O trunfo



Capítulo VI
O trunfo

“Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com freqüência poderíamos ganhar, pelo simples medo de arriscar.”
William Shakespeare

Apesar dos pesares era bom estar de volta a Toca, afinal.
Não era o local mais seguro para ele, dizia Moody, mas a casa dos tios deveria ser e mesmo assim não o fora.
Todos tinham certeza que o casal ajudara no plano de tirar Harry da rua dos Alfeneiros, mesmo que involuntariamente. Ele simplesmente não podia continuar num lugar onde não confiava nas pessoas. E foi com esse argumento que convenceu os integrantes mais velhos da Ordem a deixá-lo voltar a Toca. Por hora aquele seria o melhor lugar. Pelo menos para descansarem da noite agitada que tiveram.
Acordou na manhã seguinte antes do amigo, desceu e encontrou Hermione na cozinha, tomando seu café.
O sr. Weasley ainda estava no Ministério, apesar de ser domingo, tentando colocar tudo em ordem depois daquele ataque. Gina e a sra. Weasley haviam saído logo cedo, para visitar o Malfoy no hospital (idéia da mãe da garota).
-Mas é melhor não comentar isso com o Ron. – disse a amiga enquanto lhe servia uma xícara de café bem quente.
Ele tomou um gole da bebida, tentando acordar. Depois encarou a Hermione por algum tempo.
-Me desculpa... – disse sinceramente.
-Pelo que, Harry?
-Por colocá-los, mais uma vez, nas minhas confusões. Não foi prudente irmos ao jogo.
-Foi divertido. – ela sorriu, tentando animá-lo, Harry abriu a boca para contrariá-la, mas ela continuou – Não vamos mais falar sobre isso, está tudo bem agora.
Ele acenou em concordância. Em seguida um longo bocejo os desviou da conversa desagradável.
-Já acordaram? - Perguntou Ron, chegando a mesa, sem camisa, descabelado e com cara de quem ainda estava na cama.
-Sabe que horas são, seu dorminhoco?
-Não me importa Hermione. Só sei que consegui descansar o corpo. – ele deu um leve espreguiçar, estalando as costas – Quando finalmente chegamos em casa ontem eu estava quebrado.
-Não tanto quando o Malfoy, não é? – disse ela, servindo-lhe café também.
-É. – Ron sorriu de lado e agradeceu com a cabeça – Papai disse que ele estava muito machucado.
-Estava mesmo. – respondeu Harry ajeitando os próprios óculos – Mas hoje já deve estar bem. Provavelmente o julgamento dele será amanhã mesmo e de lá será mandado para Azkaban.
Houve um longo silencio. Mesmo sabendo que era exatamente aquilo que Malfoy merecia, nenhum dos três parecia ter ficado confortável com o comentário.
-Seria tão bom... –Hermione cortou o silêncio, pensando alto.
-O que seria bom? – perguntou Harry, se prontificando finalmente a morder um pedaço de torrada.
-Se o Malfoy estivesse do nosso lado.
Ron cuspiu o gole de café que havia acabado de por na boca.
-Aquela doninha oxigenada, Hemione? Aquele ser insuportável que vive te chamando pelo singelo nome de sangue-ruim?
-Sim, Ron. Esse mesmo. Ora vamos, ele pode ser um egocêntrico, mesquinho, preconceituoso e insuportável de uma figa, mas temos que concordar que ele é bom...
-Eu não estou te ouvindo dizer que Draco Malfoy tem bom coração, estou Mione?
-Lógico que não, Harry. Está me ouvindo dizer que ele é bom com uma varinha. Vocês o viram enquanto fugia ontem. Desviava das azarações e proferia as suas próprias com precisão.
-Se não fosse assim estaria morto agora.
-Exatamente. Por isso que estou dizendo que seria bom se houvesse alguma remota possibilidade dele lutar do nosso lado. Mesmo o detestando.
-Mas não há.
-Eu sei, Ron, eu sei.
-Então por que estamos discutindo isso?
-Não estamos discutindo isso, foi só um comentário tolo meu.
-Você está assumindo que fez um comentário tolo? – o ruivo mordeu uma torrada e continuou a falar de boca cheia – O mundo está de pernas pro ar mesmo, Harry!
Potter riu, enquanto Mione lhe fazia uma careta. Foi quando Pichi entrou voando na cozinha, caindo justamente na xícara de café do ruivo, o sujando todo.
-Ai Pichi! Olha só o que você fez!!!! – por sorte a coruja tinha todo o cuidado de não deixar a carta que trazia no bico molhar – Da isso aqui!
Abriu a carta sem ver o remetente, mas ficou vermelho assim que reconheceu a letra, sorriu de lado.
-O que foi Ron? De quem é carta?
-Da Lilá... – Hermione fechou a cara na mesma hora, mas ele não percebeu – Disse que ficou sabendo o que aconteceu ontem e que está muito preocupada com... – os olhos se levantaram do papel por um instante e se depararam com os da garota a fuzilá-lo, por alguma razão achou melhor trocar o pronome – er... Conosco. Quer saber se estão todos bem.
-Diga a ela que o Ronron está ótimo! – ela bateu as duas mãos na mesa e se levantou – Ah! E aproveita para contar que o resto do mundo também vai muito bem, obrigada!
E saiu porta a fora.
Ron encarou a amigo confuso.
-Céus! Ela está na TPM de novo?
-Não, sua besta! – Harry definitivamente já estava de saco cheio de fingir que não percebia nada – Ela está com ciúmes de você mesmo!

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“Como está indo?”
“Mal... Ele não acredita em mim.”
“Fez o que eu mandei? Ofereceu-lhe informações?”
“Sim, mas ele não está interessado, pelo menos não se o preço for ter que me aturar”
“Hum”
“Já esperava por isso, tia...”
‘Eu também... Você terá que usar o trunfo”
“Se eu soubesse qual era pode ter certeza que já teria usado, tia.”
“Eu sei que você vai usar, Draco. Mas ninguém entre os Comensais vai poder saber que fui eu quem te disse como fazê-lo, entendeu?”
“Até parece que conversamos muito.”
“O menino tem um ponto fraco ainda, faça o que eu vou te mandar fazer e ele vai confiar cegamente em você.”
“Como vou fazer algo se daqui vou direto para Azkaban?”
“Chame-o de novo e barganhe, Draco. Dessa vez Baby Potter não vai resistir.”

Abriu os olhos, já anoitecera. O corpo doía, estava encharcado de suor. Passou a mão pela testa, cansado. Aqueles contatos mentas com sua tia Bellatrix eram exaustivos demais, além de muito difíceis, dada a distancia entre os dois. Mas era o único meio de comunicação seguro que poderiam dispor no momento.
Pensou em tudo que a mulher lhe dissera e no impacto que teria sobre suas negociações com o Potter. Se aquilo não funcionasse, nada mais adiantaria.
Então calculou a melhor é época de barganhar e não teve dúvidas em fazer aquilo o mais rápido possível.
Ensaiou sua melhor cara de dor e começou a gritar.
-Potter!!!!!!!!!!!! Eu quero falar com Harry Potter!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Como esperava os Aurores que vigiavam sua porta entraram correndo... Logo depois alguns medi-bruxos apareceram.
Começou a se debater na cama, implorando para que alguém chamasse o menino-que-sobreviveu, e como nada parecia acalmá-lo, acabaram por fazer sua vontade.
Harry chegou minutos depois, acompanhado por alguns Weasleys, mas Draco não saberia precisar quais.
-Preciso falar com ele, sozinho... – disse seco.
Os Weasley se retiraram sem debater.
Harry encarou-o meio irritado.
-Espero que tenha algo realmente importante para me falar, Malfoy.
-Tenho certeza que sim, Potter... Não iria barganhar se a aposta não fosse alta.
-O que é então?
-Pensei muito e cheguei a conclusão que tenho que te dar uma prova de que posso ser útil para que, em troca, você me ajude.
-Duvido muito que qualquer coisa que diga vá mudar minha decisão sobre isso, Malfoy. Não quero traidores perto de mim. Não quero morrer pelas mãos de pessoas que eu confiava como meus pais e Dumbledores fizeram...
-Eu posso trazer Sirius Black de volta... – cortou o rapaz, fazendo com que Harry engolisse as próprias palavras.
-O que você disse?
-Isso mesmo que você ouviu, Potter. Eu posso trazer o seu precioso padrinho de volta. Mas só farei isso se me ajudar.
O moreno passou as mãos pelos cabelos bagunçados, depois se pois a andar de um lado a outro do quarto, pensativo, encarando Draco esporadicamente.
-Nem o Ministério conseguiu fazer isso. Por que você conseguiria?
-Quem no Ministério realmente entende de Artes das Trevas, Potter? Eu, por outro lado, tive um vasto contato com pessoas que entendem disso, e muito. Principalmente com uma, você a conhece... Aquela que o jogou lá dentro.
-Bellatrix Lestrange... – sussurrou Harry. Dava para sentir o ódio jorrando pela sua boca.
-A própria. Eu a chamo de tia. Não sei se você sabe, mas ela é irmã da minha mãe... Se bem que, nos últimos meses, ela estava mais para minha professora particular...
Harry virou-s de costas para o loiro, tentando conter a irritação. Estava nas mãos dele e detestava isso. Voltou a encará-lo.
-Como vou saber que não está blefando?
-O que você tem a perder se eu estiver? Nada.
-E... Em troca quer apenas que eu finja que confio em você?
-Nada mais do que isso.
Harry respirou fundo. Foi o suspiro mais longo da existência do loiro.
-Feito então, Malfoy. Você tem a minha palavra. Caso consiga tirar o Sirius daquele véu eu faço esse teatro para te manter vivo e seu problema com os comensais estará resolvido. – cruzou os braços – Mas ainda tem o Ministério.
-Também vou barganhar com eles. Informações em troca de liberdade. Não será difícil enrolá-los...
-Vindo de você, tenho certeza que não... Muito bem, do que vai precisar?
-Estar perto do véu.
Harry se pos pensativo novamente.
-Amanhã será julgado por ser um Comensal. – concluiu.
-Sim, já estou sabendo que sairei daqui direto para o Minstério. E depois para Azkaban. – deu de ombros.
-Arranjarei um jeito de chegar no véu antes disso. – Draco ficou surpreso por perceber que Harry já havia maquinado um plano - E, caso consiga o que prometeu, te livro de Azkaban também... – ele virou-se em direção a porta – Esteja pronto, Malfoy.
Pronto? Draco sentia como se estivesse pronto há séculos.

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