Agitando em Hogsmeade



Hermione enfrentava um grande conflito interno: estava completamente dividida entre a extrema felicidade de estar voando agarrada a Harry, numa noite linda para uma última aventura e o tremendo desconforto por estar quase caindo da vassoura e sentindo até a alma enregelada por causa do forte vento que os castigava.
Distraída, tentando decidir se ficava feliz ou incomodada, Hermione afrouxou um pouco o aperto na cintura de Harry e começou a escorregar da vassoura. Percebera aquilo tarde demais e, desesperada, viu-se caindo em direção ao lago.
Apavorado, Harry começou a descer à toda velocidade atrás de Hermione, mas não daria tempo. A garota estava a dois metros do lago... um metro...
Hermione fechara os olhos e prendera a respiração. Então, sentira-se colidindo com algo grande e gosmento.
“Ué, cadê a água?”, pensou e abriu os olhos.
-Oh, meu Deus!
Fora amparada pela lula gigante.
Harry não conseguira “frear” a vassoura a tempo e caíra em cheio na água.
Emergira após alguns segundos e dissera:
-Pelas barbas de Merlin, Granger!Você quase me matou de susto!
-E afogado também – riu Hermione e, antes que pudesse ter qualquer reflexo, foi puxada para a água por Harry.
-Agora estamos quites.
A cabeça de Hermione emergira do lago. Cuspia água e olhava para Harry ameaçadoramente. O bruxo, por sua vez, apenas riu e pousou a cabeça da amiga sobre seu ombro.
Os dois permaneceram abraçados na água, contemplando as estrelas por um tempo.
Hermione tinha medo do que estava sentindo. Ali, abraçada a Harry... sua única vontade era beijá-lo.
Mas por que aquilo estava acontecendo?Afinal de contas, namorava Rony. E ama o namorado!Ou será que não?”Nem pensar!”, pensou Hermione, ‘Harry é apenas meu melhor amigo, que, por sinal, namora minha melhor amiga”.
-Bem – disse Harry repentinamente, fazendo Hermione se sobressaltar -, meus planos para esta noite não incluíam nado. Então, vamos dar o fora daqui.
A garota deu um tapinha de agradecimento na lula gigante e nadou com Harry até a margem.
-Vê se segura forte desta vez – disse Harry logo após pegar a vassoura – Sem dó. Não me importo em ter algumas costelas quebradas, o importante é manter você a salvo.
Harry montou em sua Firebolt. Hermione seguiu-o e segurou-o com força, comprimindo o corpo contra o dele. Ao perceber que o moreno respirava com um pouco de dificuldade, perguntou preocupada:
-Estou te machucando, Harry?
-Não. E é para ficar assim o caminho todo.
Harry deu impulso e lá foram os dois em direção às estrelas novamente.
Antes que o desconforto e o medo de sufocar o amigo a derrubassem novamente da vassoura, Hermione foi confortada pelas palavras (berros, na verdade, pois o rugir do vento tornava a comunicação quase impossível) de Harry:
-Relaxe. Não vamos voar por muito tempo, senão, eu pegaria a vassoura do Rony para você.
Os dois sobrevoaram os portões de Hogwarts e os javalis de pedra que os rodeavam. O vilarejo de Hogsmeade estava bem abaixo deles e parecia convidá-los para uma última noite.
Harry guinou a vassoura para baixo e pousou tranqüilamente. Ofereceu o braço à Hermione e os dois começaram a caminhar lentamente por aquele lugar tão querido por ambos.
Enquanto olhava os estabelecimentos fechados ao redor, flashes de tudo que passara ali surgiam na cabeça de Hermione. O deslumbramento de quando visitara o povoado pela primeira vez, todas as cervejas no Três Vassouras, os doces na Dedosdemel, os sustos na Zonko´s, as visitas à Casa dos Gritos, a primeira reunião da AD no Cabeça de Javali...
Então, Hermione sentiu um estranho júbilo ao recordar-se de uma situação em particular: sua reunião com Harry, Luna Lovegood e Rita Skeeter no Três Vassouras em seu quinto ano. Aquilo deixara Cho Chang, primeira namorada de Harry, morrendo de ciúmes e contribuíra bastante para o rompimento dos dois. Mas por que tal júbilo queimava tão ardentemente em seu peito?Hermione não sabia. “É porque eu queria vê-lo com a Gina”, pensou, mas desesperou-se ao perceber que o real motivo não era aquele. Qual seria, então?
De repente, Harry despertou Hermione de seus pensamentos. Ou melhor, a falta dele.
-Harry? -chamou assustada, olhando ao redor, preocupada por não ver ninguém.
Um estalo às suas costas quase a matou de susto. A garota prontamente puxou a varinha do bolso e virou-se para ver quem desaparatara.
-Achei que ninguém mais tentaria me matar após a morte do Tio Voldie – disse Harry sorrindo. Hermione suspirou aliviada ao vê-lo parado em frente à Dedosdemel, com os braços carregados de doces. Ao ver o olhar de censura de Hermione, prosseguiu – E antes que você me azare: eu NÃO roubei os doces. Deixei o dinheiro no balcão.
“Incrível! Ele sabia exatamente que eu iria repreendê-lo por ter afanado os doces”, pensou Hermione, encantada. Eles se conheciam tão bem... praticamente enxergavam através do outro...
-Você nem me viu aparatando, não foi? –indagou Harry perante o silêncio da amiga – Estava tão distraída... Pensando em que, moça?
-Aaahhh... –começou Hermione, pegando metade da pilha de doces de Harry e guardando-os no bolso – Na vida.
-Sei, sei – disse Harry e tornou a dar o braço à garota, para caminharem – E “a vida” em questão possui cabelos ruivos e olhos azuis?
Hermione concordou com um sorrisinho sem graça e entrou em pânico quando uma voz em sua cabeça disse “Na verdade, possui cabelos negros e olhos verdes”.
Quando pararam defronte ao Cabeça de Javali, Harry disse:
-Vamos encher a paciência do Aberforth uma última vez?
-Harry, acho que nós não.. –começou Hermione, mas o bruxo já estava batendo na porta.
Aberforth Dumbledore aparecera à janela e, sonolento, fora abrir a porta. Vestia um camisão de dormir cinza e estava descalço. Seus olhos azuis incrivelmente parecidos com os do irmão mais velho arregalaram-se ao ver quem era.
-Que diabos vocês estão fazendo aqui e, ainda por cima, completamente encharcados?
-Nossa última noite aqui, então, resolvemos dar uma escapadinha – respondeu Harry com displicência, como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo.
-Desculpe-nos pelo incômodo –disse Hermione –Pode voltar a dormir, só queríamos nos despedir mesmo.
-Certo. Mas, antes, entrem aqui. Quero lhes dar uma coisa.
Os dois adentraram o bar e observaram curiosos Aberforth revirar as garrafas empoeiradas à procura de alguma específica.
-Aqui. Tome – disse entregando a Harry uma garrafa de Uísque de Fogo –Já são adultos, divirtam-se.
Os dois agradeceram e deixaram o bar.
-Vamos voltar a Hogwarts –disse Harry –Já se onde podemos beber.
Tornaram a montar na Firebolt. O caminho de volta parecera ser bem mais rápido, agora que Hermione se acostumara ao desconforto.
Pousaram na Torre de Astronomia, a mais alta de Hogwarts. Hermione lembrara-se de três momentos em especial: quando ela e Harry entregaram o dragão Norberto a Carlinhos Weasley; quando Umbridge atacara a cabana de Hagrid na calada da noite durante o exame de NOM de Astronomia; Dumbledore sendo atingido pela maldição lançada por Snape e caindo da torre.
-É impressão minha ou você tirou o dia para relembrar tudo que passamos aqui? –perguntou Harry, sentando-se no chão.
-Como você sabe? –indagou Hermione, sentando-se ao lado dele.
-Porque eu estou fazendo exatamente a mesma coisa.
A bruxa sorriu para o amigo, que abriu a garrafa e disse:
-Primeiro as damas.
Hermione bebeu um grande gole e estendeu a garrafa a Harry.
Seu corpo fora invadido por um calor incandescente; uma sensação maravilhosa de bem-estar e felicidade, que aumentava a cada gole.
Ao fim da garrafa, os dois estavam dançando, rindo, cantando e falando coisas sem sentido. Tão bêbados, que não tinha noção de que mais cedo ou mais tarde alguém os ouviria.
Harry resolveu rodopiar Hermione, perdeu o equilíbrio e foram os dois para o chão. Rindo, deitou-se e colocou a cabeça da amiga em seu ombro.
-Sabe, Mione – disse com a voz embriagada – Eu não queria estar aqui com mais ninguém.
-Nem eu – sussurrou Hermione.
Harry beijou-lhe a face, a milímetros da boca e ambos adormeceram ali mesmo.

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