NA SEXTA-FEIRA 13



Primeira Parte


- Capítulo Um -
NA SEXTA-FEIRA 13


ERA UMA VEZ um pequeno vilarejo chamado Red Lodge, muito além dos campos de trigo e centeio do leste da Inglaterra, onde não existia nem acontecia nada de extraordinário. Como qualquer outro pequeno vilarejo, era constituído por casas, uma escola primária, alguns comércios, e uma pracinha, onde também situava-se a igreja e o cemitério. As ruas do lugar eram estreitas, e nessa época do ano, começo de primavera, estavam cobertas pelas flores que caíam das árvores.

Parada, no início de uma dessas ruas, estava uma mulher visivelmente cansada, vestida com roupas surradas e botas velhas. Tinha cabelos muito vermelhos caindo em cachos pelas costas, olhos castanhos, de expressões finas e belas. Trazia em uma das mãos um malão, enquanto a outra passava nervosamente na grande barriga de grávida. Esta era Eva Hargrave, dezenove anos, grávida de sete meses.

Eva perdeu os pais ainda quando menina, e passou a morar com a avó em Londres, numa pequena casa próxima da estação King’s Cross. Herta, a avó e única familiar viva, não era conhecida por ser amorosa. A primeira atitude com Eva foi tirar-lhe todos os brinquedos, afinal, se queria casa e comida teria que trabalhar para isso. Herta arrumou-lhe um emprego mal-remunerado num restaurante a duas quadras da escola, de onde saía e ia direto para o trabalho.

O tempo passou, Eva fez onze anos (fato que foi esquecido pela avó). Nesta época corujas passaram a cercar a casa e dormir no telhado. Herta não se importava com elas, mas a menina ficava intrigada. Até que num dia de verão uma delas bicou a vidraça da janela do quarto de Eva, trazendo uma carta presa as garras. A carta era de Hogwarts, e dizia que Eva era uma bruxa. A menina nunca havia feito nada de mágico ou fantástico, na própria opinião, mas faria qualquer coisa para livrar-se da avó.

Os sete anos que se seguiram aconteceram muitas coisas. Eva estudava magia, Herta faleceu, os amigos mudaram-se, e logo Eva saída de Hogwarts para ficar sozinha no mundo. Mas não por muito tempo. Logo ela conheceu um funcionário do Ministério da Magia e apaixonou-se por ele. Era um homem alto, belo na visão dela, de olhos e cabelos muito claros, com uma postura arrogante, responsável por parte do fascínio que Eva sentia. Ele era Lucius Malfoy.

O senhor Malfoy era casado, e Eva estava grávida dele. Quando soube desse fato ele tratou de dispensá-la: não queria que o mundo descobrisse que teve algo com uma nascida trouxa, principalmente quando esse algo era um filho. Porém Eva estava apaixonada. Ela tentou dar poções do amor, fazer chantagem, até mesmo falar com a esposa dele; falhou em todas as tentativas. Cansado de tudo aquilo, Malfoy mandou alguns amigos, de caráter muito duvidoso, darem um fim ao problema. A casa de Eva foi destruída, e, por muito pouco, ela também. No mesmo dia fez as malas e tomou um trem para fora de Londres.

Viu-se dentre casas de dois andares quase idênticas. Retirou um papel do bolso, onde estava escrito o endereço de uma amiga de infância. Mirou a placa enferrujada da rua, onde lia-se Middenhall Street, e tornou a andar, pisando com a botina velha sobre as flores que despencavam das árvores no asfalto. Avançou pelo jardim de cercas vermelhas, batendo na porta da casa número 113. Escutou alguém gritando um “Já vai” dentro da casa e passos próximos da porta, que se abriu no instante seguinte, mostrando uma jovem loira de olhos azuis, que usava óculos retangulares, avental e vestido florido.

– Eva! – cumprimentou abraçando a mulher grávida. – Como vai?

– Não muito bem, Kimberly... Tempos difíceis esses, não?

Kimberly apenas sorriu singelamente e deu espaço para Eva entrar. A casa não era muito grande, nem luxuosa. Tinha piso de madeira escura e papel verde musgo com detalhes na maioria dos cômodos. Os móveis também eram de madeira velha e forte. A escada para o andar de cima era a primeira coisa que se via ao entrar na casa. Ao lado estava uma porta que levava a sala e outra, do lado oposto, que levava a cozinha.

– Tem um quarto sobrando lá em cima, arrumei para você depois que ligou – avisou Kimberly. – Deixe a mala aqui e vamos para a cozinha. Você precisa me contar o que está acontecendo!

Eva simplesmente assentiu e seguiu a dona da casa. A conversa foi longa e cheia de improvisações, visto que Kimberly era uma trouxa, e seria loucura dizer a ela que passou sete anos estudando numa escola de bruxaria na Escócia. Então disse a amiga que esteve num internato, e que antes de morrer Herta pagou os anos que faltavam para a menina não ficar sem estudar (fato que foi bem aceito por Kimberly, que não conhecia Herta). Sobre a gravidez disse a plena verdade: Apaixonou-se por um funcionário do Ministério que era casado. Eva só não mencionou que ele trabalhava no Ministério da Magia. Ambas ficaram muito satisfeitas com a história.

Kimberly trabalhava num antiquário – lugar onde comprou boa parte dos móveis da casa – e Eva ficava na rua Middenhall, 113, cuidando da janta e tricotando algo para o bebê. As duas passavam o tempo livre conversando sobre a infância que viveram juntas, assistindo filmes na televisão, ou outras coisas triviais. E assim o tempo passou, até chegar sexta-feira, 13 de maio.

Era tarde da noite. As lufadas de vento faziam a chuva bater com força nas vidraças da velha casa. No quarto do andar de cima Eva gritava, segurando na cabeceira da cama. Estava em posição de parto há mais de duas horas, quando a bolsa estourou. As contrações vinham com mais freqüência, e com mais freqüência Eva gritava.

– Vai nascer! – berrou Eva apertando o lençol da cama.

– O Dr. Frazier disse que já vinha...

– Kimberly, isso faz mais de duas horas! – bradou angustiada. – Está caindo a pior chuva do ano lá fora, a estrada para o vilarejo é de barro... Ele não vai chegar aqui hoje!

As amigas trocaram olhares desesperados. Fez se um longo silêncio até Eva gritar novamente. Estava com lágrimas nos olhos quando Kimberly se levantou e saiu do quarto. Voltou alguns minutos depois com um balde de ferro e uma chaleira com água fervendo. Deixou-os perto da cama, abriu uma gaveta da cômoda onde tirou uma caixa com tesouras e panos brancos limpos.

Pôs-se na frente de Eva, forrando os panos e deixando alguns ao lado. Sorriu para a amiga e disse:

– Faça força, eu vou fazer seu parto.

Eva não sorriu, nem se expressou. Apenas respirou fundo, fechou os olhos e fez força. Gritos, gemidos, sussurros, suspiros. Meia hora depois disso, tudo ficou em pleno silêncio. Não houve choro, não houve lágrimas, houve apenas silêncio. Tinha nascido.

– Está vivo? – perguntou Eva arfando.

Viva – corrigiu Kimberly trazendo o bebê para perto da mãe. – É uma menina, e muito esperta por sinal. Nasceu de olhos abertos...

Colocou a criança nos braços da mãe. Eva não carregava uma expressão feliz. Havia algo como ódio, repugnância e desprezo no rosto dela ao ver a filha. Kimberly não notou isso, parecia ser ela a mãe, sorria sem tirar os olhos da recém nascida.

– Qual vai ser o nome dela? – perguntou curiosa. – Já havia pensado no nome, não?

– Pensei que fosse um menino... – disse Eva indiferentemente. – Ia ser Justin, mas agora, eu realmente não sei.

– Dê o nome da tua mãe.

– Laura? – perguntou espantada. – Nunca gostei desse nome.

– Laure – sugeriu Kimberly. – Laure Justine!

Eva pareceu considerar alguns instantes. Olhava a filha. Tinha olhos claros como o pai, mas o pouco cabelo que nasceu era tão ruivo quanto o dela. Os traços também eram de Eva, finos e belos.

– É um bom nome... – disse depois de um tempo. – Laure Justine Hargrave.

Surgia a bruxa que seria profundamente amada e odiada por uma legião dos seus.

* * * * *

N/A: Quase um prólogo, sim eu sei. E por quê não foi nomeado como prólogo? Pois meu instinto sonserino não deixou, e berrou “isso é um capítulo!”.

Instintos à parte, esse é apenas o começo da história, então peço que comentem, critiquem e, se gostarem (ou não), continuem acompanhando os capítulos.

Ah, e só mais uma informação, para vocês entenderem melhor a fic. Laure nasceu em 1977, o mesmo ano que Cedrico Diggory e Angelina Johnson, Voldemort já estava no poder e faltava três anos para Harry Potter nascer. Todas as datas foram retiradas de “The Harry Potter Lexicon” (www.hp-lexicon.org).

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