≈. Desenganos




O Baile do Slughorn seria dali a duas semanas. Durante todo o tempo era o assunto mais comentado pelos corredores de Hogwarts, principalmente pelas garotas aflitas por um par.
Já eram quase meio-dia quando Hermione e Amanda saíram da sala da professora McGonagall.

- E então? - perguntou Mia. - Ela engoliu as desculpas?

- Ah, não foi muito difícil - respondeu Hermione. - Dissemos que estava tudo bem, que foi só um "conflito de personalidades"...

- Mas ela não acreditou muito e deu um sermão de boas maneiras igual minha avó costumava fazer... - acrescentou Amanda entediada. - Entra por um ouvido e sai pelo outro...

- Como sempre! - disse Mia alegremente. - Mandy, você pode vir comigo agora? Vejo vocês depois - acrescentou para Hermione e Gina, e saiu rapidamente.

Por um momento Amanda achou que Mia a estivesse levando para o salão principal, mas ela virou a esquina e desceu as escadas em direção as masmorras, parando em um corredor escuro em frente a uma parede lisa e úmida.

- Mia, que lugar é esse?

- Lividium... não, esse é da Grifinória... - ela hesitou, sem ouvir Amanda. - Seria... ofidioglota?

Uma porta de pedra apareceu na parede e deslizou para o lado, revelando a sala comunal da Sonserina.
Mia entrou tranquilamente, diante dos olhares mortíferos dos alunos.

- Você não é da Lufa-Lufa? - perguntou Amanda. - Perdi alguma coisa?

- Eu sou a única pessoa que tem a senha de todas as casas - respondeu Mia, orgulhosa. - Consigo tudo o que eu preciso assim. Posso entrar a hora que eu quiser.

- As pessoas daqui não parecem muito... simpáticas....

- Você se acostuma com o tempo, ou azara eles se ficarem te perturbando. Chegamos.

Mia escancarou a porta de um quarto totalmente decorado com as cores verde e prata.

- Quarto da Vallery - disse Mia, pulando na cama como se fosse dela. - É a única garota que salva nesse pessoal esnobe da Sonserina. Daqui a pouco ela chega, nem liga pra bagunça.

Ela pegou um travesseiro e jogou para o alto, dizendo diffindo! e o travesseiro se rasgou numa chuva de penas. Amanda se sentou na beirada da cama, tentando ficar longe daquela bagunça e pegou um porta-retrato que estava em cima de uma mesa ao lado.

- Adoro essa foto! - disse Mia sorrindo e jogando algumas almofadas no chão. - Venom, formação original!

- O quê?

- Venom, as garotas de elite de Hogwarts - disse Mia rindo. - Ou pelo menos achamos que somos. Eu e a Nat entramos no ano passado.

A foto exibia três garotas que faziam bolas de chiclete azuis até estourar e riam bobamente umas para as outras.

- Essa aqui é a Vallery - disse Mia apontando para uma garota que parecia ter uns catorze anos, de cabelos longos e castanhos e óculos de aros vermelhos. - Essa fotografia foi tirada pelo meu irmão quando elas estavam no terceiro ano. Reconhece essa cara de nojo? - perguntou ela, mostrando a garota do meio, de cabelos longos e cacheados e expressão arrogante. - Alexy, claro!

- Essa garota eu nunca vi - disse Amanda indicando uma garota de olhos claros e cabelos pretos até os ombros, que contrastavam imensamente com a pela branca.

- Sabrina Jeffs - respondeu Mia. - Tudo começou com ela... - ela olhava fixamente para a fotografia desbotada. - Ela foi morta no quarto ano.

- Mas como? Foi aqui em Hogwarts? - perguntou Amanda assustada.

- Na verdade, ela desapareceu - disse ela, olhando para Amanda. - Vallery nunca quis me contar a história toda, mas pelo que eu fiquei sabendo depois, Sabrina foi expulsa de Hogwarts por usar magia na frente de uma família de trouxas - Mia assoprou uma pena do travesseiro. - Dumbledore atendeu o último pedido dela, se depedir da Vallery, Alexy e do meu irmão Lucas... E nesse dia ela sumiu.

- Mas ela não poderia ter fugido, ou coisa assim? - perguntou Amanda olhando para a garota no retrato como se ela fosse sair correndo dali.

- Vallery diz que não, mas por que eu não sei. Algumas pesoas disseram que viram Sabrina pela última vez perto da floresta proibida, o que faz pensar que ela pode ter sido morta por algum animal de lá - explicou Mia. - Procuraram ela durante semanas, mas não acharam nenhuma pista... continua sendo um mistério a morte daquela garota...

Mia foi interrompida pelo barulho da porta se abrindo e Vallery entrou cheia de sacolas nas mãos.

- Oi Mia, e aí, tudo certo? - disse Vallery, atirando uma sacola das Gemialidades Weasley pra ela. Seu olhar recaiu em Amanda. - Vi aquele Rony Weazy ou que nome tenha em Hogsmeade e ele não parecia nada feliz, Amanda - continuou ela, sem estranhar que ela era uma garota que mal conhecia e estava no seu quarto. - Desculpa, mas eu ouvi a discussão de vocês hoje de manhã e não gostei do jeito que ele te tratou, quase consegui azarar ele quando saía do Três Vassouras, mas tinha muitas testemunhas, sabe, Mia eu vou acabar ficando sem travesseiros se você inventar de rasgá-los todos os dias...

- Val, pra quê exatamente eu precisaria de uma poção do amor? - perguntou Mia, espalhando na cama vários frascos com líquidos cor-de-rosa. - Pra tentar levar alguém pro baile?

- Sei lá, só comprei porque eram coloridos e bonitinhos. Quer um, Amanda?

Ela não respondeu, mas pegou um e guardou no bolso. Estava concentrada demais tentando descobrir como aquela Vallery arrogante tinha mudado de um dia pro outro.

Depois de algum tempo elas rumaram para a sala comunal da Sonserina. Vallery sentou-se perto e alguns alunos que jogavam xadez e bruxo, entre eles Draco Malfoy.

- Mais uma? - sibilou Draco para Vallery. - Por que você tem que trazer suas amigas das outras casas pra cá? - disse ele, observando com os olhos semicerrados Amanda cruzar sala e sair batendo a porta.

- Já está na hora de você tomar conta da própria vida, Draco - respondeu ela e acrescentou: - O nome dela é Amanda, acho que você vai gostar dela.

Naquele momento Pansy Parkinson apareceu, jogando os braços em volta do pescoço dele.

- Val, Val... se eu fosse você eu pararia de trazer garotas da Grifinória pra cá - disse ela em tom meloso. - Ninguém gosta disso, e você tá muito enganada se acha que manda aqui.

- Não é da sua conta, vaca - disse Vallery rispidamente.

- Pensei que tivesse parado com isso - falou Draco, quando Pansy se retirou, ofendida. - Será que você se esqueceu do que aconteceu da última vez?

- Snape não vai saber de nada - pontuou Vallery, encarando-o.

- Não tô falando disso - os olhos dele faiscaram. - Vê se ouve a Pansy pelo menos uma vez na vida, antes que outra garota da Grifinória morra por sua causa.




- Acabei! - disse Rony, contemplando seu dever de casa. Hermione acordou de súbito e percebeu olhando no relógio que já eram onze e meia da noite. - Até que enfim vou poder dormir...

- Podem ir, eu prometi que ia esperar a Gina - disse Harry debruçado em um livro.

Rony olhou para ele, desconfiado, mas Hermione o empurrou para o dormitório, reclamando que ele se preocupava demais.
Harry abriu a mochila e tirou de dentro um espelho quebrado. Não tinha muito tempo que vira uma estranha névoa através do espelho, mas aquilo nunca mais voltou a contecer. Talvez tenha sido coisada minha imaginação, pensou ele, mas era real demais.

- Sirius?

Nada aconteceu. Ele deixou o espelho de lado, pegou uma xícara de chocolate quente que Hermione esquecera ali e se sentou no tapete, olhando fixamente para as chamas que crepitavam na lareira. Há poucos meses atrás ele estava ali falando com Sirius...
Harry tomou um gole do chocolate e se sentiu estranhamente bem. Ele ouviu passos no corredor ao mesmo tempo em que sentia aquele perfume floral que conhecia tão bem...
Ela se ajoelhou ao lado dele, quieta, e havia um certo nervosismo em sua respiração.
Ele a abraçou repentinamente pela cintura, enquanto ela o puxava para si. Somente quando seus lábios estavam a um milímetro de distência ele percebeu os olhos azuis maliciosos da garota que o encarava.
Harry piscou, confuso com o que via.

- Não pretendia assustar você - disse ela, passando a língua nos lábios e prendendo-o com as pernas.

- Amanda? O que você quer? - perguntou ele sonolento, recuando um pouco.

- Não é óbvio? - disse ela, puxando-o pela gola da blusa e o beijou, deixando-o sem fôlego. Ele se sentiu diferente, embriagado por aquele beijo quente e por aquele perfume que conhecia tão bem...
Harry se afastou ligeiramente e ficou observando Amanda em silêncio.

- Meia-noite, feliz aniversário pra mim! - disse ela sorrindo. - Ainda temos a noite toda pela frente - continuou ela com uma expressão inocente, chegando mais perto, e parou ao notar a expressão interrogativa nos olhos dele. - Que foi?

Ele não respondeu. Se sentia desnorteado, lutando contra o desejo de tê-la em seus braços, lutando contra a obssessão repentina por aquele beijo ardente... Mas alguma coisa estava errada.

- Pensei que você quisesse o Rony - disse ele estreitando os olhos.

- Foi só pra conseguir chegar até você - murmurou ela, deslizando a mão pelo pescoço dele e fazendo os pêlos da nuca de Harry se arrepiarem.

Amanda voltou a beijá-lo com mais intensidade do que antes, colocando as mãos por dentro da blusa dele, num gesto que fez ele se lembrar...
Gina. Por quê Amanda e ela pareciam a mesma pessoa naquele momento?
Ele se fastou repentinamente dela. Amanda o fitou com a mesma expressão inocente e curiosa, mordendo o lábio. Ela olhou para Harry, depois para a xícara vazia, e novamente para ele.

- Você que me enlouquecer? - Harry retribuiu o olhar, ofegante. - Por que você está usando o mesmo perfume da Gina?

- Não estou, tenho alergia a perfumes - respondeu ela, avançando lentamente para ele. - Esquece dela...

- O que você fez com a Gina? - perguntou ele impaciente, sem notar que ela o prendia com as pernas.

- Bem, digamos que ela vai ter um sono tranqüilo - disse ela com um olhar malicioso. - Poções do sono são as mais fáceis de fazer e também as mais eficazes...

Ela o empurrou para o tapete, de modo que Harry só olhasse para ela.

- Eu sabia tudo de você antes mesmo de te conhecer - falou ela, brincando com as unhas no ombro dele. - Você é tão diferente... tão interessante... qualquer garota daria o mundo para estar do seu lado...

Ouviram-se passos. Ela se virou para o lado de repente, estreitando os olhos para a porta, mas não tornou a ouvir nenhum barulho.

- Acha que tem alguém espionando você a essa hora da noite? - perguntou ele ironicamente. - Ou tá com medo de alguma coisa?

- Não - respondeu ela sacudindo a cabeça. - Eu não tenho medo de nada.

Ela voltou a encará-lo e viu que ele tinha um sorriso sarcástico no rosto.

- Você tem medo da Hermione - respondeu ele rindo. - É mentira?

- Não tenho... - ela estreitou os olhos. - Que foi? Está se divertindo? - disse ela se inclinado sobre ele e sussurrando em seu ouvido: - E então? Eu não sou bem melhor que a Gina?

Ele a fitou com seus olhos verdes ardentes, parecia estar considerando a pergunta. Lentamente ele se sentou, de um jeito que eles ficassem olhos nos olhos.

- Amanda, você é linda... - disse ele, apertando os braços dela devagar, de modo que ela o soltasse. - Você é perfeita... - ele suspirou, e olhou para ela como quem pede desculpas. - Mas azar o seu, porque eu prefiro a minha namorada. Tchau.

Dito isto, Harry se levantou e colocou a mochila nos ombros, sem olhar para ela. Amanda encostou na poltrona e o observou subir as escadas para o dormitório. O que vem fácil vai fácil, pensou ela, agora olhando para o resto das chamas da lareira.
Mas ao olhar para o lado, ela descobriu um tesouro tão valioso quanto mil noites como aquela.

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