Convite de aniversário



Gina chegou em casa e acenou para Laura e Luna, que estavam encostadas no muro de seu jardim sob o sol. Elas deram um pulo assim que a viram e vieram cumprimentá-la.

“Deus, vocês chegaram aqui rápido,” ela disse tantando pôr alguma energia na voz. Ela se sentia completamente exausta e, na verdade, não estava no clima de explicar tudo para as garotas agora. Mas tinha que fazê-lo.
“A Laura saiu do trabalho assim que você ligou e passou lá em casa para me pegar,” Luna falou enquanto estudava a expressão de Gina tentando adivinhar o quão ruim era a situação.
“Oh, não precisavam fazer isso,” a ruiva disse sem vida ao colocar a chava na porta.

“Ei, andou trabalhando no seu jardim?” Laura perguntou, olhando em volta e tentando amenizar o clima.
“Não, o meu vizinho fez isso, eu acho.” Gina retirou a chave da fechadura e procurou pela correta no molho do chaveiro.
“Você acha?” Luna tentou manter a conversa fluindo enquanto Gina lutava já com outra chave na fechadura.

“Bem, ou é o meu vizinho ou um pequeno duende mora num cogumelo do meu jardim,” ela atirou, ficando frustrada com as chaves. Luna e Laura se entreolharam e tentaram resolver o que fazer. Gesticularam uma para a outra para ficarem quietas já que Gina estava obviamente estressada e tendo dificuldades para lembrar qual das chaves era a da porta.

“Ah, mas que merda!” Gina gritou e jogou as chaves no chão. Luna pulou para o lado escapando por pouco do machucado que o chaveiro faria nos seus tornozelos.

Laura pegou as chaves do chão. “Ei, querida, não ligue,” ela disse bondosa. “Isso acontece comigo o tempo todo, juro que essas malditas coisas ficam pulando e trocando de lugar no chaveiro só para nos irritar.”
Gina sorriu cansada, grata por alguém poder tomar o controle por um minuto. Laura foi tentando as chaves, uma por uma, falando com ela calmamente numa voz macia como se se dirigisse a uma criança. A porta finalmente se abriu e Gina correu para desativar o alarme.

“Muito bem, fiquem à vontade aqui na sala que eu já virei em um instante.” Laura e Luna obedeceram e Gina rumou para o banheiro para jogar água fria no rosto. Quando se sentiu um pouco mais recuperada do susto, foi para a sala.

Ela sentou-se de frente para as meninas.
“OK, não vou entregar essa de mão beijada. Abri o envelope de Julho hoje e era isso que ele dizia.” Ela procurou na bolsa pelo cartãozinho que estivera anexado ao papel de catálogo e estendeu-o para as amigas. Lia-se:



Tenha boas férias, meu amor!
PS, Eu te amo...




“É só isso?” Luna enrugou o nariz nada impressionada. Laura a cutucou nas costelas. “Ai!”
“Bem, Gina, achei que é um bilhete adorável,” Laura mentiu. “É tão... atencioso.”

Gina teve que rir. Sabia que a amiga estava mentindo porque ela sempre inflava as narinas quando não dizia a verdade. “Não, sua besta!” ela disse, batendo em Laura com uma almofada.
Laura começou a rir. “Ah, ótimo, porque estava começando a ficar preocupada por um minuto.”
“Laura, você é sempre tão companheira que me dá nojo às vezes!” Gina exclamou. “Mas olha só o que também estava no envelope.” Ela lhes entregou a página rasgada do catálogo.

Ela observou com divertimento as meninas tentarem decifrar a caligrafia fina de Draco até que Luna finalmente levou as mãos à boca. “Oh, meu Deus!” ela quase engasgou sentando se muito ereta no sofá.
“O quê, o quê, o quê?” Laura perguntou e se inclinou para a frente animada. “O Draco lhe comprou uma viagem?”
“Não.” Gina balançou a cabeça séria.
“Ah.” Laura e Luna afundaram nas almofadas, decepcionadas.

Gina esperou um silêncio desconfortável se formar entre elas antes de falar novamente.
“Garotas,” ela disse com um sorriso começando a percorrer seu rosto,” ele nos comprou uma viagem!”

As meninas abriram uma garrafa de vinho.
“Oh, isso é incrível,” Luna disse depois que a ficha caiu, “o Draco é um fofo.”
Gina concordou com a cabeça, sentindo-se orgulhosa do marido que, mais uma vez, conseguira surpreender todos.

“E você falou com essa tal Barbara?” Laura perguntou.
“Sim, e ela foi muito legal,” Gina sorriu. “Ela ficou sentada comigo séculos, me contando sobre a conversa que tiveram naquele dia.”
“Que legal da parte dela.” Luna bebericou o vinho. “A propósito, quando foi isso?”
“Ele foi lá no fim de Novembro.”
“Novembro?” Laura disse pensativa. “Isso foi depois da segunda operação.”
Gina acenou com a cabeça. “A moça disse que ele estava bem fraco quando chegou lá.”
“Não é engraçado que nenhum de nós fazia nenhuma idéia?” Laura disse ainda impressionada com aquilo tudo.
Todas concordaram silenciosamente.

“Bem, parece que estamos de saída para Lanzarote!” Luna gritou alegremente e levantou seu copo. “Ao Draco!”
“Ao Draco!” Gina e Laura imitaram o gesto.
“Têm certeza de que o Blaise e o Tom não vão se importar?” Gina perguntou repentinamente consciente de que as garotas tinham parceiros em quem pensar.
“Claro que Blaise não se importará!” Laura riu. “Ele provavelmente ficará satifeitíssimo de se livrar de mim por uma semana!”
“É, e Tom e eu podemos viajar a qualquer outra hora,” concordou Luna.
“É, vocês praticamente já moram juntos!” Laura disse, cutucando a amiga.

Luna sorriu rapidamente mas não falou mais nada e as duas deixaram o assunto morrer. Aquilo irritava Gina porque elas estavam sempre fazendo isso. Ela queria saber como suas amigas estavam em seus relacionamentos mas ninguém parecia querer contar a ela nenhuma das coisas boas com medo de machucá-la. As pessoas pareciam estar com medo de lhe dizer como estavam felizes ou sobre as boas notícias em suas vidas. Mas eles também se recusavam a reclamar das coisas ruins. Então ao invés de ficar informada do que andava realmente acontecendo nas vidas de suas amigas, Gina ficava com aquela conversinha medíocre sobre... nada, na verdade, e aquilo a estava incomodando. Não podia ficar protegida da felicidade dos outros a vida inteira, que bem lhe faria aquilo?

“Devo dizer que o duende está fazendo um ótimo trabalho no seu jardim, Gina,” Luna interrompeu seus pensamentos e ela olhou pela janela.
Gina corou. “É, eu sei. Me desculpe por ter sido tão grossa mais cedo, Luna,” ela se desculpou, “acho que devo ir até lá agradecê-lo devidamente.”
Depois que Luna e Laura foram embora, Gina pegou uma garrafa de vinho da adega e carregou-a até a porta do vizinho. Ela tocou a campainha e esperou.

“Oi, Virgínia,” Derek disse, abrindo a porta. “Entre, entre.” Gina olhou sobre os ombros dele e viu a família jantando à mesa da cozinha. Ela se afastou um pouco da porta.
“Não, não irei incomodá-lo, só vim para te dar isto” –ela lhe entregou a garrafa de vinho -“como um símbolo da minha gratidão.”

“Bem, isso é muito atencioso da sua parte,” ele disse, lendo a embalagem. Então ele a olhou com uma expressão confusa no rosto. “Mas gratidão pelo quê, se não se importa que eu pergunte?”
“Oh, por arrumar o meu jardim,” ela disse corando. “Tenho certeza de que o bairro inteiro estava me xingando por estragar a aparência da rua,” ela riu.
“Virgínia, o seu jardim certamente não é uma dor-de-cabeça para ninguém; nós todos entendemos. Mas não tenho arrumado ele para você, sinto em dizer.”

“Oh.” Gina limpou a garganta sentindo-se muito constrangida. “Achei que tivesse.”
“Não, não.” Ele balançou a cabeça.
“Bem, não saberia quem anda fazendo isso?” ela riu como uma idiota.
“Não, não faço idéia,” ele disse, parecendo muito confuso. “Achei que fosse você, para ser honesto. Que estranho.”
Gina não estava muito certa sobre o que dizer então.
“Então talvez queira pegar isto de volta,” ele disse constrangido estendendo-lhe a garrafa.
“Oh, não, tudo bem,” ela riu novamente, “pode ficar com isso como gratidão por... não serem vizinhos infernais. De qualquer maneira, vou te deixar livre para jantar.” Ela atravessou a rua correndo e com o rosto escarlate de vergonha. Que tipo de idiota não saberia quem estava cuidando de seu próprio jardim?

Ela bateu em mais algumas portas no bairro e, para seu constante constrangimento, ninguém parecia saber do que ela estava falando. Todos pareciam ter empregos e vidas e não passavam os dias monitorando seu jardim. Ela voltou para casa ainda mais confusa. Enquanto abria a porta, o telefone tocou e ela correu para atendê-lo.

“Alô?” ela arfou.
“O que estava fazendo, caçula, correndo uma maratona?”
“Não, estava procurando um duende,” Gina explicou.
“Oh, legal.”
O mais estranho foi que Fred nem mesmo a questionou.
“É o aniversário da Morgana em duas semanas.”

Gina havia esquecido completamente. Não comemorava aquela data havia tanto tempo... “É, eu sei,” ela mentiu.
“Bem, a mãe e o pai querem que jantemos todos em família...”
Gina gemeu alto.
“Exatamente,” e ele gritou longe do telefone, “Pai, a Gina disse a mesma coisa que eu.”

Gina riu ao ouvir o pai resmungar ao fundo.
Fred voltou ao telefone e falou alto para que o pai pudesse ouvir, “OK, a minha idéia é continuar com o jantar mas chamar alguns amigos para que a noite possa realmente ser boa. O que acha?”
“Acho que Morgana deveria decidir.”
“Ela disse que tanto faz.”
“Então achei ótimo,” Gina concordou.

Fred gritou novamente longe do telefone, “Pai, Gina concorda com a minha idéia.”
“Muito bem,” Gina ouviu Arthur gritar, “mas não vou pagar para esse povo todo comer.”
“Ele tem razão nisso.” E Gina emendou, “É o seguinte, por que não fazemos um churrasco? Assim o papai pode fazer o que gosta e não será muito caro.”
“Ei, ótima idéia, Gininha!” E ele gritou novamente para o pai, “Pai, o que acha de fazermos um churrasco?”

Houve um silêncio.
“Ele adorou a idéia,” Jorge riu. “O super chef irá cozinhar para as massas mais uma vez. Oh, espere um minuto, Morgana quer falar com você.”

Enquanto esperava na linha, Gina também riu com aquilo. Seu pai ficava tão animado quando faziam churrascos; ele levava tudo tão a sério que ficava plantado ao lado da churrasqueira namorando suas criações. Draco fora assim também. O que tinham os homens e churrascos? Provavelmente era a única coisa que eles sabiam cozinhar; ou isso ou eram todos piromaníacos.

“Alô, prima.” Morgana atendeu o telefone. “Pode chamar o Blaise e a Laura, a Luna e o DJ dela e aquele Daniel para virem também? Daniel é lindo!” ela riu histericamente.
“Morgana, mal conheço o cara. Peça a Jorge para convidá-lo, eles se vêem o tempo todo.”
“Não, porque quero que você diga sutilmente a ele que eu o amo e que quero ter seus filhos. Por algum motivo, acho que o Jorge não se sentiria muito confortável fazendo isso.”

Gina gemeu.
“Pare!” Morgana avisou, “Ele será o meu presente de aniversário.”
“OK,” Gina desistiu, “mas por que quer os meus amigos presentes? E os seus amigos?”
“Gina, perdi contato com todos os meus amigos, não falo com eles há tanto tempo... E todos os meus outros amigos estão na Austrália e os idiotas nem se importaram de me ligar.” Ela deu um muxoxo.

Gina sabia a quem ela estava se referindo. “Mas não acha que esta seria uma ótima oportunidade para botar a conversa em dia com os velhos amigos? Sabe, convide-os para o churrasco; é uma atmosfera leve, relaxada.”
“Tá bom,” ela disse sarcasticamente, “o que vou dizer a eles quando começarem a perguntar as coisas? Está trabalhando? Eh... não. Tem namorado? Eh... não. Onde está morando? Eh... na verdade, estou morando de favor na casa dos meus tios. Eu soaria patética.”

Gina desistiu. “Muito bem, que seja... de qualquer modo, vou ligar para os outros e...”
Morgana já tinha desligado.

Gina decidiu se livrar logo da ligação mais constrangedora e discou o número do Hogan’s.
“Alô, Hogan’s.”
“Oi, poderia falar com o Daniel Connolly, por favor?”
“Sim, espere um minuto.” Ela foi posta na espera e “Greensleeves” tocou alto em seu ouvido.

“Alô?”
“Oi, Daniel?”
“Sim, quem fala?”
“É Gina Weasley.” Ela dançou nervosamente pelo quarto, esperando que ele reconhecesse o nome.
“Quem?” ele gritou quando o barulho ao fundo ficou mais alto.
Gina mergulhou na cama morrendo de vergonha. “É Gina Weasley. A irmã do Jorge?”
“Oh, e aí, Gina, espere um segundo enquanto vou para algum lugar mais quieto.”

Gina ficou ouvindo “Greensleeves” novamente e então começou a dançar e cantar pelo quarto.
“Desculpe, Gina,” Daniel disse, atendendo o telefone e rindo. “Você gosta de ‘Greensleeves’?”
O rosto de Gina ficou mais vermelho que suas mechas ruivas e ela se deu um soco na testa. “Em, não, não muito.” Ela não sabia o que dizer até que se lembrou do motivo pelo qual tinha ligado.
“Só liguei para convidá-lo para um churrasco.”
“Ah, ótimo, adoraria ir.”
“É aniversário da Morgana daqui a uma semana, na sexta; conhece a minha prima, Morgana?”
“Eh... sim, a que ficou me abraçando.”

Gina riu. “É, que pergunta idiota, todos conhecem a Morgana. Bem, ela queria que eu te convidasse para o churrasco e que te dissesse sutilmente que ela quer casar com você e ter seus filhos.”
Daniel começou a rir. “É... isso foi bem sutil mesmo.”

Gina se perguntou se ele estaria interessado em sua irmã, se ela era o tipo dele.
“Ela faz vinte e cinco anos,” Gina sentiu a necessidade de dizer por algum motivo.
“Ah... certo.”
“Em, bem, Luna e o seu amigo Tom também vão e o Jorge vai estar lá com a banda, então conhecerá bastante gente.”
“Você vai?”
“Claro!”
“Ótimo, então conhecerei ainda mais gente, não é?” ele riu.
“Oh, ótimo, ela vai adorar que você vai.”
“Bem, me sentiria rude se recusasse o convite de uma princesa.”

Primeiro Gina achou que ele estivesse flertando, mas então percebeu que ele se referia ao documentário. Ela apenas murmurou uma resposta incoerente. Ele estava prestes a desligar o telefone quando um pensamento repentinamente lhe veio à mente, “Ah, mais uma coisinha.”
“Manda,” ele disse.
“Aquele emprego no bar ainda está disponível?”

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