Capítulo 7



- Ele virá, Hermione. Por favor, não se aflija assim. A Câmara dos Lordes não pode retê-lo para sempre. Ele foi um dos primeiros a aceitar o convite e, portanto, virá.

Acho que tem razão, sinalizou Hermione a Luna, voltando-se sorridente para o convidado seguinte na fila de cumprimentos.

- E ele perguntou se podia conduzi-la na primeira dança, não perguntou? - lembrou Luna, assim que pôde. - O minueto?

Sim, respondeu Hermione, movendo a cabeça. E pediu também a primeira valsa. Depois que o cavalheiro fez uma mesura sobre sua mão, executou sua melhor reverência, conforme já fizera dezenas de vezes na última hora.

- Então, ele virá, apesar de não ter podido comparecer ao jantar - tranquilizou Luna, após executar uma bela reverência também. - Essa fila de gente nunca vai acabar? Tenho certeza de que não enviamos tantos convites!

Hermione nem ligava para a rudeza habitual da sobrinha, sabia que lá no salão seu baile de debutantes seria um sucesso. Tantos convidados já haviam chegado que o aperto seria inevitável, o que, segundo sua cunhada, era o que toda anfitriã esperava ao dar uma festa em Londres. Isabele estava no início da fila de cumprimentos, com expressão solene e um tanto fatigada, mas não por isso menos bela no elegante vestido verde-esmeralda. Richard era o segundo a receber os cumprimentos, impecável no traje de gala preto, mas também lúgubre e rijo. Bem sabia que ele detestava eventos sociais e ainda mais expor-se a pessoas a quem costumava evitar como a peste, mas não era por isso que estava de mau humor. Não mesmo.

Com certeza, acontecera algo entre Isabele e Richard, algo extremamente desagradável. Havia uma semana, ambos se tratavam como estranhos, mal trocando umas poucas palavras educadas ao se encontrarem. Mesmo nessas ocasiões, mantinham-se o mais afastados possível um do outro. Estavam erradicados os sorrisos e a camaradagem que sempre haviam partilhado.

Se ao menos Harry chegasse... Ele saberia como descontraí-la. Vira-o pouco naquela semana e, nessas raras ocasiões, ele se mostrara polido e distante, amigável, mas não em excesso, certamente não como no início do relacionamento. Mas entendia seu comportamento. Ele apenas tentava, da melhor maneira possível, aplacar sua desgraça após o desastroso piquenique em Greenwich. Só que não houvera nenhuma desgraça. Draco Malfoy passara três dias pedindo desculpas publicamente por seu comportamento execrável, desaparecendo em seguida. Nem os amigos sabiam seu paradeiro. Não obstante, Harry continuava a tratá-la friamente, o que começava a desesperá-la.

Vinte minutos, com o salão já transbordando de gente, a fila de cumprimentos começou a diminuir.

- Acho que está na hora de nos juntarmos aos convidados - declarou Isabele, incumbindo o mordomo Willis de receber os retardatários.

Não podemos esperar mais alguns minutos?, indagou Hermione, com as mãos. Isabele negou.

- Willis anunciará os convidados que chegarem atrasados. Mas não podemos deixar os que já chegaram esperando mais. E a dança deve começar logo, ou o jantar também se atrasará. Se lorde Potter não chegar a tempo, seu irmão a conduzirá, o que é perfeitamente aceitável.

Hermione sentiu o coração afundar e notou que o irmão não se animara com a possibilidade, tampouco. Sem alternativa, colocou-se ao lado de Luna e seguiu Isabele, de braço dado com Richard, até o salão de baile.

Os convidados estavam mais que impacientes, A mansão fora toda decorada com motivos de flores e folhas, as janelas tinham sido abertas para que o fresco ar noturno entrasse e, numa sala contígua, um pequeno exército de empregados enchia copos, xícaras e cálices com limonada, chá, ponches, licores, além de porto e xerez espanhóis e vinhos e champanhes franceses. Na biblioteca, mesas preparadas para jogos de cartas aguardavam os jogadores ávidos que logo as procurariam após a abertura formal do baile. Os músicos, acomodados numa plataforma cercada por cortinas de veludo azul-escuro e dourado, tocavam desde a chegada dos primeiros convidados. O clima era de agradável expectativa, talvez até de aprovação. As pessoas sorriam e faziam reverências, abrindo caminho para Richard e Isabele, os anfitriões. Hermione sentiu Luna apertar sua mão por um segundo, para dar força, e depois soltá-la.

Tão logo chegaram à plataforma, ouviu-se um murmúrio coletivo, seguido de um súbito silêncio. Hermione achou que era a pausa geral que antecedia o início da dança de abertura do baile ao se voltar e olhar para a porta, mas viu a causa real da comoção e não conseguiu desviar o olhar.

Ele estava magnífico, parado ali sozinho, num traje de gala preto e branco que destacava vividamente seus olhos verdes. Naquela noite, não era apenas lorde Potter, mas o conde de Godric's Hollow, uma pessoa de grande importância que inspirava respeito e admiração.

Centenas de pares de olhos o acompanharam quando cruzou o salão ao encontro de Hermione, que o aguardava paralisada, o coração retumbando nos ouvidos. Era tão superior aos demais homens presentes que estes como que desapareceram em meio a sua corte improvisada.

- O minueto - instruiu Isabele ao maestro, lorde Weasley destacou-se da multidão de espectadores para abordar Luna. Lorde Potter cumprimentou Isabele e Richard, então, diante de Hermione, ofereceu-lhe o braço.

- Lady Hermione, se não me engano a honra desta dança é minha.

Ela aquiesceu e respondeu:

- S-sim, meu se-nhor.

Com os olhos cintilantes de deleite, ele a conduziu para o meio da pista de dança, onde já se encontravam Lorde Weasley e Luna. Nenhum outro casal partilharia o minueto por vários minutos, até que Isabele convidasse um ou dois a fazê-lo, assim autorizando a multidão de dançarinos a participar do baile.

- Está muito bonita esta noite, lady Hermione - murmurou Harry, bem baixinho em seu ouvido. - E me considero o homem mais afortunado de toda Londres por conduzi-la nesta dança.

Então, mantendo-a pela cintura e pelo olhar, iniciou a dança com a máxima elegância.


Ao passear pelos jardins do conde Granger com Hermione, Harry experimentou uma rara sensação de irrealidade. Parecia impossível que aquela linda terra de fantasia iluminada por lanternas pertencesse à mansão que visitara pela primeira vez naquela noite em que fora chantageado.

Já percebera, nas vezes em que fora buscar Hermione e Luna para seus passeios, que Wilborn Place não era tão escuro e sinistro quanto imaginara, embora fosse essa a impressão que Richard preferia passar. Havia evidências de que já fora uma residência imponente, sabia-se que era uma das mansões aristocráticas mais antigas de Londres, mas só naquela noite pudera apreciar sua magnificência por completo, ao ver todas as salas abertas, iluminadas e enfeitadas, lotadas com os membros mais preeminentes da sociedade. Pouco mais poderia fazer o décimo terceiro conde Granger para satisfazer a curiosidade acerca dele e de sua casa ancestral normalmente lúgubre além de escancará-la para que todos inspecionassem. Esperava, para o bem de Hermione, que Richard fosse bem-sucedido em seu intento.

- Está gostando da festa, Hermione? - Harry deu batidinhas na mão dela em seu braço. - Está sendo um grande sucesso. Duvido de que outra anfitriã possa pleitear um evento mais concorrido do que este que você e Luna protagonizaram nesta temporada. Uma verdadeira façanha.

Ela riu naquele tom grave e rouco que nunca falhava em inspirar pensamentos lascivos em seu cérebro ultimamente incontrolável. Então, levando a mão à testa, ela como que a enxugou exageradamente, expressando um profundo alívio.

Harry riu.

- Feliz por estar quase acabado, não é? Eu compreendo. Deve ter sido uma provação para você e Luna, como parece ser para toda debutante. Mas triunfaram com louvor. Lady Isabele está de parabéns.

Vários outros casais passeavam pelas inúmeras aléias no jardim, refrescando-se do baile, e Harry os cumprimentava discretamente quando se encontravam. Qual não foi sua surpresa ao ver a srta. Patil e o sr. Cassin à vontade num banco junto a uma profusão de rosas, conversando animadamente, embora deixassem claro que preferiam ficar a sós. Deveria sentir ciúme, conforme estivera tentando toda aquela semana ante os infindáveis elogios de Parvati ao trabalho admirável do sr. Cassin, mas não conseguia. Sentia só alívio e até gratidão por ela estar recebendo tanta atenção.

Esquecendo-os, concentrou-se na pequena a seu lado.

Ela estava especialmente linda naquela noite. Seu vestido, a exemplo dos demais que lady Isabele lhe escolhera tão bem, era simples e adequado, mas também enganador. Branco, como devia ser o traje de uma debutante, tornava-se etéreo por efeito de uma sobressaia de tule prateada. Seu cabelo castanho fora penteado para cima e preso com um arco de prata enfeitado de flores brancas e prateadas. De seu pulso pendia a inseparável pastinha de anotações, prateada desta vez, ao passo que em seu colo repousava uma única fileira de finas e delicadas pérolas. Ela não usava nenhuma outra jóia, nem precisava. Sua beleza era tanta que qualquer outro artifício se revelaria inútil.

Mantivera-se afastado de Hermione Granger tanto quanto pudera, desde o piquenique em Greenwich, mostrando-se polido e frio nas poucas vezes em que se encontraram. Agira assim não apenas para acabar com os boatos, como para aplacar a perturbadora mudança em seus sentimentos por ela. Ao mesmo tempo, empenhara-se em fortalecer a relação com Parvati, levando-a ao teatro e a passeios no parque. Ela continuava uma companhia doce e agradável; contudo, pela primeira vez desde que haviam se conhecido, não conseguiu vê-la como sua futura esposa. Mas pretendia ir ainda mais longe em sua determinação: baniria Hermione de sua mente por completo. Era o melhor a fazer em benefício de todos os envolvidos. Seus desejos não tinham lugar na questão. Ser egoísta agora seria não apenas imperdoável, como também desonroso. Caminhavam por uma aléia bem iluminada quando Hermione o puxou pelo braço para outra, envolta em penumbra. Ele devia ter resistido à tentação, pois se fossem vistos se embrenhando no escuro, os boatos recomeçariam e isso ele não podia permitir, para seu próprio bem e o dela.

Mas ela o puxava com insistência, olhando-o tão aflita que ele sorriu e cedeu. Logo entendeu por que ela escolhera aquela aléia em especial: levava a um acolhedor caramanchão de glicínias, junto a uma fonte borbulhante.

Soltando seu braço, ela se sentou no banco com um suspiro sonoro.

- Está cansada, Hermione? - indagou, sentando-se a seu lado. Ela deixou a cabeça pender para trás, fechou os olhos e aquiesceu.

- T-tan-to tra-ba-lho - explicou. - Es-tou tão fe-liz que es-te-ja q-qua-se no f-fim. - Abriu os olhos e encarou-o. - O-o-bri-ga-da p-por ter v-vin-do.

- Aonde mais eu poderia ir? - replicou ele. - Eu queria que esta fosse a noite inesquecível de sua vida. A mais maravilhosa, como você desejou. Diga-me qual seu maior desejo, e eu o realizarei. - Tomando-lhe a mão enluvada, beijou-a.

Ao ver o lindo rostinho encher-se de tristeza, inquiriu baixinho:

- Qual é o problema, Hermione? Foi o que lhe fiz naquela tarde ao voltarmos de Greenwich? A lembrança me persegue e estou profundamente arrependido. Eu ia pedir desculpas naquele mesmo dia quando chegamos, mas o sr. Cassin estava aqui e...

Ela balançou a cabeça.

- Oh, n-não! N-não é is-so. Es-que-ça. É t-to-da es-ta... - Libertando a mão, indicou o barulho da festa. - É I-sab-be-le e Ri-cha-rd. - Levou a mão à cabeça, como se esta lhe doesse. - E-eu n-não en-ten-do...

- Já chega - decidiu ele, forçando-a a baixar a mão ao colo. Sabia que era doloroso para ela falar longamente e a rouquidão em sua voz indicava sofrimento. - Um assunto de cada vez, e você escreve, pois é menos cansativo do que a mímica e do que a fala, é claro. Creio que há luz suficiente para você escrever e para eu ler. Comece pelo baile.

Aliviada por poder escrever, ela abriu a pastinha prateada.

Por que tanta gente compareceu? Não pode ter sido só por causa de Luna e de mim. Sei que vai me dizer a verdade.

Sem dúvida, pensou ele. O que sabia, ao menos, e desde que não a magoasse.

- É modesta demais se pensa que muitos dos que vieram à festa não o fizeram por você e por Luna - declarou, após guardar o bilhete no bolso. - Mas há os que compareceram só para ver e ser vistos. É claro que sabe que sua família está entre as mais antigas da nobreza, sendo portanto superior a muitas detentoras de títulos maiores. Existe também a curiosidade sobre o conde Granger e sua reclusão social. Além disso, esta casa não era aberta a visitação há muitos anos. Difícil desperdiçar a oportunidade de se ver tanto o conde quanto sua mansão. Aliás, os que estão aqui podem se considerar abençoados, pois não vai se falar de outra coisa ao longo da semana e poderão se gabar de ter comparecido ao evento em primeira mão. Acredito que só um convite pessoal à Carlton House teria causado mais frisson do que o convite para o seu baile de debutante.

Ela sorriu, aliviada. Harry gostaria de ter-lhe contado toda a verdade, ou seja, a de que o irmão dela coagira alguns dos convidados a comparecer, em especial aqueles nos postos mais altos da nobreza. Avistara na multidão vários duques e marqueses, além de dois dos duques reais, os irmãos do príncipe regente, saboreando as excelentes bebidas de Richard. Um deles até dançara com Hermione, ainda que sem encará-la ou dirigir-lhe uma palavra que fosse.

Sem perceber, levou a mão às costas dela ao indagar:

- Agora, qual o problema com o conde e lady Isabele? Será que ele não está gostando de ver metade dos pretendentes de Londres brigando por ela? Lorde Kimball já deixou claras suas intenções, pois não?

De fato, aquele homem é odioso, escreveu Hermione. Mas não é esse o problema. São eles. Sublinhou duas vezes a palavra eles. Richard e Isabele. Aconteceu alguma coisa.

- Que coisa? - Harry tinha uma vaga idéia. Não podia ser coincidência o fato de Richard ter uma amante tão parecida com a cunhada. - Quer dizer algo pessoal?

Hermione não disfarçava a agitação.

Não sei! Mal se falam e evitam-se um ao outro ao máximo. O que pode estar havendo? Perguntei-lhes, mas negam que haja algo errado.

- Talvez não haja mesmo, minha querida - opinou ele, tentando tranquilizá-la. - Pode ser só estresse, o que não é estranho, considerando que estamos no meio da temporada. Lady Isabele não tem uma, mas duas moças para acompanhar, além de apresentar à sociedade. E seu irmão é um homem muito ocupado, com interesses não apenas no Parlamento, mas no comércio e também na monarquia. Comenta-se que o conde Granger tem na Inglaterra tanto poder quanto o príncipe regente, e mais ainda no exterior. Eu estaria esgotado no lugar dele.

Ela balançou a cabeça, desconsolada.

- Caso algo mais tenha afetado o comportamento deles, não há nada que possa fazer senão deixá-los em paz e dar-lhes tempo. Qualquer interferência pode complicar ainda mais a situação. É claro que entende isso.

Com um suspiro cansado, ela se recostou e apoiou a cabeça no ombro dele.

- A-a-cho que Ri-cha-rd a a-ma.

Harry passou um dedo de leve na bochecha dela. Já não experimentava aquele pequeno choque ao contemplar a beleza pura daquele rosto. Seus sentimentos haviam ultrapassado em muito o âmbito do elementar, mas concedia a si mesmo o prazer que suas feições proporcionavam, certo de que, se ela fosse sua, esse prazer nunca arrefeceria ou se alteraria, ainda que o tempo, ou uma doença, ou um acidente a mudasse.

- Pode ser - concordou, franco - Aliás, acho que há muitos homens apaixonados por lady Isabele. Ela não é só bonita, mas uma dama fina e de alta linhagem. E seu irmão é humano, afinal de contas. Mas, se for isso, Hermione, deve deixá-los em paz. O amor é um assunto estritamente pessoal, que não admite invasão ou tratamento leviano por parte de terceiros. Um dia, quando experimentar essa emoção, irá entender. Enquanto isso, não deve xeretar em campos desconhecidos, - Calou-a com um dedo quando ela tentou falar. - Agora, minha boa senhorita, vai responder a uma pergunta: se eu a beijasse, ficaria muito ofendida?

Ela arregalou os olhos, de incredulidade, esperava ele, e não de desgosto. Tivera a honra da primeira valsa em seu baile de debutante, e para sempre guardaria essa doce lembrança. Queria ser o primeiro em mais alguma coisa e, então, encerraria aquele verão com ela, se não totalmente feliz, com uma certa alegria ao menos.

- É sua noite de debutante, Hermione - murmurou. - Só quero beijá-la, toda moça merece isso nessa noite.

Ela piscou duas vezes e engoliu em seco.

- S-sim - sussurrou, tão baixinho que mais pareceu um suspiro do que uma palavra.

Ele inclinou o rosto e beijou-a. Foi um breve encontro de lábios, quase tão inocente quanto o de um casal de primos, exatamente o que ele tencionara. Algo doce e terno para ambos recordarem. Não obstante, ele se espantou com a profundidade da experiência. Não foi como um raio trincando o céu, nem uma sensação de tontura, nem nada do que imaginara. Foi totalmente diferente. Sentia-se calmo e seguro, como nunca se sentira antes, como se de repente deixasse para trás os últimos resquícios de juventude e se tornasse um homem completo. Já não havia dúvidas, nem temores. Como deveria ser.

Ela devia ter sentido algo semelhante, pois seu olhar parecia maravilhado, como ele nunca vira antes. Erguendo a mão, ela lhe tocou o rosto, hesitante, e pronunciou seu nome de batismo:

- Har-ry.

Era a primeira vez que ela o dizia. Ele nunca apreciara seu primeiro nome, mas, saindo dos lábios dela, soava-lhe como a palavra mais bonita do mundo.

Sem perceber como, beijou-a novamente e, ao sentir os braços femininos em torno de seu pescoço, puxou-a para o colo. Naquele primeiro contato íntimo com ela, descobria que fora precipitada a conclusão de que o raio não cortaria o céu. Abraçá-la, conhecer a maciez daqueles lábios que o atormentaram por tanto tempo, degustar sua doçura e perceber sua resposta ávida ameaçavam seu bom senso. Então, uma tênue partícula de razão remanescente alertou-o de que havia perigo: estavam no jardim da casa do irmão dela, no meio de um baile, abraçados de uma maneira que chocaria até o membro mais liberal da sociedade.

- Não. - Interrompeu o beijo, tão zonzo que nem conseguiu fazer com que se desvencilhassem um do outro. - Não, Hermione.

Ela parecia satisfeita, lânguida. Quando tentou transferi-la de seu colo de volta ao banco, ela protestou, fazendo-o estremecer de desejo.

- Não - repetiu ele, firme, afastando as mãos dela de sua nuca. - Minha nossa! - Tinha a respiração trêmula. - Estamos cercados de gente. Teria sido um desastre se alguém nos visse. Vamos voltar lá para dentro. - Levantando-se, puxou-a para que ficasse de pé e percebeu como estava zangada. - Hermione, não foi essa a minha intenção e peço desculpas. Não, não faça assim... - Tocou em seu queixo e seus olhos se encontraram, mas ela continuava resistindo. - Não há do que se envergonhar. Mesmo.

Envergonhar?, questionou Hermione, desolada. Não estava envergonhada. Estava zangada, furiosa, como qualquer mulher ficaria se seu amado lhe dissesse que seria desastroso serem vistos se beijando. Ante tal declaração, sentira-se uma idiota. Era evidente que ele não queria ser flagrado com ela, pois os boatos correriam soltos e um homem honrado como ele se sentiria obrigado a pedir-lhe a mão em casamento. Um destino pior que a morte para ele ou qualquer outro cavalheiro. Sabia disso. Ele não precisava dizê-lo em alto e bom som, destruindo o momento mais perfeito de sua vida.

Tentou voltar-se, mas ele a segurou pelos ombros.

- Não me culpe por isto. - Ele tinha a voz aflita, como ela nunca ouvira antes. - Deus sabe que eu mudaria as coisas se pudesse, mas é impossível. Impossível, Hermione. Entenda. Muitas pessoas se feririam, talvez até você...

- E-eu não me im-por-to!

- Mas eu me importo - replicou ele, brando. - Não tem idéia do que a sociedade pode lhe fazer. Pior, o que pode fazer a outras pessoas completamente inocentes. - Moveu a cabeça na direção do local onde haviam cruzado com Parvati Patil e Charles Cassin, e Hermione compreendeu. - Talvez não liguemos para nós mesmos, mas não podemos permitir que outros se machuquem. - Ele segurou seu rosto com as duas mãos. - Entenda, Hermione, por favor. Entenda o que estou dizendo e o que não posso dizer.

Lentamente, ele inclinou o rosto e beijou-a novamente, com delicadeza e devagar. Depois, fitaram-se nos olhos por um longo instante. Então, ele a fez pousar a mão em seu braço e conduziu-a de volta à mansão.

No meio do caminho, avistam Richard dando uma volta um tanto enfastiado.

- Ei-la aqui, minha querida! - cumprimentou ele, aproximando-se, - Estive a sua procura, pois está quase na hora, da nossa maldita dança. Isabele jamais me perdoaria se eu aproveitasse seu sumiço para escapar do martírio.

- Já estávamos a caminho - respondeu Harry, soltando o braço de Hermione. Notara a olhar desconfiado de Richard, ainda que ele tentasse se mostrar indiferente. - Aqui fora está fresco e agradável,

- Sei... - O tom de Richard era sarcástico. - Fico imaginando quanto você já não se refrescou, Harry. Deveria estar flutuando por excesso de oxigênio a esta altura... - Ao sentir um puxão na manga, percebeu que a irmã estava contrariada. - Não, Hermione, nada disso, lorde Potter pode ser muito meu amigo, mas sei que ele compreende muito bem e reconhece meu direito.

- Claro - retrucou Harry, pacífico. - Peço desculpas por manter lady Hermione fora do baile tanto tempo. Foi irresponsabilidade minha. Minha única justificativa é que, estando em tão agradável companhia, nem se nota o tempo passar.

- O tempo e o juízo - completou Richard -, ou o pouco juízo que você tem... Hermione, pare com isso! Harry não é nenhum idiota.

- Obrigado - finalizou Harry. Era um espanto ver o conde Granger comportar-se como um ser humano. Não sabia se o homem estava possesso por acreditar que ele se comportara de maneira imprópria junto à irmã, ou porque teria de dançar com ela. Talvez pelos dois motivos. - Bem, os músicos os aguardam. Tenho certeza de que não querem se atrasar.

Richard emitiu um grunhido.

- É o que mais quero, mas Isabele vai pedir minha cabeça se eu não bancar um completo idiota. Diante de testemunhas.

Harry tossiu para disfarçar o riso, provocando mais ira em Richard.

- Preparou seus lindos pés, Hermione? - indagou o anfitrião da festa. - Vou tentar não quebrá-los.

Ela acabara de pôr a mão sobre o braço maciço do irmão quando um grito feminino quebrou a tranquilidade do jardim, seguindo-se um tapa sonoro e o barulho de alguém caindo nos arbustos.

- Luna! - gritou Rony .

- Como pôde? - rebateu a moça, furiosa. - Seu pulha! Como pôde?

- Minha nossa - murmurou Richard. - Será que Rony bateu em Luna? Terei de matá-lo por isso, temo.

- Luna! - implorava Lorde Weasley. - Espere!

A jovem correu pela aléia e atirou-se noa braços do tio, em prantos.

- L-lu-na! - exclamou Hermione, aflita, pondo a mão no ombro da sobrinha. - O-o que a-con-te-ceu?

- Acalme-se, Luna - paparicou Richard, dando-lhe tapinhas confortadores. - O que foi que aconteceu?

Soluçante, a moça não conseguia falar. Rony surgiu espanando folhas e terra do elegante casaco.

- Ela me bateu! - contou ele. - Veja isto! - Mesmo à penumbra, notava-se um inchaço crescente em torno de seu olho esquerdo.

- Com um gancho de direita! - detalhou o visconde, indignado. - Nem Jackson teria conseguido se defender dele!

Luna voltou-se de repente, punhos erguidos, ao que Rony e Harry deram um passo atrás.

- Bati e baterei de novo, se um dia se atrever a me tocar novamente!

- Não precisa se preocupar com isso - garantiu Rony. - Não a tocarei de novo nem que disso dependa minha salvação do fogo eterno!

Luna recomeçou a chorar, tomada por soluços.

- Seu imundo! Eu devia ter acabado com você! Eu devia ter quebrado esse seu nariz arrogante!

- Rony - censurou Harry. - Tente se controlar. Lembre-se de quem é e de onde está.

- Lembrar-me de quem sou?! - protestou Rony. - Tudo o que fiz foi tentar beijá-la e ela me golpeou!

- Mas estamos no baile de lady Luna - observou Harry. - E você acaba de arruiná-lo. Tanto ela quanto lady Hermione sofreram uma humilhação irreparável.

- Ele não tentou me beijar apenas! - esclareceu Luna. - Ele me beijou!

- O quê? - Rony estava possesso. - Foi você quem começou. O que queria que eu pensasse?

A moça pôs as mãos na cintura.

- Devia ter pensado que uma dama tem uma certa prerrogativa que um cavalheiro não tem!

- Hum-hum - interrompeu Richard. - Acho melhor, dadas as circunstâncias, que todos os envolvidos baixem o tom de voz. - Pegou a sobrinha pelos ombros e virou-a de frente para si. - Luna, quero que entre pela porta de serviço e vá dar um jeito em sua aparência. A seguir, volte para o salão.

- Mas, tio Richard, eu...

- Minha querida, vamos resolver esta questão mais tarde. Agora, vá.

Luna lançou um último olhar fulminante para lorde Weasley e, agarrando a saia, saiu bufando na direção dos fundos da mansão.

Richard encarou Rony de um jeito assassino.

- Quanto ao senhor...

- Não se aflija, Richard - adiantou-se o visconde. - Pretendo tomar a atitude digna.

- Que seria?

Rony empertigou-se ao máximo.

- Pela manhã, repararei meu erro pedindo a mão de lady Luna.

Lorde Granger olhou-o pensativo.

- Que vantagem teria nisso? É evidente que não quer tal união, nem precisa dela.

Rony respirou fundo.

- Eu disse, senhor, que vou pedir-lhe permissão para tomar lady Luna como minha esposa.

- Entendi muito bem o que disse - replicou Richard -, mas minha resposta continua a mesma. Minha sobrinha só se casará quando quiser, não quando a sociedade quiser, e não vejo porque obrigá-la a se casar com um homem só porque andaram rolando nos arbustos. A menos que convença Luna a aceitá-lo por seus próprios méritos, não me faça perder tempo com visitas enfadonhas.

- Senhor, insisto em que ouça meu ponto de vista.

Lorde Granger encarou-o bem de perto, o semblante empedernido.

- Acaba de cometer um grave erro, meu rapaz. Nunca insista depois que encerrei uma questão. Pode ser fatal. Tente não se esquecer disso. - Delicadamente, fez Hermione recolocar a mão em seu braço. Ao visconde, instruiu - A fim de evitar mais constrangimento, gostaria que se retirasse discretamente pelo portão leste. Apresentarei suas desculpas se alguém perguntar. Harry, você fica, pois não?

Nada o faria despedir-se agora, pensou Harry, ante o olhar suplicante de Hermione. Jamais a abandonaria sozinha no que restava de sua grande noite. Uma vez que seriam inevitáveis os comentários envolvendo Luna e Rony, ao menos tentaria poupar sua pequena Hermione.

- Naturalmente - declarou, fazendo uma mesura ligeira e correta ao anfitrião. - Não há nada que eu queira mais.



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N/a: Uuuups... sinto muito não ter postado no sábado passado e nem durante essa semana, não consegui mesmo, eu peguei uma gripe infernal só comecei me recuperar na quarta. Mas na próxima atualização vou tentar ser mais rápida.

Enfim, o beijo H/Hr e teve bastante deles nesse capítulo, para aqueles que queriam, acho que foram compensado... e até teve R/L , mesmo que tenha sido um desastre no final uahuahauhauh... quem mandou a Luna ser essa ferinha indomável, vai ser dificil do coitado Rony domá-la. XP

Sem muito o que dizer, eu vou me indo, deixando os meus agradecimentos a todos pelos comentários, pelos votos, e aos leitores que se dão o tempo de vir até aqui conferir a fic. E peço que continuem deixando-me feliz. ;)

e Jessi eu te adicionei sim, mas acho que o nosso horario não anda batendo, qualquer coisa manda a capa que você já fez pro meu e-mail para eu conferir e ver se algo precisa ser mudado, mas vendo as suas capas nas outras fics acho que nem vou precisar sugerir mudança.

Bom, pessoas, até o próximo capítulo.
beijões

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