Problemas em Herbologia

Problemas em Herbologia



Capítulo 5: Problemas em Herbologia

Durante o resto do dia não se falou de mais nada a não ser a discussão entre Harry e Jane, e ambos suspeitavam que se não acontecesse mais nada de bombástico, o ocorrido iria ser comentado durante o resto da semana.

Apesar de todas as fofocas dos colegas e dos comentários indesejados, os dois jovens não voltaram a tocar no assunto, e também não pediram desculpa um ao outro.

Os seguintes três dias de aulas decorreram sem mais grandes incidentes, Harry e Jane continuavam a discutir, mas nada tão grande que merecesse a pena ser comentado.

Ou seja toda a gente ainda falava da disputa “Potter vs Malfoy”.

Jane passou esses três dias dividida entre os seus colegas Gryffindor e os seus amigos Slytherin.

No entanto a diferença era cada vez mais evidente, era como se ela se tivesse que desdobrar em duas pessoas completamente distintas.

E o que a estava a assustar mais, era o facto de achar que quando estava com Ron, Hermione ou qualquer outro Gryffindor mostrava a sua verdadeira personalidade.

Com Draco, Blaise ou até mesmo Esther… era aquilo que sempre fora, mas era algo falso, cínico, hipócrita.

Nunca devia ter ido para os Gryffindor, devia ter ido para os Slytherin e continuar a sua vida sem problemas, mesmo que fosse algo falso e artificial.

Nunca notara a diferença, nunca reparara naquilo que realmente era, limitava-se a ser como todos os que a rodeavam, desde sempre, até agora… mas conhecera a diferença….

Conhecera pessoas diferentes que lhe despertavam um lado desconhecido da personalidade, uma maneira distinta de ser, de agir, até de pensar…

Jane apertou a cabeça entre as mãos num sinal de desespero.

- Jan… Malfoy? – a voz simpática de Hermione penetrou-lhe nos pensamentos e fê-la voltar à realidade

Estavam a caminho das estufas para a aula de Herbologia desse dia, uma quinta-feira depois de almoço.

Harry e Ron caminhavam mais atrás a discutirem tácticas de jogo de Quidditch, fazendo chegar fiapos da sua conversa até às duas jovens.

- Eu já te disse que isso não dá resultado – insistia Ron

- Como não dá?! – indignava-se Harry – temos ganho a taça todos os anos. Ou não temos?!

As duas jovens sorriram e voltaram a concentrar a sua atenção na sua própria conversa.

- Podes chamar-me Jane se quiseres – afirmou Jane com um pequeno sorriso

Hermione sorriu com um ar preocupado.

- Estás bem… Jane? – insistiu

- Sim… acho que sim… - respondeu Jane afastando os pensamentos que lhe andavam a tirar o sono – estou cansada… só isso, não ando a dormir muito bem

- Devias ir à enfermaria então, Madame Pomfrey de certeza que tem uma poção para ti – disse Hermione

- Obrigada… sim, talvez passe por lá depois da aula de Herbologia – concordou Jane, agradecendo aos céus aquela aula ser só com alunos dos Gryffindor

- Problemas em dormir, Malfoy? – perguntou Ron metendo-se na conversa

- Não me chames Malfoy… - pediu subitamente Jane – só Jane, está bem?

Ron e Harry olharam para ela admirados, Hermione fez um pequeno sorriso.

- Es…está bem – concordou Ron – mas… a que se deve esta mudança? – perguntou curioso

- Malfoy não condiz muito com Gryffindor por não? – perguntou Jane sorrindo

- Pois… tens razão – concordou Ron coçando a cabeça
- Já não discutem mais Quidditch? – perguntou Hermione com ironia

- Não, o Ron decidiu que eu tenho razão – comentou Harry com um encolher de ombros

Ron ignorou o comentário do amigo e voltou a sua atenção para Jane.

- A mim também me podes chamar Ron… Weasley faz-me sentir velho – comentou com uma careta fazendo os outros três rir.

- Ok – concordou Jane, depois voltou-se para Harry e afirmou com uma careta desdenhosa – e para ti também ouviste? Estás proibido de me chamar Malfoy

Harry olhou para a rapariga com o nariz franzido.

- Eu não disse nada

- Acho bem!

Os dois jovens encararam-se com os olhos a faiscarem.

- Meninos! Calma! Vamos andando para a aula! – exclamou Hermione pondo-se no meio dos dois para evitar que começassem a discutir novamente

Jane lembrou-se que Hermione também lhe tinha dito para a tratar pelo primeiro nome, algures num corredor enquanto de dirigiam para uma aula de Defesa contra as Artes das Trevas, depois de gritar muito feliz que o professor iria ser Remus Lupin.

Ao que parecia já tinha sido professor da mesma disciplina enquanto eles andavam no terceiro ano.

O que o teria feito desistir?

- Terra chama Jane - Harry passou a mão à frente do rosto da jovem com um ar malicioso

- Se pões aí a mão outra vez eu mordo-te – ameaçou a jovem

Hermione e Ron reprimiram risadas perante o comentário da amiga.

Entraram nas estufas com o resto da turma, a Professora Sprout recebeu-os com um sorriso caloroso.

- Bom dia meninos

- Bom dia Professora Sprout! – responderam todos em coro

- Hoje vamos trabalhar com plantas particularmente espinhosas – afirmou a professora

- Mais espinhosas que a Jane? – perguntou baixinho Harry fazendo Ron, Seamus, Dean, Neville e outros colegas rirem.

Jane deu-lhe uma cotovelada com toda a força no peito.

- Queres que eu acerte mais em baixo Potter? – perguntou Jane com ar assassino

Todos reprimiram risadas.

Harry massajou o peito na zona magoada, depois debruçou-se sobre o ombro da jovem e murmurou-lhe perto do ouvido.

- Se me chamas Potter porque é que eu não te posso chamar Malfoy?

Jane sentiu-se perturbada com a proximidade dele, cerrou os olhos com força.

Segundos depois, quando os voltou a abrir, inclinou-se para trás e sussurrou por sua vez no ouvido de Harry.

- Como queiras… Harry

Harry estremeceu ao senti-la perto de si e ao ouvir o seu nome pronunciado pelos lábios dela.

- Mr Potter, Miss Malfoy! – advertiu a professora aborrecida – querem fazer o favor de prestar atenção na minha aula?

- Desculpe professora – murmuraram os dois perante os risos reprimidos dos colegas

- Como eu estava a dizer… - continuou a professora - a Connifurus de espinho longo pode ser uma plantinha realmente chata, aproximem-se

Todos os alunos chegaram mais à frente e viram a planta que a professora apontava.

Parecia um corno de unicórnio oco invertido, com a parte de fora branca e no interior estava uma bola laranja vivo, ligeiramente maior que uma Snitch.

A parte de baixo, mais estreita que a de cima, estava ligada a um pequeno caule de onde saíam enormes e delicadas folhas.

- Parece-me bastante inofensivo – comentou Seamus observando a flor

- Parece, mas não é – declarou a professora – juntem-se em grupos de dois. Potter, Malfoy vocês os dois aqui ao meu lado!

- O QUÊ?! – exclamaram os dois arregalando os olhos – não por favor…

Ambos olharam um para o outro com ar assassino por terem dito a mesma coisa ao mesmo tempo.

- Professora… eu se fosse a si não juntava esses dois… - comentou Parvati, provocando o riso de todos

- Sim… eles ainda se desintegram – concordou Lavender

- Os dois aqui já! – ordenou a professora ignorando os comentários das alunas

- Isto vai ser engraçado – comentou Dean num sussurro

Harry e Jane olharam-se com ódio e caminharam para a mesa que a professora indicava.

O resto dos alunos juntou-se em grupos de dois e organizou-se à volta das mesas.

A cada dupla foi entregue uma Connifurus.

- A nossa tarefa é conseguir retirar a esfera do interior da planta, é como se fosse o seu coração, tem poderes incríveis quando misturada numa poção – explicou a professora

- Isso parece fácil! – exclamou Ron aproximando a mão da planta

Subitamente, de entre as delicadas folhas surgiram uns tentáculos flexíveis e espinhosos que tentaram atacar a mão de Ron.

A turma toda apanhou um enorme susto, o rapaz apressou-se a retirar a sua mão.

- A professora quer matar-nos do coração ou o quê? - perguntou Ron indignado pondo a mão no peito, enquanto que outra aluna soltava gritinhos histéricos.

Parvati apanhara um susto tão grande que estava caída no chão.

- O veneno dos espinhos provoca frúnculos terríveis – comentou a professora como se não se tivesse passado nada

Harry e Jane olharam-se com os olhos arregalados.

- Frúnculos? – perguntou a jovem com um certo pânico na voz, Harry não parecia mais agradado

- Vistam as luvas e mãos à obra! – cantarolou alegremente a professora

- E como exactamente é que fazemos isso? - perguntou Hermione olhando duvidosa para a sua planta, ela fazia parceria com Ron, que massajava a mão que estivera quase a ser atacada

- É esse o objectivo Miss Granger, trabalho em equipa – esclareceu a professora

- Oh! Já me sinto mais descansada – resmungou Hermione entre dentes

Ron olhou para ela indignado.

- Eu não sirvo é?

- Não foi isso que eu quis dizer!

Jane fez um pequeno sorriso.

- Eles gostam um do outro, não é? – murmurou para Harry enquanto calçava as luvas

- Eu acho que sim… mas são muito orgulhosos – comentou o rapaz

Harry observou Jane por cima da planta, estavam a fazer progressos, tinham conseguido dizer alguma coisa que não fosse insultos, fez uma careta irónica.

- Agora fazes caretas sozinho? – perguntou Jane com desdém

Harry revirou os olhos, voltaram os insultos.

- Estava a pensar – respondeu

- Ooohh… tu sabes pensar? – perguntou ela sarcástica

- Por acaso até sei! – exclamou Harry irritado – estava a pensar numa maneira de tirarmos a bola da estúpida da flor

- É simples, tu distrais os tentáculos, eu tiro a bola

- Porque é que eu é que tenho que distrair?

Jane bufou de irritação.

- Pronto, se queres assim tu tiras a bola, eu distraio os tentáculos

- Deixa estar… eu distraio – resmungou Harry

A vontade de ver Jane a lutar contra os tentáculos provocadores de frúnculos era grande, mas tinha a vaga sensação de que se fosse ele a retirar a bola, a jovem faria os possíveis para que os tentáculos o atacassem… ou talvez não…

Jane olhou para ele com ar de dúvida.

Estaria Harry a pensar em deixar os tentáculos atacá-la enquanto tentava tirar a bola?

- Meninos, este trabalho baseia-se na confiança entre os parceiros – os dois jovens ouviram a voz da professora a explicar a Neville e Parvati

Harry e Jane encararam-se.

- Não os largues! – murmurou num tom gélido e ameaçador

- Despacha-te – respondeu Harry no mesmo tom

Harry aproximou as suas mãos enluvadas da planta, com uma lentidão enervante.

Vários tentáculos espinhosos apareceram de nenhum lugar aparente, e agarraram-se aos braços de Harry, mas como ele estava protegido com as luvas não lhe fizeram nada.

Durante vários segundos, Harry lutou com a planta, até conseguir finalmente segurar nos tentáculos.

- Agora! – exclamou para Jane

A jovem estendeu um braço, introduzi-o dentro do cone da flor e pegou com todo o cuidado na esfera.

Era fria, escorregadia e estava mergulhada num líquido peganhento.

Jane fez uma careta de desagrado ao retira-la para fora.

Assim que a planta se viu sem o seu “coração” os tentáculos pararam de estrebuchar entre as mãos de Harry e caíram inertes ao lado das folhas.

- Já está… - murmurou Harry limpando o suor da testa - particularmente espinhosa…

Jane reprimiu uma risada perante o comentário dele.

- Professora Sprout! – chamou Jane – já temos a… o coração da Connifurus

- Oh! – exclamou a professora feliz – muito bem! Dez pontos para os Gryffindor. Eu sabia que vocês fariam uma boa dupla

A turma aplaudiu o sucesso dos dois colegas e os pontos recebidos.

- Mostra-lhes como é Harry! – gritou Seamus na brincadeira

A professora lançou-lhe um ar reprovador que lhe fez esmorecer os ânimos.

Neville, ao fim de algum esforço em conjunto com Parvati, e de luta contra a planta ergueu o braço com o coração da sua planta na mão.

- Professora! Nós também já tirámos.

- Muito bem! Muito bem! Mais dez pontos para os Gryffindor. Senhor Longbottom venha cá entregar-me

- Não foi assim tão difícil – comentou Jane retirando as luvas e observando as tentativas dos restantes colegas para despistarem os tentáculos

Harry fez um sorriso torcido, retirou também as suas luvas e começou a abrir e fechar as mãos para relaxar os músculos tensos.

Neville estava a dirigir-se para perto da professora, para lhe entregar o fruto do seu trabalho, quando subitamente tropeçou num dos seus atacadores.

- Oh! – exclamou

A esfera peganhenta escorregou-lhe das mãos e voou pelos ares.

- Cuidado! – gritou a professora Sprout

A bola ia na direcção de Harry, que com a prática de Quidditch conseguiu desviar-se.

Mas era tarde de mais.

A bola atingiu o bico da mesa de trabalho de Harry e Jane e explodiu, atirando em todas as direcções uma substância cor de laranja gelatinosa.

Vários gritos se fizeram ouvir.

Os dois ocupantes da mesa ficaram cobertos por aquela substância da cabeça aos pés.

Jane sentiu a sua pele arder num formigueiro desagradável.

- QUE NOJO!! – exclamou vendo o seu estado

- Oh! Desculpem-me! – pediu Neville de olhos arregalados

- Meu Merlin! – gritou a professora – essa substancia é corrosiva

- É corro… O QUÊ?! – exclamou Harry alarmado

- Aula dispensada! Vocês dois – disse apontando para Ron e Hermione - levem os vossos amigos à enfermaria – ordenou a professora - JÁ!

Os quatro jovens apressaram-se a sair dali.

- Como isto arde – queixou-se Jane

- É corrosivo – lembrou Harry com sarcasmo

- EU SEI QUE É CORROSIVO! – gritou Jane histérica

- Calma, Madame Pomfrey trata disso num instante – assegurou Hermione

- Sim, uma vez um professor maluco fez os ossos do braço de Harry desaparecerem todos – contou Ron – e numa noite Madame Pomfrey fê-los crescer outra vez

- Obrigado por me lembrares – comentou Harry com uma careta irónica – não foi nada agradável…

Os quatro jovens fizeram o caminho de regresso ao castelo o mais rápido que puderam e correram pelo interior do castelo, era preciso chegarem à enfermaria o mais rápido possível, antes que fosse tarde de mais.

Esther Malfoy estava encostada a uma parede, num dos inúmeros corredores de Hogwarts e Blaise Zabine percorria o seu pescoço com beijos deliciosos.

Ambos tinham sido incumbidos pelo professor Snape para levar uns frascos de poções ao professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, mas tinham feito uma pequena paragem pelo caminho.

Esther tinha a ponta dos dedos dentro das calças do rapaz e sentia-o preparar-se para abrir a sua camisa, quando viu quatro figuras passarem a correr, duas delas estavam cobertos por uma substância laranja de aspecto nojento.

Blaise ao aperceber-se da súbita falta de interesse da sua companheira ergueu a cabeça e seguiu-lhe o olhar.

- Que se passa?

Esther apontou com a cabeça e Blaise seguiu-lhe o olhar, arregalou os olhos de espanto.

- Aquela com a gosma laranja em cima não é… A JANE? – perguntou subitamente Blaise reconhecendo a figura da jovem

- Oh! – Esther também reconheceu – Pois é! O que terá acontecido?

- Vão para a enfermaria… - observou Blaise

- Vamos entregar estes frascos e depois vamos atrás deles – ordenou Esther num tom altivo, que não admitia contestações

Hermione, Ron, Harry e Jane entraram a correr na enfermaria.

- Madame Pomfrey! Precisamos de ajuda! – gritou Hermione

A enfermeira apareceu por detrás de uma porta.

- Em que posso aju… Oh! Meu Merlin! – exclamou ao ver o estado de Harry e Jane

- Estamos assim tão mal? – sussurrou Jane a Harry sentindo-se assustada

- Muito obrigada Miss Granger e Mr Weasley por acompanharem os vossos colegas, vão ter com a professora Sprout e digam-lhe que estão entregues – ordenou a enfermeira dispensando-os com um aceno de mão

- Nós já voltamos – afirmou Hermione baixinho, deixando a enfermaria com Ron

- E agora vocês os dois – Madame Pomfrey voltou-se para os restantes jovens – dispam-se rápido

- Des…despir? – gaguejou Jane

- Sim, já!

Harry e Jane entreolharam-se com as sobrancelhas erguidas.

- Vá! Vá! Estão à espera de quê? Querem ficar sem dedos?

Os dois jovens retiraram as suas vestes ensopadas de líquido laranja, até ficarem só de roupa interior.

A enfermeira não lhes deu tempo para mais nada, arrastou-os para uma porta e empurrou-os lá para dentro.

Era uma sala não muito grande de pedra, o chão tinha vários ralos a distâncias espaçadas, e do tecto saíam vários chuveiros.

A enfermeira apontou a varinha aos chuveiros e murmurou um feitiço para que eles começassem a trabalhar.

- Eu já vos tiro daí – informou fechando a porta

O líquido que saía do chuveiro não era água normal, era uma substancia azulada que dissolvia a gosma laranja e provocava uma enorme sensação de alívio.

Jane observou a sua pele, tinha ficado arroxeada e nalgumas partes já tinha aberto feridas sangrentas.

Mas aquele líquido apagava tudo e regenerava-lhe a pele, deixando-a macia e lisa como antes.

A jovem fechou os olhos e abriu os braços, deixando que o líquido lhe escorresse pelo corpo.

Ouviu um barulho de movimento ao seu lado, lembrou-se subitamente que não estava sozinha.

Olhou para o lado, Harry estava de olhos fechados, Jane estranhou ele não ter tirado os óculos.

Continuou a olhar mais para baixo.

Sentiu uma vertigem no estômago e mordeu o lábio inferior para reprimir a estranha sensação de tremor que lhe invadia o corpo.

Harry tinha uma figura perfeita.

Há muito que deixara de ser um rapazinho magricela, com a ajuda do Quidditch os músculos dos seus braços e das suas pernas eram delineados e perfeitos, o seu tronco era emoldurado por abdominais que lhe formavam uma espécie de quadradinhos, deliciosos para a ala feminina.

E para completar o quadro, tinha um cabelo negro todo despenteado, que parecia que nunca tinha visto uma escova, a emoldurar um rosto escultural.

Como remate tinha uns lindos olhos verdes, que no momento se encontravam fechados.

Harry sentiu que estava a ser observado, e lembrou-se que não estava sozinho.

Olhou para a sua companheira, que olhava para ele com um ar estranho.

- O que se passa? – perguntou

- Porque… - Jane foi acordada do seu transe - porque é que não tiraste os óculos?

Harry retirou os óculos, passou uma mão no rosto e voltou a colocá-los.

- Não incomodam – respondeu com um encolher de ombros

- Ok…

Harry viu Jane desviar o olhar e observar o tecto, resolveu observa-la mais atentamente.

Sentiu um súbito calor no baixo-ventre e o seu corpo foi percorrido por um tremor.

A jovem tinha uma figura esguia com curvas bem delineadas, a sua cintura era fina, os braços delicados.

O seu umbigo habitava numa barriga lisa e quem descesse o olhar, podia ver umas pernas esguias.

Os seus atributos eram visíveis, dando-lhe uma silhueta feminina irresistível.

O longo cabelo castanho claro caía-lhe molhado pelas costas.

Harry reparou que ela ainda tinha um bocado de substância laranja no ombro e começava a escorregar-lhe para o cabelo.

- Hei! Jane – chamou aproximando-se – ainda tens aquela coisa no ombro

- Am? Onde?

- Aqui

Harry estendeu a mão e retirou-lhe a gosma do corpo, assim que a ponta dos seus dedos tocou na pele dela sentiu como que um choque eléctrico a subir-lhe pelo braço e a percorrer-lhe o resto do corpo.

Quando Jane sentiu os dedos dele nas suas costas o seu coração falhou uma batida.

Mas que raio lhes estava a acontecer?

Encararam-se perturbados.

- Aamm… obrigada – murmurou Jane desviando o olhar, visivelmente atrapalhada

Não queria acreditar no que estava a acontecer, ela sempre fora decidida e firme, estava agora a sentir-se completamente perturbada com a presença dele.

Odiou-se por isso e odiou-o por lhe provocar aquelas sensações.

Harry não estava muito melhor, que raio se passava consigo? Ele amava Ginny, porque é que sentia um choque eléctrico percorre-lo, só de olhar para Jane.

Está bem que ela estava quase sem roupa, mas não era razão para o seu organismo reagir daquela maneira.

O ambiente dentro da sala começou a ficar pesado e desconfortável.

Jane não aguentou mais, precisava de dizer qualquer coisa, estava a tornar-se terrivelmente incomodo estar ali.

Então resolveu dizer a primeira coisa que lhe veio à cabeça

- AAAHH!! Socorro! Pessoa semi nua ao meu lado! Vou ficar traumatizada! – exclamou

Harry pestanejou e olhou para ela.

Segundos depois começou a rir às gargalhadas.

- Qual é a piada? – perguntou Jane indignada – posso ficar seriamente traumatizada

Harry continuou a rir agora agarrado à barriga.

Subitamente o duche parou de deitar líquido e a porta abriu-se.

- Desculpa lá, mas eu não quero ficar aqui com um doido maníaco, ainda por cima semi nu! – afirmou a jovem saindo para o exterior

Harry seguiu-a, mas continuava a gargalhar com vontade.

- Importaste de parar de rir? – perguntou Jane irritada

Ele não lhe ligou nenhuma.

- HARRY POTTER! PARA DE RIR IMEDIATAMENTE!

Perante o grito dela, Harry parou de rir e olhou-a com uma careta.

- Que voz estridente – resmungou com desagrado

- Eu não tenho voz estridente! – exclamou a jovem ficando furiosa

- Tens sim!

- Não, não tenho!

- Tens sim!

- Não, não tenho!

- TENS!

- NÃO TENHO!

Os dois jovens embrenharam-se numa calorosa discussão, olhando para os olhos um do outro com a raiva a faiscar no olhar.

Na porta da enfermaria dois Slythrin e três Gryffindor encontraram-se.

- O que é que estão aqui a fazer? – perguntou Esther com desprezo para Ron, Hermione e Ginny

- Vamos ver os nossos amigos – declarou Hermione

- Ah! – exclamou Esther com desdém – desde quando é que a Jane é vossa amiga?

Ron ia responder, mas os gritos provenientes da enfermaria chamaram-lhes a atenção.

- A mim parece-me que a Jane e o Potter não se dão lá muito bem… - comentou Blaise abrindo a porta – se fosse a vocês seguia o exemplo

Os cinco jovens entraram na enfermaria prontos para continuarem a discutir, mas a cena que viram deixou-os estáticos e sem palavras.

Harry e Jane estavam no meio da divisão aos gritos um com o outro, o que até já era normal.

Mas o mais estranho da situação era que a única roupa que lhes cobria o corpo era a roupa interior, e ainda por cima ambos estavam completamente ensopados, a escorrerem água por todos os lados.

Madame Pomfrey surgiu aparentemente do nada com um monte de roupas nos braços e duas toalhas.

- QUE GRITARIA É ESTA?

Harry e Jane calaram-se imediatamente e olharam para a enfermeira

- Isto é um lugar de repouso! Não uma arena de duelos! – exclamou olhando com desaprovação os dois jovens

- Desculpe… - murmuraram os dois

A enfermeira balançou a cabeça e entregou-lhes as toalhas.

- Está aqui a vossa roupa – afirmou pousando a trouxa numa das camas – quando se secarem e se vestirem podem sair

Madame Pomfrey preparou-se para se afastar, quando reparou nos restantes jovens à porta, ainda com ares petrificados.

- Oh! Parece que têm visitas… não quero barulho ouviram? Assim que os vossos colegas estiveram prontos vão todos daqui para fora – avisou e enfermeira desaparecendo por detrás de outra porta

Só nessa altura é que Jane reparou que tinham plateia, sentiu o seu rosto tomar todas as tonalidades de vermelho e escondeu-se atrás de Harry.

Harry fez um sorriso amarelo.

- Oh, meu Merlin!! – guinchou Esther completamente indignada – o Que é que estás a fazer quase nua ao lado do Potter?!

- Aamm… problemas de percurso - respondeu Jane espreitando por detrás do rapaz

- Pois! E eu agora sou algum escudo? – perguntou Harry com uma careta de desdém saindo da frente de Jane

- Harry! Não sejas insuportável – afirmou ela semicerrando os olhos

- Eu não acredito no que estou a ouvir! – exclamou Blaise furioso – agora é “Harry”?!

- Deves ter batido com a cabeça – comentou Esther olhando para os três Gryffindor com evidente desprezo – vem mana, afasta-te deles

Jane revirou discretamente os olhos enquanto a irmã e Blaise a arrastavam para um canto afastado da enfermaria.

No outro lado da enfermaria:

- Estás bem Harry? – perguntou Hermione

Ginny abraçou-se a ele, perante o ar desconfiado de Ron e o sorriso condescendente de Hermione.

- Sim… acho que não me falta nada – ironizou ele com um sorriso, retribuindo o abraço da namorada

- Meu… vocês estavam nus na frente um do outro? – perguntou Ron ainda meio atordoado

Harry pareceu corar furiosamente. Hermione e Ginny riram-se

- Eu não estava nu! – exclamou indignado ajeitando a toalha nos ombros – nem ela

- Estavam de roupa interior… que vai dar ao mesmo – respondeu Ron

- Não, não vai! – resmungou Hermione revirando os olhos com impaciência

- Roupa interior é o mesmo que biquini – comentou Ginny

Ron encolheu os ombros e ignorou o comentário da amiga e da irmã, Hermione e Ginny desviaram o olhar e observaram os outros três jovens na outra ponta da enfermaria

- Ela é boa? – perguntou Ron num sussurro

Harry engasgou-se.

- Não estive propriamente a observá-la… – defendeu-se desviando o olhar

Não estava propriamente a dizer a verdade, mas também não estava a mentir.

- Mas viste! – declarou Ron de sobrolho franzido

Harry olhou para o amigo com uma careta.

- Acabaste de vê-la agora mesmo…

- Opa! – resmungou Ron – mas não a vi debaixo do duche a tomar banho

- Tarado… - comentou Harry sentindo um arrepio só de se lembrar da jovem ao seu lado dentro do duche forçado

- Eu?! – perguntou Ron fingindo indignação – não era eu que estava semi nu com a Jane

- Vocês já repararam… - Ginny introduziu-se na conversa

Harry e Ron calaram-se imediatamente com expressões cúmplices, teria ela ouvido?

- O quê? – arriscou Harry perguntar

- Vocês já repararam – continuou Hermione – que quando a Jane está connosco é uma pessoa… mas quando está com o Malfoy, a irmã e os outros Slytherin muda completamente?

Os dois amigos calaram-se e observaram os outros três jovens do outro lado da enfermaria.

- Jane! – exclamou Esther com desagrado num sussurro baixo – o que é que estavas a fazer meia nua com o Potter?

- Problemas em Herbologia – respondeu a jovem adoptando a sua postura de arrogante desdém

A irmã e Blaise olharam-na com expressões interrogativas.

- Eu explico – comentou Jane com um sorriso cínico no rosto

Ela contou-lhes que acidentalmente um colega, teve a sensatez de se lembrar de não referir o nome, entornou uma substância corrosiva em cima deles os dois.

- Se não quiséssemos ficar sem um bocado tínhamos que tomar banho – finalizou Jane com uma arrogância elegante, como se fosse óbvio o que acabara de dizer

- Assim é melhor – comentou Blaise com um sorriso perverso

Puxou Jane para si e beijou-lhe os lábios, a princípio foi apenas um toque leve, mas depois o beijo evoluiu e as línguas dos dois voltaram a encontrar-se.

- A mim ela parece-me igual – comentou Harry com sarcasmo vendo o colega Slytherin beijar Jane

Tentou disfarçar o máximo que pôde, visto que Ginny estava abraçada a ele, mas não conseguiu evitar sentir um estranho desconforto.

- Mas isso é porque ela te odeia – comentou Ron encolhendo os ombros - connosco ela é diferente… não tem aquele ar de rainha do mundo…

- Agora não a distingo da outra Malfoy – resmungou Ginny com uma careta – têm as duas o mesmo ar insuportável que todos os Slytherin têm

- Eu continuo a achar que ela tem a mesma cara de sempre… - murmurou Harry com desagrado

Mas no fundo sabia que isso não era verdade, os seus amigos tinham razão.

Jane quando estava sem a irmã ou qualquer outro Slytherin era uma rapariga impecável, muito simpática, alegre e ainda um pouco tímida.

Consigo próprio era uma excepção, pois parecia que sempre que trocavam palavras era para se insultarem.

Harry não sabia explicar porquê, mas ela irritava-o para além daquilo que achava possível.

- Tu provoca-la – comentou Hermione retirando Harry dos seus pensamentos – é normal que ela não vá com a tua cara

- Ainda por cima ias matando-a logo no comboio – exclamou Ron reprimindo risadas

Harry permitiu-se abrir um sorriso contrariado.

Era verdade que adorava provoca-la, vê-la ficar de todas as tonalidades de vermelho devido à raiva.

- Foi um acidente, ela não tinha nada que ficar encostada a uma porta de passagem – defendeu-se

Mas ela também não era nenhuma santa. Quando ele menos esperava era ela que o provocava.

“Meu Merlin…” pensou “Se estamos assim ainda na primeira semana… no Natal já nos desintegrámos”

- Harry despacha-te – pediu Ginny – veste-te e vamos embora

- Ok…

Harry vestiu-se num instante e na companhia dos dois amigos e da namorada abandonou a enfermaria.

- Ufa! – resmungou Esther com desprezo, observando pelo canto do olho a saída dos colegas Gryffindor – finalmente o ar deixou de estar poluído

Jane afastou delicadamente Blaise, sentindo um estranho sentimento de culpa por tê-lo beijado ali à frente de Harry.

Abanou a cabeça “que disparate!” pensou “ele é meu namorado! Porque é que não o ei de beijar quando bem entender?... quer dizer… meu e da Esther, mas vai dar ao mesmo!”

- Vamos? – perguntou Esther com ar altivo

- Claro – concordou Jane no mesmo tom, pensando para si que devia estar a ficar maluca

- O toque para o intervalo já tocou há cinco minutos – informou Blaise consultando o relógio

- Não faz mal… - respondeu Jane com um indiferente encolher de ombros

A jovem vestiu-se num instante e saiu da enfermaria na companhia da irmã e de Blaise, desejando interiormente que a sua sanidade voltasse depressa.

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