frente, olhando para fora da janela, desligada do resto do mundo.



Na aula seguinte não foi diferente. Amanda estava tão focalizada nos próprios (e muitos) problemas que surgiram que não conseguia mais dormir á noite. Com tanto sono, nem reparou que saía uma fumaça densa e escura do balão de vidro onde estava a sua poção.

Ela ergueu os olhos preguiçosamente e viu que o professor Slughorn a observava com um olhar de censura.

- Tem certeza que a poção da prosperidade deve ficar assim? - perguntou ele, apontando para o frasco dela, que continha um líquido cor de grafite e borbulhava sobre as chamas púrpuras em cima da mesa. - A senhorita pelo menos leu como deve ser preparada?

Ela sacudiu a cabeça negativamente e bocejou. Houve uma onde de risadinhas debochadas das garotas atrás dela. Tentando ignorá-las ao extremo e resmungando baixinho, Amanda se debruçou sobre o livro, leu a lista de ingredientes rapidamente e acrescentou as folhas de salgueiro na poção.
Nada aconteceu, a não ser terem saído quantidades maiores de fumaça preta.

Slughorn fez um sinal de desaprovação e foi para a mesa do garoto ao lado. Ela bateu a mão na testa e olhou aborrecida para a poção borbulhante. As garotas riram com mais vontade e isso começou a irritá-la.
Amanda se voltou para trás rapidamente e viu que a poção de Hermione e as outras estavam perfeitamente verdes como dizia no livro. Burra... você é uma bruxa ou não é?, murmurou ela baixinho, não consegue nem fazer uma poção direito?

Com raiva, ela bateu o livro na mesa com força e a poção começou a espirrar o líquido preto pra todo lado. Amanda se levantou assustada e sem saber como provocara aquilo; se irritou profundamente com as risadas que explodriam e se virou, encarando todos na sala que riam dela.

- É tão difícil assim? - debochou Lilá. - Até um trasgo faria isso!

Foi como em câmera lenta. Inexplicavelmente todos os balões de vidro explodiram, um de cada vez, com um barulho ensurdecedor, cobrindo o chão da sala de estilhaços. O líquido verde bateu nas paredes e no rosto de todos, logo se transformando em uma gosma esverdeada e pegajosa.

O silêncio foi total. O professor arregalou os olhos e ficou sem fala. Ele e Amanda eram os únicos que não tinham sido atingidos.
Ela cobriu a boca com as mãos e paralisou por um momento, todos os olhares voltados para ela. Em seguida, para a surpresa geral, ela não conseguiu se conter e soltou uma gargalhada estridente que ecoou pela sala. Amanda não conseguia segurar o riso, ora olhando para Harry, que tentava sem sucesso tirar a poção do óculos, ora para Hermione, com os cabelos verdes e cobertos por um limo nojento.
Amanda estava parecendo uma criança travessa e sentiu-se incrivelmente bem ao perceber que era a primeira vez que ria em muitos dias. Ela ergueu os olhos marejados de lágrimas e corou ao ver o olhar severo do professor.

- Na minha sala, agora, srta. Hartwell!

Amanda não esperou ele mandar duas vezes. Saiu da sala cambaleando, de onde ainda se ouvia suas risadas altas e debochadas pelo corredor.



Amanda só parou de rir em frente a sala do professor Slughorn, quando lembrou que ganharia uma detenção pelo que fizera. Secando as lágrimas provocadas pelo riso descontrolado, ela entrou e esperou encostada ao lado da porta.

- Já disse, não tem como selar isso!

- Snape, será que não podia tentar de novo?

Snape entrou na sala, seguido por Slughorn. Nenhum deles notou Amanda ali. Os dois pareciam bem irritados e discutiam abertamente:

- Não tem como!

- Por favor Snape, tente! - implorou Slughorn, se encaminhando para a mesa. - Ela está tentando me controlar, quando eu percebo já estou abrindo a caixa! - ele estremeceu. - Nem quero pensar no que pode acontecer se eu tocar nessa pedra...

- Então não pense - murmurou Snape friamente, colocando em cima da mesa uma caixinha de madeira que emitia um estranho brilho esverdeado. Amanda ergueu a sobrancelha, desconfiada. - Mas não posso fazer mais nada a respeito dessa esmeralda.

- Er... oi?

Snape se virou lentamente ao ouvir aquela voz, com uma expressão desagradável no rosto. Boquiaberto, o professor Slughorn se lembrou que tinha ordenado que Amanda o esperasse ali e só agora percebera.

- Er, desculpa... eu não ouvi nadinha da conversa dos senhores, eu juro! - mentiu ela rapidamente, cruzando os dedos.

Snape caminhou até ela devagar, estudando a expressão fingidamente inocente de Amanda, que sustentou o olhar dele com determinação, sem desviar nem quando eles ficaram frente a frente.

- O que está acontecendo, Snape? - perguntou aturdido o professor Slughorn.

Ele não respondeu. Continuou encarando os olhos azuis dela insistentemente, como se quisesse perfurá-los. De repente o rosto dele clareou num inconfundível sorriso presunçoso.

- A srta. Hartwell aqui é uma perfeita Oclumente - disse o professor Snape fitando Amanda com uma expressão quase cruel. - Seu pai ficaria orgulhoso de você.

- O senhor sabe quem é meu...?

Snape bateu a porta e deixou a garota sem chance de concluir a pergunta. Amanda se sentiu atordoada com as palavras de Snape.

- Bem, srta. Hartwell, a senhorita quebrou algumas regras...

Ela não ouvia o professor Slughorn. Estava concentrada demais em Snape. Não sabia quase nada sobre ele.E se ele conheceu meu pai...?

- ...poderia acarretar em ferimentos gravíssímos, a senhorita deve saber que uma coisa dessas não é tolerada em Hogwarts...

Uma coisa que brilhava fortemente despertou Amanda do repentino devaneio. Era impresssão sua ou a caixinha de madeira estava brilhando mais intensamente depois que Snape se fora?
Ela ficou observando silenciosa, e sentiu uma imensa curiosidade de saber o que tinha dentro dela.
Mas eu já vi isso antes... pensou ela, tentando lembrar onde, embora o professor falasse tão alto que atrapalhava, ... na briga com Hermione, o professor snape estava com essa caixa!

- ...detenções todos os dias, durante uma semana, ficou claro?

- Sim, senhor.

Naquela noite Amanda não conseguiu dormir mais uma vez, mas não estava pensando na detenção, e sim no que acabara de perceber, que havia uma forte ligação entre ela e o que estaria dentro da caixa.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.