Lovedog



-Oh, meu beem! Quem bom que você acordou! – Uma mulher rechonchuda, maternal e competente marchava em direção a Tonks – Parece que esse tônico novo funciona. Eu não estava confiando muito nele, mas acho que ainda dá para você pegar o jantar...

Tonks sentou na cama meio atordoada. O que estava fazendo ali? A ultima coisa de que lembrava era estar sentada aborrecida na sala de Adivinhação, olhando para dentro da Bola de Cristal e desejando, sinceramente, que ela explodisse.

- Quando eu recebi as novas caixas não gostei muito, me virava muito bem com o outro tônico. Odeio mudanças, sabe...? – Madame Pomffrey disparava a falar, examinando a temperatura da garota.
-O que eu estou fazendo aqui?
-Oi? Ah, sim, sendo tratada por mim, é lógico. Até onde eu saiba não existe...
-Dessa parte eu já sei, Madame Pomffrey. Como eu vim parar aqui?
A enfermeira a olhou meio confusa.
-Bem, você desmaiou logo pela manhã, querida. Passou o dia inteiro aqui.
-Sééério? Mentira!
-Você está insinuando o que, mocinha?
-Opa, desculpa, Madame. Mas tipo, em que parte eu perdi um dia inteiro que eu não percebi? O que aconteceu comigo? – Um clarão de entendimento perpassou o rosto de Tonks – Ah, aquele covarde do Coopper...
-Não tem nada a ver com a pobre criatura. É só que os pensamentos têm forças, meu benzinho. Acredito que você anda tão cheia de coisas na cabeça que se deixou debilitar por eles. E coisas da mente, meu bem, ou do coração, são fáceis de identificar. Difíceis de remover. – a enfermeira acrescentou uma piscadela ao comentário. Tonks sentiu um afundamento nas profundezas da sua barriga.
-Eu... Pensamentos... Desmaiei? Que loucura é essa?
-Bom, quando se está confusa ou muito pensativa, você abre portas para influencias entrarem. Isso é muito estudado por um ramo da mag...
-É... Tô com fome! – Tonks, freqüentadora comum da enfermaria pela quantidade de acidentes que podia causar a si própria, já sabia o longo discurso que a mulher ia iniciar - Já fui, beleza?
Tonks deu um pulo da maca e saiu da Ala Hospitalar antes que a enfermeira pudesse fazer algo contra isso. Que tipo de motivo idiota era esse para se desmaiar? Pensamentos? Ela nem andava pensando em coisas tão importantes assim! [i] Não, imagina![/i] Disse uma voz no fundo de sua mente que ela sabia ser aquela que não permitia que ela mentisse para si mesma.
Tonks esbarrou em um ser de cabelos cheios, castanhos, de franja e que emolduravam o rosto.
-Ah, cara, que fogo! Você nem espera! - Reclamou Edda, pulando no pescoço da amiga para abraçá-la.
-Muito bom, hein, Tonks! Você sair despencando por aí. Nem verde você está hoje! – Riu Megan – A gente foi lá na Ala Hospitalar na hora do almoço. Mas você ainda estava tirando um cochilo. Você ainda está com a cara muito amassada, vey!
-Ai, nem diz! – Falou tonks, passando a mão distraidamente no rosto. Subitamente lembrou de uma raiva guardada das garotas – Não tentem me enganar. Vocês sumiram hoje!
As duas fizeram um silêncio de poucos segundos perceptíveis.
- Foi nada. É só que nós...
- A gente se atrasou na hora do café. E sabendo que não poderíamos mais entrar na aula, nem fomos. – Cortou Edda.
Megan olhou para a amiga com uma expressão tão surpresa que não restavam duvidas para Tonks de que era uma mentira – muito bem mentida. Que cara de pau daquelas duas! Até porque Tonks as deixou de café quase terminado. Onde será que elas estavam? Já estava a caminho de insistir no assunto e pensou que teria que descobrir sozinha. As amigas só iam inventar mentira em cima de mentira. Deixou-as acreditarem que havia engolido a história. Espertonas.
-Vamos para o jantar.

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[b] Narração do Sirius [/b]
Os dias se passavam devagar e sofridos durante a primavera, mas nós quatro não tínhamos muito tempo para aproveitar o sol que fazia e a brisa que entrava pelas janelas e corredores. Até o Salgueiro parecia adorar aquele clima. De vez em quando o Salgueiro podia ser visto balançando os galhos quase graciosamente e Remo limitava-se a soltar suspiros invejosos ao Salgueiro Lutador.

Nós, os marotos, passávamos os fins de semana de claridade e brisa do lado de fora da escola como quase todos os estudantes. O clima ameno não dava a ninguém a vontade de ficar recluso no castelo. Muito menos a esse grupo de quatro garotos brilhantes (não querendo me achar...).

Eu, Sirius Black, me sinto a criatura mais cheia de tédio do mundo. Cara, os marotos não são mais os mesmos. O Rabicho continua rindo de tudo (o que me dá uma vontade constante de chutá-lo), o Aluado continua sendo o cara mais legal que eu conheço (com uns pontos contra, mas um cara legal), mas o Pontas... Ah, aquele veado! Ele anda totalmente idiota agora. Ele só fala da Evans pra cá, Evans pra lá. Nossa, que saco! E o pior de tudo é que ela está amolecendo! Tipo, outro dia eles estavam até conversando! Sim, pense aí: A Evans não estava berrando, azarando nem estapeando o Pontas. Estavam ali, sentados na NOSSA árvore batendo o maior papo. Certo que foi uma conversa de 5 a 10 minutos, mas enfim. Você me entende.

Sério. Pense no Pontas namorando. Minha vida vai ser ARRUINADA. Só me sobra o rabicho. Grande coisa. O Aluado... Eu detesto admitir, mas a Tonks dá mole pra ele! Ele é muito, mas muito tapado caso não perceba. Houve um dia em que a Tonks estava mostrando algum feitiço novo para a Edda e a Megan no momento em que nós passávamos pelo buraco. Vi claramente a Megan (não sei por que estava olhando para ela) sinalizar para a minha prima a nossa chegada. Houve, em fração de segundos, uma confusão em que alguns terceiranistas abaixaram-se com as mãos na cabeça, um lampejo laranja atravessou a sala e um barulho terrível em que metade da lareira desabou.

A própria McGonnagal teve que concertá-la.
Olhei para o Aluado e ele tinha apenas uma expressão de confusão, enquanto a Tonks levantava do chão, se recompondo e com os cabelos – agora mantidos abaixo dos ombros – extremamente vermelhos. Olhei para ela e sorri compreensivamente. Ela me deu as costas. Mas a Megan me lançou um olhar, que creio eu, foi reconfortante.

Isso fora todas as vezes que ela já se engasgou com o suco de abóbora, deixou o sapo de chocolate fugir quando o Aluado surgia ou se desconcentrou no meio de uma metamorfose deixando o cabelo crescer anormalmente enrolado ou fazendo as sobrancelhas sumirem. Isso não é muito positivo no processo de conquista dela. Eu poderia ensiná-la algo, mas ela não aceitaria. Então, beleza.

[b] Narração da Edda [/b]

Belo domingo primaveril de sol.

Felizmente eu, Megan e tonks amanhecemos de muito bom humor hoje, pois se tem algo que eu odeio é alguém de cara inchada do meu lado quando eu tô a toda. Isso tira o bom humor de qualquer um, mas do que um ser inconveniente ficar bufando no seu cangote em momento de concentração na biblioteca.

Pois sim, estávamos todas tão bem que escolhemos umas roupinhas mais bonitinhas. Eu coloquei uma jeans novíssima com uns detalhes brilhantes nos bolsos traseiros e uma bata vermelha de alcinha; deixei meu cabelo liso, cheio, castanho e sem graça (sem uma curvinha sequer) preso em rabo-de-cavalo (já falei que eu cortei uma franja? Foi a Megan que cortou, nem dá para perceber a leve inclinação, então beleza). A Megan estava de bermudinha escura, com uma blusa rosa muito fofa e de juba solta, lógico. A Tonks de vestidinho roxo simplesinho, com umas florzinhas na alça, acima do joelho (bem acima do joelho...). Estávamos tão... Fofinhas!

-Cara, a gente devia estudar! – Disse a Tonks nem muito aí com o que ela mesma estava falando. Essa frase normalmente é minha, mas beleza.
-Sem dúvidas, uma boa poção pra você, Tonks – respondeu Megan ironicamente – engolir essa língua antes que a praga pegue.
E eu não resisti.
-Mas, sério. Tem uma pilha de listas de História da Magia...
Calei a boca antes de ser linchada ali mesmo.

Inconscientemente, fomos caminhando em direção ao lago. Parece que nossas pernas já nos levam pra lá sem nem precisar de comando. Fomos conversando animadamente enquanto a Megan sacudia as madeixas compridas às suas costas, fazendo alguns garotos entortarem o pescoço para dar uma segunda olhada. É incrível como ela consegue fazer isso sem nem mexer muito a cabeça, sendo muito mais elegante. Eu me contento com a cara de criança que eu tenho. Mas sim, daí quando nos tocamos que estávamos na beira do lago, a gente só fez sentar, caso contrario daríamos um mergulho se continuássemos a andar.

-Olha só. Bem que é verdade a história de que flores costumam desabrochar na primavera!
Nós três olhamos para cima automaticamente e vimos um ser de beleza notável, cabelos escuros e sorriso galanteador. Achei ridículo o que o Sirius falou, mas segue.
-Muito bom vê-lo também, Sirius – Disse Megan. Já falei que agora ela demonstra muito mais confiança diante dele?
-Sério? – Perguntou Sirius, olhando-a com indisfarçável interesse e desarmando toda a máscara da minha amiga.
-Oi, Pedro, Remo, Potter – Cumprimentei.
-Oi, Tonks! – Sorriu Remo. Certo que fui eu quem cumprimentou, mas tudo em prol dos amores alheios. Tonks sorriu de volta.
-Eh... Oi, prima – falou Sirius com cautela. Tonks deu as costas e iniciou uma conversa entretida com o Lupin.
-Não liga pra ela – Falei – Você conhece o gênio da sua prima.
-Ela só vai ficar legal com você – Começou Megan. Sirius ficou mais próximo a ela fazendo-a gaguejar – Q-q-quando você pedir desculpas.
-Eu tô mesmo com cara de quem vai pedir desculpas!
-Pois devia estar, Black. Foi você quem se emburrou primeiro pro lado dela. E a Tonks não gosta muito que se metam.
-Mas vamos considerar Edda – disse Megan – não foi nem tão grave para a Tonks agir assim. É compreensível...

É obvio que a Tonks tava ouvindo tudo – Acho que o Lupin ainda não exerce tanto poder a ponto dela se desligar de conversas alheias – Pois ela virou para a Megan com um olhar realmente assustador, falou em alto e bom som “Aproveita e foge com ele, Megan” e saiu marchando para o castelo.

Ficamos os seis ali, olhando a Tonks virar um simples borrão roxo ao entrar no castelo, com cara de aparvalhados. Até a Megan dizer:

-Aprende a calar a boca, Megan.

E sair atrás dela. Eu preferi não ir atrás. Se a Megan não correr bastante não encontrará a Tonks tão cedo. Ela costuma achar ótimos lugares para se esconder quando está sob forte influencia dos nervos e ela é rápida à beça. Atitude exagerada, eu achei, mas compreensível. Todo mundo espera cumplicidade dos amigos, mesmo não devendo.

E agora eu fico aqui, entre um Sirius sofredor, um Thiago surpreso, um Remo confuso e um Pedro nada interessado, sem nem ao menos saber o que fazer.


[b] Narração da Tonks [/b]

Ótimo.
Muito, muito bom.
Eu não queria. Juro. Agora eu já consigo conversar com o Remo tranquilamente – quando não há objetos de quebra fácil à volta - sem ficar com cara de anormal. Mas eu percebi claramente o assunto da conversa dos três, que estavam um pouco perto de mim.
Parabéns, Megan.
Certo que você não consiga controlar seus hormônios, mas eu não tenho obrigação NENHUMA de te perdoar por se bandear para o lado daquele... Retardado!
É o que se espera, droga! Que pelo menos suas amigas compreendam você quando não está muito a fim de estar no mesmo metro quadrado que o seu primo.
Que ela pelo menos tivesse o bom senso de guardar a opinião dela PRA ELA. Ou no mínimo falar isso PRA MIM – com cautela, para eu não ter um acesso de fúria.
Não pareceu, ficou óbvio. A Megan só falou aquilo para mostrar para o Sirius que estava do lado dele.

[s]Eu achava que eu importava mais do que duas toneladas de testosterona bem distribuídas!!!![/s]

Mas eu acho que não.
Significa muito mais para a Megan aquela boca que metade da escola já esteve pendurada encostada na dela.
E sabe de uma, eu estou com uma raiva e duas frustrações pulsantes aqui.
Logo, é melhor ninguém desejar que eu saia desta sala tão cedo. É muito, mas muito meeesmo mais seguro.

[b] Narração do Sirius

(N/A: Essa mudança de narrações fica interessante, neh?!) [/b]

-O que aconteceu aqui? – Perguntou o Aluado. Onde é que ele estava com os ouvidos? Ah, sim. Na voz da minha prima.
Os cinco estavam olhando para mim.
-Olha, eu não sou culpado pela Tonks ter ouvido...
-Claro que não! – falou a Edda e eu me senti aliviado – não pela Tonks ter ouvido, pelo menos...
-Cara, você realmente deveria pedir desculpas – opinou o Pontas.
-Ou salvar a Megan – Falou o Rabicho – A Tonks não precisa nem criar uma juba para parecer uma fera.
-Mas a Tonks realmente foi exagerada...
Todos olham reprovadoramente para o Pontas. Essa não é a questão.

-ALGUÉM VAI ME EXPLICAR O QUE ACONTECEU?
E a Edda fez a curta narrativa para o Aluado.

Eu realmente estou me sentindo culpado.
Muito.

Também por ter ficado bravo com a Tonks sem motivo – sem motivo muito grave, pois motivo eu tinha – mas isso é [b]também[/b]. Eu acho que estou me sentindo muito mais culpado pela Megan.

Ela que me falou o que eu devo fazer. Ela esteve muito mais presente na vida da Tonks nesses últimos quatro anos do que eu. Eu só venho dando uma de “pai” aqui, como a Nymphadora mesmo me acusou. Ela é que está com minha prima todo dia e eu admito que ela é uma amiga muito melhor do que eu poderia escolher para ela com minha mania de proteção. E agora a Tonks vai amarrar a cara pro lado dela sem a garota ter culpa de nada. Entrou na história de gaiata.

Descubro que me preocupo com ela.

Muito.

Talvez seja só meu instinto protetor – talvez canino – ou o mesmo motivo pelo qual sempre me pego reconhecendo o cheiro do cabelo dela por aí. E quando me aproximo dela ou olho para ela sorrindo, não estou só provocando. Também estou, óbvio. Estamos falando de mim, não? Mas é quase impulsivo. E não estou falando da mesma coisa que sinto com todas as outras garotas bonitinhas da escola com quem eu quero (e consigo) ficar.

Qualquer dia desses eu abraço ela.

Ou mais.


Acho que meu coração acelerou.

[b] Narração do Aluado [/b]

Depois que a Megan saiu atrás da Tonks e todo mundo ficou olhando pra cara do Almofadinhas, a Edda me explicou a ocorrência dos fatos.

Um pensamento não pôde deixar de passar pela minha cabeça: Eu não ouvi nada por estar conversando animadamente com a Tonks. Mas ela, ao contrário de mim, parece ter ouvido cada palavra. Pergunto-me se eu sou tão chato assim. Acredite: Eu não tenho mau hálito!

Depois de um tempo decidimos voltar para o Salão Comunal. Se as duas se encontrarem lá nenhum de nós está muito disposto a ver a cena. Exceto o Sirius, que está com uma cara de dar dó e louco para encontrar as duas.

Eu escapei por pouco dessa história, tipo, o Sirius poderia muito bem ainda estar me olhando feio e arranjando algum modo de jogar a culpa em mim, mas isso não aconteceu. Mesmo assim não me alegro totalmente por isso. Não me agrada o fato de alguma coisa ruim estar acontecendo com a Tonks e eu só de telespectador. A vontade que eu tenho é de procurar por ela agora e dar conselhos, ou simplesmente ouvir calado tudo o que ela tenha a falar. Mas a Edda já me informou (acho que ela percebeu que eu estava prestes a fazer isso) de que, nessas horas, a Tonks é intratável e que ela azararia até o Dumbledore se ele aparecesse na frente dela. Imagina um pobre lobo inofensivo (de vez em quando).

Isso me convenceu. Mas não me sossegou. Não agora que somos tão amigos.

Sabe, percebi que a Tonks sempre foi uma amiga em potencial, só nunca tivemos a oportunidade de nos aproximarmos.

Esquece toda aquela história de danças dentro do meu estômago e meu rosto em brasa. Agora tenho uma amiga – e pronto. Tem coisas que eu posso falar com ela e que é meio difícil de falar com os garotos. Eles não gostam muito de discutir alguns assuntos ou simplesmente falar de bobagens, já com ela eu posso rir de qualquer coisa e falar sobre o que eu planejo fazer, o que planejo não fazer ou o que prefiro deixar a cargo do destino.

Mas ainda não tive coragem de falar do Lobo.

Ainda não pude falar pra ela o que acontece uma semana por mês, o que esse primo com quem ela tanto briga já fez por mim nem o quanto eu preciso proteger ela e a todos que estão perto de mim.

E se ela tivesse medo?
E se ela se afastasse de mim?
E se ela tivesse nojo de mim?
Ou pior:
E se ela decidisse que eu não ofereço perigo, que é tudo exagero meu e que eu não poderia ser tão cruel assim e decidisse me ajudar, ir atrás...?

Eu não suportaria a resposta de nenhuma das perguntas acima.

Eu não suporto a idéia de fazer algum mal a ela e não me perdoaria por isso.

Com os marotos a gente até ri depois. O Thiago faz incríveis encenações de coragem e de como ele conseguiu correr mais que eu, a galope. E quando alguém se fere a gente cuida e tudo mais e sinto culpa por isso. Mas a gente sabe que é normal e que somos perfeitamente capazes de segurar essa barra e enfrentar a próxima no mês que vem.

Mas se a Tonks tivesse um arranhão sequer...

Entrando no Salão Principal nem sinal de nenhuma das duas. Talvez elas estivessem conversando e entrassem daqui a poucos minutos de mãos dadas. A Tonks com um cabelo alegremente rosa e a Megan sacudindo a cabeleira a cada pulo serelepe que desse. Mas um bom tempo se passou enquanto nós cinco estávamos sentados em um lado do salão Comunal e isso não aconteceu.

Em um momento em que o Sirius e a Edda conversavam baixinho, Rabicho devorava duas dúzias de tortinhas de caldeirão, Thiago desenhava um Pomo de Ouro em um pedaço de pergaminho e eu olhava para o céu, pela janela, que tomava uma cor entre o rosa, o vermelho e o roxo, a Megan irrompeu pelo buraco do retrato com uma expressão derrotada no rosto.

-Pra variar, não encontrei a Tonks em lugar nenhum. No sexto andar tem sete salas de aulas trancadas. Imagino que foi ela quem fez isso para nos despistar. Deve estar dentro de uma delas, mas não consegui ouvi som algum.

Isso me preocupou. E se ela estivesse precisando de alguém para desabafar? Decidi que ia atrás dela.

O olhar da Edda me fez colar na cadeira e não sair dali até tarde da noite.

[b] Narração da Tonks [/b]


Olhei pela janela da sala não utilizada e realmente tomei um susto quando vi a noite escura sobre a Floresta Proibida.
Refletindo agora acho que passei o dia inteiro divagando dentro dessa sala, mas não consigo lembrar nem de início, meio ou fim dos meus pensamentos.

Durante alguns segundos eu olhei pela janela em busca de algum motivo muito bom que me prendesse naquela sala e eu não tivesse que voltar para o Salão Comunal, mas só consigo pensar que amanhã tem aula e já foi bastante prejudicial perder um dia inteiro na Ala Hospitalar.

Deduzindo a hora, a Sala Comunal não deve estar tão cheia. E tomara que realmente não esteja. Não estou muito a fim de olhar para a cara de ninguém agora. Vai ser muito bom me jogar na minha cama e puxar as cortinas.

Pense em qual foi a minha surpresa após me arrastar por escadarias e corredores quando entro no Salão Comunal, fazendo o maior silêncio possível e me deparo apenas com um grupo de seis pessoas encostadas em um canto da sala. Parecendo que haviam criado raízes ali.

Eu estanquei no meio do caminho com uma pontada em alguma região entre meu coração e meu pulmão. Minha respiração tornou a perder o ritmo e eu contei mentalmente até dez para me acalmar. Eu não quero, não tenho paciência, não tenho ânimo para falar nem discutir nada agora.

Por que eles não sobem simplesmente para seus dormitórios, enfiam suas caras em seus travesseiros e se afundam em suas próprias vidas? Eu só queria ficar em paz.

Eu virei em direção ao dormitório e estava no meio do primeiro passo quando a Megan se levantou.
-Ami...
-Espera Tonks.
Eu virei ao ouvir uma voz masculina que me faz pensar, não sei por que, em “se um cachorro pudesse falar”.
-Ah, Boa noite.
-Olha, ela não teve nada a ver com...
-Tonks, desculpa – Dessa vez foi a Megan quem cortou o Sirius. Eu não me senti nem um pouco inclinada em aceitar as desculpas dela.
-Vou dormir.
-Tonks, dá para você prestar atenção no que eu tenho pra falar?
Eu parei pra pensar.
-Não.
-Ah, mas você vai! – Megan se pôs entre eu e a porta. Não deixei transparecer minha surpresa com a sua atitude.

-Fala rápido.

-Olha Tonks, eu sinceramente acho que você exagerou e tudo mais, mas eu... – Eu não acreditei que ela começou as desculpas dela assim.

-...Preferiu tomar o partido dele – Completei – Totalmente entendível. Posso passar?

-Não. Eu não preferi tomar o partido dele. Eu só falei o que eu achava!

-Mas o que você acha SOBRE MIM você tem que falar PARA MIM, Megan! É assim que as amigas DE VERDADE agem, sabia?

-Olha aqui, Tonks! Eu sei que eu errei, mas essa não é a questão agora!

-Ah, é? Então qual é a questão? – Eu já estava me descontrolando – A questão pode ser a forma com que ele vai te recompensar depois! A questão pode ser o que vale mais: ser sincera com a amiga ou desfilar com o cara mais galinha que Hogwarts já viu! A questão pode ser...

-Você Está fazendo Tempestade em Copo D’Água, Nymphadora! – E eu estava alucinada para dar importância às sobrancelhas cerradas da Megan.

-NÃO ESTOU NÃO, MEGAN! O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI É QUE VOCÊ QUIS PASSAR COMO BOA AMIGA DO SIRIUS “COMPREENDENDO” ELE! EU DEVIA SER A COMPREENDIDA! ERA EU QUEM PRECISAVA DE VOCÊ! OLHA AQUI, CARA, TALVEZ AGARRAR ELE SEJA MAIS EFICIENTE!

-Tonks! De onde você está tirando isso? – Se meteu o Sirius e eu estava louquinha para azarar ele – Você está sendo extremamente infantil!

-CALA A BOCA, SIRIUS!

-CALA A BOCA VOCÊ, TONKS! – Quem era a Megan para gritar comigo? Ela é a errada da história! Ela é quem tem que ouvir! – SE VOCÊ ACHA QUE VAI JOGAR TODA A CULPA EM MIM... OLHA SÓ, EU JÁ PEDI DESCULPAS! SE VOCÊ NÃO QUER ENTENDER PROBLEMA SEU! EU NÃO VOU, ENTENDEU? NÃO VOU ATENDER SUA NECESSIDADE DE ATENÇÃO!!!

-NECESSIDADE DE ATENÇÃO? SINCERAMENTE, MEGAN, QUEM NÃO TEM QUE TENTAR ENTENDER NADA AQUI SOU EU! EU NÃO VOU ME ESFORÇAR PARA COMPREENDER A SUA BIZARRA PAIXÃO PELO SIRIUS, A PONTO DE FICAR CONTRA MIM!

-Como é que é???

Foi nesse ponto em que ela não respondeu.
Foi aí que eu percebi a dor na minha garganta e foi aí que a Megan saiu buraco afora e eu pensei que ela fosse me esmurrar no meio do caminho.
Eu senti uma pontada forte no peito.
Eu pensei que fosse desmaiar ali mesmo.
E eu pensei que eu tinha que ir pedir desculpas imediatas à Megan. Isso não é coisa que se grite.
Eu senti raiva de mim. Eu brigava com ela e fui eu quem mais errei na discussão toda.
Mas eu não consegui fazer nada disso.

-Nem... Pense... Nem pense em dizer que vai dormir! – falou o Sirius com o rosto branco.

Eu desabei na poltrona mais próxima e enterrei o rosto nas mãos.
Fiz merda.
Fiz merda.
Fiz merda.

-Oh, meu Deus! – Exclamou a Edda com ar desesperado. Não mais que o meu. Lógico. Passei os meus olhos dela para o Lupin. Ele parecia prestes a se levantar da poltrona, mas não falava nada, só tinha uma cara de atordoado. Eu não consegui sustentar o olhar de pena dele.

-Tonks, ela é sua amiga! – falou o Sirius, sentando nervoso na minha frente.

-Eu sei! – Eu comecei a chorar. Muito! – Olha, apaga o que eu falei. Oh, Merlin! Eu preciso pedir desculpas a Megan! Eu me descontrolei! Eu... Eu... Eu não queria dizer isso! Eu juro!

-Certo, Nympha, pára – E eu encostei na barriga de Lupin quando ele sentou no braço da minha poltrona e comecei a chorar descontroladamente.

Eu ouvi o Sirius levantar da poltrona à frente, olhei e ele estava apoiado na janela passando a mão convulsivamente pelo cabelo. Pálido.

Imagino a minha figura aquosa.

Sirius exclamou:
-Ah, não, cara!

E saiu buraco a fora.

[b] Narração de Sirius [/b]

Eu estava desesperado.

Depois daquele episódio no Salão Comunal eu ainda não conseguia assimilar as palavras da Tonks. Eu sei que ela estava nervosa e tal, mas eu não quero pensar nisso agora.

Eu não senti mais minhas pernas, mas ainda tive sensibilidade de sentir pena das lágrimas de Tonks, mas o Remo já estava lá pra consolar a garota. Se ela, que disse tudo aquilo, estava naquele estado eu só pensava em como a Megan, que foi quem ouviu, estava e não sabia o que fazer.

Eu não sabia se ia atrás.
Se olhava no mapa.
Se não me metia na história...
Não, é óbvio que eu tinha que me meter. Meu nome esteve presente várias vezes na discussão e de uma maneira bem... Significativa.

De repente eu percebo que não consigo ficar em pé e me sento. Mas a agonia era demais.
Levanto.

Fui até a janela e senti meu coração parar por quatro segundos e depois acelerar dolorosamente.

Eu acho que não sentiria uma agonia tão grande por nenhuma das garotas do meu passado, nem com as mais duradouras ou as mais emocionantes. Percebi o que eu estava sentindo como uma grande novidade e desejei com todas as forças que eu tinha que não fosse tarde demais.

Megan estava indo em direção ao Salgueiro Lutador.

[b] Narração da Megan [/b]

[i]“Era eu quem precisava de você...”

“Sua bizarra paixão pelo Sirius...”[/i]

Várias frases passando penosamente por mim e eu não conseguia enxergar um palmo diante do meu nariz úmido.

Tudo saiu errado.
Tudo!!
A Tonks e agora o Sirius. E eu não conseguia parar de andar e teria me afogado no lago caso eu soubesse a direção em que ele se encontrava.


Se minha voz tivesse a mesma força que a dor que sinto, meu grito acordaria não só todo o castelo, mas a vizinhança inteira.

Tudo o que a Tonks disse... E eu pedi desculpas a ela! E, cara, o que mais me entristece é que eu realmente achei tudo um exagero, mas eu reconheci que mesmo assim eu estive errada. Era tudo que eu menos queria. Eu não queria uma briga com a Tonks, eu não queria que ela entendesse tudo errado, não queria ter gritado com ela nem ter ouvido os seus berros. Não queria que ela tivesse falado aquilo tão magoada e nem que o Sirius tivesse ouvido. Não queria que ela estivesse tão magoada. Mas agora quem sente mais aqui sou eu.

O Sirius não devia ter ouvido tanta coisa.

E agora? Como é que eu vou olhar pra ele?
Como é que vão ficar todos os dias no Salão Comunal e quando ele me vir e pensar “Alguém me esconde, aquela criança psicopatamente louca por mim está por perto”. E agora ele vai me tratar (se é que ainda teremos algum contato pra ele me tratar de algum modo) como se qualquer expiração dele pudesse me fazer babar.

Ele não devia estar sabendo! Não devia!

Que tipo de louca deixa o cara de quem se gosta saber tudo sobre o que sente?
Não eu. Eu posso ser o tipo de louca que não está muito aí pra muita coisa. Posso ser o tipo de louca que está aqui andando descabelada, com o rosto todo molhado e soluçando incontrolavelmente pelos terrenos da escola em horário proibido. Mas eu sou o tipo de louca que em hipótese alguma morre de amores por alguém (exceto o Sirius), só é afetiva o suficiente para os outros pensarem isso.

Eu nunca fui tão bem com os meus sentimentos.

Prova disso é o meu desespero total e meu corpo sacudindo de chorar barulhentamente. Mas eu não faço esforço nenhum para parar.

Ouvi um rumorejo de folhas muito forte e parei instantaneamente.
Não está ventando esta noite.
Olhei em volta e vi tudo estranhamente parado e uma triste escuridão pesada sobre mim.
Pensei em voltar para o castelo e seguir direto para a minha cama.

Com um susto e uma dor no tornozelo eu cai de cara no chão. Olhei para trás para lançar uma péssima azaração no idiota-retardado-imbecil que fez aquilo e dei de cara com a pior coisa que podia acontecer na minha noite.

O Salgueiro Lutador agora tentava quase com sucesso me acertar da maneira mais dolorosa possível enquanto eu me arrastava o mais assustadamente que eu conseguia para longe dele. Os galhos enormes da árvore pareciam se alongar sempre mais e eu escapava deles por muito pouco.
Um dor terrível no meu tornozelo, onde o primeiro galho me puxou.

-MEGAN!

Senti alguém me puxar exatamente na hora em que o Salgueiro erguia ameaçadoramente meia dúzia dos seus maiores galhos e já os baixava em minha direção.

Olhei para trás e vi um conjunto de cabelos negros e o rosto pálido e assustado do Sirius, que segurava a minha cintura meio sujo de grama, por ter se jogado no chão para me salvar.

Olhei para ele por alguns segundo e recomecei a chorar aliviadoramente em seu ombro e ele me abraçou com força e encostou a cabeça dele na minha, enquanto ainda estávamos no chão.

[b] Narração do Sirius [/b]

Eu tinha a nítida impressão da ausência de cor no meu corpo.

Quando vi a Megan andando inconscientemente em direção ao Salgueiro eu juro que vi minha própria morte.

Ninguém conhece mais a força daquela árvore do que nós Marotos. E pra mim foi óbvio que a Megan não conhecia o mecanismo dela.

Eu saí correndo da Sala Comunal e tenho certeza que deixei muitos olhares para trás, mas não me importei com isso. Assim que saí do salão me transformei em cachorro para chegar lá embaixo mais rápido. Não liguei muuito para o fato de várias pessoas verem um enorme cão preto correndo por Hogwarts, mas pude perceber a ausência de pessoas e passou por minha cabeça, rapidamente, que horas já deveriam ser.

Cheguei ao ponto do salgueiro Lutador e me deparei com a cena que, se fosse possível, me deixaria mais branco ainda. Ele não estava mais estático como eu tinha visto pela janela minutos antes. Agora parecia decidido a exterminar cada pedacinho do corpo da Megan. E eu senti um desespero explosivo dentro de mim.

-MEGAN!

Abandonei a forma canina e corri para puxá-la. A megan estava correndo um iminente risco de vida e eu não pude deixar que minhas pernas se pregassem no chão com a vontade de desmaiar que eu sentia.

Corri e puxei-a pela cintura para fora do alcance dos galhos e eu cai no chão, ofegante, me recuperando do susto e tentando a todo custo fazer meu coração se acalmar. Estava doendo.

Daí a Megan fez a coisa mais inesperada e mais “desarmante” da noite. Mais inesperado do que o rompante da Tonks no lago, mais inesperado do que a briga delas duas, mais inesperado do que tudo que eu ouvi da Tonks e ainda mais inesperado do que o que eu descobri sentir pela Megan.

Ela simplesmente virou pra mim e desabou a chorar!
Pense em como foi difícil pra mim saber o que fazer! Por uns segundos fiquei sem saber o que fazer, por outros segundos senti uma estranha vontade de chorar e pelos segundos seguintes, segurei minhas lágrimas e abracei-a. Certo que eu devia dizer alguma coisa, mas dizer o que? Eu fiquei ali, estático, enquanto ela soluçava baixinho segurando minha camisa com força. E eu só consegui sentir o cheiro do cabelo dela que se espalhava no meu colo e então achei que era só isso que nós dois precisávamos: estar juntos.

Foi engraçado e muito bom o que aconteceu a seguir.
Engraçado porque eu, Sirius Black, não costumo estar entorpecido com cheiros de cabelos femininos (nem masculinos) ou sentir vontade de chorar abraçado a elas.
Muito bom porque, algum tempo depois, ela desenterrou o rosto dos meus ombros e passou a mão pelo rosto meio constrangida. Continuávamos no chão. Uma voz encorajadora pareceu me dizer [i]É agora![/i] e eu não pude me conter. Com uma coisa no meu peito fazendo um alto barulho incômodo, eu toquei no queixo dela, fazendo-a virar para mim, me aproximei até sentir a respiração dela tão desritmada quanto a minha.

Beijei a Megan. E a noite pareceu criar uma aurora dançando em torno dos meus olhos fechados.

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Desculpa Desculpa Desculpa Desculpa
Mas eu sinceramente acho que esse site não vai com a minha cara.
mas eu não vou desistir, ok ;D

Adorei escrever esse capítulo pq é um grande passo na história ^^
Espero que gostem.

Por favor, comentem para eu me sentir motivada. Se eu sinto que ninguém lê o que eu posto eu nem tem mais animo pra postar.

Bjaum

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