O PERIGO DOS DESEJOS




- Capítulo Três -
O PERIGO DOS DESEJOS


NÃO HAVIA MUDADO MUITO. Olhos claros, cabelos rubros caindo em cachos pelas costas, traços finos, alta, pele alva com algumas sardas, braços que segundo ela própria eram longos demais e a deixavam desproporcional. Laure tinha onze anos e no momento estava sentada no balanço que ficava atrás da casa, mirando a grama verde do jardim.

Fechou os olhos e começou a balançar-se vagarosamente. Sentia apenas o vento batendo com alguma força contra a face dela. Então aconteceu, como em um sonho. Estava sentada numa cama de ferro de um quarto frio, feio e escuro. Olhava as palmas das próprias mãos. No entanto não eram as mãos de Laure. A mão esquerda fechou o grosso livro que estava sobre o travesseiro, enquanto a outra pegava um pedaço de madeira envernizado que pousava ao lado do livro.

Levantou-se seguindo para um guarda-roupa velho, e abrindo as portas dele. Da prateleira, acima do trilho de roupas, puxou uma caixa e a abriu pegando seu conteúdo e devolvendo a caixa ao armário. Voltou em direção à cama, mas não se sentou. Colocou o objeto que retirara contra a fraca claridade que vinha da janela. Era o pingente de Laure. Estava numa corrente de prata, mais bela que o pedaço de fita negra que a menina tinha conseguido para colocá-lo. Fitou durante alguns instantes o “S” que a serpente prateada formava, com os brilhantes no lugar dos olhos reluzindo opacamente. O pedaço de madeira que segurava girou na mão, e apontou para o pingente, fazendo palavras sem sentido saíram da boca de Laure, e um jorro de luz verde inundar o quarto.

– Laure?

Abriu os olhos, assustada, e respirando ofegante. Subiu o olhar, deparando-se com Victor, a olhando com curiosidade. Ele também não havia mudado muito desde os nove anos; apenas havia crescido a ponto de ficar alguns centímetros mais alto que Laure.

– Pensei que tivesse dormido... – comentou o garoto rindo.

– Estava apenas... Apenas de olhos fechados – disse ela sorrindo e levantando-se.

– E como vai seu plano?

– Muito bem! – respondeu ela orgulhosa. – Se o humor dela estiver ruim, porque a mente dela fica mais frágil nesses dias, coloco-o em pratica hoje mesmo.

– Mas não funcionou antes...

– Dessa vez vai funcionar! – disse com convicção

– Você ainda não me disse absolutamente nada sobre seu plano... – comentou ele.

– E nem vou dizer! – ele olhou feio para Laure. Ela riu. – Tudo bem, mas você vai achar absurdo...

– Conte!

– Eu vou mudar a técnica – explicou. – Não vou tentar romper as barreiras, vou fazer algo mais difícil... Tenho testado essa técnica em algumas pessoas. Elas nem ao menos percebem algo de diferente, e posso conseguir muito mais informações.

– Você disse que testou a técnica? – perguntou ele. – Mas testou em quem?

– Vivi Ortonari, Lívia Humbel, Petter McLee, a professora Maundrell, o padeiro, o leiteiro, a diretora da escola, minha madrinha, Madame Morgan, você, o senhor que mora na Old-Bridge... – respondeu displicentemente. – O que importa é o modo de entrar na mente. Não é uma invasão, como eu fazia. Agora é algo mais sutil, refinado. Eu vou penetrar na mente de Eva através dos próprios pensamentos dela, a partir daí eu posso me aprofundar e procurar a memória que quiser...

– O que você viu na minha mente? – perguntou o menino, ainda chocado por Laure ter penetrado na mente dele.

– Nada além do que eu não saiba – respondeu. – Apenas que você dorme com pijama azul de ursinhos...

Victor ficou instantaneamente vermelho.

– Por que você quer tanto saber das memórias da sua mãe? – questionou antes que Laure fizesse qualquer comentário sobre o pijama.

– Desafio. Depois de tanto tempo que venho tentando tornou-se um grande desafio... E eu adoro desafios!

Victor se contentou com a resposta, mas não era a verdade plena. Sem dúvidas Laure adorava desafios, mas estava bem mais interessada em saber sobre o passado da mãe, algo que Eva nunca contava, nem se quer tocava no assunto.

– E então, você falou com sua mãe? – indagou Laure.

O menino desviou o olhar.

– Err...

Você não falou? – perguntou incrédula.

– Não consegui!

– Não me venha com essa Victor... – disse a menina irritada. – Seus pais querem te mandar para um internato ao norte de Gales e você fica calmo como se fosse a coisa mais normal do mundo?

– Ainda estou esperando a carta de aceitação – lembrou ele.

– Dane-se a carta, você vai ficar aqui comigo!

Ao voltar daquelas férias – aos nove anos – Laure não tinha mais amigos. Meg e Mina afastaram-se da menina e o mesmo aconteceu com todos, mas não era proposital. Alguns não conseguiam ficar no mesmo ambiente que ela; as pernas tremiam, tinham convulsões, corriam para não serem os últimos a sair da sala, para não estarem na presença dela. E quando perguntados por que não gostavam da menina, não sabiam responder. Apenas diziam que tinham medo.

Entretanto, Victor era uma exceção.

Enquanto todos se afastavam da menina Victor se aproximava, a cada dia mais. Foi difícil, mas ele conquistou a confiança, a simpatia e tudo aquilo que as pessoas julgam necessário para ter uma amizade. Mas não era amizade de abraços e carinhos, isso era demais para ela. Laure e Victor eram grandes cúmplices.

– Eu não posso ficar com você.

Os olhos de Laure estreitaram-se.

– Não pode ou não quer?

– Eu... Eu não quero – confessou ele ser olhar para ela.

Laure ficou em silêncio, com o rosto inexpressivo, mas com o olhar fixo em Victor que se mantinha olhando para algum ponto no chão.

– Então é isso?! – questionou ela depois de muito tempo, quando Victor voltou a encará-la. O tom duro da voz era a única coisa que denunciava o quão furiosa ela estava.

– É. Tenho... Tenho ambições maiores a seguir!

– Ah, que bom que alguém aqui tem ambições maiores – disse ela ironicamente. – Pois, bem... Adeus, então!

O menino olhou assustado para ela.

– L-laure, espere... – tentou ele, mas ela abria a porta dos fundos e entrava em casa.

Não havia ninguém lá dentro, pois Kimberly trabalhava e Eva finalmente tinha conseguido um emprego. Laure entrou e fechou a porta atrás de si.

- Eva trabalhava na Brandon Picles -
Brandon Picles é uma fábrica de picles e enlatados
que localiza-se no vilarejo vizinho a Red Lodge,
cujo nome é Brandon.

Olhou pela janela da cozinha, Victor já tinha ido. Fechou os olhos, mas não viu o amigo. A imagem que lhe veio à mente foi do pingente e daquele quarto sombrio da visão. Levantou a manga da blusa e analisou o pingente preso pela fita negra no pulso direito dela. Ele não parecia nocivo, pelo contrário, parecia encantar a menina. Os olhos de brilhante reluziam de forma tão intensa que Laure não conseguia desviar o olhar.

Aquele sem dúvidas havia sido o melhor presente que Laure ganhou.

Ao menos para ela tinha significado: o poder. A menina estranhava o fato de que a cada dia ele parecia estar mais “especial” do que quando ela o ganhou, como se agora ele tivesse muito mais poder do que quando o encontrou no antiquário da Madame Morgan.

Quando Kimberly chegou, por volta das seis da tarde, Laure estava na cozinha fazendo o jantar. Estava de férias, e por esse motivo boa parte das tarefas domésticas sobravam para a menina. Cortava os vegetais com impressionante habilidade, e os jogava na panela.

Ás oito a mesa estava posta, e a comida esperando para ser servida. Madrinha e afilhada se olhavam, enquanto esperavam Eva. Minutos depois, Eva entrou exasperada na casa:

– CORUJAS! DEMÔNIOS DO CÉU! – bradava a mulher. – PRAGAS! ESTÃO POR TODOS OS LUGARES!

Kimberly correu para a sala, a fim de saber por quê Eva tanto gritava. Ela explicava para Kimberly, gesticulando, e falando alto que desde o caminho de volta da Brandon até aqui, ela viu corujas sobrevoando os céus.

– Sobre nossa casa havia três! – gritava. – Tive que ir ao jardim dos Rice apanhar pedras para espantá-las...

Da mesa na cozinha Laure via a cena. Um sorriso malicioso surgia nos lábios da menina. Era o momento perfeito para penetrar na mente da mãe.

Fechou os olhos, controlou a respiração e entrou nos pensamentos. Viu a cena de Eva jogando pedra nas corujas e se aprofundou. As imagens passaram rapidamente, e em sete segundos Laure estava de olhos abertos e sorrindo para a própria imagem refletida na porcelana do prato.

Viu apenas três cenas, extremamente rápidas: várias corujas no telhado de uma casa antiga; corujas entrando por um salão grande e luxuoso; e uma única coruja marrom, entregando uma carta que trazia presa as garras, com um selo púrpura...

– Então Angelina saiu na janela e me viu lutando com aquelas aves malignas... – narrava Eva animadamente, até bater os olhos na filha e parecer ficar vidrada. – Laure, para o quarto. Agora!

– O que eu fiz?!

– Não interessa... Eu mandei ir para o quarto e disse A-GO-RA!

– Eva, mas a menina nem comeu... – interveio Kimberly.

– Essa criatura não tem que comer – disse com furor. – Para cima. JÁ!

– Eu não vou.

– Ah, não?! – ironizou Eva rindo.

– Não! A senhora diz que a minha mãe, mas me trata pior que a um cachorro.

Eva ergueu as sobrancelhas e avançou para a cozinha, ficando de frente para a filha:

– Escute aqui – começou ela perigosamente –, o meu maior erro foi colocar um demoniozinho como você no mundo, portanto, sinta-se em divida comigo por eu ter feito tamanha maldade com a humanidade. Não questione como eu lhe trato, pois qualquer tratamento que tenha um pouco de clemência é mais do que você merece. Agora suba para o seu quarto e não saia de lá enquanto eu estiver acordada, estamos entendidas?

Laure estava de braços cruzados, olhando tediosamente para a mãe. Quando ela acabou a menina apenas levantou-se e saiu da cozinha.

– Como a senhora desejar, mamãe! – disse Laure enquanto subia as escadas.

A porta do quarto da menina bateu num estrondo.

– Eva, você é minha amiga, mas é crueldade o que está fazendo com Laure – disse Kimberly entrando na cozinha. – Escute, ela é sua filha e você a trata como se fosse uma praga. Ela é uma menina doce, tira boas notas, não nos trás preocupação, sempre ajuda quando pedimos, acho até que tem um namoradinho, aquele Victor parece muito apegado a ela...

– Não seja tola! – disse Eva balançando negativamente a cabeça, e retirando uma garrafa d’água da geladeira. – Desde o momento que essa menina nasceu soube a imbecilidade que fiz em decidir tê-la.

– Fala como se não gostasse dela.

– E não gosto. Adoro crianças, adoro pessoas, mas ela não é humana. Eu pari um demônio!

– Você está, definitivamente, enlouquecendo... – disse Kimberly que não admitia ouvi-la falar tão mal da afilhada. – Laure é um anjo!

– Lúcifer também foi um anjo, Kim – interpôs Eva, sentando-se á mesa. – E se não acredita em mim, experimente um dia olhar nos olhos de Laure. Mas antes retire toda essa imagem santificada que você faz dessa menina. Olhe dentro dos olhos e você verá a alma dela, verá o quão horrível ela é!

Kimberly manteve-se calada.

* * *

Laure saiu do quarto apenas de madrugada, com o cabelo dividido em duas tranças, descalça e vestindo camisola de algodão. Estava com o estômago doendo de fome. Desceu sorrateiramente as escadas, para não acordar ninguém. Mirou com dificuldade o relógio da sala escura, vendo que já passava das duas da manhã.

Ligou a luz da cozinha e tomou um susto. Parada á janela estava uma coruja marrom, que passou a bicar desesperadamente a vidraça assim que percebeu a presença de alguém no interior do cômodo. Intrigada, Laure abriu a janela e a ave entrou, pousando sobre a mesa.

A grande coruja trazia uma carta amarrada junto às garras; Laure notou que havia o próprio nome escrito no envelope. Pegou a carta, e no mesmo instante a coruja voou para fora sumindo na noite sem luar. O olhar saiu da coruja e pousou no envelope. Era feito de um papel grosso e pesado, parecia pergaminho. Virou-o e viu um selo púrpura gravado com um grande H e as figuras de um leão, texugo, águia e cobra em torno dele. Ela reconhecia aquele selo, já tinha o visto antes...

– Na mente da minha mãe! – concluiu com astúcia. – Era igual a esse. Idêntico!

Não se deu nem ao menos o trabalho de ler o destinatário completo, abrindo o envelope com urgência. Apanhou a carta nas mãos e ali mesmo, no meio da cozinha, começou a ler.

A boca entreabriu-se a cada palavra que lia. As mãos tornaram-se trêmulas e as pernas fracas. Os olhos marejados passaram muitas vezes pelas mesmas palavras, e Laure repetiu a leitura até acreditar que não era uma ilusão. A menina deixou carta e envelope caírem no chão, tampando o rosto com as mãos. Ela chorava. Aquele era o choro que não veio quando nasceu. Laure finalmente nascia.

- A Carta -
ESCOLA DE MAGIA E BRUXARIA DE HOGWARTS

Prezada Srta. Hargrave

Temos o prazer de informar que a V.Sa. tem uma vaga na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Estamos anexando uma lista dos livros e equipamentos necessários. O ano letivo começa em 1º de setembro. Aguardamos sua coruja até 31 de julho, no mais tardar.

Atenciosamente,
Minerva McGonagall, vice-diretora.

Ela passou um bom tempo chorando, com o rosto enterrado nos dedos trêmulos. Não era um choro de tristeza, pelo contrário, Laure nunca havia se sentido tão feliz. Houve momentos de felicidade, mas nada comparado a esse. Quando as lágrimas cessaram, ela afastou as mãos da face, e mirou a carta no chão. As maçãs do rosto pareciam incendiar, e os olhos refletiam uma felicidade irreprimível.

– Eu sempre soube que era especial... – ela disse baixo, agachando-se para pegar a carta. – Eu não nasci para ser mais uma na multidão, e agora tenho certeza disto.

Naquela noite Laure esqueceu-se da fome. A menina não dormiu, mas também não afundou-se na felicidade. Simplesmente voltou ao quarto, e passou o resto da noite escrevendo. Dez, vinte, trinta páginas. Ao amanhecer Laure ficou atrás da porta, escutando com os ouvidos muito atentos a movimentação no corredor dos quartos. A primeira a acordar foi a madrinha (que foi ao banheiro antes das sete), depois de vinte minutos a mãe. Quando ambas desceram para tomar café da manhã a menina deixou o quarto – banhou-se rapidamente, colocando um vestido claro, infantil e sóbrio – e se escondeu perto da escada.

Durante a noite chegou a valiosas conclusões. A primeira é que se ela era uma bruxa, deveria ter “herdado” isso de alguém. A segunda foi que esse alguém era Eva, afinal viu na mente da própria, a carta de Hogwarts ser entregue por uma coruja. A terceira foi que a mãe era uma bruxa, mas não fazia uso disso – o que atribuiu a algo relacionado com o passado da mãe, e, muito provavelmente, ao pai de Laure. Última, e não menos importante, era que se havia uma escola, logicamente havia uma sociedade. Neste caso Laure queria o quanto antes deixar o mundo não-bruxo para viver com os seus, pois nunca suportou a idéia de viver com pessoas normais; sempre os achou sem graça.

Viu o vestido florido da madrinha passando pelo hall de entrada e a porta da sala batendo. Kimberly tinha ido trabalhar. Desceu as escadas e entrou na cozinha. Eva não expressou nenhuma reação ao ver a filha entrar, quanto menos quando essa sentou-se ao lugar da madrinha, servindo-se de suco no mesmo copo de Kimberly usou e passando manteiga nas torradas.

– Ontem eu recebi uma carta... – disse Laure displicentemente depois de algum tempo. Vendo que Eva não esboçava reação continuou. – A carta era de uma escola. Se eu não me engano o nome é Hogwarts, conhece?

Eva engasgou com o chá. Laure sorriu.

Você-não-vai-para-Hogwarts! – guinchou Eva entre os dentes, lançando um olhar fulminante a filha.

– Eu posso saber por quê? – perguntou Laure.

– Claro! – Eva respondeu endireitando-se na cadeira. – Você é uma pequena víbora, e eu não sou doida de mandá-la para Hogwarts. Aprenderia coisas valiosas demais... Faria do mundo o seu reino!

– Minha única ambição é ser bruxa...

– Ser bruxa vai muito além de falar com cobras! – interrompeu Eva com violência. – É um mundo vil que vai bem mais abaixo disso...

– É minha natureza e eu não vou negá-la! – contrapôs.

– Sua natureza é cruel, fria, perversa – bradou Eva olhando com fúria para a filha. – Em Hogwarts apenas alimentaria ela.

– Então é disso que tem medo? De mim?! Tem certeza, mamãe? – Eva estreitou os olhos. Laure continuou. – Vi as lembranças das corujas na sua mente, pude jurar que não era de mim que tinha medo, e sim de tudo o que você largou no passado. Ser bruxa deve ter sido uma péssima experiência para você, não? Ou a péssima experiência foi ter conhecido meu pai?

A menina notou que a mãe pareceu prender a respiração, e que uma das veias próxima à têmpora de Eva pulsava com força.

– NÃO FALE O QUE NÃO SABE! – rugiu Eva batendo os punhos na mesa.

– Se eu não sei – começou Laure em tom baixo – é porque a senhora nunca se deu ao trabalho de contar.

– Ah! Então a pequena gosta de histórias, não? – escarneceu Eva. – Seu pai era bruxo, e o pior canalha que eu já conheci. Ele não me amou. Quando soube que eu não era sangue-puro e que estava grávida, gentilmente mandou alguns amiguinhos acabarem comigo e com você. Fugi para cá e aqui estou.

– É por causa dele que não faz mais magia...

– Eu não faço mais magia – sobrepôs Eva – porque assim que coloquei você no mundo soube que deveria lhe manter longe de qualquer tipo de magia. Mais tarde você me contou os extraordinários feitos que fazia, inclusive falar com cobras. Somente os bruxos extremamente maus e perversos podem falar com cobras. Claro, há exceções, mas duvido que você seja uma. Então, para o seu bem e da humanidade, decido que você não vai para Hogwarts. A magia apenas vai despertar o demônio que vive em você!

Laure estava com os olhos fixos em Eva, mas não se assustava com nenhuma palavra da mãe. Os olhos da menina pareciam ter se transformado: o olhar infantil desaparecera, dando lugar a olhos estreitos, nebulosos e com um irrefutável brilho vermelho.

– Sinto lhe informar, mamãe – disse Laure com frieza –, mas o demônio já despertou!

Eva olhava dentro dos olhos da filha.

– Eu sei disso – disse ela balançando a cabeça, pesarosa. – Entretanto, no que depender de mim, farei o possível para que você nunca ter contato com qualquer tipo de magia!

As feições de Laure endureceram.

– Você não pode fazer isso.

– Claro que posso! – exclamou Eva levantando-se. – Eu sou sua responsável, além do que, creio que você não saiba mandar corujas para a confirmação da sua vaga.

Dizendo isso Eva deu as constas a Laure, saindo da cozinha e rumando á porta da sala. Abria a porta para deixar a casa quando essa se fechou repentinamente. Eva olhou em volta, e viu Laure parada á porta da cozinha.

– Sinto muito, mamãe, mas não estou disposta a viver num mundo que não é meu sabendo que eu sou uma bruxa – disse a menina com uma calma que não correspondia ao olhar que mantinha. – Podemos fazer um acordo. A senhora e eu voltaremos a viver na sociedade bruxa...

– NUNCA! – bradou Eva abrindo novamente a porta, para esta ser fechada apenas com um olhar de Laure, com o dobro de força que antes.

– Entendo que ainda esteja traumatizada, mesmo depois de tanto tempo – disse aproximando-se. – Então faremos o seguinte, você fica e eu vou, não precisará rever meu pai e...

– Não me preocupo com Lucius! – Eva se quer pareceu ter notado falar o nome. – Eu não vou deixar você ir para Hogwarts porque você é má! Indo para lá se destruiria e a todos que estão a sua volta...

– Duvido que esteja se importando comigo ou com qualquer coisa que aconteça no meu futuro – falou Laure amargamente. – Só se importa com os outros, nunca comigo. Sempre foi assim e sempre será! Nunca se importará com a minha felicidade.

– Realmente eu não me importo nenhum pouco com você – disse Eva aproximando-se de Laure, e abaixando-se, para ficar com os olhos na altura dos da filha. – Você nasceu de mim, mas nunca vou me importar com sua felicidade, e você sabe por quê? Porque eu filha, eu sei quem você realmente é, sei até mesmo mais que você. Portanto, o meu maior desejo é dificultar o máximo que seja bruxa, nem que para isso eu tenha que dar a minha vida.

Laure, que olhava tediosamente para a mãe enquanto ela falava, apenas assentiu quando esta terminou de falar e foi se sentar na escadaria, cabisbaixa. A mulher levantou-se e abriu a porta, dando uma última olhada na filha antes de partir. Eva não conseguiu ver, mas atrás do cabelo rubro que tampava o rosto de Laure, os lábios estavam levemente curvados num sorriso pernicioso.

– Cuidado com o que deseja, mamãe! – murmurou Laure. – Os desejos teimam em se tornar reais...

A menina ficou em completo silêncio. Podia-se ouvir apenas a leve respiração de Laure, e o barulho do relógio da sala. Ela fechou os olhos, e agarrou com força a barra do vestido. O barulho da respiração cessou, mas voltou assim que escutou um alarde vindo da rua.

Laure levantou-se, os olhos espantados, e correu para a porta, abrindo-a. Havia muitas pessoas em torno de uma caminhonete azul, parada no meio da rua. O motorista descia da cabine. Laure passou por entre as pessoas e chegou ao centro da aglomeração. O corpo de Eva estava debaixo da caminhonete, e somente os olhos castanhos miravam o céu. Ela não piscava, não respirava. Dos cabelos vermelhos escorria sangue.

Eva estava morta.

* * * * *

N/A: Desculpem-me a demora para atualizar. Reescrevi esse capítulo exatamente 10 vezes até chegar nesse resultado que leram. Também jurei a mim mesma que só atualizaria minhas fics quanto terminasse todo o planejamento (desta e da Herdeira de Ravenclaw).

Creio que todos notaram a mudança de nomes da fic. Mentes Assassinas era, a principio, somente a primeira parte da fic. A segunda chamaria-se o Grande Golpe. Depois de terminar todo o planejamento decidi fazer uma única fic (mesmo que fique bem grandinha), e por isso mudei o nome. Outra mudança importante é que agora a fic tem beta: Hata Malfoy será a pessoa que atormentarei com toneladas de perguntas (brincadeira...!).

Quero agradecer muito aos novos leitores e aos antigos que continuam acompanhando a fic, vocês são as razões pela qual eu escrevo.

Por favor, comentem!

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