Os Detentos



O dia amanheceu chuvoso e escuro e Tonks estava adorando isso. Enquanto suas colegas de dormitório dormiam ainda profundamente, Nymphadora Tonks se concentrava em frente ao espelho pensando em que cabelo usar no dia de hoje. Normalmente só o mudava radicalmente em ocasiões realmente especiais, gostava de não ser igual a todos, mas diferente a todo instante ela corria o risco de se perder nela mesma. Acontece que era uma ocasião especial!! Quer dizer, era sábado e ela não sabia por que, mas estava com a sensação de que tudo daria certo para ela. [i]“Será que alguém botou uma boa dose felix felicis no meu suco de abóbora??”[/i]. Nem importava, só podia dizer muito obrigada a quem o fez.

Por fim, decidiu-se por deixar o cabelo na altura dos ombros, meio que repicado nas pontas e bastante preto, achou que ficava bem com o clima do dia e contrastava com sua pele e o sorriso incontido espalhado no rosto. [i]“Merlin, o que está acontecendo comigo?”[/i].

Quando já estava a meio caminho de sair do dormitório, Megan Melvenny, uma de suas melhores amigas sentou-se na cama.
-O que deu em você para madrugar, cara?
-São só as nuvens, Megan, não é tão cedo assim! E olha só que dia lindo!
-Às vezes me pergunto se colei chiclete no chapéu do Merlin para merecer conhecer você...
-Anda, se quiser que eu te espere tem que ser rápida.

Megan deu um pulo da cama como se já estivesse acordada há horas. De onde saía a eletricidade daquela garota? Megan foi ao banheiro escovar os dentes, colocou um vestido trouxa e iniciou o demorado processo de pentear suas longas madeixas castanhas.
-Cara, onde sua mãe errou pra você não ter nascido metamorfoga??
-Essa pergunta se ajusta mais a você, amiga! Tira o ‘não’, sabe.

As duas saíram para a direção da sala comunal, ainda não muito cheia e atravessaram o quadro da Mulher Gorda. Em minutos estavam entrando no Salão principal onde o café já estava sendo servido e somente algumas pessoas já comiam. Na mesa da Grifinória um grupo de sextanistas conversava animadamente e riam muito de um cara que a garota reconheceu como seu primo. Sirius e seus amigos, os conhecidos “marotos”, mas que não significavam nada demais para ela.

-Dia, primo. – Tonks cumprimentou Sirius rapidamente, mal parando para falar com ele. Pôde sentir o olhar dos amigos dele. Não de realmente interesse, mas de esclarecimento. Estavam acostumados a vê-la muito com o cabelo rosa e demoraram a reconhecer a nova garota.
-Fala Tonks.

-Tonks, esse seu primo um dia ainda me mata! – Megan, virando para trás, falou um pouco depois de se afastarem dos garotos e se sentarem na posição habitual.
-Grande novidade, hein amiga. Dá para você se comportar e parar de agir assim toda vez que o vê?
-Ah, o manda parar de mexer assim no cabelo, poxa!

Tonks não estava ligando muito para nada, nem brigou muito com a amiga quando esta desatou a falar em Sirius Black, nem quando Edda Cliffhord, sua outra amiga apareceu falando sobre todos os exercícios que precisava terminar em pleno sábado, muito menos quando um grupo de alunos do primeiro ano a pediu para fazer o nariz de bola que eles mais gostavam. Estava tão bem que resolveu fazer o comprido, o de porco e até um que lembrava muito o de Dumbledore e que resultou em um olhar seco de Minerva McGonaggal, que entrava para tomar café. Tonks respondeu com um sorriso displicente.

Após o café da manhã as três garotas dirigiam-se ao Saguão de Entrada para decidir o que fazer do resto do dia lá. Durante o café, Megan e Tonks conseguiram convencer Edda a estudar mais tarde, ao que a garota demonstrou grande satisfação. De vez em quando ela só precisa de um empurrãozinho. Pela falta do que fazer na Escola de magia e Bruxaria mais animada do mundo, decidiram-se pela Sala Precisa, perguntando-se porque não pensaram nela antes. Era tão óbvio! Só precisavam saber o que queriam lá dentro.
-Eu sugiro várias panelas de brigadeiro, um bom filme trouxa água-com-açúcar e depois revistas de fofoca – Tonks percebeu um brilho hilário nos olhos de Edda.
-Saaaai, Edda! Extremamente calórico e sedentário!
-Ok, Megan, vamos nos concentrar e quem sabe a sala não se transforma em uma pista de corrida e você pratica cem mil metros rasos? A Tonks me acompanha no brigadeiro, a gente não tem tanto problema com calorias...
-Você ta me chamando de...
-Ei, galera! A gente vai ter um dia só nosso, com músicas, filmes e... – Megan lançou um olhar preocupado para Tonks – Brigadeiro e torradinhas light, certo?
-Hum... Ta bom então!

As meninas não se surpreenderam em encontrar dentro da sala pufes fofíssimos, vários filmes trouxas e discos das bandas bruxas “As Esquisitonas”, “MagoMen” e “Magia Total”. Tonks não esperou permissão de ninguém para correr rapidinho para o enorme colchão d’água que só fazia esperá-la.
-Mil chifres de unicórnio! A gente vai passar a tarde toda aqui e não se fala mais nisso!
-Chega pra lá,Nymphadora!
-Fica com os pufes, Edda, o colchão ta dominado!
-É o que você pensa!

Em uma fração de segundos Tonks percebeu um olhar rápido de Edda para Megan e as duas pegaram travesseiros e bombardearam Tonks sem dó nem piedade. Penas voavam para todo lado e as três nem se preocupavam com o fato da sala precisa não ser à prova dos berros e gargalhadas delas. É claro que uma pessoa não poderia simplesmente entrar ali sem saber o que havia dentro da sala, mas se ágüem desejasse alguma coisa a sala mostraria sem duvidas que estava ocupada

Infelizmente quem precisou de alguma coisa foi Filch, o zelador. Ele abriu a porta exatamente no momento em que Megan jogava um travesseiro consideravelmente pesado com sua péssima mira e este foi parar em cheio na cara do zelador rabugento. O miado sarcástico de Madame Nora só pôde significar a pior coisa possível.

-Ora, ora, ora. Acho que podemos dar um jeitinho nelas, não podemos, minha madame? – Filch tinha um olhar alucinado no rosto e conversava com a gata como se não houvesse mais ninguém ali, a gata surpreendentemente olhava para as três com o que Tonks poderia jurar ser uma expressão de puro triunfo.
-Olha, zelador, foi sem querer e hoje é sábado, não estamos filando aula nenhuma e o senhor na...
-Olha só, meu bem, ela ousa dizer que não posso puni-las! Aaah, quando eu digo ao Dumbledore... Mas ele deixa se seduzir demais por esses vândalos e não libera as minhas algemas e palmatórias.
As três trocaram olhares preocupados. Tonks, porém, tinha certeza de que nada ia acontecer. E não pergunte por quê.
-Filch... Quer dizer, senhor zelador- começou Edda com cautela – que tal nós quatro sairmos por essa porta cantarolando algo feliz e esquecermos esse travesseiro que provavelmente foi amaldiçoado por alguém antes de nós e...
-Acho que não, sua pequena infratora dos bons costumes e trabalho árduo. Acho que seus atos de marginalidade acabaram por aqui. Para quem podemos levá-las, minha gatinha? Hein? Hein?
-Deixe-as comigo, Filch – Disse uma voz que Tonks não reconheceu ser de nenhum professor – Eu posso aplicar detenções e elas pertencem a minha casa... Não se preocupe. Elas não vão ficar impunes.
Ao ouvir isso Filch deu as costas, visivelmente contrariado e impotente, deixando a passagem livre para que as garotas enxergassem o carrasco ooou salvador.
-Nossa, muito obrigada, Lupin – Disse Megan, soltando um longo suspiro – Aquele monstro é bem capaz de nos soltar na Floresta proibida e fingir que fugimos da escola por falta de rigorosidade do Dumbledore.
-Não há de quê, estava passando por aqui procurando o Pedro e vi a Madame Nora se esgueirando por aí. Resolvi dar uma espiada. Infelizmente -
Tonks pôde ver que ele se esticou um pouco para analisar o ambiente
– Não vou poder livrar a cara de vocês por estarem aproveitando o sábado.
Tonks não pôde se conter.
-Não acredito que você vai detonar a gente!!
-Não vou detonar, Ninfadora, nem que eu tenha que mandar vocês limparem o corujal alguma coisa eu tenho que fazer agora que o Filch vai estar de olho.
-Manda a gente... Sei lá!
-Eu deixo vocês usarem magia, certo? Segredinho nosso – Acrescentou dando uma piscadinha para Tonks.

Que garoto fofo! Tonks sempre o teve como “um dos seres que andam com o Sirius” e por isso nunca tinha formado uma opinião ao seu respeito. Quer dizer, eles só andavam rindo, atraindo atenção de algumas pessoas desocupadas e de vez em quando se metendo em confusão. Que grande interesse há nisso?

Pela primeira vez na vida reparou que o cabelo castanho claro de Remo Lupin combinava super bem com os olhos castanho escuros dele e que o seu sorriso demonstrava algo mais do que “Sou popular”. E cara, ele era monitor? Isso fazia dele um cara muito, mas muito mais do que Tonks apostava que fosse.
-Bem, garotas – Tonks saiu da hipnose com um leve balanço involuntário de cabeça ao ouvir Lupin de novo – Se querem um conselho, é melhor irem direto para a torre da Grifinória. Acho que vou para lá. Protejo vocês no caminho.

Abriu um grande sorriso brincalhão.

-Ah, não, gente! – Edda protestou - Se a gente voltar para a Torre não reclamem se eu começar a estudar!
- Bem, então vamos para o lago! – Foi só a Tonks que percebeu que ele se incluiu no passeio ao lago?
-Ah! O lago!

Eles saíram do sétimo andar e tomaram atalhos para chegar mais rápido ao térreo. Lupin parecia conhecer perfeitamente bem cada um deles. Em um dos corredores toparam com Filch, que olhou incriminadoramente para os quatro, mas não recebeu a importância requerida.

-Hei, Aluado! Por onde você andava, cara... – Começou o Potter, que acrescentou logo depois -... Que nem chama?
-Pontas, uma delas é minha prima! – Sirius fazia cara de fingida incredulidade.
-Relaxa Almofadinhas, não troco meu alvo por mais ninguém. – Potter olhou rápido e sonhadoramente para uma menina ruiva não muito distante e de costas. Lupin virou-se para as garotas.
-É duro mas tenho que me separar de vocês, meninas. Qualquer dia desses a gente fala da detenção. Vocês sabem, não posso deixar para lá.

Tonks, Edda e Megan se despediram e viraram-se em direção ao lago, mas não antes de tonks ouvir Sirius falar “[i]Três gatas e você passa uma detenção nelas?! Você não aprendeu nada comigo, Aluado?”[/i].

As meninas foram em direção ao lago, onde algumas secundaristas nadavam junto a Lula Gigante. Enquanto Tonks e Edda iniciavam um jogo complicado de xadrez de bruxo, Megan enfiava a cara em uma revista adolescente bruxa. O silêncio reinou por alguns minutos e Tonks pensou que poderia estar de biquíni, já que mesmo com as roupas de trouxa, a única coisa que se bronzeava até então era seu couro cabeludo.

-Sabem, ele é bem fofo - Disse Tonks vendo displicentemente um de seus cavalos ser cruelmente degolado.
-Hã? – Megan levantou os olhos da revista.
-Remo Lupin – Respondeu Edda sem desviar a atenção do tabuleiro – A Nymphadorazinha aqui anda babando por, quem diria, o cara mais inteligente do sexto ano.
-SÉÉÉRIO? – Megan empertigou-se toda antes que Tonks pudesse ao menos arregalar os olhos – E não conta, não é, amiga do rabo-córneo?
-Ei, mas eu malmente tinha...
-Ah, Tonks, pensa que eu não vi sua cara de besta na Sala Precisa?
-Mas eu não estava com cara de besta, nada! Tipo, ele nos passou uma detenção e eu...
- OH MEU MERLIN! Como eu não percebi antes? Quer dizer, em termos de atração, todo mundo só olha pro seu primo ou para o Potter, que é realmente uma tortona de caldeirão e eu nunca tive muito tempo de olhar pro Remo, mas pensando bem...
-Pois é, eu também nunca reparei muito nele, mas ele é bem bonitinho e tudo mais – Isso não foi uma confissão – Mas eu não babei por ele, droga! Existem meninos bonitinhos as pencas em Hogwarts!
-Mas os marotos reinam...
-Excluindo o Pettigrew, óbvio.
-Tem aquele loirinho do sétimo ano também.
-E um secundarista que Merlin benza...
-Edda! – Que sem vergonha da parte da amiga!
-Que foi? Só estou comentando de um futuro promissor...
-Eu conheço um bom feitiço congelador... Será que você agüenta até ele chegar aos 14?

Tonks não agüentou e caiu na gargalhada. As amigas olharam sérias para ela.

-Não foge do assunto, srta. Camaleão.
-É, e nem adianta suborno com garotos novinhos!
-Mas meninas! Vocês sabem que se eu realmente estivesse afim eu já...

O cabelo de Tonks começou a tomar um tom mais queimado como sempre acontece quando está sob fortes emoções. Quer dizer, que pressão era essa da Edda e da Megan agora? Ela não era do tipo de esconder sentimentos. Indiretas faziam mais o seu estilo.Tratou de concertar a cor dos fios.

-Confessa amiga, ele tem estilo, simpatia, charme, borogodó...
-Lógico que ele tem!
-AHÁ! – Edda se levantou de um salto - Temos aqui um caso urgente!

Dizendo isso virou e deu um passo em direção aos marotos, onde Pedro olhava com idolatria o simples ato de Potter estar conjurando pequenas libélulas com a varinha e fazendo-as ir em direção à ruiva, uma tal de Evans. Tonks também se levantou alarmada e seu cabelo agora ficava laranja de susto.

-Edda! Não surta, garota! Você não vai até lá, você simplesmente não pode...
-Quem é você para dizer o que não se pode, Nymphadora?

Como é possível que em um lugar onde todos insistam em se tratar pelo sobrenome – e Tonks aceitava de bom grado esse costume- as pessoas teimarem em chamá-la pelo primeiro nome? Virou-se para trás para ver quem usava aquele tom desafiador.

-Se você realmente tivesse noção de perigo não saia por ai azarando os outros a torto e a direito.

Era Joshwa Coopper. Um garoto metido também do quarto ano de cabelo muito escorrido e sobrancelhas femininas que Tonks azarara no fim do ano passado. Ele mereceu, tentou fazê-la tropeçar quando passava pelo corredor onde ele estava, mas antes de cair feito uma jaca ela conseguiu milagrosamente com que ele produzisse grande quantidade de espuma toda vez que tentava falar durante duas semanas na Ala Hospitalar. Detenção para Ninfadora Tonks.

-Olha, Coopper, eu não quero que você vire uma lavanderia outra vez...
-[i]Expel...
-Impedimenta![/i] - Tonks berrou antes que a varinha começasse a escapar dos dedos.
-Você não vai sair dessa assim, Nymphadora!
-Não se você tiver aprendido algo mais que ensaboar, Joshwa – Tonks falava com uma mão na cintura e outra apontada para o pescoço do garoto, como se realmente não quisesse fazer aquilo.
-Tonks, faz esse palhaço bater o recorde de tempo na Ala Hospitalar! –

Alguém berrou da multidãozinha que se formou ao lado do lago e Tonks olhou surpresa para tanta gente. Grande bobagem.

[i]-Sectu...
-LEVICORPUS![/i] - Tonks só teve tempo de ver o garoto sendo puxado pelo tornozelo para o ar ao ouvir o encantamento que lhe poderia causar grandes problemas.

Todos davam exclamações de satisfação quando se ouviu uma voz seca e uma figura alta e magra vestida de azul escuro falar energicamente.

-Desça já essa criatura, Lupin! Agora! – Minerva não parecia satisfeita com que Tonks tivesse sido salva. Sem duvidas ela não ia levar isso em consideração. – E guarde esta varinha,Nymphadora.

As pessoas começaram a recuar e voltar a seus afazeres, mas espiando a cena tão descaradamente que não fazia sentido terem saído dali. A Professora virou-se para os três com fúria nos olhos. Joshwa ainda bufava com o rosto púrpura.
-Francamente eu esperava de vocês três muito mais noção! De Lupin e Ninfadora muito mais juízo e de você, Coopper, uma atitude mais condizente com a pose que o senhor ostenta.
Joshwa Coopper limitou-se a levantar as sobrancelhas indignado e inflar o peito.
-Explique o que significou isso, Lupin.

Remo abriu a boca, mas Joshwa o atropelou.

-Professora! Essa aberração – falou apontando para Tonks – já tentou me...
-Quando eu quiser ouvir suas asneiras dê-me tempo de tapar os meus ouvidos, Coopper – E virou-se novamente para o monitor.
-Professora – Lupin começou em voz controlada – Vi a cena desde o início e me pareceu que o senhor Coopper tentava vingar rancores passados, mas Tonks pôde se defender, ao que ele já ia atacar com um feitiço que receio não termos permissão para usar na escola quando a garota estava distraída. Consegui intervir ao que eu chamo de covardia.
-Sem necessidade de exprimir opiniões, Senhor Lupin – mas Tonks reparou que Minerva já não demonstrava raiva nos olhos, só desprezo ao encarar Joshwa – Vejo o grande homem que se tornará Joshwa Coopper. Vinte pontos a menos para a Corvinal, por sua inteira culpa e nem sua careta vai mudar isso, Coopper, e menos vinte para a Grifinória, dez por cada. Espero os três na minha sala na segunda-feira, oito horas para cumprir detenção. Controlem-se enquanto isso.

A professora de Transfiguração rodopiou decidida e voltou ao castelo. Tonks, já dominada pelo mau humor, avisou ás amigas que voltaria ao Salão Comunal e as veria no jantar. Seus cabelos assumiram um leve tom de roxo em resposta ao solavanco que seu estômago deu ao ouvir o “vamos juntos” de Remo. Não se deu ao trabalho de fazê-los voltar a preto já que eles insistiam tanto em se metamorfosear durante o dia. Cadê a autoconfiança de quando acordara?

-Duas detenções em um único dia, hein? – falou Lupin em sua voz sossegada, dando um susto na garota – Parabéns, garota, o sangue dos Black vive em você!

Tonks não pôde deixar de rir, embora ser uma Black não era o maior orgulho do mundo, não para ela.

-Sabe, o meu currículo ainda não é tão glamuroso quanto o dos marotos.
-Ah, o de ninguém nunca vai ser – falou com um brilho nos olhos e um sorriso carinhoso – Escuta, poderíamos ir agora e limpar o corujal em segundos, depois vamos para o salão.
-E a Edda e a Megan?
-A gente faz uma mentirinha. – Disse dando a segunda piscadinha do dia.

Os dois foram ao corujal e realmente limparam em pouquíssimos minutos, os dois aproveitaram e pegaram suas corujas para fazer um carinho. Rômulo, a coruja preta e branca dela, dava mordidinhas carinhosas na sua orelha, enquanto a Coruja Das Torres do monitor se equilibrava em seu braço com dignidade fechando os grandes olhos e recebendo o carinho na barriga.

Tonks não conseguia imaginar por que não reparara naquele garoto antes. Quer dizer, ela parou para pensar e eles sempre estiveram bastante perto, quando ela era primeiro ano ele já era terceiro e no ano passado ele já era monitor. Ela deveria tê-lo visto em algum lugar dando algumas ordens.

Como uma chuva torrencial veio á sua memória flashs dele e o resto dos marotos sentados sempre na mesma a sombra da mesma árvore nos dias de sol, de algumas vezes em que ela presenciou Lupin ralhando com Thiago Potter e Sirius Black. De algumas pessoas falando da sua inteligência e sensatez e até de uma ou duas vezes que o vira bastante abatido e pálido na Torre da Grifinória, com os amigos parecendo muito preocupados. Caramba, de repente percebeu que conhecia aquele garoto de olhos castanhos e sorriso carinhoso havia quatro anos, que sabia de suas características, personalidade e amigos e nunca se deu ao trabalho de não só saber dele, mas conhecê-lo.

-Sabe, se meu nariz estiver sujo é só avisar.

A voz dele e o sorriso encabulado fizeram a garota perceber que o olhava com cara de boba. Percebeu o rosto esquentar e ficar vermelho, automaticamente seus cabelos arrepiaram-se e tomaram como cor um vermelho berrante.

-Ah... Foi mal... Eu só tava...
-Você fica muito bonitinha com vergonha – Lupin sorriu e olhou para o chão.
Tonks ergueu as sobrancelhas, nada ficou vermelho, não tinha mais como – O vermelho fica perfeito em você.

-EU NÃO ACREDITO! – Megan berrou e se levantou, derrubando a cadeira para trás com um estrondo e fazendo uns quintanistas olharem com curiosidade – Você está tendo um caso com Remo Lupin? Oh. Meu. Merlin! Tonks, ele é o cara! Mas tipo ele não se enquadra em nenhum dos seus antigos caras. Ele não se parece muito com Max Fredderic, que você pegou no início desse ano, nem com o Edward Ruston, que foi do fim do ano passado, muito menos com o Robbie Werneck, com quem você deu o troco no Ruston...
-É verdade – Edda contava nos dedos os nomes que Megan citava – O Max era um cara fofinho, mas tipo ele pagava um pau terrível para você, só faltávamos pagar pedágio para conseguir falar com você sem ele. O Edward era muito legal, sociável e tudo mais, mas no fim das contas ele queria mostrar para a namoradinha dele que conseguia uma mais inteligente, bonita e popular que ela, mas depois voltou para a ex. Ela era uma tapada. O Robbie poderia ter dado certo, se não fosse o fato dele nunca gravar sua fisionomia...
-Estamos esquecendo do Corbin...
-Eeeeeh, Corbin McFllain... Olhos azuis, dreads no cabelo, um primor divino... – Edda falava como se lembrasse dos biscoitinhos deliciosos da vovó - Adorava você, tanto quanto às Artes das Trevas...
[b](N/A: Nomes terríveis, eu sei, eu sei...)[/b]
-Ok, ok, meninas, vocês não precisam me lembrar desse passado obscuro sabe...
-Mas o futuro você pode inventar - Começou Megan com um olhar alucinado nos olhos como se estivesse prestes a fazer uma profecia.
-É! “A gente só não inventa o amor”, como dizia o poeta! – Disse Edda – E olha só, o Lupin supera todos eles. Se eu fosse você investia, amiga.
[b](N/A: Ta virando graça neh? Hehe. O poeta em questão é Nando Reis na música “A Letra A”)[/b]
-Pois é, bem bonitinho, inteligente, fofo, carinhoso, monitor, responsável, popular, sociável... E o melhor: Um maroto. – Enumerava Megan com o indicador suspenso.
-Em suma – Começou Edda sorrindo e enrolando os cabelos de Tonks nos dedos – Uma gracinha.
-Então fica para você, Edda! – Tonks falou com a voz um pouco mais aguda do que pretendia e acrescentou logo depois, mais baixo – Não, não fica.
-Wooow, temos aqui uma declaração! – Vibrou Megan – Pois é, amiga – virou-se para Edda – ainda restam dois marotos aproveitáveis.
-Sabe Melvenny, é muito bom saber que os marotos estão em alta – Megan, que ainda estava de pé, aparentemente perdeu o controle das pernas e caiu desastrada na poltrona mais próxima ao ouvir uma voz risonha, mais parecida com um latido, saindo de algum canto – Só sinto pena do meu amigo, Pedro... Não é culpa dele, sabe...
-Oi, Sirius – Cumprimentou Edda, que era a única que não precisava se preocupar com fato de Sirius ouvir a conversa.
-Beleza, primo? – Sorriu Tonks, que não sabia se se preocupava com o fato de Sirius ouvir a conversa incoerente ou contente de Megan ser pega falando dele – Ah... Você ta ai há muito tempo?
-Na verdade eu estava cochilando naquele canto, sabe, priminha, mas a bela morena aqui – Sirius indicou Megan e Tonks a imaginou com o cabelo muito, mas muito vermelho – fala bastante alto. E eu tive bastante tempo para ouvir sua extensa lista...
-Não é tão grande assim – Ora, mas não era mesmo! Tonks sorriu fingidamente ofendida – Epa! Nem se compara a sua!
-Eu enfartaria se a lista de minha priminha mais nova se comparasse!! Mas o McFFlain, Ninfadora Tonks Black?
-Ah, ele era e continua sendo uma graça. – Tonks recordou-se.
-Eu o azarei bem umas quatro vezes. Na semana passada ele tentou e até conseguiu fazer nascerem muitos pêlos nas minhas orelhas, mas eu fiz nascerem pêlos, ou melhor dreads, em lugar pior, acho que ele ainda não se livrou deles.
-Muito boa essa – Riu Edda. Megan continuava calada e pareceu que ia derreter quando Sirius sentou no braço da poltrona em que ela estava – Mas pasme, a nossa Mil Caras aqui já o azarou sete vezes depois que terminaram.
-É o aprendiz superando o mestre – Riu Sirius e Tonks olhou pros lados procurando o cachorro que latiu – Mas sim. Remo Lupin?

Tonks olhou para o lado mais uma vez. Sirius estava chamando Remo? Ele tinha ouvido a conversa também? Megan deu uma risada nasalizada baixa fazendo Sirius olhar para ela. Megan se encolheu na poltrona outra vez absurdamente corada, Sirius passou o braço pela poltrona provocadoramente.
-Estou falando de você e o Aluado, Tonks.
-Oh! Ah, sim, do que mais poderia ser...
-O cara é legal, o que falta para você chegar nele? – perguntou com uma sobrancelha levantada e cruzando os braços.
-Pirou, Sirius? Euzinha vou chegar nele?
- E daí? Sabe, garotas com atitude são bem legais – Olhou para Megan e esta teve um ataque de tosse.
-Pois sim, elas são, eu não. Ah, por favor, não insistam nesse assunto.
-Ah, por que não, Tonks? – Perguntou Edda – Que mal faria?
-E que bem faria? – Perguntou Tonks, pergunta idiota, não?
-Ando achando o Aluado solitário...
-Muito bem, Sirius, e seria eu a encarregada de fazê-lo companhia! Só isso, uma menina para remediar o seu amigo?
-Você sabe que não é isso, Tonks. Eu não faria isso.
-Ah, não, Sirius?
- Não com minha prima, lógico! E o Lupin é um cara bem legal, não seria um estorvo.
-Não estou dizendo que seria! Gente, ele nem gosta de mim!
-Quem disse? – falo Sirius ainda de braços cruzados.
-Ah... Bem, é óbvio, não? Ele falaria se estivesse!
-Você falou?
-O quê? Mas eu não estou a fim dele, ok?!
Os três a fixaram com os olhares mais sarcásticos do mundo.
-Ah, francamente, eu vou é dormir!

Ao se levantar e ir a direção ao dormitório feminino ouviu a Megan debochar:

-Ela nem se deu o trabalho de concertar a cor do cabelo.
Ao que Edda respondeu:
-Fica perfeito nela.
Os três riram.

Gggrrrr! Que idéia era essa daqueles três? Ela? Nymphadoraa Tonks? Ele? Remo Lupin? Absolutamente sem noção e sem fundamento as piadinhas daqueles três. Custou a dormir, vários pensamentos confusos invadiam sua cabeça, mas não se fixava em nenhum deles.
Usaria uma blusinha vermelha amanhã e ela combinaria super bem com seu cabelo castanho claro e os olhos castanhos escuros. Estava segurando uma coruja das torres belíssima e esta dava uma gargalhada que mais parecia um latido. Tonks enterrou-se na poltrona ao ouvir o latido da coruja que segurava...

O domingo passou rápido e Tonks não respondia a nenhuma das provocações das duas amigas que insistiam em falar de coisas como “vermelho” “marotos” e “detenções”. Também não correspondeu a Sirius que insistia em chamá-la para qualquer besteira quando estava em companhia de Remo.

Ao contrário do dia anterior, que amanhecera nublado mas sem chover, o domingo surgiu azul e ensolarado, o que passou despercebido por Tonks, que estava perdida em seus próprios pensamentos e aumentara sua capacidade de derrubar e quebrar coisas. Usando o Feitiço Reparador várias vezes no dia.

Quando tentava dormir, após o jantar, ouviu batidas na janela. Estava sozinha no dormitório, as meninas haviam resolvido jogar uma partida de snap explosivo com outros quartanistas. Em meio a atrapalhação de levantar da cama derrubou um tinteiro cheinho em cima d blusa vermelha que não desistira de usar naquele dia. Praguejou baixinho e olhou para a janela. Com um motim dos seres viventes em seu estômago percebeu que era uma grande Coruja das Torres que batia impaciente na janela. A coruja de Lupin.
-Ai, Merlin, uma carta! – pensou alto. Nos poucos segundos em que correu para abrir a janela não pôde deixar de formular mil hipóteses. Nenhuma delas se encaixava no que dizia a carta. [i] Infelizmente.

Hei, Tonks!
Você não está na Sala Comunal. Bem, claro que você sabe disso. Então já que você foi deitar cedo, lembra que amanhã a noite tem detenção, oks?
Bem, é só isso. Só para você não se encrencar ainda mais, menina Black. Hehehe.
Espero que você veja o aviso ainda esta noite, caso contrário a Ninfa (minha coruja) morre aí do lado de fora. E você corre o risco de esquecer, não é? Conheço sua fama de, bem, distraída.
Até amanhã.
É, certo, só isso. (droga, os trouxas já têm coisas chamadas corretivos, eu não precisava ter escrito isso, sabe...).

Ps: Qualquer semelhança do nome da coruja com alguém que você conheça é pura coincidência!

Carinhosamente,
Remo Lupin.[/i]

Tonks correu para pegar um pergaminho, pena e tinta. E não foi só por que ela estava louca para responder, mas a coruja parecia decidida a não sair dali enquanto não houvesse uma resposta e, bem, estava fazendo uma brisa fria e a Tonks tinha consciência ambiental e animal. Hesitou um pouco pensando no que escrever e então começou:

[i] Lupin,
Bem, eu realmente não estava dormindo, eu ainda não estou conseguindo, mas não queria muito ficar aí embaixo. Nada pessoal, certo? Então a Ninfa está salva.
E obrigada por lembrar, era bem provável que eu viesse direto para o Salão Comunal após o jantar. Realmente, obrigada.

Ps: Quanto ao corretivo, você poderia usar um Feitiço De Sucção, sabe?
Agradecidamente,
Nymphadora Tonks.

[/i]Oh Merlin! Tonks foi dormir imensamente feliz!

A segunda passou incrivelmente leve. Tonks acordou de super bom humor e cabelos vermelhos. Nem ao menos foi proposital, isso deve ser um bom sinal. Não tinha intenção alguma de mostrar a carta às garotas. Mas elas disseram que viram o Lupin receber uma carta e falar o nome “Tonks” para o Potter e conseguiram roubar a carta usando o Feitiço Convocatório.

À noite Tonks e Lupin saíram do Salão principal após o jantar juntos e sob os olhares dos marotos e das amigas de Tonks. A garota ouviu o primo falar algo como “crie noção de perigo, Aluado”. Pelo caminho os dois seguiram conversando coisas triviais e ao chegarem à porta da sala da professora deram de cara com um Joshwa Coopper não muito amigável.

-Noite – Cumprimentou Lupin sem esperar a resposta que não veio.
-Entrem – Mandou a voz de Minerva antes que tonks pudesse encostar a mão à porta – Como podem ver, existem três cadeiras a sua espera logo ali. Não ficarei na companhia de vocês, por isso confio em Remo Lupin para isso. Vocês deverão organizar as minhas fichas com os programas de aulas em ordem de turmas e Casas. Sem magia. Tenho como saber se a usaram.

Ao dizer isso saiu da sala com uma elegância que Tonks invejava.

Os três começaram a trabalhar em silêncio dividindo os papéis e Tonks e Lupin se ajudavam, deixando Joshwa se virar para adivinhar o esquema de organização dos dois e segui-la. Tonks agradecia por estar de já com o cabelo vermelho, já que alguns simples atos causavam um tremelique estranho nela. Certo que o fato dele a chamar de “Nympha” em alguns momentos não era tão simples, mas as mãos dos dois se tocarem quando entregavam fichas um ao outro era bastante.

Quando o trabalho já tinha passado de uma pouco mais da metade, Joshwa jogou as fichas que segurava violentamente na mesa e se levantou, causando grande susto nos dois colegas.

-Sabem de uma? Vocês dois podem muito bem fazer isso sozinhos. E eu não preciso mesmo estar na companhia de uma aberração nem de um animal.

Essas palavras pareceram causar muito maior estrago em Lupin do que em Tonks. Quando Coopper se preparava para sair porta a fora, Lupin puxou a varinha em um movimento rápido e bloqueou sua passagem, o desarmou e assustou Tonks mais ainda quando jogou a própria varinha no chão e agarou com força o pescoço do garoto. Tonks permaneceu estática, absolutamente atordoada com o que acontecia a sua frente. Só voltou ao mundo quando viu um Joshwa estranhamente roxo buscando fôlego e tentando afastar Lupin sem sucesso com uma das mãos. Tonks correu para tentar separar os dois mas percebeu que seria impossível ao olhar para os olhos enfurecidos de Lupin. Nunca vira aquele garoto gentil daquele jeito antes. Pegou a própria varinha e separou os dois. Lupin caiu para trás e Joshwa cambaleou até segurar na parede mais próxima, buscando ar.

-SAI DAQUI, JOSHWA!

Tonks gritou quando viu que Remo levantava e já ia em direção ao garoto de novo.

-Tonks! Ele... Ele... Esse covarde! Ele vai ver...

Tonks o empurrou até uma parede para segurá-lo e manteve seus braços presos para que não saísse. Estava de frente para ele e podia sentir sua respiração forte e desritmada.

-Calma Remo! Ele já foi!
-Mas ele não pode ir! Será que você não entende?
-Não entendo o quê? – Lupin não estava falando coisa com coisa na opinião de Tonks.
-Me solta, Nympha – Tonks ainda esperava ver o brilho alucinado em seus olhos, mas em vez disso ele a olhava e tentava controlar a respiração que ela ainda sentia, achou seguro soltá-lo.
-Vamos terminar o trabalho, Lupin.

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