O show de Gina



“Virgínia Weasley? Você está aqui?” a voz do apresentador do karaokê ecoou pelo lugar. Os aplausos das pessoas morreram e viraram um burburinho agitado e todos olhavam para os lados procurando Gina. Bem, eles procurariam por muito tempo, ela pensou ao abaixar o assento da latrina e sentar-se para esperar que todos se acalmassem e o próximo cantor subisse ao palco. Ela fechou os olhos, segurou a cabeça com as mãos e rezou para que aquele momento passasse. Ela queria abrir os olhos e estar a salvo em casa, a uma semana daquele momento. Ela contou até dez, rezando pelo milagre, e então abriu-os novamente.

Ela ainda estava no cubículo.

Gina sabia que isso iria acontecer; desde o momento em que abrira a terceira carta de Draco ela previra lágrimas e humilhação. Seu pesadelo havia se tornado realidade.

Lá fora, o público estava bem quieto e ela sentiu calma ao perceber que eles estavam seguindo em frente com a próxima vítima. Seus ombros relaxaram, ela desfez os punhos, soltou a mandíbula e o ar entrou mais facilmente em seu pulmão. O pânico passara, mas ela decidiu esperar o concorrente seguinte começar a música antes de sair dali. Ela não podia nem sair pela janela porque não estava no térreo. A não ser que quisesse mergulhar para a sua própria morte.

Fora do cubículo, Gina ouviu a porta do banheiro ser aberta e batida. Oh-oh, eles estavam vindo atrás dela. Quem quer que eles fossem.

“Gina?”

Era Laura.

“Gina, sei que está aí, então apenas me escute, está bem?”
Gina fungou, segurando mais um pouco as lágrimas que estavam começando a se acumular.

“Muito bem. Sei que isso é um completo pesadelo para você e sei que você tem o maior grilo com tudo isso, mas você precisa relaxar, entendeu?”
A voz de Laura era tão calmante que os ombros de Gina relaxaram novamente.

“Gina, odeio ratos, você sabe disso.”
Gina enrugou as sobrancelhas, se perguntando o que aquilo tinha a ver com sua situação e aonde aquela conversinha didática estava indo.
“E o meu maior pesadelo iria ser sair daqui e entrar num quarto cheio de ratos. Você consegue me imaginar?”

Gina sorriu com o pensamento e se lembrou do tempo em que Laura fora morar com Draco e ela por duas semanas depois de encontrar um rato na sua casa. A Blaise, claro, foram concedidas visitas conjugais.

Mas, antes que Laura pudesse continuar sua história...

“O quê?” a voz do DJ disse no microfone e então ele começou a rir, “Senhoras e senhores, parece que a nossa cantora está atualmente no toalete.” A multidão soltou altas risadas.

“Laura!” A voz de Gina tremia de medo. Ela sentia como se uma multidão raivosa fosse arrombar a porta, arrancar suas roupas e carregá-la por cima de suas cabeças para que ela fosse executada no palco. O pânico tomou conta dela pela terceira vez. Laura se apressou em falar a próxima frase. “De qualquer forma, Gina, o que estou tentando lhe dizer é que você não tem que fazer isso se não quiser. Ninguém aqui está te forçando...”

“Senhoras e senhores, vamos avisar a Virgínia que ela é a próxima!” gritou o DJ. “Vamos lá!” Todos começaram a bater os pés no chão e chamar por ela.

“Certo, bem, pelo menos ninguém que se importa com você a está forçando a fazer isso. Mas se não o fizer, sei que nunca vai se perdoar. Draco queria que fizesse isso por uma razão.”

“VIRGÍNIA! VIRGÍNIA! VIRGÍNIA!”

“Ai, Laura!” Gina falou, o pânico evidente em sua voz. De repente, parecia que as paredes do cubículo estavam ficando mais e mais apertadas; o suor brotou em sua testa. Ela tinha que sair dali. Ela saiu abruptamente da pequena cabine. Os olhos de Laura se arregalaram com a visão da amiga que parecia ter visto um fantasma. Os olhos de Gina estavam vermelhos e inchados com linhas de rímel preto descendo pelas bochechas (aquela coisa de ser a prova d’água nunca funcionava) e as lágrimas haviam tirado de seu rosto qualquer vestígio de maquiagem.

O lábio inferior de Gina começou a tremer.
“Não!” Laura disse, pegando-a pelos ombros e olhando-a nos ombros. “Nem pense nisso!”
O lábio da ruiva parou de tremer, mas o resto de seu corpo não. Finalmente, ela quebrou o silêncio. “Não sei cantar, Laura.” ela sussurrou, os olhos arregalados de terror.

“Eu sei disso!” Laura disse rindo. “E a sua família sabe disso! Que se dane o resto deles! Você nunca mais vai ver as caras feias desse povo! Quem se importa com o que eles pensam? Eu não, e você?”
A ruiva pensou por um minuto. “Não,” ela sussurrou.
“Não ouvi, o que você disse? Você se importa com o que eles pensam?”
“Não,” ela disse um pouco mais forte.
“Mais alto!” Laura a sacudiu pelos ombros.
“Não!” ela gritou.
“Mais alto!”
“NÃÃÃÃÃÃO! NÃO ME IMPORTO COM O QUE ELES PENSAM!” Gina gritou tão alto que a multidão mergulhou num silêncio instantâneo. Laura parecia estar um tanto abalada, provavelmente um pouco surda, e ficou congelada no mesmo lugar por um tempo. Então, as duas sorriram e começaram a gargalhar da estupidez da coisa toda.

“Só deixa esse ser mais outro dia bobo da Gina para podermos rir disso daqui a alguns meses,” Laura deu sua última cartada.

Gina olhou uma última vez para o seu reflexo no espelho, limpou os borrões de rímel, respirou fundo e marchou para a porta. Abriu-a e deu de cara com seus adoráveis fãs, que a estavam encarando e cantando seu nome. Todos soltaram vivas quando a viram, então a ruiva se curvou teatralmente e foi até o palco sob o som de palmas, risadas e um grito de Laura, que dava socos no ar e dizia, “Que se ferrem todos!”

Toda a atenção da platéia estava nela. Ela estava com os braços cruzados, olhando chocada para todos. A música começou e ela nem percebeu, fazendo-a perder os primeiros versos da canção. O DJ tocou a música do começo novamente.

Havia um completo silêncio. Gina limpou a garganta e o som ecoou pelo lugar. Ela olhou para Laura e Luna na platéia pedindo ajuda e a mesa inteira fez um sinal de positivo com o polegar para ela ao mesmo tempo. Normalmente, Gina teria rido de como eles estavam bregas daquele jeito, mas naquela hora aquilo estava sendo extremamente reconfortante. Então, chegou a hora, e ela começou a cantar numa voz tímida e tremida: “What would you do if I sang out of tune? Would you stand up and walk out on me?”

Luna e Laura explodiram em sonoras gargalhadas pela maravilhosa escolha de música e deram grandes vivas. (N/A: Pra quem não sabe inglês, lá vem a tradução: esse primeiro verso da música da Gina quer dizer ‘O que você faria se eu cantasse desafinada? Você sairia e me deixaria sozinha?’ Daí o porquê da risada das meninas.) Gina continuou o sofrimento, cantando terrivelmente mal e parecendo que ia chorar a qualquer minuto. Logo quando achava que ia começar a ouvir as vaias, seus amigos e família começaram a cantar o refrão com ela.

A platéia se virou para olhar a mesa de seus parentes e amigos e caíram na risada; a atmosfera logo ficou menos pesada. Gina se preparou para a nota aguda que vinha a seguir e gritou com toda a força e ar dos pulmões, “Do you neeeeeeed anybody?” Ela mesma conseguiu se assustar com o volume do grito e o chiado que o microfone deu e então algumas pessoas a ajudaram a cantar o resto da letra enquanto ela se recompunha.

Ela recomeçou a cantar e naquele mesmo momento, olhou para a mesa de rostos tão bem conhecidos. E ela o viu. Ali, de pé, bem ao lado da porta do banheiro, Draco estava recostado de lado na parede, seu rosto calmo e sorridente, observando-a cantar com aqueles olhos acinzentados que ela tanto amava e que, naquele momento, tinham a atenção toda voltada para ela como já havia acontecido tantas vezes antes. O coração de Gina deu um pulo e ela quase se esqueceu de continuar a cantar a música. Draco sorriu serenamente para ela e piscou um olho. Ela olhou ansiosa, o coração batendo como louco, para mesa dos amigos, como se querendo perguntar se alguém estava vendo ele ali. Olhou de volta para a porta do banheiro e não viu mais ninguém. Gina teve uma sensação estranha, um sentimento nostálgico se apoderou dela e ela sentiu vontade de chorar de saudades. Não, ela pensou; ele está aqui comigo e eu vou cantar para ele como ele quer que eu faça, como da última vez em que fizemos isso juntos. Sentindo-se feliz, entendendo tudo aquilo e pensando em Draco, ela voltou sua atenção para a música e resolveu aproveitar ao máximo aquela experiência.

““Do you neeeeeeed anybody?” ela repetiu e, sentindo-se mais leve, segurou o microfone na direção da platéia para encorajá-los a cantar, e eles todos completaram, “I need somebody to love.”

Quando ela terminou o show, desceu do palco e Laura e Luna vinham em sua direção.
“Estou tão orgulhosa de você!” Laura disse, jogando os braços em volta do pescoço de Gina. “Foi terrível!”
Rony e Hermione deram vivas e ele gritou “Horrível! Absolutamente péssimo!”

A mãe de Gina sorriu encorajadoramente para ela e seu pai ria tanto que não conseguia olhá-la nos olhos. Tudo o que Fred conseguia repetir toda hora era, “Nunca soube que alguém podia ser tão ruim.”

Jorge acenou para ela da mesa com a câmera na mão e fez aquele sinal de negativo com o polegar. Gina passou o resto da noite sentada escondida à mesa ouvindo todos parabenizarem-na por ser tão terrivelmente ruim. Ela não conseguia se lembrar da última em que se sentira tão orgulhosa.

Blaise se aproximou de Gina e observou silenciosamente o cantor que estava no palco naquele momento. Certa hora, ele tomou a coragem para falar e disse, “O Draco provavelmente está aqui, sabe,” e olhou para ela com os olhos lacrimejantes.

Pobre Blaise, ele sentia saudades de seu melhor amigo também. Gina lhe deu um sorriso encorajador e olhou discretamente na direção da porta do banheiro. Mal sabia ele que estava certo. Ela pôde vê-lo. Ela sempre podia sentir a presença de Draco. Ela podia senti-lo envolvendo a em seus braços fortes e dando-lhe um dos abraços dos quais ela sentia tanta saudade.

Daniel então subiu ao palco para anunciar o vencedor e recebeu assovios e gritos de milhares de garotas. Preocupantemente, uma delas era Luna. Gina ficou muito aliviada por não ter ganhado e abraçou animadamente as amigas. Percy ficou extremamente confuso.

“Eu votei na loira,” Jorge disse apontando para uma das perdedoras com desapontamento.
“Só porque ela tem um peitão!” Gina riu.
“Bem, todos temos nossos talentos...”

Gina olhou em volta e viu que todos estavam ocupados. Blaise e Laura estavam tendo uma pequena discussão, Rony e Hermione estavam se olhando nos olhos como adolescentes apaixonados como sempre e Luna... Onde estava Luna? Então Gina encontrou-a sentada no palco balançando as pernas numa pose provocativa para o DJ. Ela estava sozinha de novo. Por mais que quisesse pegar a bolsa e ir para casa, ela sabia que deveria esperar por todos os seus “convidados”. Além do mais, haveria muitas outras situações em que ficaria sozinha assim, a única solteira no meio dos casais, e ela precisava mesmo se adaptar.

Entretanto, ela se sentia péssima e zangada pelos outros que nem a notavam. Então ela se xingou por ser tão infantil; não podia ter tido amigos melhores. Por um segundo, Gina pensou se essa não teria sido a intenção de Draco. Será que ele pensara que ela precisava daquela situação? Será que ele achara que aquilo a ajudaria? Talvez ele estivesse certo, porque ela estava com certeza sendo testada. Primeiro, cantara em frente a uma multidão e agora estava numa situação difícil, com casais por todo lado. Não importava; qualquer que fosse o plano, ela estava sendo forçada a ficar mais forte e mais corajosa sem ele.

Daniel se aproximou. “Gina, quer alguma coisa para beber?”
“Ah, não, estou bem. Obrigada, Daniel, mas já vou para casa a qualquer minuto mesmo.”
“Ah, não. Esta é a sua noite! Vou pegar alguma coisa, espere aí.”

Ela observou Daniel andar até ela minutos depois com os copos.
“Olha só, parece que a sua amiga está tendo uma noite boa.” Disse ele olhando por cima do ombro de Gina com a expressão divertida.
Gina se virou para olhar e viu Luna e o DJ colados um no outro. Suas poses provocativas haviam obviamente funcionado.
“Oh, não! Não o DJ horrível que me forçou a sair do banheiro,” ela gemeu.
“Aquele é o TomO’Connor da rádio.” Daniel disse. “Uma amigo meu.”

Gina cobriu o rosto com vergonha.

“Ele está aqui hoje porque o karaokê tocou ao vivo no rádio,” ele disse seriamente.
O quê?” Gina quase teve um enfarte pela vigésima vez naquela noite.
A expressão de Daniel se transformou num sorriso divertido. “ Brincadeira; só queria ver a sua cara.”
“Oh, meu Deus, não faça isso comigo!” Gina disse, colocando a mão sobre o coração.

“Se não se importar em responder, se odeia tanto, por que se inscreveu?” ele perguntou cautelosamente.
“Oh, meu marido hilário pensou que seria engraçado inscrever sua esposa desafinada numa competição de cantores.”
Daniel riu. “Você não foi tão ruim assim! O seu marido está aqui?” ele perguntou, olhando em volta. “Não quero que ele pense que estou tentando envenenar a esposa dele com essa mistura louca.” Ele indicou a bebida na mesa com a cabeça.

Gina também olhou em volta e sorriu. “É, ele definitivamente está aqui... em algum lugar.”

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