Insónia



Capítulo 6: Insónia

Harry acordou com um salto assustado.

A sua respiração estava ofegante e os cobertores estavam colados ao seu corpo suado.

Outro pesadelo…

Mais uma noite mal dormida…

O rapaz sentou-se na cama e apertou a cabeça entre as mãos para afastar o pânico que momentos antes sentira, já nem se lembrava do que sonhara… não valia a pena.

Olhou para o seu relógio, eram quatro de meia da manha, dentro de algumas horas teria que se levantar para o novo dia de aulas de sexta-feira.

Harry suspirou, tinha combinado com os colegas Gryffindor que as provas de Quidditch seriam logo depois de as aulas do dia acabarem.

Sabia que não conseguiria voltar a dormir, então resolveu levantar-se.

Os seus colegas ressonavam nas camas ao lado, Harry reprimiu uma risada, Ron estava quase a cair da cama.

Harry atravessou o quarto tentando fazer o mínimo barulho possível, quando estava com a mão no puxador da porta Ron sentou-se subitamente na cama, assustando o amigo.

- Harry…? – chamou Ron olhando para ele com os olhos arregalados

- Aamm… sim?

- Estás a dormir?

Harry teve uma enorme vontade de desatar a rir, mas conteve-se e manteve um olhar sério.

- Sim, não vês? – foi a sua resposta

- Ah… Ok… - concordou Ron

Harry viu o amigo deixar-se cair para trás e voltar a ressonar.

Ergueu as sobrancelhas enquanto reprimia o riso.
- O Ron é sonâmbulo – constatou saindo do dormitório

Harry deu alguns passos em frente no escuro corredor, conseguia ouvir os seus colegas de casa a ressonarem do outro lado das portas que preenchiam o corredor.

Esfregou os olhos por baixo dos óculos, tentando habituar-se à penumbra que reinava.

Não deu grande resultado…

Harry continuou a caminhar devagar, até chegar à escada do dormitório masculino, que lavava à sala comunal.

A sombra de alguém era visível do cimo da escada, Harry resmungou entre dentes, alguém já tivera a mesma ideia que ele.

Reconsiderou a hipótese de voltar para o quarto, mas estacou subitamente ao aperceber-se de quem lá estava em baixo.

Sentada numa das poltronas, com o cabelo ruivo espalhado pelos ombros, estava Ginny Weasley.

Harry observou-a de longe, ela estava pálida e parecia ostentar um ar abatido, observando a lareira ainda apagada nesta altura do ano.

- Ginny? – perguntou Harry do alto das escadas

A jovem levantou subitamente a cabeça, olhou para Harry e no seu rosto abriu-se um enorme sorriso agradecido.

- Harry… vem para ao pé de mim… - pediu estendendo-lhe uma mão

Harry aproximou-se da poltrona onde Ginny estava sentada, a jovem segurou-lhe na mão e puxou-o para o seu lado.

- Ginny… que se passa? Porque é que não estás a dormir? – perguntou Harry aconchegando-se com ela na poltrona.

Ginny não respondeu logo, abraçou-se a Harry e escondeu o rosto no peito definido dele.

- Eu… - hesitou – sonhei com a câmara dos segredos… com o diário e isso tudo

Harry aconchegou-a mais ternamente no seu peito e afagou-lhe os cabelos ruivos.

- Pronto… já passou – murmurou perto do ouvido dela – eu estou aqui contigo…

- Obrigada por me salvares a vida… - afirmou ela erguendo-se e olhando-o nos olhos verdes.

- Hei… então? – perguntou Harry passando uma mão pelo rosto dela –já passou… não te preocupes

Ginny abriu um pequeno sorriso maroto, levantou-se da poltrona e sentou-se no colo de Harry, com uma perna para cada lado.

- Então e tu? Que fazes aqui? – perguntou com os lábios quase a tocarem nos dele

Harry suspirou.

- O costume…pesadelos

- Devias falar com Madame Pomfrey – sugeriu Ginny despenteando o cabelo já despenteado dele

- Não iria servir de nada – respondeu Harry – agora é que vão pensar que apanhei um choque – acrescentou ao sentir as mãos dela no seu cabelo

Ginny voltou a sorrir.

Harry deslizou as mãos pelas costas dela, do pescoço até à cintura, fazendo-a arquear o tronco com o contacto.

Ele sorriu com a reacção dela, puxou-a levemente para si, até que os seus lábios se encontrassem.

A princípio foi apenas um toque suave, um leve roçar de lábios, mas Harry não esperou por muito tempo, aprofundou o beijo, pedindo levemente passagem com a língua.

Ginny concedeu-lhe autorização no mesmo instante, passeando as mãos pelo pescoço dele.

As línguas dos dois moviam-se numa dança sensual, enquanto que as mãos de ambos exploravam bocadinho por bocadinho, o corpo ainda desconhecido do parceiro.

Harry desceu os seus beijos pelo pescoço claro e sardento de Ginny fazendo-a suspirar baixinho, ao mesmo tempo que introduzia devagar, uma mão por baixo da t-shirt de dormir dela, que com a mesma lentidão subia.

Ginny desceu as suas mãos pelo peito definido dele, fazendo-o soltar um gemido abafado.

Um barulho vindo das escadas fez com que os dois parassem subitamente o que estavam a fazer.

- Vem aí alguém… - sussurrou Ginny reprimindo uma risada

A jovem saiu de cima dele e voltou à posição inicial, sentada ao seu lado, enquanto observava a sombra a aproximar-se devagar das escadas.

Quem apareceu no alto das escadas do dormitório feminino foi o gato de Hermione, que desceu os degraus com uma elegância felina, ignorando completamente os dois jovens.

Harry e Ginny desataram a rir às gargalhadas.

- Eu não acredito que era aquele maldito gato! – exclamou Harry entre risadas

- Shhiiiuuu… - afirmou Ginny tentando abafar o seu riso – ainda acordamos toda a gente

Harry tentou fazer um ar sério, mas sem muito efeito.

- Se fosse o Ron ele matava-me – comentou Harry enquanto a sua respiração voltava ao normal – a propósito… sabias que ele é sonâmbulo?

Ginny acenou afirmativamente com a cabeça, enquanto tentava controlar o riso.

- Sabia… uma vez ele acordou deitado dentro da lareira…

Harry voltou a gargalhar com gosto.

- Shhiiiuuuu! – repetiu Ginny tentando tapar-lhe a boca para abafar o som

Os dois jovens respiraram fundo e conseguiram acalmar-se, Ginny beijou Harry ao de leve.

- Eu vou tentar dormir mais um pouco… - comentou – obrigada por ficares comigo este bocadinho
Harry sorriu-lhe.

- Estou aqui sempre que precisares

Ginny levantou-se e atravessou a sala comum, quando estava a por o pé no primeiro degrau da escada, olhou para trás e sorriu.

- Bom resto de noite… de certeza que ficas bem?

O rapaz acenou afirmativamente com a cabeça.

- Não te preocupes.

- Amo-te… - murmurou ela subindo o resto dos degraus e desaparecendo de vista, deixando para trás o namorado com um sorriso feliz no rosto

Quando finalmente ficou sozinho, Harry suspirou, retirou os óculos e passou as mãos pelos olhos.

E pronto… agora estava entregue à solidão do resto da noite.

Recostou-se para trás a observar o tecto, sabia que não ia conseguir adormecer…

Quando pôs as mãos nos bolsos, descobriu num deles uma coisa a mais, que não fazia parte do tecido.

Harry arqueou as sobrancelhas e tentou investigar o que seria. Era algo redondo, meio mole do tamanho de um berlinde.

Retirou-o de dentro do bolso e observou a bolinha à fraca claridade da sala.

Um sorriso maroto formou-se no seu rosto ao identificar o pequeno berlinde.

Era uma partida dos gémeos Weasley, particularmente irritante.

Como era mesmo o nome?

Qualquer coisa como… “Fadas travessas”? Sim, era mesmo esse o nome.

Quem apertasse a bolinha e dissesse o nome de uma pessoa, a vítima seria atormentada por um protótipo de fada extremamente irritante durante as duas horas seguintes.

Harry rodou a bolinha azul entre os dedos, já nem se lembrava de que tinha aquilo ali…

Será que ainda funcionava? Devia funcionar, as partidas dos gémeos Weasley tinham uma incrível capacidade de resistência.

Harry passou a mão pelo queixo com uma expressão pensativa.

Em quem iria usar a bolinha?

Um nome surgiu-lhe no espírito, fazendo florescer no seu rosto um verdadeiro sorriso maroto, igual ao que o seu pai ostentara anos antes.

Harry apertou a bolinha na mão enquanto murmurava o nome da vítima escolhida.

--*--

Jane foi arrancada do seu sonho quando sentiu alguma coisa carregar na sua bochecha.

Passou a mão no rosto para retirar o que quer que fosse, voltou-se para o outro lado e preparou-se para continuar a dormir.

Estava prestes a adormecer quando alguma coisa lhe começou a puxar uma madeixa de cabelo.

A jovem resmungou entre dentes e escondeu a cabeça por baixo dos cobertores.

Alguma coisa estava a saltar em cima da sua cabeça do lado de fora das cobertas, não era doloroso, era antes bastante irritante.

Sacudiu os cobertores e voltou a tapar-se, preparando-se para retomar o sono interrompido.

Agora havia algo a passear-lhe pela orelha, provocando barulhos ensurdecedores.

Jane começava a ficar irritada. Passou a mão para afastar o que quer que fosse.

Pareceu ter resultado.

Aconchegou-se na cama e estava de novo quase a adormecer, quando voltou a sentir uma pressão na bochecha, alguma coisa pequenina estava a saltar no seu rosto.

Jane abriu um olho.

Estava uma fada pequenina e brilhante a usar a sua bochecha como trampolim.

“Devem estar a gozar comigo…” pensou para si “era só o que me falta agora… uma Fada Travessa…”

Afastou a fada com a mão e fechou os olhos outra vez.

Segundos depois, sentiu as suas pálpebras serem levantadas sem qualquer gentileza e deu de caras outra vez com a pequena fada.

- Vai-te embora… - resmungou a jovem passando a mão pelos olhos, tendo a vaga ideia de que seria inútil

O ser minúsculo não lhe deu ouvidos e voltou a puxar-lhe o cabelo.

Jane protegeu-se com as cobertas, mas a fadinha arranjava sempre maneira de a chatear.

A jovem estava a ficar seriamente irritada.

Afastou os cobertores para trás com força e sentou-se na cama.

A fada pareceu alegrar-se e começou a esvoaçar-lhe em torno da cabeça.

- Vai-te embora! – exclamou Jane mais alto

Algumas das suas colegas adormecidas soltaram resmungos desagradados.

Jane respirou fundo, massajando as têmporas. Tentou controlar a raiva que se começava a desenvolver dentro de si, esforçando-se por ignorar a pequena criatura que voava em círculos à volta da sua cabeça.

Olhou para o lado, a sua varinha estava pousada na sua mesa-de-cabeceira.

Um sorriso maroto desenhou-se-lhe no rosto.

Pegou na varinha e tentou fazer a pequena fada desaparecer.

Nada…

Outro feitiço.

Nada…

Jane bufou de frustração, quanto mais tentava afastar aquela criatura, mais força parecia ela ter.

Quando descobrisse o autor da sua partida…

Ele iria sofrer muito!

Jane até já tinha uma vaga ideia do autor da brincadeira, um rapaz moreno de olhos verdes.

--*--

Quando Harry voltara para o quarto e pousara a cabeça na almofada, ainda tinha o sorriso maroto no rosto. Conseguiu adormecer pouco tempo depois.

Foi o suficiente para ser atacado por outro pesadelo aterrador, que o fez acordar minutos antes do despertador tocar.

Os seus colegas ainda estavam a dormir e tinham cara de quem estava a pensar demorar-se.

Resolveu vestir-se e descer.

Àquela hora da manhã o salão principal estava praticamente vazio, viam-se apenas cinco alunos na mesa dos Slytherin, dois na dos Ravenclaw e quatro nas dos Hufflepuff, a mesa dos Gryffindor encontrava-se vazia.

Harry ocupou o seu lugar na mesa, tendo a vaga sensação de que era incrivelmente cedo, até mesmo para ele.

Se não tivesse sido o maldito pesadelo, a esta hora ainda podia estar a desfrutar os prazeres de mais alguns momentos de sono.

O rapaz olhou para o relógio, e teve a sua confirmação, era mesmo muito cedo.

Resolveu ignorar o facto e começou a servir-se para tomar o pequeno-almoço.

Enquanto se servia de sumo de abóbora, pensava interiormente que estava cheio de vontade de saber o resultado da “Fada Travessa” que enviara a Jane.

Quando finalmente tinha conseguido encher o seu copo, que na sua opinião devia ter a profundidade de um balde, as portas do salão principal voltaram a abrir-se para dar passagem a mais um aluno madrugador.

Harry levantou a cabeça para ver quem era e engasgou-se com o seu sumo de abóbora.

Fora Jane Malfoy que chegara.

Harry não sabia se havia de desatar a rir às gargalhadas ou se gozava com ela.

Mas Jane estava com um ar tão engraçado...

Os seus olhos de um tom indefinido entre o azul e o verde estavam ainda meios fechados.

Com uma enorme cara de sono que lhe dava um ar encantador, ela arrastava a mochila numa mão e com a outra tentava endireitar, sem muita convicção a camisa meio desabituada, que escorregava ligeiramente para o lado onde pesava a mochila.

E aparentemente ela não tinha conseguido reunir paciência suficiente para pôr a gravata como deve ser àquela hora da manhã.

Harry optou por rir da cara dela e provocá-la ao mesmo tempo.

- Caíste da cama, foi? – perguntou em tom de gozo

Ela não respondeu logo, deixou-se cair ao seu lado com um enorme bocejo.

- Não te faças de engraçadinho… eu sei que foste tu – murmurou entre dentes

Harry alargou o seu sorriso maroto.

- O que te leva a pensar isso? – perguntou de forma inocente

Jane lançou-lhe um olhar assassino, ao qual Harry respondeu com um sorriso desafiador.

- Eu sabia que tinhas sido tu… - resmungou ela, mas estava demasiado cansada para fazer fosse o que fosse

Harry continuava com o mesmo sorriso, mas por dentro sentiu uma pontada de remorsos, ela parecia estar realmente mal.

- Vou dormir nas aulas de hoje – constatou Jane bocejando

- Porque é que não te deitas aí – sugeriu Harry apontando para o banco comprido onde ambos estavam sentados.

Jane parou uns instantes a observar o banco, dando a entender ao rapaz que estava a considerar a hipótese.

- A culpa foi tua, por isso serves tu de almofada – declarou Jane, sem realmente ter consciência do que estava a dizer

Deitou a cabeça no colo de um Harry completamente atrapalhado e bastante corado.

- Acho que mereço… - comentou ele com ironia

- Quando eu acordar… como deve ser… eu… eu vou matar-te… - murmurou a jovem antes de adormecer profundamente

Harry fez uma careta ao ouvir o comentário de Jane.

Olhou para baixo, para a jovem adormecida no seu colo.

A proximidade dela deixava-o a sentir-se estranho, com uma enorme vontade de lhe passar uma mão pelo rosto e lhe afastar as madeixas de cabelo da face.

Ela provocava-lhe um sentimento de vertigem no estômago, que o dominava por completo, era por isso a odiava e que gostava de a irritar.

Por vezes desejava que ela se desintegrasse, que se evaporasse do planeta. Mas não saberia o que fazer se isso realmente acontecesse.

A quem é que iria irritar e pregar partidas depois?

Apesar de a conhecer à tão pouco tempo, metade dele já não saberia viver sem ela, enquanto que a outra metade queria vê-la bem longe.

Não fazia muito sentido…

Ainda por cima porque ela estava a dormir no colo dele.

Mas desde quando é que a vida faz sentido?

Harry encolheu os ombros, era muita coisa para aquela hora da manhã.

- Olha só para isto! – Exclamou uma voz ao lado de Harry

O rapaz ergueu a cabeça e olhou para dois dos seus colegas de dormitório que tinham acabado de chegar. Quem falara fora Seamus.

- O que é que se pode ver? – perguntou Dean entrando na brincadeira

- Um palerma a dar espectáculo quando devia estar quieto? – perguntou Harry com uma careta irónica

- Não, meu caro – declarou Seamus com ar pomposo – podemos ver o nosso amigo Harry com a sua pior inimiga deitada no colo

Harry revirou os olhos.

- Não deviam estar a dormir? – perguntou Harry

- Pois… nem sei como reparaste… parecias demasiado entretido com outra coisa – comentou Dean de forma maliciosa – resolvemos acordar cedo hoje

- Infelizmente… - acrescentou Seamus enquanto ele e Dean ocupavam os seus lugares à mesa

Harry olhou para o relógio com as sobrancelhas erguidas, era realmente cedo…

Deu uma vista de olhos pelo salão principal.

Já estava a ficar com mais alunos, incluindo a sua própria mesa, de onde os colegas de casa lhe lançavam bons dias e olhares admirados, perante a sua proximidade com Jane.

Harry respondeu aos bons dias e ignorou os olhares, voltando a concentrar a sua atenção no prato intocado à sua frente.

Passando algum tempo depois, Hermione entrou no salão principal, arrastando consigo um Ron bastante sonolento.

- Hermione, porquê tão cedo?! – resmungou ele – eu podia ainda estar a dormir…

- Porquê?! – indignou-se Hermione – sabes o que a Ginny me disse?

Ron balançou a cabeça numa negativa.

- O Harry está com pesadelos outra vez… temos que o ajudar! Se ele não estava no dormitório só pode estar aqui

Ron suspirou e passou os olhos meio fechados pelo salão principal, quando finalmente descobriu Harry o seu sono pareceu desaparecer.

- E como está! – exclamou Ron arregalando subitamente os olhos – olha para aquilo…

Hermione revirou os olhos e preparava-se para responder de forma irritada ao amigo, até que reparou em Harry.

Ele estava sentado no banco rodeado pelos colegas de casa, mexendo sem muito entusiasmo nos ovos mexidos que estavam no seu prato e com a cabeça pousada no seu colo, deitada numa parte do banco, estava Jane.

Hermione abriu e fechou a boca várias vezes, mas não saiu qualquer som.

- Aquele safado! – exclamou Ron indignado – ele anda a trair a minha irmã com a Malfoy

- Não sejas absurdo - repreendeu Hermione recuperando-se do espanto – vamos

Os dois jovens aproximaram-se do amigo.

- Bom dia! – exclamou Hermione sentando na frente de Harry

- Bom dia… - respondeu Harry com um sorriso

Ron ficou parado em pé atrás de Harry

- Jane! – chamou Ron – estás a ocupar o meu lugar

- Não a acordes – pediu Harry

Ron mostrou-se indignado.

- Andas a trair a minha irmã? – perguntou olhando para o amigo de olhos semi cerrados

Harry levantou o olhar e encarou Ron, passados segundos começou a rir às gargalhadas.

- Qual é a piada? – perguntou o ruivo ainda mais indignado

- Essa é a coisa mais absurda que eu já ouvi! – conseguiu Harry responder enquanto tentava reprimir o riso

- Eu disse… - comentou Hermione como se não fosse nada com ela, servindo-se de sumo de abóbora

- E deixo de te falar se voltares a pensar sequer nisso – ameaçou Harry com um sorriso maroto

- Pronto… desculpa – afirmou Ron

O ruivo levantou com cuidado as pernas de Jane para se poder sentar sem a magoar, quando finalmente se sentou pousou as pernas dela no seu colo.

– Meu Merlin! Mas que raio lhe aconteceu? Ela parece estar no décimo terceiro sono…

- E está… - comentou Harry com um pequeno sorriso maroto no canto dos lábios

Hermione apercebeu-se disso e observou o amigo.

- O que é que lhe fizeste? – perguntou Hermione erguendo as sobrancelhas e olhando desconfiada para Harry

- Porque é que a culpa tem que ser sempre minha? – perguntou Harry fingindo indignação, mas mantendo o sorriso maroto

Hermione lançou-lhe um olhar céptico.

- Porque será?

- Tu agora tens aquele sorriso igualzinho ao que o teu pai tem nas fotografias – comentou Ron com a boca cheia de torrada.

- Wew! Ron! – exclamou Hermione quando um bocadinho de torrada voou na sua direcção e quase acertou no seu copo de sumo

- Desculpa…

Harry reprimiu uma risada perante a discussão dos amigos.

- A verdade Harry – Hermione voltou a sua atenção para o moreno – é que tu agora tens um sorriso tipicamente… de quem não vai fazer coisa boa

- Ele nunca fez coisa boa – declarou Ron – lembras-te no quarto ano? Aquele dragão cauda de chifre da Hungria, era excelente e…

Hermione lançou um olhar cortante a Ron, fazendo-o calar-se. Harry voltou a rir.

- Como eu estava a dizer… - recomeçou Hermione ignorando a careta do ruivo dentro do seu ângulo de visão – ultimamente tens um sorriso maroto, andas mais bem-disposto, fazes mais disparates…

- E mais irritado também! – interrompeu Ron – e outras vezes mais calado e sombrio…o que não faz muito sentido…é meio que… incoerente

Harry sorriu perante a preocupação dos dois amigos de lhe dizerem que realmente estava diferente.

A culpa era daquela maldita profecia…

“ Um tem que morrer para que o outro passe a sobreviver”

Harry tinha decidido que enquanto pudesse iria aproveitar toda a felicidade que lhe estava para quando o fatal encontro chegasse, ele tivesse alguém por quem lutar, alguma coisa feliz que o prendia à vida e lhe desse força para conseguir acabar com o causador da sua desgraça para sempre…

No entanto, o peso daquelas palavras perseguiam-no como uma maldição.

Tinha medo de perder mais pessoas queridas enquanto Voldemort continuasse por aí.

- Harry?... – chamou Ron passando a mão à frente do rosto do amigo

- Am… sim desculpem… - Harry passou a mão pelo rosto, mais tarde ou mais cedo teria que lhe contar – olhem… eu queria dizer-vos uma coisa

- Diz… - incentivou Hermione

- Sim, mas não aqui – declarou Harry – depois dos testes de Quidditch vamos para a sala das necessidades

- Estás a assustar-nos! – comentou Ron erguendo as sobrancelhas – não me digas que… engravidaste a minha irmã?!

Harry fez um fraco sorriso amarelo, enquanto via Hermione lançar um olhar reprovador a Ron.

- Se o meu problema fosse esse, eu conseguiria dormir à noite – comentou com um encolher de ombros

- Tem a ver então com… - Hermione baixou a voz e chegou-se para a frente – Voldemort?

- Sim… tem

Os três amigos ficaram em silêncio durante algum tempo.

Harry pensando em como é que lhes iria dizer que mais tarde ou mais cedo seria um assassino, e os outros dois tentando adivinhar qual seria a desgraça desta vez.

- Bom dia! – exclamou uma voz sorridente atrás deles

Era Parvati.

- Bom dia – responderam os três

- Com licença! – exclamou a jovem empurrando para o lado Neville que estava sentado do outro lado de Harry – desculpa aí Neville

- Não tem problema – comentou ele alegre – já viste quem está a dormir fora da cama? – perguntou reprimindo uma risada

Parvati ergueu as sobrancelhas confusa.

Olhou para Harry ao seu lado e reparou na jovem completamente adormecida no colo dele e com as pernas em cima de Ron.

- O que tem ela? – perguntou inclinando-se para a frente e premiando Harry com um beijo na sua bochecha.

Ron torceu o nariz, mas não disse nada.

- Enviei-lhe uma “fada travessa” às quatro da manhã – respondeu Harry com um sorriso maroto estampado no rosto

Hermione soltou uma exclamação de indignação abafada, Ron desatou a rir às gargalhadas assim como Parvati.

- Porque é que a odeias tanto? – perguntou a jovem tentando conter o riso

- Porque… porque… - Harry não fazia ideia do que dizer – ela merece

- Porquê? Só porque também gosta de te irritar? – perguntou Parvati – eu cá, acho-a muito querida, ninguém diria que é uma Malfoy

- Só a dormir – comentou Harry

- Não sejas mauzinho, no fundo vocês até são amigos – afirmou Parvati

- Só se for lá bem no fundo, esmagado e encolhido – respondeu Harry de forma irónica

- Tu é que sabes… - Parvati encolheu os ombros e começou uma conversa animada com o colega de casa que estava sentado à sua frente

- Harry… é melhor acordar a Jane, se não ela vai perder o pequeno-almoço… - sugeriu Hermione

Desta vez o sorriso maroto abriu-se tanto no rosto de Harry como no de Ron.

- O que sugeres? – perguntou o ruivo

Hermione revirou os olhos.

- Ai meu Merlin… - murmurou entre dentes

- Vamos deitar-lhe sumo de abóbora em cima? – sugeriu Harry com um ar bastante malicioso. Que lhe conferia uma beleza perigosa e sedutora incrível. Facto de que ele próprio não tinha consciência, mas que algumas raparigas da sua mesa repararam

- Nem se atrevam! – exclamou Hermione – Ron! Tu és monitor!

- E então? – respondeu Ron com um encolher de ombros

Mas nesse momento Jane começou a mexer-se e abriu os olhos.

- Raios! Ela acordou sozinha – resmungou Harry decepcionado

- Harry! – repreendeu Hermione indignada – já chega!

Jane levantou-se do colo de Harry passando uma mão pelo rosto ensonado e endireitou-se entre os dois colegas.

- Eu estava em cima de ti? Desculpa… realmente não reparei – afirmou a jovem a Ron com um sorriso envergonhado, que lhe dava um ar encantador

- Não tem problema… - respondeu Ron com um encolher de ombros

- És uma chata! Porque é que acordaste antes de eu te acordar? – perguntou Harry fingindo indignação

Jane olhou-o e no seu rosto desenhou-se uma expressão perigosa.

- Sabes que eu vou vingar-me, não sabes?

- Fico à espera para ver… - respondeu Harry no mesmo tom

- E que ideia foi essa de me mandares uma “fada travessa” às cinco da manhã? – a voz de Jane era agora bastante irritada

- Eram quatro e meia – corrigiu Harry

- És um estúpido!

- E tu uma parva!

- Atrasado mental!

- Chata!

A conversa dos dois deixara de ser de provocação e desenvolvera-se numa discussão séria, onde tanto Harry como Jane trocavam olhares de puro ódio e parecia que se esganariam a qualquer momento.

- Voltaram ao normal… - comentou Seamus observando a cena

- IDIOTA! – gritava um

- ARROGANTE! – esbracejava o outro

Hermione lançou a Ron um olhar urgente como quem dizia “temos que os fazer parar antes que se matem!”

Ron respondeu-lhe com outro olhar “eu é que não me vou meter”.

Hermione revirou os olhos de exasperação.

- PÁREM VOCES OS DOIS! – gritou Hermione sobrepondo-se ao barulho dos dois amigos

Harry e Jane pareceram voltar a terra e calaram-se.

- Desculpa… - murmuraram os dois desviando o rosto

Ambos ainda sentiam o sangue ferver.

- Vocês são impossíveis… - comentou Hermione com uma careta

- A culpa é dele… - murmurou Jane tentando controlar a raiva que se apoderara dela

- Não é nada! – exclamou Harry indignado

- Ah! Não! Não vão começar! – afirmou Ron arregalando os olhos em desespero

- Começar com o quê? – perguntou uma voz atrás dele

Ginny chegara com um grande sorriso no rosto.

- Ginny! Bom dia – disse Hermione

A outra respondeu ao cumprimento com um sorriso.

- Hei… eu já acabei, podes sentar-te aqui – afirmou Jane sorrindo para Ginny

- Mas tu nem comeste… - afirmou Harry

Jane deu-lhe uma discreta, mas dolorosa cotovelada, levantou-se e cedeu o seu lugar a Ginny.

- Obrigada – agradeceu a ruiva, dando um beijo atrevido ao namorado, ao qual Ron fez questão de desviar o rosto

- Onde vais? – perguntou Hermione

- Vou ver se encontro a minha irmã – respondeu Jane pegando na sua mochila e afastando-se da mesa com um aceno

- Pois… a outra Malfoy… - comentou Ron com uma careta – às vezes esqueço-me de que ela tem uma copia ambulante por aí…

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