DOCES DE PLANTAS



Alvo e Rose saíram de perto da janela do trem enquanto o Expresso Hogwarts corria veloz por entre as montanhas, passando por bonitas paisagens e refletindo a luz do sol daquela manhã de setembro. Eles estavam na mesma cabine de James e Victoire, que estavam tendo um pequeno desentendimento por conta da iniciativa dele de tagarelar sobre o encontro que ela tivera com Ted na estação de trem.



- Você tinha que meter o nariz onde não foi chamado, não é James?



- Quem mandou você ficar se agarrando no meio da Plataforma 9 e ½?



- Isso não é da sua conta! Se eu soubesse que você estava prestando tanta atenção na minha vida amorosa, teria começado a chamar você de Guilherme Weasley, porque já está me tratando como se fosse o meu pai! Ou pior!



- Ora, Vic, não foi nada de mais...



Ela revidou seu primo com um olhar que poderia facilmente cortar uma folha de papel.



- Ainda bem que seus pais e o Tio Rony não deram atenção, pois o escândalo que você fez foi bem grande. – ela então virou-se para Alvo e Rose – Não sigam o exemplo desse fofoqueiro.



James apenas bufou, contrariado. Victoire encarou-o por um momento, avaliando se valeria a pena prolongar aquela discussão, dada a falta de tato do seu primo. Dando aquela causa como perdida, ela tentou esfriar a cabeça observando a paisagem montanhosa que passava em alta velocidade pela janela da cabine, antes de enfim se levantar e direcionar-se à saída.



- Sabe de uma coisa? Acho que minhas amigas se acomodaram no próximo vagão. Vou ver se elas têm algo mais interessante para conversar ao invés de ficar aqui tentando botar um pouco de juízo nessa sua cabeça dura. – ela abriu a porta e, antes de sair, completou – Por favor não faça isso de novo, James, é ridículo.



Um silêncio incômodo ficou pairando no ar enquanto James olhava atônito para a porta. Virou-se em direção ao seu irmão como se fosse falar algo, depois mirou a porta novamente, até finalmente retornar sua atenção a Alvo.



- Ah, eu não fiz nada de errado não é? – ele disse, tentando se justificar – Ela que se encontra com o Ted e eu que levo bronca.



Rose fitou-o com um olhar que tentava dizer: Você é tapado assim mesmo ou está fazendo de propósito?



- Na verdade, acho que você fez besteira, sim – Rose falou, objetivamente.



James encarou a prima brevemente, depois virou-se para Alvo para saber qual partido ele iria tomar. No entanto, o garoto mais novo apenas deu de ombros e mexeu a boca num sei lá inaudível.



- Argh, montem um fã-clube para a Victoire então, enquanto eu procuro algo de útil para fazer! Qualquer coisa em que não fiquem todos contra mim! – James saiu, emburrado, e seguiu no corredor em direção contrária à de Victoire.



Rose, por sua vez, apenas acompanhou a porta movimentando-se lentamente até se fechar com um suave click. Virou-se então para Alvo com um semblante divertido e falou:



- Seu irmão está ficando meio maluco



- Talvez ele nunca tenha sido normal – disse Alvo, sorrindo.



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Os dois primos conversavam normalmente, quando viram que o carrinho de doces estava passando. Rose abriu a porta e chamou o vendedor:



- Senhor, nós queremos alguns sapos de chocolate e bolos de caldeirão.



Olhando mais perto, ela percebeu que o rapaz era bem jovem e parecia ter idade para ainda ser estudante de Hogwarts. Alvo se aproximou deles enquanto o homem falava:



- Vocês não querem o especial de hoje? – os dois olharam intrigados e chegaram mais perto do carrinho – Creme de Escrofulárias! – e dizendo isso, o rapaz cutucou com a varinha um grande bulbo vegetal que estava em um vaso pequeno, sobre o carrinho. A pequena planta explodiu em um líquido verde escuro, espesso e malcheiroso, banhando Alvo e Rose da cabeça aos pés. O falso vendedor, por sua vez, começou a gargalhar bem alto, debochando claramente dos dois primeiroanistas.



- Seu idiota! – Rose rapidamente ficou vermelha de raiva, enquanto Alvo, por outro lado, tentava de alguma maneira limpar seus olhos e impedir a prima de socar aquele garoto inconveniente.



- Potters e Weasleys sempre merecem uma recepção calorosa – ele voltou a falar, e várias pessoas já se aglomeravam para tentar ver o que estava acontecendo – Se acham os maiorais só porque seus pais são famosos. Vocês não valem nada para mim!



Percebendo o grande alvoroço que se instaurou no corredor, James se encaminhou para o local, tentando ver quem estava envolvido. Qual não foi sua surpresa ao perceber que Craig Zabini havia pregado uma peça em sua prima e seu irmão. Esse mala começou cedo demais! Ele vai aprender na marra que está mexendo com a família errada, pensou James. Forçando seu caminho por entre os alunos curiosos, ele conseguiu chegar até o centro daquele emaranhado de gente, barulho e fedor. Postando-se frente a Zabini, James sacou sua varinha e apontou para o peito dele, como se convidando-o para um duelo. Sentindo a aura perigosa emanada por James, uma gota de suor frio escorreu pela espinha de Craig Zabini e, por um momento, pareceu que sua pele escura empalideceu.



- Zabini, Zabini... – começou James, encarando seu adversário com um olhar desafiador – Já não bastava ficar no meu pé ano passado, tinha que vir atormentar meu irmão e minha prima? Sabe, eu aprendi umas transfigurações bem legais. O que você vai querer? Cara de sapo com corpo de canário? Ou cara de trasgo com rabo de sereiano?



- Vo-você não pode fazer isso comigo... É c-contra as regras... – gaguejou o sonserino.



- Eu sempre ouvi dizer que regras foram feitas para serem quebradas. – disse James, confiante.



Quando James abriu a boca para soltar um feitiço, um homem alto, com um queixo um pouco maior que o normal e longos cabelos pretos presos num rabo de cavalo segurou firmemente seu braço, impedindo-o de completar a conjuração. James reconheceu o olhar repreensivo de seu professor de Poções no mesmo momento, e recriminou-se por não ter tratado de Zabini mais rapidamente.



- Sr. Potter e Sr Zabini, começaram cedo este ano? – o professor falou, com uma voz grave – Suponho que não queiram começar o ano com uma detenção.



- O Zabini provocou o Alvo e a Rose...



- Sinceramente, não me interessa quem começou essa bagunça, apenas saibam que esse comportamento reprovável de vocês será reportado à diretora. Além disso, já que estão tão ansiosos para realizar feitiços, podem usar toda essa vontade para limpar a cabine e o corredor. Não quero ver nem um pingo dessa gosma fedorenta quando eu voltar. – James e Craig trocaram olhares furiosos, mas ainda assim começaram a trabalhar juntos na limpeza – Vocês dois, venham comigo. – o professor disse, apontando para Alvo e Rose – O restante de vocês pode retornar às respectivas cabines. O show acabou.



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Enquanto Alvo e Rose seguiam o professor desconhecido, ele cordialmente apresentou-se:



- Perdão pela situação inapropriada em que tenhamos nos conhecido, pois a apresentação dos professores deveria ser feita formalmente no castelo e não pelos corredores do Expresso de Hogwarts. Enfim, sem mais delongas, sou Andrew Callahan, seu professor atual de Poções. – ele disse, olhando seriamente os dois alunos.



- Prazer em conhecê-lo, Prof. Callahan. – adiantou-se Rose – Eu me chamo Rose e este aqui é meu primo Alvo.



Os três continuaram caminhando, atravessando diversos vagões repletos de estudantes de todos os anos e casas. Passaram por um grupo de alunas da Corvinal que cochichavam em um canto, abafando risadinhas, e também por um par de sonserinos que os olhou com uma expressão de nojo. Quando já se aproximavam do fim do trem, chegaram em um vagão diferente, que parecia uma grande e desorganizada despensa. Todo o tipo de coisas estava amontoado lá: vassouras, caldeirões, malões, gaiolas e até alguma plantas muito estranhas.



- Se não me engano, há uniformes extras em algum lugar por aqui... – falou Prof. Callahan, revirando alguns objetos ao longo do aposento em que se encontravam.



O professor continuou mexendo em diversos entulhos e embrenhando-se cada vez mais naquela pilha de objetos soltos, até sair do campo de visão dos seus alunos. Ensopados, os dois já estavam criando pequenas poças daquela gosma aos seus pés, além de ainda estarem exalando aquele cheiro podre. Cansado de esperar, Alvo olhou para Rose, como se perguntasse: Onde diabos ele se meteu?



- ACHEI! – surpreendeu-os o Prof. Callahan, aparecendo em meio às tralhas com as mãos levantadas, segurando dois pares de vestes escolares.



Mesmo derrubando alguns objetos pelo caminho e quase tropeçando, ele chegou de volta a seus alunos e entregou-lhes as roupas limpas.



- Pronto, agora vocês já podem trocar essas vestes imundas. Ninguém merece começar a vida em Hogwarts cheirando mal após um banho de excrementos vegetais.



- Muito obrigado Prof. Callahan. – respondeu Alvo, já de posse das vestes limpas – Nos vemos mais tarde no castelo.



- Foi um prazer conhecê-lo. – concluiu Rose, despedindo-se com um aceno de mão.



O mestre de Poções continuou observando os garotos se distanciarem pelo corredor, com um estranho brilho nos olhos. Sorrindo maliciosamente pelo canto da boca, ele esfregou as mãos e disse para si mesmo, sombriamente:



- O prazer é todo meu...


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