≈. As Lembranças de Srta



Amanda passou uma semana inteira longe de todos. Só aparecia nas aulas de aparatação, e mesmo assim não falava com ninguém. Não que estivesse fugindo, mas não queria encontrar com Gina, porque as lembranças da noite do baile ainda a atormentavam, e Harry teria a sua hora certa de resolver os problemas.

Ela se olhava no espelho distraidamente, enquanto cortava os cabelos com uma tesoura quando ouviu uma batida na porta do seu quarto.

- Ei, por que você sumiu? - perguntou Mia, entrando sem esperar convite. - Tá sozinha? Pensei ter ouvido alguém aqui dentro.

- Imaginação sua - disse Amanda se sentando na beirada da cama. Mia a imitou. - Você podia ter vindo me ver antes.

- Impossível - retrucou Mia pegando a tesoura e cortando algumas mechas do próprio cabelo. - Não consigo mas ficar no quarto da Vallery, está me dando nos nervos! Alexy não está mais falando com ela, também, depois do tapa que a Val deu nela... ah, e a Natalie fez voto de silêncio já que ninguém acredita nas profecias dela, a última coisa que disse foi que ela não queria ser uma vidente fracassada.

- Que bom, assim ela pára de me assustar - murmurou Amanda arrepiando os cabelos com a mão num gesto muito seu. - Só fico triste por não ter visto você de ressaca depois de beber tanto uísque de fogo! Deve ter sido tão legal! - acrescentou com um sorriso.

- É, foi engraçado - comentou ela. - Mas depois de tanta festa, vamos poder recarregar as energias sabe por quê? - gritou Mia pulando na cama. - Fim-de-semana em Hogsmeade!

- Que ótimo - disse Amanda apaticamente e não achou a idéia tão divertida quanto ela, mas em seuguida acrescentou com uma curiosidade repentina: - Pode usar magia em Hogsmeade?

- Pode, pelo menos nunca me pegaram, sou menor de idade - observou ela. - Esqueci que você nunca foi lá.

Amanda sorriu. A chance perfeita aparecera. Dali a dois dias ela poderia procurar mais repostas sobre o seu passado, e isso seria um segredo. Entre duas pessoas.



Harry, Gina, Hermione e Rony se encontravam na sala comunal depois do treino de quadribol. Minutos depois, duas garotas passaram por eles; Mia, acenando para todos com um sorriso no rosto e Amanda, parecendo muito infeliz.

- Pensei que Mia fosse sua amiga - sibilou Harry para Gina.

- De nós duas, infelizmente - respondeu ela observando-as saírem pelo buraco do retrato. - Mia também não sabe o que Amanda fez comigo.

- O que que a Amanda fez com você? - interrompeu Rony com um ligeiro tom de preocupação na voz. Ele percebeu que Hermione e Harry se entreolharam. - Tem alguma coisa que vocês não contaram pra mim?

- Ah, bem... foi só uma discussão - mentiu Gina para não deixá-lo ainda mais preocupado. - O caso é que ela é um pouco... temperamental.

- Claro que é - retrucou Rony estranhamente enfurecido. - Gina, Amanda não pode ficar irritada ou nervosa demais; ela pode se descontrolar, toma cuidado.

- Eu sei me defender, por mais temperamental que ela seja - disse Gina em tom de desafio.

- Até contra uma veela? - indagou Rony.

- Amanda não é uma veela - interrompeu Harry rapidamente. - Não tem nada a ver com aquelas mulheres que vimos na Copa Mundial de Quadribol...

- ... E os garotos não ficam olhando para ela igual retardados - reforçou Hermione. - Impossível.

- Ela é sim - disse Rony. - Eu desconfiei da Amanda desde o dia que ela chegou aqui. Eu também fui o primeiro a dizer que a Fleur também era uma, lembra?

Essa era uma informação que Harry não esperava. Não conseguia imaginar que Amanda fosse realmente uma veela. Ela nem sequer tinha aquele brilho na pele que reluzia como o luar, tão característico. Ou ela seria uma descendente distante das veela ou estava fingindo não ser uma, muito bem. Harry sentiu um movimento ao seu lado e voltou para o presente.

- A mãe dela era uma veela, pelo que ela me disse quando a gente ainda se falava - continuou Rony como se tivesse adivinhado os pensamentos dele e feliz pela atenção quer recebia. - Amanda disse pra eu não contar pra ninguém,mas sabe como é... depois do que ela fez com Hermione, imagina o que teria feito com você, Gina...



Uma brisa amena de primavera cortava o ar quente em Hogsmeade, onde três garotas do sexto ano caminhavam calmamente sob o sol, não se preocupando com o calor que fazia. Amanda se despediu de Mia e Vallery na entrada do Três Vassouras. Elas seguiram em frente, depois de olhar maliciosamente para dentro, querendo ver quem estaria esperando Amanda. Ela entrou no bar um pouco chateada com o excesso de decoração e olhou em volta, esperando encontrar algo além de flores.

Ela bateu com os dedos na mesa onde um rapaz de cabelos loiro-prateados bebia uma garrafa de cerveja amanteigada distraidamente.

- Oi - disse ela sentando-se e puxando a garrafa das mãos dele embora tivesse duas na mesa. - Sentiu minha falta?

- Um pouco - disse Draco pegando outra garrafa, já acostumado com a ousadia dela. - Se quiser eu posso te levar para um lugar melhor que isso aqui.

- Quero ficar aqui - retrucou ela decididamente. - Hogsmeade não é tão divertido com eu imaginava, mas é melhor do que ficar trancada na escola.

Draco sorriu com a rápida avaliação dela. Amanda ergueu a sobrancelha e o encarou. Não era todo dia que via ele rindo.

- Não vou poder ficar muito tempo aqui... ei, isso é bom! - exclamou ela quando puxou da mão dele a segunda garrafa. Em seguida tomou um gole e baixou a voz: - Você sabe o que é Borgin & Burkes?

- Uma loja de artigos das trevas - respondeu ele limpando a garganta e olhando para ela ligeiramente desconfiado. - Por que quer saber?

- Se você sabe o que é, então deve saber onde fica... - disse ela em tom de conversa, fingindo não escutar a pergunta dele.

- Na travessa do Tranco, perto do Beco Diagonal - respondeu ele aparentemente desconcertado. - Mas você não vai querer ir lá, Mandy... ou vai?

- Não - respondeu ela distraidamente.

Travessa do Tranco... Amanda repetiu mentalmente várias vezes, olhando fixamente para o rótulo da garrafa sem perceber. Estivera naquele lugar há três anos? Ou mais? O fato é que agora ela sabia perfeitamente pra onde ir, sabia exatamente como era a rua, como se a estivesse vendo agora. Era como se a resposta estivesse ali o tempo todo e ela não percebesse.
Repentinamente, Amanda se levantou da cadeira e se jogou no colo dele dando um beijo de tirar o fôlego, atraindo vários olhares invejosos e alguns chocados com a intensidade da cena.

Minutos depois amanda saiu do bar sem de despedir, deixando Draco refletir calmamente sobre o porquê dele estar se apaixonando cada vez mais por aquela garota arrogante e deliciosamente imprevisível.



Amanda caminhou sozinha sem olhar para as vitrines berrantes ou para as pessoas que passavam. Ela virou a esquina e entrou em um beco escuro e deserto.

- Tenho 3 horas... - murmurou para si mesma. - Espero que dê certo...

Ela fechou os olhos e se concentrou. Pouco depois ouviu-se um craque e ela desaparatou.

Ela reapareceu em uma rua estreita e sombria, onde havia várias lojas especializadas em artes das trevas, pelo que se via nas vitrines. Vários bruxos de aparência estranha fitavam-a curiosos. A maior loja exibia um letreiro antigo, onde se lia "Borgin & Burkes" e parecia abandonada, com tábuas nas janelas. Amanda empurou a porta lentamente e surpreendeu que estivesse aberta. Lá dentro se deparou com prateleiras totalmente destruídas e empoeiradas, nada a ver como ela lembrava que eram antes.

- Senhor Borgin? - ela chamou, alto e ao mesmo tempo hesitante.

Ninguém respondeu. Ela se debruçou no balcão e tocou a sineta, mas retirou o braço rapidamente quando uma aranha escalou a sua mão. Quando ouviu um barulho atrás da porta em frente ao balcão, pulou pra trás, esmagando acidentalmente vários cacos de vidro. Preparou a varinha e esperou.
Para sua surpresa, uma bruxa idosa apareceu, segurando uma faca . Tinha os cabelos brancos e sujos e parecia extremamente zangada.

- O que é? Estamos fechados! - disse ela roucamente, deixando a faca em cima do balcão.

- Er... o sr. Borgin...? - começou Amanda com um ligeiro arrepio.

- Vocêêêê - a velha arregalou os olhos e gritou, apontando para ela. Amanda deu mais um passo para trás, assustada. - Você não pode estar aqui! Você está morta

- Eu não... do quê a senhora está falando? - perguntou Amanda, confusa.

- Ah, não... claro que não... - resmungou a velha como se não ouvisse Amanda. - Ela era mais velha... mas são idênticas. Você é filha dela então? - e acrescentou: - Hartwell.

- Sou filha da Kate - confirmou ela com uma repentina coragem. - Talvez a última descendente dos Hartwell. Mas o problema é que eu perdi parte da minha memória e agora eu vim procurar o sr. Borgin, que era amigo da família, minha mãe disse que ele sempre poderia ajudar...

- Kate, Kate... ela foi tão arrogante quanto orgulhosa - disse a bruxa com repugnância. - Jovem, rica, abandonada pelo namorado, grávida... mas ela não quis se casar com meu filho. Queria a qualquer custo manter o nome Hartwell, a herança de sua família...

- Como? - perguntou ela ainda mais confusa. Na certa a bruxa estava delirando.

- Ela não quis o meu filho... feio demais, velho demais, enquanto ela tinha o outro aos seus pés. Mas ele foi a desgraça dela, ah como eu ri no dia em que ele acabou com a vida dela... - murmurou a velha num tom cruel. - E aqui está a filha de Kate Hartwell, a menina de quem meu filho tanto falava... !

Nada disso fazia sentido para Amanda. Ela sacudiu a cabeça, tentando se livrar de uma súbita vertigem.

- Senhora, eu só preciso saber onde está o sr. Borgin... - insistiu ela. - Por favor, preciso saber onde ele está!

- Meu filho foi atacado por aquele homem - resmungou a velha, apanhando a faca. - Está no St. Mungus, mas acho que não vai sobreviver...

- St. Mungus... o hospital?

- Sim, óbvio - a bruxa virou as costas. - E você dever saber onde fica, já que ficou três meses internada lá, não é Amanda?

Amanda confirmou com a cabeça, quase sem perceber. De repente ela teve a visão de uma enfermaria fechada e logo depois a de uma rua movimentada, onde se via uma vitrine antiga. Ela estava sendo levada por um homem que ela não conhecia.

- Sei onde fica, posso aparatar lá. Mas como eu vou achá-lo? - perguntou ela em desepero.

- Se vira - repondeu a velha e bateu a porta, deixando Amanda sozinha.



Amanda saiu o mais rápido possível da loja e parou na calçada. A hora para ela ficar fora estava se esgotando, e em pouco tempo teria que voltar para Hogsmeade.
Ela se concentrou de novo, dessa vez em uma vitrine antiga, onde ela aparatou em frente. Reconheceu cada canto daquela rua, e com um sorriso atravessou o vidro que levava ao st. Mungus.

Amanda não precisou pedir informações; algo lhe dizia exatamente para onde ir. Ela seguiu por um longo corredor, passando por vários curandeiros que saím por portas duplas e que nem percebiam que ela estava ali. Subiu por uma escada ladeada por vários retratos de curandeiros famosos na parede e só parou quando chegou ao quarto andar.
Havia ali mais uma sucessão de portas duplas e ela caminhou decididamente para a última. Cada cheiro, cada cor era tão familiar que despertavm lembranças ou fazia parecer que Amanda estivera lá no dia anterior.

- Está perdida, mocinha?

Ela se virou instantaneamente e viu um homem alto que acabara de sair da porta ao lado e não parecia nem um pouco com um dos curandeiros do hospital. Amanda sacudiu a cabeça lentamente, muda e enfeitiçada pelos belos olhos cinzentos dele. Ele apenas sorriu e continuou seu caminho, mas ela permaneceu ali, parada, até que ele sumisse de vista. Então se virou novamente e abriu a última porta, porém seus pensamentos estavam bem longe dali.
A enfermaria estava vazia, exceto por uma única pessoa que ocupava a cama no canto. Amanda se aproximou dela, olhado tudo ao redor. Eu estive aqui... murmurou para si mesma, ao mesmo tempo que tinha uma repentina lembrança. Se ajoelhou e começou a examinar a parede minuciosamente.

- Está procurando por isto?

Amanda abriu a boca mas não disse nada. Um homem de meia-idade e cabelos bagunçados apontava para algo no canto da parede. Ela sorriu ao ver escrito seu nome numa caligrafia floreada.

- Sim, obrigada - agradeceu ela e em seguida olhou e novo para ele. Se levantou assustada e surpresa. - Como sabia?

- Descobri ontem, quendo deixei cair o remédio - respondeu ele apaticamente. - Ficou nessa enfermaria também? Aqui faz frio. Por que quis escrever seu nome na parede?

- Quis deixar a minha marca até nesse lugar - disse ela sorrindo. - Até nesse lugar...

De repente o sorriso dela sumiu. Eles se observaram calmamente, como se fossem velhos amigos. Ela mudou tanto...

- Você demorou demais - murmurou ele sério. - Só permaneci vivo porque sabia que um dia você iria me procurar, srta. Hartwell.

- Eu realmente precisava - retrucou ela, cutucando as letrinhas com o tênis. - Mas não sinto nenhuma pena de ver o senhor nessa cama.

- Você falou como a sua mãe agora - resmungou ele, se endireitando na cama e deixando á mostra o peito enfaixado com bandagens grossas. - Eu poderia perguntar o que você veio fazer aqui, embora eu já saiba a resposta.

- Quero a verdade - disse ela o encarando com seus olhos azuis profundos. - Sr. Borgin, o que aconteceu comigo?

Ele fez uma longa pausa, como se estivesse avaliando o que iria dizer. Amanda não se mostrou impaciente. De qualquer jeito ela teria as suas respostas.

- Você sobreviveu a uma maldição - murmurou ele, pomposo como se estivesse falando com um rei. -, eu tive que cuidar para que você não morresse, porque isso custaria a minha própria vida, mas errei. Não contei com a possibilidade de você tentar cometer o suicídio duas vezes.

- Três vezes - rebateu ela, com uma súbita raiva pela lembrança. - Isso não importa agora. Eu quero saber por que eu não consigo me lembrar do meu pai!

Por favor, me dê a honra de fazer a pergunta primeiro - pediu o sr. Borgin. Como Amanda não protestou, ele continuou: - Como conseguiu chegar até aqui?

- Aparatando - respondeu ela como se fosse a coisa mais óbvia. - Eu estava em Hogsmeade, depois fui para na sua loja e sua mãe disse que você foi atacado por sei-lá-quem... Não estou interessada nisso e não posso ficar aqui por muito tempo.

- Então, o que você quer saber? - perguntou ele um pouco receoso.

- Eu quero que o senhor conte tudo o que sabe sobre a noite em que meus pais morreram e por que eu esqueci quem é meu pai.

O sr. Borgin se recostou na cama e a fitou com curiosidade. Amanda se sentou numa cadeira de frente para ele e devolveu o olhar com a mesma intensidade.

- Mandy, Mandy, a verdade nem sempre é o melhor, mas já que você insiste... - ele suspirou e olhou quase sonhadoramente para o rosto sério dela. - Eu tive que apagar a sua memória, para o seu próprio bem. Mas parece que o feitiço tem efeito temporário em você.

Amanda foi absorvendo lentamente aquelas palavras. Quando a raiva ficou tão insuportável, ela explodiu:

- Você apagou o meu pai da minha... COMO ASSIM, PARA O MEU PRÓPRIO BEM? - ela gritou, se levantando e derrubando a mesinha ao lado com um estrondo. - O que você pensa que eu sou? Por que teve que fazer com que eu me esqueça da única pessoa que me amou de verdade? Por que teve que me jogar na casa da minha avó, que me trancava no quarto durante dias? E QUEM MATOU MEUS PAIS???

Ela parou de gritar repentinamente. O sr. Borgin continuou impassível, frio e sem demostrar nenhuma reação. Amanda se jogou de novo na cadeira, tremendo de ansiedade e raiva.

- Ouça, Amanda, não posso lhe contar tudo o que sei, pois isto custaria a minha vida - disse ele calmamente. Ela soltou um riso involuntário e sarcástico, pelo o estado do homem a vida dele não duraria muito tempo. - Vou tentar explicar o que você tem direito de saber - disse ele num tom monótono, indiferente ao nervosismo dela. - Sua mãe foi vítima de um golpe e acabou perdendo tudo o que lhe pertencia, inclusive a loja que era sua herança. Eu conheci Kate quando ela tinha a sua idade, sempre confiamos muito um no outro, e não foi diferente depois de alguns anos. Ela me fez prometer que eu cuidaria de você caso algo de ruim acontecesse com ela. E de fato, aconteceu. Ela foi assassinada junto com seu pai. Somente você sobreviveu, isso foi quase um milagre.

- Mas por que mataram eles? - perguntou ela, parecendo imensamente chocada. - Podiam ter me matado também...

- E isso quase aconteceu, mas você está qui, não está? E também está se recuperando mais rápido do que eu pensava.

- Me recuperando? A culpa é toda sua! - disse Amanda rispidamente, com uma imensa vontade de quebrar a mesa na cabeça dele. - Você não tinha que ter apagado as minhas lembranças!

Ela respirava ofegante e tinha o olhar de extremo ódio; estava de frente para o homem que tinha praticamente acabado com a sua vida, a vida que sua mãe deixara nas mãos dele. Sua mãe e seu pai haviam morrido e ela estava sozinha. A dor era insuportável. O sr. borgin percebeu o repentino brilho prateado nos olhos dela.

- Sim, Amanda, foi necessário - disse ele com o tom de voz frio e particularmente cruel. - Como você viveria sabendo que foi você mesma que matou seus pais?

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