≈. Me desculpa?



Harry não via chance nenhuma de conseguir falar com Gina. Ela sumia de vista toda vez que ele estava por perto e não falava com quase ninguém durante os intervalos.

- O que houve entre você e a Gina? - perguntou Hermione durante o café-da-manhã, lançando um olhar penetrante.

- Nada - mentiu Harry de mau humor.

- Então por que ela está te evitando? - retrucou ela franzindo a testa. - Ela não quis falar comigo e também não anda muito feliz nos últimos dias, aliás...

- Tá, brigamos - respondeu ele, admirado com a capacidade de Hermione retirar informações nas horas mais impróprias. - Satisfeita?

- Não, também não vou perguntar mais - disse ela dando os ombros. -, espero que o Rony não saiba disso, você sabe como ele é com a irmã...

- Ele vai acabar sabendo, não vai? - resmungou ele sarcasticamente, olhando para o fundo do copo.

- Se pedir desculpa pra Gina pelo sei-lá-o-quê que você fez, ele não vai nem saber - concluiu ela, se fastando com dois livros nos braços. - Boa sorte.

Rony se sentou ao lado de Harry em silêncio, seguindo distraidamente Amanda com os olhos.

- Eu sei que ela é bonita, mas ela não vai cair no seu colo se você só ficar babando - brincou Harry.

- Quê?... Ah... - subitamente Rony percebeu que Harry estava ali. - Nem é isso, sei lá, garota estranha...

- Vai levar ela? - perguntou Harry. - Ao baile? - acrescentou ao ver que ele não entendera.

- Não mesmo! - exclamou Rony, olhando para Harry como se ele estivesse louco.

- Por que? - perguntou Harry.

- Porque pra convidar a Mandy tem que entrar na fila, além disso... - continuou ele, acabando com os restos mortais do sanduíche e fitando Hermione pensativamente. - A gente aprende com os nossos erros, não é?



No quarto de Vallery reinava uma bagunça muito maior do que a que Mia fazia todos os dias. Meia hora antes do baile, Mia estava a ponto de ter um ataque de nervos:

- Eu não vou usar isso! - gritou ela teatralmente, apontando para as sandálias de salto alto. - Isso aí é uma forma de suicídio lento!

- Que ótimo que você pensa assim, pirralha! - exclamou Alexy alegremente, prendendo na nuca os exuberantes cachos loiros.

- É, eu penso - disse Mia rispidamente. - Mas você não pode nem pensar, senão iria abrir uma cratera no chão! Aliás, se peito fosse cérebro, Alexy você seria um gênio!

Alexy torceu o nariz e ignorando-a, se voltou para Vallery:

- Vai com alguém, Val?

- Não, também não preciso - reespondeu Vallery desinteressada. - Não achei ninguém interessante, respeitável, digno...

- Você tá descrevendo a Madre Teresa de Calcutá? - brincou Mia, tentando abotoar seu vestido listrado em frente ao espelho.

- Bela fantasia de zebra! - gritou Amanda da porta, entrando sem avisar. Usava um vestido preto muito decotado e continuava com a gilete pendurada na orelha. - Vocês três já estão prontas?

- Vocês quatro, você quis dizer - disse Natalie com a sua voz estranhamente etérea; seus cabelos cor de fanta laranja ainda estavam molhados. - E não estamos. Mia, as estrelas não estão favoráveis pra você hoje á noite, então cuidado com o que vai fazer.

- Não adianta, eu não vou te ouvir de novo - gritou Mia tampando os ouvidos e dando as costas. Ficou olhando melancólica pro seu All Star velho debaixo da cama. Calçou-o sem que alguém visse.

- Bem, já vou indo então - disse Amanda rodopiando o vestido quase transparente. - Vejo vocês daqui a pouco.

Ela saiu das masmorras e subiu as escadas em direção á sala de Slughorn, que havia sido magicamente ampliada e estava quase do tamanho de um campo de quadribol. As luzes foram abaixadas lentamente e a noite se transformou num nevoeiro azulado perfurado por centenas de velas que tremeluziam como minúsculas estrelas.

Harry viu Amanda parar perto de Gina, e parecia estar procurando alguém. Ela o encarou por alguns segundos, com um sorriso enigmático no rosto. O corte do feitiço de Hermione ainda era um pouco visível na pele, mas Amanda não fez nenhuma questão de esconder. Seus cabelos loiros ondulavam no rosto, embora não houvesse vento nenhum. Ela desviou o olhar dele em direção a Gina e foi para o lado oposto da sala, seu vestido preto esvoaçando de forma provocante em torno dos joelhos.
Gina estava muito bonita em um vestido comprido azul-gelo e parecia extremamente infeliz. Com uma pontada de culpa, ele se virou e seguiu Amanda. Segurou-a pelo braço, a impedindo de fugir.

- O que você quer? - perguntou ela inocentemente, mas ele não a soltou.

- Sabia que a Gina terminou comigo, Amanda? - disse ele, apertando ainda mais o braço dela.

- Meus pêsames - respondeu ela sem emoção, recuando um passo. - Pode me largar?

- Você não entende? - falou ele num tom irritado, mas não a soltou. - Foi por causa da sua brincadeira. Alguém estava lá naquela noite, viu e contou pra ela.

- Como é que é? - disse ela e ouviu na própria voz o fio desesperado de esperança que talvez ele estivesse enganado. - Não viaja! Você mesmo disse que não havia ninguém na sala comunal naquela hora!

- Eu posso ter me enganado - retrucou Harry em voz baixa, porque já começavam a chamar atenção. - Então como você me explicaria isso?

- Não me pergunte, Harry! Também não é hora pra discutir isso! - sibilou Amanda, puxando o braço violentamente da mão dele. - Me encontre na sala comunal, depois do baile, ok?

No instante seguinte ela desapareceu por entre os bruxos, sem dar oportunidade de Harry dar uma resposta. Recostou-se em uma janela e ficou observando os jardins escuros de Hogwarts em silêncio, sem prestar atenção na música alta ou no barulho das conversas. Decididamente não queria acabar com o namoro de Harry e Gina, mas não ligava pra isso; ela viu alguém na sala comunal naquela noite e tinha certeza absoluta disso agora. Quem quer que seja, disse pra si mesma, eu vou me vingar.

- Falando sozinha?

Amanda teve um sobressalto e se afastou da janela, assustada. Logo percebeu, pelo jeito surpreso que Draco a olhava, que falara alto.

- Não, eu...

- Se vingar de quem?

Ela o encarou. Draco não perguntara em tom de censura ou desinteressado. Foi como se ele quisesse ajudar. Amanda balançou a cabeça, mas não disse nada.

- Não quer que eu participe dessa sua vingança? - perguntou ele com um tom malicioso na voz.

- Acha que eu não dou conta disso sozinha? - retrucou ela com aquele sorriso enigmático.

- Acho - disse ele avaliando-a atentamente e continuou - , que você está é na Casa errada. Você devia ser da Sonserina.

- Sonserina é a minha vida, mas a Grifinória é o meu lugar - concluiu Amanda, conduzindo-o pela mão até onde estava uma garota bonita de mechas verdes no cabelo que combinavam com seu vestido verde-água. - Aqui está, uma verdadeira Sonserina.

Vallery sorriu ao ver Draco ao lado de Amanda. Ele deu a volta oportunamente, dando a desculpa de ir pegar alguma bebida.

- Nossa você está tão... diferente! - comentou Amanda, percebendo pela primeira vez a cor violeta dos olhos dela.

- Por que será? - disse sarcasticamente um moreno alto, interrompendo-a. Alexy o abraçava grudada como um chiclete em seu vestido rosa-berrante. Amanda achou os olhos castanho-esverdeados dele estranhamente familiares.

- Sabem o que ele vai dizer agora? - surgiu inesperadamente Mia, com uma garrafa e cerveja amanteigada na mão, nada discreta no seu vestido listrado. - Lucas Dawson, capitão do time de quadribol da Lufa-Lufa, dezoito anos, puro-sangue - disse ela, imitando a voz dele e fazendo uma reverência. - Meu digno irmão de idade avançada, já namorou metade das garotas de Hogwarts.

- Amo você, pirralha - rebateu ele com o mesmo sarcasmo de Mia, o que fez eles se parecerem ainda mais.

Todos se viraram para o lado repentinamente quando ouviram a voz alta e etérea de uma garota bem mais chamativa do que Mia.

- Esses elfos devem ter algum problema...

Era Natalie, que poderia atrair olhares a quilômetros de distância se quisesse, pois usava um vestido laranja que se chocava violentamente com a cor do seu cabelo ruivo, dando a aparência de uma abóbora ambulante que gritava:

- BOLO DE ALHO? QUEM É QUE COME BOLO DE ALHO???

E ela passou tranquilamente, resmungando sozinha, sem dar atenção a ninguém.
Um minuto de silêncio se passou até que alguém decidisse se ria ou chorava.

- A srta. Fanta Laranja, cada vez mais excêntrica... - chiou Alexy quebrando o silêncio.

- Ai... meu... pâncreas... - murmurou Mia, corada de tanto fazer força pra não sair capotando de tanto rir. Lucas a olhou, penalizado.

- Mas e aí? Alguém que bolo de alho?


Draco só voltou um bom tempo depois que Vallery saiu e deixou Alexy tomando conta de Mia. Ele sabia que Vallery ficaria dando indiretas a respeito de falar mal das garotas da Grifinória e agora estar saindo com uma delas.

- O que é isso? - perguntou Amanda apontando para os copos que ele trazia.

- Uísque de fogo - respondeu ele, olhando para os lados. - Já experimentou?

- Não - disse ela pegando o copo e bebendo todo de uma vez. - Por que você me convidou?

- Você não devia beber isso tão rápido - disse ele difarçando, sem olhar pra ela.

- Por que você me convidou? - repetiu Amanda se colocando na frente dele.

- Porque você é legal - disse ele sem emoção, olhando fixamente para o copo.

- Não mente pra mim! - falou ela num tom irritado e imediatamente ela a encarou. - O jeito que você me olha, o jeito que você me pediu pra sair com você...

Draco se sentiu diferente. Aquela garota irritantemente convecida o tratava como um cachorrinho e obrigava-o a dizer a verdade... O olhar profundo dela o enfeitiçava e fazia ele se esquecer de tudo... Tinha começado a reparar em Amanda há muito tempo atrás e ela não percebia isso. Ou fingia que não percebia.

- Você é bonita - disse ele voltando a realidade. Se perguntou quantas vezes ela já tinha ouvido aquilo. Amanda chegou mais perto com uma expressão falsamente inocente que fez ele desviar os olhos.

- Draco, você falou comigo pela primeira vez quando me chamou pra vir ao baile e agora fala como se me conhecesse há muito tempo. Você não pode simplesmente me falar porquê me trouxe aqui? - perguntou ela decididamente, chegando tão perto que não tinha como ele não encará-la.

Ele se deu por vencido e se sentiu péssimo por isso.

- Porque eu gosto de você - murmurou ele, olhando no fundo dos olhos azuis dela.

Amanda conseguiu o que queria. Deslizou as mãos pelo ombro dele e o beijou intensamente, se esquecendo completamente que estavam em uma sala cheia de pessoas, mas se afastou rapidamente, surpresa com o efeito que o beijo dele causava. Nunca havia sentido isso por ninguém. Ela sorriu para um Draco curioso, imaginando que aquela seria uma noite que ela não esqueceria. Talvez...



- Rony?

Ele se virou instantaneamente ao ouvir aquela voz. Se estivesse com um copo de cerveja amanteigada na mão, certamente derrubaria no chão.

- Hermione... er...

Rony ficou sem fala, coisa difícil de acontecer com ele. Hermione estava ali, sorrindo para ele. Usava um faiscante vestido lilás e seus cabelos castanhos caíam como ondas pelas costas.

- Demorei? - perguntou ela, um pouco nervosa.

Ele balançou a cabeça negativamente. Pra ficar tão bonita, poderia demorar todo o tempo que quisesse. Não conseguia pensar em nada pra falar, era como se tivesse esvaziado a sua mente.

- Me desculpa? - perguntou ele com sinceridade, olhando fixamente para Hermione.

- Mas por que...? - tentou perguntar ela, mas Rony a interrompeu.

- Me desculpa por eu não ter te convidado pro baile da última vez, me desculpa por te tratar mal ás vezes, me desculpa por eu ser um completo idiota, porque isso eu tenho certeza que sempre fui. Enfim, pelas calças de Merlin, me desculpa?

Hermione parou por alguns instantes. O que deu nele para agir daquela maneira? E inexplicavelmente, por impulso, ela se atirou nos braços de Rony, num apertado abraço, sussurrando:

- Eu te desculpo por tudo.

Instantaneamente, Rony fez o mesmo, passou a mão nos cabelos dela e murmurou:

- Gosto tanto de você...

Hermione o soltou repentinamente e os olhos deles se encontraram. Ela, corada olhava para o chão e Rony, visivelmente constrangido, ficou em silêncio.

- Você tá muito bonita, sério - disse ele depois de alguns segundos. - Parece aquelas princesas de contos de fadas, sei lá.

Ela riu descontraidamente, um riso maroto que não era dela.

- Posso até parecer, mas sabe qual é a diferença? - perguntou Hermione, segurando na mão dele e o puxando para a pista. - O meu encanto não acaba á meia-noite.



Harry procurava por Gina. Em uma das raras chances que tinha para falar com ela, não conseguia encontrá-la em lugar nenhum. Queria explicar que a confusão do que acontecera na sala foi um mal-entendido...
Ele saiu da sala e viu Gina subir correndo as escadas segurando seu vestido azul-gelo esvoaçante.

- Gina, espera...!

Ela fingiu que não ouvira e passou direto do retrato da Mulher Gorda, seguindo direto pelo corredor, e Harry sabia muito bem pra onde ela iria.

- Me deixa em paz, Harry! - Gina e virou furiosa e o encarou. - Não acha que já estou mal o suficiente? Veio fazer com que eu me sinta pior?

- Não é nada disso! Gina, escute... - começou ele.

Ela deu a volta e ai fugir pelo lado dele, quando ele a segurou. Harry olhou no fundo dos olhos castanhos de Gina.

- Você não sai daqui enquanto eu não terminar.

Ela o encarou com a mesma intensidade. Metade de sua consciência queria escutar o que ele tinha a dizer, e metade queria sai correndo dali o mais rápido possível, sem olhar pra trás.

Gina decidiu ficar. Se soltou das mãos dele e se virou, com raiva de si mesma. Ela se encostou na parede, bem distante dele. Harry se impressionou como havia se formado um abismo entre eles. Como podiam ter se afastado tanto?

- Gina, me desculpe... - começou ele, hesitante. - Naquela noite, eu não queria, só ficamos alguns minutos, ela simplesmente se aproximou de mim...

- Elas "simplesmente se aproximam de você" - ela o interrompeu, furiosa. - Você já pensou alguma vez em dizer não?

Gina, de braços cruzados, olhou para ele, á espera de uma resposta, mas Harry não retribuiu o olhar.

- E ela? Quem é ela? - continuou Gina, diante do silêncio dele. - Você não pode me dizer?

- Foi diferente! - disse ele quase gritando e ignorou as perguntas dela. - Eu pensei que ela fosse você!

Harry se arrependeu de ter falado daquele jeito. Gina escondeu o rosto nas mãos e escorregou para o chão. Olhou para o belo vestido e pensou como era errado parecer tão bonita e se sentir tão mal por dentro.

- Eu não consegui fazer com que ela parasse... - continuou ele.

- Mas você podia. Você sabia o que estava acontecendo - falou ela baixinho, com frieza na voz.

- Claro que podia - retrucou ele com a voz sumida. Fora ao baile á procura de Gina, desesperado para contar o que acontecera, tinha magoado-a, e agora estavam quase discutindo. - Mas acho que não quis que ela parasse.

Gina soluçou. Ele chegou mais perto, mas ela não se mexeu. Era a primeira vez que a via chorando, e isso o deixou pior, se é que isso fosse possível.

- Gina, por favor, me desculpa - disse ele com sinceridade. - Já disse, pensei que ela fosse você, eu amo você. Aliás, você lembra porque não foi na sala comunal de noite como combinamos?

- Não.

- Nem lembraria. Ela armou uma cilada pra você.

- Como? - Gina pareceu ter despertado de um devaneio repentino. - Mas o que...

- Poção do sono - interrompeu ele. - Simples. Ela mesma me contou.

Gina abriu a boca, mas não disse nada. Raciocinava tão rápido que nem ouvia o barulho dos alunos que voltavam do baile para as salas comunais. Ela se levantou e começou a andar de um lado para o outro.

- Você disse... você pensou que ela fosse eu, certo? E o que mais? - perguntou ela com urgência.

- Ela usava o seu perfume.

Gina sacudiu a cabeça, impaciente.

- Não pode ser. Meu perfume é único.

- Eu perguntei, ela também disse que tem alergia a perfumes, mas eu senti... é inconfundível - explicou ele.

A mente dela clareou. Tudo se encaixava perfeitamente. Inteligente, pensou ela, e tão óbvio...

- E antes disso? - tornou a perguntar, tremendo de euforia. - O que você fez enquanto estava na sala?

- Eu estava tentando descobrir o que acontece de vez em quando com o espelho de Sirius...tomei uma caneca de chocolate quente que a Hermione fez e...

- Hermione não sabe nem fritar um ovo.

Harry a encarou, boquiaberto. Gina estava parecendo uma detetive. Já não chorava; exibia uma expressão inconfundível de satisfação. Ela chegou mais perto dele.

- Por favor, me diz onde ela está...

Ela estava perto demais. Ele sentiu uma leve sensação de vertigem ao dizer:

- Na sala comunal.

Gina sorriu. um sorriso maldoso que não combinava com ela.

- Preciso esclarecer uma coisa - disse ela um tanto nervosa. - Me espera no seu quarto?

E dizendo isso, ela correu, deixando Harry ali sozinho. Quem quer que seja, me aguarde, disse Gina para si mesma quando entrou na sala comunal.



- Gina, não!

Harry a alcançou antes que o buraco do retrato de fechasse.

- Gina, não vai fazer uma besteira... - disse ele olhando para os lados. - Desiste disso... ela só vem depois do baile...

Gina continuou impassível. Se era sua decisão, ela faria.

- Não, Harry - disse ela seriamente. - Se for o que eu estou pensando, eu é que vou ter que pedir desculpas a você; eu só preciso de uma resposta.

Harry assentiu, contrariado. Conhecendo Amanda como ele conhecia, dava pra saber que dali não sairia boa coisa.



Amanda e Vallery eram umas das poucas pessoas que continuavam na sala no fim do baile. Amanda havia reparado como Vallery estava diferente, um pouco mais calada que o normal. Pousou seu olhar distante no irmão de Mia, Lucas, que Alexy agarava num canto.

- Problemas, problemas... - disse ela vagamente, mais para si mesma do que para Amanda.

- Depende do ponto de vista - disse Amanda erguendo as sobrancelhas. - Acho que Alexy não vai ser a cunhada preferida, porém...

- Não é isso! - interrompeu Vallery com um sorriso forçado. - Meu noivo... veio me procurar ontem.

- Seu o quê? - gritou Amanda, tendo um acesso de tosse e se recompondo em seguida.

- Noivo - repetiu ela sem emoção. - Venho de uma família muito rica e tradicional, tenho que casar com um puro-sangue, senão... - ela passou o dedo na garganta como um gesto significativo. - E agora ele voltou do trabalho na Itália e veio me ver querendo... bem, estava ansioso por algumas brincadeiras que eu deveria fazer agora que sou adulta...

- E o que você fez? - Amanda quis saber, reprimindo o riso.

- Joguei um tinteiro na cabeça dele e mandei ele ir embora - respondeu Vallery com ar de adoração.

- E ele foi?

- Foi. Deve ter aparatado de volta na Itália, ou quem sabe se perdeu no caminho... mas não devo alimentar esperanças... - murmurou ela desinteressada. - Em breve vou receber um berrador da minha querida mãe, que emoção :" é o segundo pretendente que você manda embora, sua garota depravada!" - Vallery imitou a voz da mãe.

Amanda não teve tempo de sentir pena dela; uma garota de vestido listrado vinha em sua direção, parecendo terrivelmente abalada. Mia cambaleou e segurou na parede, respirando com dificuldade.

- O que é que está acontecen...

Ela e Vallery pararam na mesma hora. Mia se sentou e a garrafa que segurava se espatifou no chão.

- Uísque de fogo? - disse Vallery olhando dela para a garrafa. - Quem deixou você beber isso?

Não precisava de Mia apontar; Vallery já sabia antes disso.
Andou até uma garota que estava de costas; seus cabelos loiros e cacheados iam até a cintura. Vallery a puxou pelo braço violentamente, tremendo de raiva.

- Ai, Val você está me machucan...

O som de um tapa cortou o ar. Alexy levou a mão ao rosto, assustada e perplexa. Vallery se esqueceu que era mais nova que Alexy. Concentrou toda a força para machucá-la. Amanda a fitava boquiaberta.

- Irresponsável! - gritou Vallery furiosamente. - O que te deu na cabeça pra deixar ela beber aquilo? Ela só tem quinze anos, e você tem dezoito! E você? - ela se virou para Lucas, igualmente chocado. - Mia é sua irmã, você tem que tomar conta dela!

Agora só eles estavam na sala, então não tinham como chamar atenção. Lucas se colocou entre elas e Alexy foi embora chorando, sem olhar pra trás. Vallery sustentou o olhar dele com a mesma intensidade.

- Você não precisava descontar a sua raiva nela! O que aconteceu com a Val que eu conheço? - disse ele sério.

Ela encolheu os ombros. Seus olhos ardiam.

- Mia é como uma irmã pra você, não é? Ela tem que aprender a não sair se embebedando por aí... e você, não fuma? - continuou ele com um ar descontraído. - É melhor levar ela pro seu quarto, não quero aguentar a pirralha de ressaca amanhã.

Os corredores estavam desertos. Amanda se despediu deles e rumou para a sala comunal, se encontrar com Harry. Tinha que esclarecer aquele caso de uma vez por todas.

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