Tumulto na Plataforma 9 e 3/4



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Abriu os olhos, tentando desesperadamente lembrar o conteúdo do sonho. Mas só um sentimento parecia ter sobrado: angústia. Parecia tão real... Não era só angústia, era uma tristeza misturada com remorso, um sentimento de horror e culpa, de arrependimento... Severus olhou para a parede, um relógio em forma de coruja cinzenta fosforescente com cara de zangada avisava piscando: "Hora de Dormir". Mas ele sabia que era inútil tentar. Estava nervoso demais. Levantou-se e foi revisar mais uma vez seu malão, abarrotado de livros e material escolar. Alguns livros estavam escondidos dentro de outros. Assim, quem abrisse o livrinho com a capa de "Grandes Bruxos do Nosso Século" iria na verdade ler "Manual de Magia Negra Medieval". Ele esperava que não houvesse vistoria por parte dos professores.
Olhou pela janela, ainda triste pela fuga de Nictus. Quem sabe ele voltaria uma noite? E não o encontraria mais ali... Não foi uma decisão dele, Severus, mas de alguma forma Nictus devia saber que nunca Soraya deixaria ele levar um morcego para Hogwarts. No fundo, o garoto se sentiu aliviado. Seu armário estava cheirando muito mal, mesmo com a limpeza diária.
Suas roupas de trouxa estavam em cima da cômoda. "Ridículas", pensou. Mas era necessário despistar os trouxas na estação de King's Cross. Uma calça azul escura e uma camisa abóbora. Severus detestava cores. Seu quarto era todo em tons de cinza e suas vestes, desde que sua mãe fora embora, sempre negras. Agarrou o ursinho Eddie, um ursinho surrado, sem uma orelha, já bem encardido, e que, segundo sua mãe, tinha pertencido à sua avó. Aquela era a única lembrança que tinha de Helena. A lembrança do rosto da mãe era vaga, nebulosa. Sempre que pensava nela uma imagem sem rosto se formava. Severus, porém, lembrava do tom de sua voz, suave e melodiosa. Também lembrava do dia em que recebera o ursinho: dois dias antes de Helena fugir de casa com sua irmãzinha. De Valentina, estranhamente, ele não lembrava nada.
O ursinho foi cuidadosamente guardado em sua mochila. A caixa para Fuligem já estava pronta também. E faltava agora só alguns minutos para "Hora de Acordar", segundo seu relógio-coruja, que continuava zangado por ter sido desobedecido. Foi lavar o rosto e as mãos, já mais animado, a excitação dominando o medo. Logo, logo, ele e Sisudus, e possivelmente Tia Soraya também, estariam esperando o ônibus que os levaria para a estação de trem.
Severus desceu a escada, bisbilhotando de longe a cozinha, esperando ouvir sons de louça pois estava com muita fome. Mas a casa estava silenciosa. Ao chegar na sala de jantar tomou um susto. Seu pai se encontrava ali. E parecia querer conversar com ele. Nada mais era tão constrangedor para o garoto do que conversar com o pai.
- Severus... - sussurrou Petrucius, a voz grave e rouca de quem fuma muito. O cachimbo, porém, estava apagado, em sua mão. Os olhos cinzentos do pai o encaravam.
- Sim, pai.
- Finalmente você vai começar sua educação.
- É... - disse Severus, sem saber o que dizer. Nunca sabia o que dizer diante do pai.
- Esse é um momento que Helena gostaria de presenciar...
Severus gelou. Desde que a mãe se fora ele nunca tinha ouvido o pai pronunciar o nome dela. Era sempre "sua mãe". De uma certa forma isso o deixou mais tranqüilo. O pai já não devia estar tão ressentido.
- Ela gostava muito de você, Sevvie.
Ele abaixou o rosto, tentando não se emocionar. Não suportava demonstrar sentimentos em frente a quem quer que seja. Com exceção, em alguns momentos, de sua Tia Soraya.
- Eu tenho algo para lhe dar.
O menino franziu o rosto. O pai segurava agora um envelope. Parecia fazer esforço em entregá-lo ao filho.
- A única carta que sua mãe deixou foi endereçada a você. Está enfeitiçada e só poderá ser aberta por você, em Hogwarts. Pelo menos era o que dizia o bilhete anexado a ela.
Severus não sabia o que pensar e o que fazer. Seu pai teve que se levantar e colocar o envelope na palma de sua mão. Petrucius, a seguir, encaminhou-se para sua sala de leitura, sem nem ao menos se despedir do filho.




Sentado no fundo do Quebra-Galho (o ônibus que recolhia as crianças bruxas para levá-las à Estação King's Cross), Severus sentia que sua cabeça ia estourar. Não conseguia se concentrar devido à balbúrdia e gritaria daquelas crianças todas. O veículo, por fora, parecia com qualquer outro ônibus londrino vermelho de dois andares; por dentro, era quase cinco vezes mais espaçoso. A maioria dos passageiros eram alunos de Hogwarts, mas havia um ou outro adulto. Soraya fez questão de vir também, e parecia muito preocupada com Severus, cuja palidez acentuava mais as olheiras, denunciando que mal dormira à noite. Mas Mary Smethley, a vizinha, também tinha vindo com Veronica e Melissa, e não parava de falar um minuto, deixando Soraya zonza.
Melissa também não parava de falar, perguntando tudo sobre Hogwarts para Veronica, que gritava para se fazer ouvir pela irmã.
- Como é que os trouxas não pedem para o ônibus parar? - perguntou Melissa, antes mesmo de Veronica terminar de responder à pergunta anterior, sobre como era o sorteio de casas.
- Toda vez que um trouxa o vê, lê um número diferente daquele que procura - respondeu Sisudus com paciência, mas parecendo muito chateado por estar no meio das duas irmãs e procurando com o olhar um lugar vago perto de Mark Wickman, seu colega da Sonserina, também do sexto ano. Aliviado ao ver uma garota levantar-se e ir se sentar no andar de cima, Sisudus pulou para lá, para desespero de Severus.
- Eu vou para a Corvinal, não é Veronica? - perguntou Melissa. Veronica vestia uma minisaia da moda, tão curta que Severus se sentia sem graça pois não conseguia tirar os olhos das pernas da menina. Ao seu lado, a linda vassoura que ganhara de aniversário.
Finalmente Mary puxou a filha menor para seu lado, a fim de responder a todas as suas perguntas, dando uma trégua para todos, inclusive Soraya, que veio se sentar ao lado de Severus, justamente quando Veronica já estava toda feliz por ficar sozinha ao lado do menino. Ao ver Soraya, a garota escapuliu com sua vassoura para o andar de cima, de onde vinha um barulho infernal de crianças gritando e assoviando.
- Você está bem? - perguntou a tia.
- Estou - mentiu Severus.
Nesse momento sentiu-se um solavanco e o ônibus ficou desgovernado por dois segundos, indo parar junto a algumas árvores. O motorista, um bruxo já ancião, saltou e verificou que um dos pneus estava furado. Tentou reparar o pneu com sua varinha, mas parecia que o feitiço não estava dando certo. Um dos adultos presentes no ônibus desceu para ajudar. Precisavam fazer tudo com discrição, uma vez que a rua era movimentada e os trouxas não podiam perceber o que acontecia.
- Droga! - gritou Wickman. - Nós já estávamos atrasados e agora isso!!! O trem vai partir sem a gente.
Os outros passageiros também começaram a reclamar. O tumulto era tão grande que até os trouxas mais desligados já estavam encarando com mais atenção aquele ônibus que parecia ter mais gente do que seria possível. Mas no fim tudo deu certo, o pneu foi trocado e eles seguiram em direção à estação de trens, chegando em cima da hora. A confusão recomeçou quando todos tentaram saltar ao mesmo tempo, cada um tentando retirar seus pertences primeiro que os outros. Severus e Sisudus, assim como Veronica e Melissa, tiveram mais sorte pois suas malas e caixas estavam perto da porta de saída. A gritaria continuava porém, enquanto eles arrastavam suas coisas e encaminhavam-se para a parede que ficava entre a nona e a décima plataforma. Faltavam apenas cinco minutos para as onze horas e nem a quinta parte dos alunos que tinham vindo no ônibus já tinham ultrapassado a barreira entre as plataformas. Soraya ajudou Severus com o carrinho e juntos ultrapassaram a parede, em tempo de colocarem o malão e a caixa com Fuligem para dentro do último vagão, um dos únicos desocupados. Mark Wickman já estava na plataforma 9 e 3/4 quando o trem apitou.
- Esperem! - gritou Wickman, acenando para mostrar que alguns alunos ainda estavam vindo, arrastando suas malas.
O tumulto foi grande. Várias corujas piavam, e alguns alunos que já estavam dentro do trem saíram para acenar para o condutor esperar. Entre esses alunos estava uma menina magrinha, vestindo uma roupa tão curta quanto à de Veronica. Ela parecia curiosa, e arrastava consigo uma caixa comprida, como a de uma vassoura, mas em um formato estranho. Soraya, atordoada, veio se despedir de Severus.
- O trem vai esperar mais alguns minutos.
- Tia...
- Não fique nervoso. Vai dar tudo certo.
- Tia, eu... Eu estou com medo...
- Vai dar tudo certo, querido. Tenha confiança em si mesmo. Seu irmão vai te ajudar em tudo, tenho certeza.
Severus não tinha tanta certeza assim.
- Mas... tem uma coisa que eu não te falei - sussurrou o menino, mas, logo após dizer isso, a porta da cabine se abriu e ele viu a menina franzina com a caixa comprida.
- Posso me sentar aqui? - ela perguntou. Ouviu-se um apito e o trem começou a andar.
- Claro - respondeu Severus, sem nem ao menos olhar para a guria.
- Tchau, tia - ele gritou, o trem fazendo a curva lentamente.
- Adeus, querido - gritou a tia, e Severus pode ver, com surpresa, uma lágrima escorrendo em seu rosto. Eram raras as lágrimas de Soraya.

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