CAPÍTULO II



CAPÍTULO II

- Oi. – disse ele desanimado, lá pelas sete da noite, quando chegou do Ministério.
- Oi. – disse ela, erguendo a cabeça a fim de encará-lo. Estava lendo. – O que foi?
- Lisy. – respondeu ele, brevemente, e foi pra cozinha. Hermione foi atrás dele.
- O que houve?
- Terminou tudo. – disse ele, abrindo uma garrafa de cerveja amanteigada, voltando para sala. Hermione foi atrás.
- Terminou? – perguntou ela, indignada. – Por quê? Ele me parecia tão contente quando falou comigo hoje.
- Ela estava com outro, por isso estava contente. – disse ele, se largando no sofá e tomando um longo gole de cerveja. Ela o encarou.
- Sinto muito.
- Não sinta, porque eu não sinto. Já estava pensando em terminar, mas não o fiz para não magoá-la. Queria tentar mais um pouco, mas estava ficando praticamente impossível. Ela e todas aquelas crises de ciúmes...
- Nunca me falou sobre essas crises. – ela se sentou ao lado dele.
- Achei que fosse ficar chateada. Ela tinha ciúmes de você. – disse ele, displicente.
- De mim?
- Sim, não se conformava pelo fato de morarmos sob o mesmo teto e sermos amigos. – disse ele, pesaroso.
- Ela só podia estar louca. – disse Hermione, Harry lhe olhou brevemente, pareceu triste. - Está chateado?
- Com a Lisy? De maneira nenhuma, ela fez o que eu queria fazer a algum tempo, só não tive coragem.
- Então está triste com o que? – perguntou ela, passando a mão pelo rosto cansado dele.
- Nada. – ele bebeu a garrafa toda, em poucos goles.
- Harry, não minta. Te conheço melhor que ninguém. Me diga, por que está triste?
- Não estou triste, é só cansaço. Acredite. – disse ele, se levantando. – Trouxe o nosso filme, todas as comedias da locadora nós já assistimos, trouxe esse aqui, não é tão recente, a atendente disse que é muito bom.
- Qual é?
- Um Amor para Recordar*. Romance. – disse ele, depois de colocar o filme, se ajeitando no sofá.
- Já ouvi falar, me disseram que é realmente maravilhoso. – ela acenou com a varinha e várias cobertas e travesseiros desceram levitando do andar de cima, até eles.
Harry se largou no sofá, de maneira bem confortável, totalmente jogado. Hermione deitou a cabeça no peito dele e se aconchegou. Enquanto passava o filme, ele mexia no cabelo dela de maneira inconsciente; enquanto ela brincava com uma das mãos dele entre as suas.

- Não acredito que está chorando... – disse Harry, assim que o filme acabou, Hermione soluçava. Ela se virou pra ele com o rosto banhado em lágrimas. Ele sorriu e a puxou mais pra perto.
- É tão lindo... – ela disse baixinho, enquanto se abraçava a ele, colocando a cabeça no côncavo entre o ombro e o pescoço.
- Um ótimo filme. – ele falou no mesmo tom que ela.
- Queria encontrar um amor assim. Verdadeiro. Que quebrasse barreiras...
Harry ficou em silêncio, refletindo sobre o que ela falara. Sentiu os dedos delicados dela deslizando em seu peito, então levou uma das mãos ao rosto dela e o acariciou sentindo algumas lágrimas que ainda rolavam.


Harry abriu os olhos lentamente, a claridade que vinha da janela quase o cegava, olhou em volta, dormira no sofá, com Hermione; eles continuavam exatamente na mesma posição que estavam na noite anterior, com exceção das pernas que se enlaçaram durante a noite. Passou a observá-la.
Hermione tinha florescido nesses últimos anos, não tinha os cabelos lanzudos dos tempos de escola, eles eram longos e com cachos largos, uma franja longa que lhe caia delicadamente nos olhos, um corpo perfeito que despertara a atenção de muitos outros medi bruxos no hospital. Inteligente, sensata, sensível, forte e determinada, sem perder sua feminilidade e leveza. Se tornara uma bela mulher.
Harry se lembrou então, de uma discussão que tivera com sua ex-namorada, Lisy.

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- Por que demorou tanto? – Lisy perguntou, com a raiva transbordando pelos poros.
- Já disse que estava com Hermione, hoje era a noite do filme e eu...
- Preferiu me deixar aqui te esperando só pra não faltar com o compromisso que tinha com a mulher que mora com você? – falou ela, sarcástica. – Vocês moram juntos, podem assistir filmes quando quiserem.
- Mas é que...
- Mais nada Harry, estou farta dessas nossas discussões. Se chega atrasado é porque estava com
Hermione, se falta ou esquece do compromisso é porque Hermione tinha uma coisa melhor pra você, compra todo dia um presente pra Hermione enquanto você esqueceu o dia do meu aniversário! – berrou ela, apontando o indicador para Harry.
- Ah, Lisy, eu já te expliquei o que aconteceu...
- Claro!
Hermione teve uma crise de sei lá o que e você teve que passar a noite com ela, no hospital!
- Foi, exatamente. Preferia que a deixasse sozinha?
- Ela estava num
hospital, não tinha como ficar sozinha. – bradou ela.
- Você está fazendo tempestade em copo d’água...
- NÃO HARRY! NÃO ESTOU! É sempre a
Hermione... Me desculpe, mas é que a Hermione... Acontece que a Hermione... Mas a Hermione teve uma idéia... A Hermione sugeriu... Estou FARTA DISSO! FARTA!
- Lisy, você é muito ciumenta, podia relevar...
- Relevar Harry? RELEVAR? – repetiu ela, indignada.
- Ela é só minha amiga! – ele sibilou, pela milésima vez, aquela frase.
- Não Harry, ela não é só sua amiga faz tempo, você é o único idiota que não percebeu isso ainda. – ela cuspiu as palavras. – Você é apaixonado por ela desde que se conheceram, mas vivem se escondendo atrás dessa amizade de fachada.
-
Eu? Apaixonado pela Hermione? – perguntou ele, incrédulo. – Você só pode estar brincado!
- Não Harry, não estou brincando e você sabe disso. Ela está em primeiro lugar em tudo pra você, tudo que você faz, tudo que você é, tudo que você respira é Hermione. Você depende dela pra viver, depende dela pra acordar todos os dias, dependeu dela durante todos esses anos. Ela é sua fonte de conforto, de diversão, ela te ajuda de uma maneira que ninguém mais pode ajudar, porque ela te conhece melhor que qualquer um. Ela é seu porto seguro, é seu motivo de viver, ela é sim sua amiga, mas vai além disso. É amiga, companheira, confidente, sua força, é pra onde você corre, é a coisa mais importante na sua vida.
Hermione, Hermione, Hermione... Somente Hermione. – ela gritava tudo isso, encarnado Harry, ele permanecia em silencio, apenas ouvindo-a. – Esse tempo que ficamos juntos, esses três meses de namoro, sim, nós nos conhecemos há quase um ano, mas só virou namoro depois que você me apresentou á Hermione. – disse ela, descontente, ainda gritando com ele. - Desde que você me levou para conhecer a Hermione, eu percebi que vocês dois são dois cegos, que não enxergam o que está mais do que óbvio. Acorda Harry, abra esses seus olhos verdes que tanto fascinam a Hermione.
Ela se sentou no sofá ao lado dele, estavam no apartamento dela. Lisy respirou fundo e falou depois de alguns minutos.
- Assim não dá pra continuar. Melhor darmos um tempo.
Ele ficou em silencio por muito tempo, então a fitou:
- Acha mesmo... Tudo isso que você disse? – ele perguntou como se tivesse acabado de descobrir uma coisa que poderia mudar o mundo. A fórmula da paz instantânea.
- Tenho certeza Harry. Sempre tive. Depois que a conheci então, minhas suspeitas se confirmaram. – ela falou mais calma, olhando-o com ternura.
- Obrigado. Eu sinto muito por...
- Está tudo bem, não se preocupe. É apenas um tempo, para você pôr seus pensamentos em ordem.
- Certo.


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Desde aquela discussão com Lisy, Harry passou a rever seus conceitos, observar mais Hermione e tentar enxergar realmente o que ela significava pra ele. Descobriu que Lisy estava certa. Havia um tempo que isso acontecera, mas ele nunca tivera coragem de tocar no assunto com Hermione, talvez pelo fato de acreditar que ela só o via como um amigo, e que falar nesse assunto acabaria com doze anos de amizade. Reatou com Lisy alegando que queria esquecer a amiga, porém Lisy ainda parecia descontente com o relacionamento deles.
Mas a partir do momento que descobriu seus verdadeiros sentimentos pela bela mulher que dormia serenamente em seus braços, cada movimento, cada gesto, cada beijo na bochecha, cada abraço, cada sorriso dela o fazia entrar numa espécie de êxtase momentâneo, sentia milhares de sentimentos bons explodirem dentro dele. E cada segundo que a tinha perto de si era motivo de uma alegria incomensurável que tomava conta dele, era contagiante.
Sentiu uma das mãos dela deslizar em seu peito, um suspiro profundo, logo depois um beijo em seu pescoço. Um arrepio correu o corpo de Harry naquele instante.
- Bom dia, Harry. Faz tempo que está acordado? – falou ela, numa voz cheia de preguiça.
- Não, acordei agorinha, pouco antes de você. – ele respondeu dando um beijo na testa dela.
- Que horas são?
- Nove e meia. Hora de um belo café da manha, preciso sair depois.
- Mas você disse que não ia trabalhar. – disse ela se sentando e se espreguiçando, Harry sorriu quando ela bocejou.
- Não vou trabalhar, são alguns outros assuntos que tenho que resolver.
- Posso saber quais?
- Quando eu chegar, você saberá. Não se preocupe. – disse ele se sentando também. – Então, o que a senhorita irá querer para o café?
- Hum... Pergunta tentadora... – disse ela, sorrindo. Se levantaram e foram pra cozinha. O preparo dos cafés da manha de fim de semana já virara uma tradição entre os dois, experimentar novas receitas, fazer coisas diferentes, tentativas de novas coisas. A bagunça era geral, viravam a cozinha de cabeça para baixo no fim de semana e se divertiam como crianças quando faziam isso.
- Harry, isto está horrível! – disse Hermione com uma careta, provando a geléia de abóbora com jaca que Harry inventara.
Estavam sentados no tapete da sala, com três bandejas entre eles, com os mais variados e desastrados pratos que se pode imaginar.
- Eu avisei que talvez não ficasse boa. – ele se defendeu e mordeu um dos biscoitos que Hermione fizera. – Oh! Divino! Perfeito! O melhor biscoito que eu já comi na minha vida.
- Eu tinha certeza que eles ficariam bons. – disse ela, rindo e piscando pra ele.
- Modesta você, hein, Srta. Granger?!
- Mais que você, com certeza não, Sr. Potter!
Eles riram.
- Precisa ir buscar seu smoking na lavanderia Harry, não esqueça.- disse Hermione, tomando um gole de seu café.
- Sim, vou fazer isso. – ele respondeu. – Te levaria junto, se você não fosse tão chata.
- Não sou chata, só não gosto de atrapalhar.
- Atrapalhar o que? Lisy só vai comigo hoje por que combinamos isso há muito tempo, não teria cabimento eu dizer que não vou levá-la.
- Mesmo assim Harry, não me sentiria bem sabendo que em partes, eu tenho culpa, mesmo sem querer, desse rompimento de vocês.
- Não se culpe, Mione. – disse ele, tentando esconder o tom estranho que sua voz tomou.
- Espero que se divirta bastante, tem trabalhado muito ultimamente.
- É, sempre assim... - ele falou, distraidamente.
- Está tudo bem Harry?
- Claro que sim.
- Então, vou subir para trocar de roupa, você já vai sair?
- Vou, só vou trocar a roupa também. O que vai fazer hoje?
- Correr, eu acho. Vou ver se saio para uma caminhada no parque, aqui do lado.
- É um excelente lugar. Reformaram o parque, ouvi dizer que está mais lindo que antes.
- Ótimo, vou começar muito bem o meu fim de semana. -ela levantou num pulo e subiu as escadas correndo.
Harry enfeitiçou as bandejas para que voltassem para cozinha, sozinhas e se organizassem por lá. Subiu para o seu quarto, mas antes que o alcançasse, parou a porta de vidro que dava para varanda. Hermione estava ali, com seus cabelos esvoaçando, com seu short curto e sua blusinha de alcinha que a deixavam extremamente linda, moldando aquele belo corpo.
Não pôde resistir e caminhou até ela, podia-se ouvir o barulho dos carros, motos, ônibus e milhares de outras coisas numa Londres agitada abaixo deles, acima dali, o céu estava num azul celestial, sem nuvens, o sol forte sobre a pele, um dia perfeito.
- Desistiu de correr? – perguntou ele, caminhando com as mãos nos bolsos. Ela, que estava encostada a balaustrada, virou a cabeça para olhá-lo.
- Não, não desisti. – ela falou, depois sorriu. – Ainda.
- Foi o que imaginei. – ele se encostou a balaustrada com ela.
- Sabe que eu...
- “... não resisto a alguns minutos na varanda, para olhar as pessoas, o mundo, saber como está o tempo ou imaginar o que e pra onde todos aqueles carros e pessoas estão fazendo ou indo.”
Ela sorriu.
- Exatamente.
- Sei disso, é o mesmo discurso há cinco anos. – ele olhou para baixo. – Nunca me canso de ouvi-lo.
- Harry, você tem certeza que está tudo bem? Me parece tão triste... – ela falou, observando-o.
- Não Mione, estou bem. Está tudo bem. Vou me trocar, depois a gente se vê...
Ele saiu em passos rápidos, não podia enganá-la, ela o conhecia demais, a qualquer momento a situação ficaria insustentável.
- Harry? – ela chamou, ele, que já estava na porta, virou-se. – Me encontre lá no parque daqui umas duas horas. Dá tempo de fazer tudo que precisa, não dá?
- Sim. Claro que dá. Certo, até mais tarde.
Harry se trocou e saiu, não sabia exatamente o que fazer, a única coisa da qual tinha certeza é que teria que ir buscar seu smoking na lavanderia.

***

N/a: Segundo capítulo saindo, rapidinho, pra vocês irem se habituando a história. Próxima atulização na quarta-feira, ok?
Obrigada pelo comentário Nety_GranGer.
^^

Beijos...

Paulinha.

N/a²: *Um Amor para Recordar [Título Original: A Walk To Remember], um filme de Adam Shankman. Todos os direitos pertencem aos idealizadores e executores do filme, só o usei para deixar o clima mais romântico [Oh, que meigo, não?] e esclarecer mais o tipo de rotina que os personagens levam. Acho que muitos já devem tê-lo assistido, mas se não, assistam, é realmente muito bom.
^^

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