Capítulo VII



Capítulo VII


Ginny passou o dia seguinte na segurança social de New Jersey, a ver todos os certificados de óbito emitidos em Julho de 1992. Trabalhava empenhadamente, folheando os muitos ficheiros distribuídos por cima da mesa.
Na noite anterior, tinha ligado para Londres, pondo Luna e Parvati a par da nova pista, e ambas se comprometeram a investigar também.
O relógio de cuco existente na parede da sala de arquivos fez soar as badaladas que informavam ter chegado a hora de almoço. Por mais curiosa que estivesse, Ginny não podia ignorar o barulho que o seu estômago teimava a fazer. Muito a contra gosto levantou-se, dirigindo-se para a porta.
Após pedir à funcionária do balcão para não mexer em nenhum arquivo, saiu pela porta principal.
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Depois de meia hora de insistência, Kevin conseguiu convencer o amigo a ir com ele almoçar fora. Estava farto da atitude dele. Parecia que, depois da morte dela, o amigo tinha desistido de viver.
Sempre soube que aquela profissão não era propriamente um mar de rosas, mas nunca pensou que a tragédia chegasse mesmo a bater-lhes à porta. Lembrava-se do choque que o amigo sofrera, e da maneira como ele muitas vezes quis pôr fim à própria vida.
Sinceramente, Kevin nunca soube como é que, ao fim de tanto tempo, as tentativas do moreno ainda não tinham resultado. Desde que tentara atirar-se do veleiro em alto-mar sem colete que Kevin tentava passar o máximo de tempo com ele.
O silêncio só foi quebrado quando chegaram perto do bar de praia.
- O bar mudou imenso – disse o moreno.
- Isto é o que acontece quando estás há dois anos quase sem sair de casa.
- Sabes que isso não é verdade – protestou ele – saiu muitas vezes para andar de barco.
- Andar de barco, da última vez que ouvi, o nome era tentativa de suicídio. Acho que está na hora de voltar a consultar um dicionário – disse Kevin sarcástico.
- É verdade. E tens muita sorte que eu há quase um ano que não faço nada de mal.
- Acredites ou não, é nessas alturas que me preocupas.
Sentaram-se numa mesa da esplanada, e minutos depois, um jovem empregado de vinte e dois anos, cabelos castanhos até aos ombros e olhos cor de âmbar se dirigiu a eles para anotar o pedido.
- Agora confessa, não é melhor que estar aqui fora do que estar metido em casa? –perguntou Kevin, depois de o empregado se ter retirado.
- Espero que tenhas a noção que me estás a fazer perder a novela da hora de almoço.
- Não te preocupes, não é hoje que o tal de Peter vai ser preso.
O moreno esboçou um pequeno sorriso, que qualquer uma poderia achar encantador. Mas Kevin sabia que aquele sorriso não era sincero, não era genuíno. Sabia que, quando ele estava verdadeiramente feliz, os seus olhos ganhavam um brilho especial que apenas ele possuía.
O seu olhar desviou-se para as escadas que davam acesso à esplanada. Olhava distraidamente para as pessoas que iam aparecendo, até que se deparou com uma mulher ruiva, com o cabelo cortado um pouco abaixo dos ombros e ar apressado.
Não se sentou nenhuma mesa e foi até ao, balcão onde conversou amigavelmente com o empregado.
- Estranho…
- O facto da nossa comida ainda não ter chegado?
-Não. Venho cá quase todos os dias, e aquele empregado só chegou a semana passada. Como é que ela – disse Kevin apontando para a ruiva – que eu nunca tinha visto na vida, o conhece?
- Provavelmente conhecem-se de outro sítio qualquer, não podes conhecer toda a gente – respondeu o moreno sem sequer tirar os olhos do oceano.
Pouco depois a mulher passava por eles apressadamente, com uma sandes e um sumo nas mãos. Nesse instante o empregado trazia na bandeja dois robalos acompanhados com arroz e salada, e duas garrafas de cerveja. Antes que o empregado se fosse embora, Kevin interceptou-o.
- Desculpe mas poderia dizer-me quem era aquela mulher ruiva que acabou de passar?
- Não sei. Ela veio cá ontem, e estivemos algum tempo a conversar.
- Então sabe o nome dela?
- Na verdade não – disse o empregado.
- Está a dizer-me que falou com ela ontem e hoje, e não sabe o nome dela? – disse Kevin exasperado.
- Bem...eu…eu
- Desculpe, o meu amigo exalta-se quando o assunto são mulheres. Peço desculpa pelo incómodo – disse o moreno calmamente. O jovem voltou para o balcão ainda um pouco atordoado. Quando o empregado se retirou o moreno olhou para o amigo de uma forma repreensiva e disse de forma acusadora – Se queres assustar o rapaz então dou-te os parabéns, fizeste um óptimo trabalho. Agora será que não podes deixar uma mulher fora da tua lista de conquistas?
- Tu nem sequer a viste!
- Ainda dizes que eu sou teimoso.
- E és! –retorquiu Kevin encolhendo os ombros – Eu sou apenas convicto dos meus ideais.
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Após almoçar apressadamente a sandes e o sumo que comprara no bar, Ginny entrou novamente na sala de arquivos. Era apenas decorada com dezenas de gavetas arrumadas por colunas, estando divididas por temas, datas e causas. Havia uma mesa redonda no meio da sala, agora coberta de papéis por causa da pesquisa da ruiva.
Sentou-se e começou novamente a ver os processos. Já passava das três da tarde quando ela tirou mais uma vez a carta da mala e a leu atentamente. “Tem que estar aqui alguma coisa Ginny” pensava ela enquanto os seus olhos percorriam as linhas. Já estava prestes a desistir quando se deu conta daquela frase “A minha mente nunca está comigo, ela desde há dois dias que te acompanha”.
Olhou para as datas do processo e começou à procura da data de 20 de Setembro. Ao fim de algum tempo, já tinha verificado todos os ficheiros, e apenas um correspondia à data pretendida. Respirou fundo, tentando acalmar o coração que batia descompassado pela curiosidade. Lentamente abriu-o e começou a ler…

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O barulho do escritório diminuía gradualmente, para alívio de Luna e Parvati. Desde manhã que procuravam na Internet, notícias de mortes em New Jersey. As pistas eram tão poucas que elas rapidamente perderam a fé em encontrar fosse o que fosse.
Já passava das três da tarde quando receberam uma chamada.
- Luna Lovegood, jornalista do Times. Em que posso ajudar?
- Foi a senhora que escreveu o artigo sobre a tal mensagem na garrafa? – perguntou uma voz do outro lado da linha ao fim de algum tempo
- Sim.
- Gostaria de saber se está interessada em adquirir uma outra.
- Claro que sim. Se quiser dou-lhe já o número do fax.
- Não! Não é necessário. Só lhe peço que me diga para que servem as cartas.
-É apenas para pesquisa. Não mencionaremos o conteúdo da carta, nem as pessoas que as entregaram.
Seguiu-se um silêncio em que parecia que o homem do outro lado da linha, ponderava seriamente se tinha feito bem em telefonar.
- Oiça só precisamos desta carta para pesquisa. Podemos até pagar – Enlouqueceste? Se o Richard sabe que estás a oferecer dinheiro, mata-te! - e pode ficar com a original, apenas necessitamos de uma cópia.
- Estamos a falar de quanto exactamente?
Sei lá estou a inventar agora – Cinquenta libras.
- E apenas precisa de uma cópia?
- Exactamente.
- É para fins de estudo… portanto acho que não há problema.
Luna sorriu vitoriosa. Anotou a morada para mandar o dinheiro. Passado alguns minutos de pura ansiedade, a máquina de fax deu sinal de vida. Rapidamente comparou a caligrafia da carta que acabara de chegar, com uma cópia de outra antes encontrada, e com um sorriso disse para uma Parvati ansiosa – Parece que temos uma nova carta.
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