Capítulo 6



Do canto mais escuro de sua biblioteca, o conde Granger viu a sobrinha e a irmã darem um beijo de boa-noite em sua cunhada. Elas haviam chegado cedo do jantar dançante, mas ele já estava a sua espera. Não era de seu feitio deixar os acontecimentos ao acaso, não tratando-se de algo, ou alguém, tão importante quanto lhe era Isabele.

As moças foram despedir-se dele em seguida, e ele recebeu seu beijo, uma após a outra. Pareciam cansadas e não particularmente felizes. Ao abraçar cada jovem e retribuir suas saudações afetuosas, jurou que logo poria um fim ao que quer que as deixara tão chateadas.

Tão logo as garotas saíram, Isabele começou a descalçar as luvas.

- Acho que já vou me deitar também. Não quero tirá-lo de seu trabalho.

Ela nunca mais olhara para ele. Com certeza, não ficava em sua companhia podendo evitá-lo. Isso desde o dia em que, lamentavelmente, o flagrara com a amante. Imaginava se perturbara-a mais o fato de ele sustentar uma mulher ou o detalhe de tal mulher ser a mais parecida com ela que ele conseguira encontrar. Talvez seu desgosto se devesse à idéia de que ele fantasiava que era com ela que fazia amor. Talvez se sentisse mal de tão constrangida. O pensamento atormentara-o por dias, bem como a esquivança dela, até deixar de se importar com o fato de ela detestá-lo ou não. Não podia estar sob o mesmo teto que ela sem vê-la, desejando-a... desejando que a relação entre ambos ao menos voltasse ao que era, de modo que se sentissem à vontade um com o outro, a ponto de conversarem descontraídos à noite conforme se haviam acostumado antes de ela surpreendê-lo com a outra mulher.

- Fique - murmurou, saindo do canto e aproximando-se dela alguns passos. - Você disse que gostaria de jogar xadrez qualquer noite dessas e, como vê, pedi a Willis que preparasse o tabuleiro junto ao fogo. - Moveu a cabeça indicando a lareira. - Se não estiver muito cansada, é claro.

Ela olhou para a mesa.

- Já tinha visto, sim - retrucou Isabele, branda -, mas achei que podia ter escondido um parceiro em algum lugar. Você costuma tratar de seus assuntos importantes tarde da noite. - Delicadamente, pousou a capa de seda sobre uma cadeira próxima, bem como as luvas. - Não estou cansada.

Ele puxou-lhe uma cadeira, ao mesmo tempo que indagava:

- Posso preparar-lhe um drinque? Tenho seu xerez espanhol favorito aqui. - Abrindo um armário, pegou uma garrafa de cristal e um cálice pequeno. - Tenho também aquele champanhe francês que você aprecia. - Olhou-a. - Pedi a Willis que o deixasse no gelo, para o caso de você querer.

Ela o fitou curiosa, aquiescendo.

- Basta o xerez, obrigada. É gentileza sua pensar em minha satisfação, Richard.

Era a primeira vez que ela o tratava pelo nome de batismo desde aquele dia lamentável na Bond Street. Inspirando lentamente, firmou a mão um tanto trêmula ao despejar o vinho espanhol.

- Diga isso depois que eu a houver derrotado no xadrez, senhora. - Estendeu-lhe o cálice e acomodou-se na cadeira oposta. - Vamos apostar?

Ela riu e recostou-se, observando-o por sobre a borda do cálice.

- Eu devia ter adivinhado que você tinha algo em mente. Tratante. O que vai ser? Terei de ser gentil com seus parceiros de negócios?

Ele teve vontade rir. A boa cunhada vira de passagem um ou dois de seus contratados mais repulsivos e não os achara nem um pouco confiáveis.

- Nada tão vil, eu prometo. O vencedor poderá escolher seu prêmio ao final do jogo.

Ela o fitou desconfiada.

- Richard, o que é que você quer?

Apenas estar com você, respondeu ele, em pensamento. Passar uma hora com você aqui, toda noite, o tempo que lhe restar. Nada mais. Vai detestar isso tanto assim? Mas as palavras pareciam tão tolas e sentimentais que não conseguiria proferi-las. Ela riria se o fizesse. Após o jogo, no entanto, se ele ganhasse, ela se mostraria honrada demais para negar seu pedido, ou rir dele.

- É surpresa - esquivou-se. - Se eu ganhar, quero dizer. Nem vou perguntar o que você vai querer se ganhar. Sei que será justa.

- Está bem. - Ela pousou o cálice. - Vamos começar, então.

Os minutos seguintes transcorreram em silêncio, conforme executavam os movimentos iniciais. Por fim, Richard quis saber:

- A noite na casa dos Beauchamp foi boa?

- Sabe muito bem que não, Richard. Por favor, não faça troça. Todo mundo ficou olhando para as meninas, cochichando. Tive vontade de subir numa cadeira e passar uma carraspana em todos, mas percebi que isso só pioraria a situação.

- Qual nada - murmurou ele, analisando o tabuleiro. - Seu pai, o duque, não visita a corte com frequência, mas goza de respeito suficiente no país para poupar a única filha de qualquer censura. Ninguém a reprovaria nem que ficasse de ponta-cabeça em plena Pall Mall ao meio dia. Lorde Potter estava lá?

- Estava. Com a srta. Patil. Gosto dele, mas no momento tenho vontade de arrancar-lhe as orelhas.

- Sério? Mas o que lorde Potter fez para suscitar tanta ira?

Lady Isabele encarou-o.

- Foi um cavalheiro perfeito e tratou Hermione com toda a educação, mas totalmente impessoal. Isso depois de tê-la feito apaixonar-se por ele. E não me olhe com essa cara, Richard. Sabe muito bem que ela criou um sentimento muito forte por ele. Tendo passado todos os dias em sua companhia durante um mês, por que não criaria? Duvido de que ela tenha se permitido sonhar que pode acontecer algo mais que isso, mas considera-o um amigo querido. Hoje ele a tratou como uma completa estranha, e você mesmo viu o que isso causou a ela.

- Ela estava mesmo muito desanimada - reconheceu Richard. - Ela e Luna. Lorde Weasley agiu da mesma forma?

- Pior. Nem sequer compareceu.

- Oh, céus!

- Luna ficou muito abatida. Foi a primeira vez que deixou de persegui-la desde a estréia no Almack's. Ficou dividida entre preocupar-se com sua saúde e assassiná-lo.

- Coitada - lamentou Richard. - E coitado. Que casal eles formam! Você faz gosto, Isabele?

- Oh, eu adoraria tê-lo como genro - afirmou ela -, mas preferiria que não se cortejassem de um jeito tão violento. Não sei se sobreviverão até chegarem ao altar.

Richard riu.

- Sabe, sinto-me velho vendo Luna e Hermione enamoradas. Parece que foi ontem que as vi pequeninas. Será que perdi tantas mudanças nestes cinco anos longe de Granger Hall?

Isabele fitou-o com tamanha afeição que ele teve que baixar os olhos.

- Você perdeu muita coisa - confirmou. - Elas eram meninas quando as deixou, e agora são moças. E moças adoráveis. Fizemos um bom trabalho, Richard.

- Você fez.

- Não, fomos nós dois. Você foi para Luna um pai melhor do que George jamais foi ou quis ser. Nem vou falar do bem que fez a Hermione.

Ele pensou nos planos que fizera para a irmã, nas sombras e engodo por trás deles. Se Isabele um dia descobrisse a verdade, provavelmente não lhe dirigiria mais a palavra.

- Menos do que devia - murmurou, adiantando um de seus peões. - Menos do que gostaria de ter feito.

- Não vamos discutir - encerrou ela, percebendo o embaraço dele. - Não obstante, preocupo-me com Hermione.

- Não precisa. Seja qual for o mal de lorde Potter, ele logo irá se recuperar, eu lhe garanto.

- Não estou gostando disso. - Ela posicionou um cavalo. - Não deve interferir, Richard. Quero sua palavra.

- Claro - mentiu ele. - Não tem com que se preocupar. Assistirei a tudo passivo e obediente como um cordeiro. - Removeu o cavalo com seu bispo e, sorridente, pôs a peça de lado.

- As palavras "passivo" e "obediente" não combinam com o senhor. Quero que deixe lorde Potter em paz. Ele não fez nada errado e acho até que ele pensou estar ajudando Hermione esta noite. E talvez tenha ajudado. Ele entende mais desse assunto do que Hermione ou eu. Infelizmente, ela se importa menos com o que a sociedade pensa do que com a amizade dele. Ela lhe deposita confiança, você sabe.

- Eu sei. - Richard avançou uma torre três quadrados, num esforço para encurralar a rainha.

- Não fosse a srta. Patil, a noite teria sido um desastre completo. É sem dúvida a moça mais corajosa que já conheci.

Richard levantou o rosto, interessado.

- Srta. Patil? Mais do que Luna? Nunca pensei que existisse moça mais brava do que Luna Lovegood, que de fato bateu na cabeça de Lorde Malfoy com a sombrinha.

- Falo de um outro tipo de coragem. A srta. Patil passou um sermão impecável num grupo de moças que estavam falando mal de Hermione. Ao terminar, estavam tão arrependidas da atitude que, em lágrimas, pediram perdão. - Com um movimento elegante, colocou a rainha em segurança. - O sr. Cassin ficou muito emocionado.

- Ah, é? - Richard sentia-se ameaçado. Isabele era boa demais naquele jogo. - Fiquei imaginando se ele se divertiria numa reunião tão esnobe. Não ficou muito contente quando lhe pedi que a acompanhasse...

- Saiba que ele e a srta. Patil simpatizaram muito um com o outro. Ela achou fascinante o trabalho dele com surdos-mudos, e ele a elogiou muito por sua dedicação ao Fundo de Apoio aos Órfãos. Hermione e lorde Potter me contaram tudo, pois os quatro partilharam a mesma mesa.

- Lamento ter aceito o convite em seu nome - declarou Richard. - Se soubesse que seria um evento tão desastroso, teria atirado no fogo assim que chegou. - Avançou um bispo até o meio do tabuleiro a fim de ameaçar-lho a rainha.

- Quanto antes partirmos de Londres, melhor - concluiu Isabele, colocando a rainha fora de perigo.

- Não está arrependida de ter vindo, está, Isabele?

- Nunca quis vir, para começar, como você sabe. Xeque. - Ela deslizou a torre para a fileira do rei dele. - Seria melhor irmos embora antes que o coração de Hermione se envolvesse ainda mais. Ela já vai sofrer por um bom tempo depois que voltarmos para Somerset. O primeiro amor é sempre o mais difícil de esquecer. De qualquer forma, apesar de meus receios quanto a Hermione, creio que esta temporada aqui tem sido boa para as duas jovens.

Richard não queria nem saber do primeiro amor de Isabele. Preocupado, avançou o rei para fora do alcance da torre adversária.

- Mas a questão é: Hermione irá concordar em voltar para casa ante do planejado?

- Acho que não - murmurou Isabele, realista. - Tanto ela quanto Luna vão querer ficar até o amargo fim, a não ser que aconteça uma catástrofe, como a oficialização do noivado de lorde Potter com a srta. Patil ou a perda total de interesse de lorde Weasley por Luna. Caso contrário, terá de nos aguentar, Richard. E agora é xeque mate. - Deslocou a rainha quatro quadrados à direita e sorriu daquele jeito que ele já conhecia.
Após analisar o tabuleiro mais detidamente, recostou-se com um suspiro.

- Você venceu. Quando é que vou aprender a não jogar mais com você, Isabele? Pois bem, o que deseja como prémio? Um vestido novo? Algo para uma das meninas?

- Bem... - Ela bebericou um pouco do xerez. - Você disse que confiava em que eu seria justa. Pedir-lhe que voltasse a morar conosco em Granger Hall seria demais?

- Seria - declarou ele, seco.

- Foi o que pensei. Que tal então... uma dança? No salão, é claro. Não daria para dançarmos aqui, com toda esta mobília no caminho.

- Uma dança - considerou ele. - No salão.

- Isso.

- No baile de debutantes de Hermione e Luna. - Ela balançou a cabeça.

- Não. Hoje. Agora.

Richard estremeceu. Nunca tivera Isabele nos braços antes, exceto por breves instantes, em saudações e despedidas. Nunca caíra na tentação de tentar algo mais.

- Não há iluminação - argumentou, raciocinando desesperadamente para escapar daquela armadilha -, nem música.

Ela afastou a cadeira e se levantou.

- Não me importo com a escuridão. Bastam algumas velas. E posso cantarolar uma canção. - Deu-lhe um sorriso enigmático. - Richard, não me diga que está com medo de dançar comigo.

Ele estava apavorado. Mas jamais confessaria. Em vez disso, impaciente, empurrou a cadeira para trás.

- Claro que não. Só que os criados vão pensar que ficamos loucos. Mas se quer mesmo desperdiçar a realização de seu maior desejo numa mera dança, não farei objeção. - Abriu a porta da biblioteca. - E, se eu pisar no seu pé, espero que se lembre de que há muito tempo não faço nada tão insano.

Rindo, Isabele pegou uma vela num castiçal e acendeu-a numa lanterna próxima. Enquanto percorriam o corredor, retrucou:

- Se pisar no meu pé, meu senhor, com certeza não poderei mais andar e terá de acompanhar Hermione e Luna em meu lugar.

- Entendi - resmungou ele.

Fazia anos que ninguém dançava no salão de Wilborn Place. A mãe de Richard promovera grandes eventos ali, e sua avó, uma aristocrata da cabeça aos pés, acontecimentos ainda maiores. Quando iluminado e cheio de gente e música, como estaria na semana seguinte, revelava-se um salão belíssimo; agora, porém, com os instrumentos cobertos de pó amontoados num canto, tinha um aspecto sombrio.

- Isabele, tem certeza de que é isso o que quer? - Apesar da atitude displicente, Richard sentia-se um condenado. - Não me parece um prêmio à altura de sua vitória. Vi uma pulseira de safiras da Rundell e Bridges na semana passada que gostaria de lhe dar. Ao menos tem algum valor.

Atravessando o salão, ela pousou o castiçal sobre o piano coberto.

- Se gostou tanto dela, talvez devesse ofertá-la a sua amante e não a sua mera cunhada.

Oh, céus! Ele teria preferido que ela o abatesse a machadadas.

- Tem razão - grunhiu, mal humorado.

De costas para ele, Isabele contemplava o pó sobre a capa do piano.

- Já dançou com ela? Com sua amante?

- Não.

- Então, dê-lhe a pulseira, com minha bênção. - Ela se virou para ele. - Bem, senhor. Está pronto para pagar sua aposta?

Ele aquiesceu.

- O que vai ser? Uma música do interior? Uma valsa?

- Uma valsa, se estiver de acordo.

- Até hoje só vi os outros valsarem - avisou ele, pousando o que lhe pareceu a manopla mais feia do mundo na cintura fina da cunhada. - Peço que me perdoe se fizer algo errado.

Erguendo o braço esquerdo, aguardou, ofegante e temeroso de que ela o percebesse. Quando ela colocou a mão sem luva sobre a dele, percebeu espantando que ela também ofegava.

- Não precisa ser perfeito, Richard. Posso cantarolar uma valsa?

- Por favor. Devagar, se possível, ou não vou ter coragem de começar.

Ela começou a cantarolar uma melodia conhecida e, após alguns segundos, ele começou a conduzi-la, lenta e cuidadosamente, mantendo-a tão afastada quanto possível. Mas não longe o bastante. Tentou concentrar-se nos passos, no progresso da dança, mas tudo que seus sentidos registravam era o aroma dela, o calor e a voz sedutoramente feminina. Ela o fitava detidamente no rosto e ele não se permitiria a fraqueza de desviá-lo.

Seu corpo começara a reagir e ao perceber que de fato dançariam, que a tocaria e, talvez, até a abraçaria. Seu amor não era só romântico, do tipo a que outros cavalheiros aspiravam. Amava-a do jeito que um homem amava uma mulher, com um desejo forte e permanente. Sabia que ainda a amaria e desejaria com a mesma paixão quando estivessem ambos velhos e grisalhos. Se a amasse menos, um pouquinho menos, ela já teria sido sua havia muito. Mas esse amor, conforme descobrira em tormento, era do tipo que não permitia a um homem tratar a mulher tão levianamente. Tinha de mantê-la sã e salva, livre das atenções indesejáveis de um homem cujo rosto e compleição espantava criancinhas e cujo passado se obscurecia de trevas e violência.

Ela se achegou mais, contra o esforço dele de mantê-la afastada. Seu cantarolar tornara-se irregular, bem como a respiração.

- Isabele - murmurou ele, tentando alertá-la.

Mas ela não o ouvia, ou não dava atenção. Sempre cantarolando, fitava-o detidamente, enquanto deslizavam ao ritmo da melodia.

Ele não sabia por quanto tempo dançavam, ou quando foi que ela parou de cantarolar. Simplesmente deslizavam juntos num círculo imperfeito, cada vez mais próximos, até que o corpo dela se apertou fortemente contra o dele. Nesse momento Isabele descobriria o que provocava-nele, o quanto ele a desejava. Ela ainda o fitava, o rosto tão próximo que percebia o calor de sua respiração através dos lábios entreabertos.

Ao colar a boca sobre a dela, não se importava se ela o esbofeteasse ou empurrasse enojada. Não havia como condená-lo a um inferno pior do que aquele que já habitava, tendo-a tão próxima dia após dia, desejando-a e sabendo que jamais a teria.

Os lábios dela eram macios, quentes e úmidos. Passara anos querendo beijá-la, e agora a realidade ultrapassava em muito sua imaginação. Mal acreditava que a tinha nos braços, que a beijava. Moveu a boca gentilmente e, maravilhado, sentiu que ela correspondia. Ela levou a mão fria a seu rosto e afagou-o, ao mesmo tempo que se apertava contra ele, como se o quisesse. Quando ele a tocou com a língua, ela se abriu para ele, abraçando-o com mais força, ao que ele perdeu completamente o controle.

Tomou-lhe a boca do jeito que sempre desejara: faminto, ávido, marcando-se com seu aroma, sabor e sensação por toda a eternidade. Ao mesmo tempo que a segurava pela nuca, deslizava a outra mão por suas costas, passando pela feminina curva do quadril, e um pouco mais abaixo, apertando-a intimamente contra si. Ela gemeu em sua boca, e ele respondeu roucamente.

Era impossível ficar próximo o bastante. Ela passava as mãos em suas costas e ombros, tocando-lhe os cabelos e o rosto com um desespero que se igualava ao dele, até que interrompeu o beijo, só para dizer seu nome, ofegante e suplicante.

- Sim - disse ele, erguendo-a nos braços tão de repente que ela se surpreendeu.

Com cuidado, ele a estendeu no assoalho e se posicionou sobre ela, novamente envolvido em seus braços. Erguendo-lhe a saia até as coxas, colocou uma perna entre as dela.

Eu te amo, pensou ele, beijando-a novamente, puxando o corpete do vestido ao longo de seus braços. Queria declarar-se em alto e bom som, fazê-la entender por que aquilo era tão certo, convencê-la de que significava tudo para ele, mais que sua própria vida. No entanto, iria mostrar-lhe, de um jeito que as palavras jamais poderiam expressar, e só então, quando estivesse bem fundo dentro dela, quando fossem apenas um, lhe diria. Acabara de expor-lhe os seios às carícias de seus lábios e língua, e ela se agitava sob ele, sempre afagando-o, arqueando o corpo para cima.

- Richard... - murmurava. - Oh, Richard...

Ele a beijou ternamente e então fitou-a nos olhos, a mão encontrando o caminho através da saia levantada.

- Isabele... - sussurrou.

Amava-a. Tão profundamente que não acreditava que um dia esse sentimento fosse acabar. Jamais a machucaria, nem permitiria que qualquer outro o fizesse. Iria mantê-la sempre segura e amada.

Ela engoliu em seco quando Richard a tocou intimamente, através do tecido da calcinha, e fechou os olhos de prazer. Ele ia beijá-la novamente, mas, de repente, parou.
Segura e amada. Jamais a machucaria.

Ele fechou os olhos tentando espantar aquelas palavras, mas não conseguiu. Segura. E amada. Jamais a machucaria.

Apavorado, tirou a mão de sob a saia, para longe de seu calor.

- Richard? - chamou ela, a voz trêmula e irregular. Balançando a cabeça, ele saiu de cima dela e rolou para o lado. Deitado de costas, cobriu os olhos com a mão, certo de que a morte era preferível àquilo. Era um idiota. Devia tomá-la nos braços, acarinhá-la e fazer amor com ela. Isabele o queria. Dera todas as provas disso. Mas ela não o amava. Não podia. Era impossível. Talvez, por algum motivo bizarro e equivocado, ela o desejasse, mas nunca passaria disso. Era uma mulher com necessidades, passional, e ele era uma fonte de alívio familiar, à mão. Isso era tudo. Necessidade e nada mais.

- Richard? - chamou ela de novo, tocando-o com a mão trêmula. - Por favor, não. Por favor. Não quero que pare.

Ele inspirou profundamente antes de declarar:

- Eu quero... - Fez uma pausa para maior controle. - Ou melhor, não quero. Não com você. - Levou a mão dos olhos ao local onde seu coração palpitava a ponto de doer. - Não com você, Isabele.

Ela permaneceu deitada por uns dez segundos; então, ele ouviu seus movimentos ao vestir o corpete.

- Imagino que vá procurar sua amante.

- Não sei. - Era verdade. Estava atordoado, confuso mesmo, com os últimos acontecimentos.

Furiosa, ela o golpeou no ombro tão inesperadamente que ele nem teve tempo de se retrair.

- Isabele...

- Dane-se, Richard.

Ainda sentada, ela o encarou, os cabelos soltos sobre os ombros e os olhos fulgurantes de lágrimas.

- Vá para ela, então! Vá e goze seu prazer com a vadia, com a minha bênção! - Segurando a saia, ela se pôs de pé com menos graça do que de costume.

- Isabele - chamou ele, embora não soubesse o que dizer.

Ela deixou o salão sem outra palavra ou olhar, batendo a porta com um estrondo, deixando-o sozinho deitado no assoalho.



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