Rouge (vermelho)




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Capítulo IV
Rouge (vermelho)
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Chegou em casa cansado.
Pelo silêncio do lugar seus pais haviam saído.
Deu graças.
Queria mesmo ficar sozinho depois da notícia que acabara de receber, mas infelizmente, ao chegar no seu quarto, percebeu que isso não seria possível.
-Lily?
Deitada na sua cama, como fazia na época em que namoravam, os cabelos vermelhos espalhados nos travesseiros, Evans abriu um sorriso iluminado.
-Achei que não ia voltar nunca mais, aventureiro... – disse a ruiva levantando-se.
Assistiu estático ela caminhar os poucos passos que os separavam, envolver-lhe a nuca com seus braços e mergulhar a cabeça em seu ombro para um longo e reconfortante abraço.
James não retribuiu da mesma forma. Seus braços a envolveram, mas não a apertaram contra si, como acontecia há alguns anos atrás.
Lily pareceu não perceber isso.
Ela afrouxou um pouco os braços ao redor da nuca dele e levantou a cabeça a fim de encará-lo, ainda sorrindo.
-Seus pais saíram a pouco, disseram que talvez você não fosse demorar e me deixaram ficar te esperando aqui. – ele sorriu, apesar da pouca vontade que tinha de fazê-lo.
Novamente Lily debruçou a cabeça entre seu pescoço e seu ombro, o apertando um pouco contra si.
-Senti tanto a sua falta, James... – murmurou – Quando Sirius disse que havia chegado, mal pude acreditar...
Ele revirou os olhos discretamente. Sirius, sempre o Sirius.
Certamente o amigo contara sobre a sua chegada a Lily pensando em lhe fazer um favor, já que havia deixado claro que não a procuraria (ainda estava magoado pela forma que terminaram).
E certamente teria ficado muito feliz ao encontrá-la ali, se não fossem os acontecimentos anteriores a lhe borbulhar na cabeça.
Mais uma vez Lily afastou o rosto do seu ombro.
-O que foi? – ele lhe deu um olhar interrogador - Parece preocupado...
Suspirou, concordando com a afirmação que ela fizera, sem nem tentar negá-la. A ruiva o conhecia muito bem, não adiantaria.
-Eu... Estou confuso. - disse ao se dar conta de que era exatamente esse o problema.
-Com o que? – James deu de ombros, como se não tivesse importância - Quer conversar?
-Não... Obrigado... Eu não tenho nem idéia do que está me deixando assim exatamente. – soltou um longo suspiro - Acho que... Eu fiz tantos planos, Lily, enquanto estive fora. E acabei de perceber que a realidade não é tão simples.
Ela sorriu amavelmente, acariciando-lhe os cabelos próximos à nuca. Ele costumava adorar isso, mas tampouco parecia ter notado esse movimento também.
-Nunca foi... – disse, sincera. E isso era algo que os dois sempre se orgulharam em seu relacionamento, eles sempre foram sinceros um com o outro, embora às vezes não o fossem com seus próprios sentimentos - E você não costumava se importar com isso antes.
-É você tem razão. – sorriu de lado – Devo estar ficando velho.
-Eu diria que está ficando maduro... Do jeito que eu gosto...
Ela o beijou na seqüência, e, ao sentir os lábios dela novamente, James ficou se perguntando por que não sentira falta daquilo quando estivera fora.
Era tão... Bom.
Resposta: ele estava magoado com Lily, e por isso não se permitiu pensar nela em nenhum momento da viagem.
E então, a lembrança da mágoa o fez afastá-la, mesmo que de forma não agressiva.
Lily o encarou, curiosa.
-O que foi? – voltou a perguntar.
-Eu já disse... Estou confuso. – suspirou novamente – Eu preciso de um tempo, Lily... Pra me re-acostumar com tudo.
Ela não entendeu o que ele quis dizer com re-acostumar, nem a que tudo ele se referia, mas tentou fingir que não havia se importado.
Acenou de leve com a cabeça enquanto se afastava dos braços dele.
-Certo. Acho que já vou então. – seguiu para a porta do quarto – Foi bom te ver de novo...
-Foi bom te ver de novo, também, Lily. – disse, sinceramente.
Ela saiu, e foi à vez de James se esparramar na própria cama, fechando os olhos para tentar colocar os pensamentos e emoções em ordem...
Mas a calmaria não se perpetuou como esperava. Mais uma vez o espelho comunicador deu sinais de vida.
-O que é? - perguntou à imagem de Sirius, que se formara no lugar onde deveria haver o seu reflexo.
-Onde está?
-Em casa. – respondeu seco.
-Encontrou com a Lily?
-Sim, encontrei... Ela acabou de sair daqui.
-Hum... Pelo visto não se entenderam.
-Não estou com cabeça para me entender com ninguém agora, pulguento. – ele soltou, num tom irritado que fez o amigo esperar um pouco para continuar a conversa.
-Presumo que já esteja sabendo do noivado. – James apenas concordou, em silencio – Prongs, eu sempre te disse pra não se meter com aquela família, não disse? – o amigo grunhiu-lhe algo inteligível em resposta – Deixe de besteiras e levante dessa cama, agora! Estou indo para o Cavem, encontrar Remus e Petter, estaremos te esperando lá.
E desligou, antes que James protestasse.
Com um rosnar irritado Potter acabou por levantar da cama e seguiu para fora do quarto. Sabia que se não chegasse logo ao pub os amigos apareceriam ao seu redor com barulhos de ploc e tornariam sua noite um inferno, de qualquer maneira.
Há quilômetros dali, já em casa, após aparatar, o péssimo humor de James parecia ter contagiado Lily Evans também.
Ao entrar pela sala, um olhar gélido à Petúnia fez com que a irmã engolisse a insinuação sobre solterisse que pretendia fazer. Afinal, ela passara o dia inteiro jogando na cara de Lily que o seu lindo namorado viria pegá-la para sair, enquanto a ruiva não conseguira arranjar nada melhor do que aquele lá (forma pela qual a trouxa se referia a James). Particularmente Lily achava aquele lá e qualquer outro lá que já apareceu em sua vida, mil vezes melhor que o lindo gordo, antipático e chato do Valter Dursley, o namorado de Petúnia. Por vezes ficou a imaginar o que sairia de um possível casamento entre aqueles dois.
Subiu as escadas batendo o salto fortemente a cada novo lance e se trancou no quarto após fechar a porta com uma pancada.
Péssimo! Aquilo fora péssimo!
Não deveria ter ido atrás de James. Devia ter esperado que ele a procurasse, certo do que queria.
Mas as coisas simplesmente a empurraram para isso.
Ela não podia ficar ali, sozinha, sem fazer nada... Não aquela noite.
Respirou fundo, afundando o corpo na própria cama, para pensar melhor.
Embora as coisas com James não tivessem acontecido como ela esperava, sentiu-se revigorada por ter finalmente tomado alguma atitude.
O que não podia era continuar com aquela loucura sem tomar providencia nenhuma...
Uma enorme, estúpida e insuportável loucura que parecia saber o momento certo de a atingir, sempre que Lily se sentia forte o suficiente para fugir dela.
No momento atual, ela tomara a forma de uma coruja acinzentada, que aguardava pacientemente ser percebida, empoleirada no parapeito de sua janela.
No bico, uma carta que deixou cair na mesa à frente, quando Lily finalmente notara sua presença, alçando vôo em seguida.
A tal [i] loucura [/i] não esperava uma resposta, pelo visto.
Relutou por alguns segundos, pensando seriamente na possibilidade de incinerar o papel antes mesmo de lê-lo. Mas sua curiosidade superou o raciocínio e acabou por pegar a carta e abri-la.
Era um bilhete, curto e direto.
“Está chato aqui. Mas quase no fim. Em meia hora. Esteja lá.”
Ela amassou o papel e jogou-o pela janela, irritada, não apenas pela carta tão fria, mas, principalmente, por que sabia que faria o que sua loucura pedira.
Meia hora depois ela já havia aparatado em frente ao flat onde se encontravam, abriu a porta com a cópia da chave que ele lhe dera e, para sua surpresa, sua loucura já havia chegado.
Fora inevitável abrir um sorriso ao vê-lo ali, esperando por ela, ávido por ela. Mesmo sabendo que Lucius Malfoy havia acabado de ficar noivo de outra.
E, quando ele se aproximou, a puxando pela cintura e colando seus lábios no dela, ficou bem mais difícil tentar afastá-lo.
Mas não fora à toa que Lily havia sido uma grifinória, afinal. Em poucos segundos conseguiu reunir toda a força necessária para afasta-lo de seus lábios e encarar os olhos verdes acinzentados.
-Como foi lá?
Lucius deu de ombros, respondeu um tolo bem e voltou a beijá-la, fazendo com que o raciocínio da ruiva perdesse o rumo novamente.
Ela podia sentir os músculos definidos dele por sobre a blusa que o abrigava. Em segundos o sobretudo de um marrom-avermelhado que vestia foi parar sobre uma das cadeiras do lugar, junto ao elegante sobretudo negro dele.
O fino tecido do vestido branco parecia não existir, tamanha era a quentura que ela sentia ao contato das mãos dele.
E Lucius sabia disso.
Ele sabia o efeito que uma respiração mais forte na nuca dela podia fazer.
Ou o deslizar das coxas dele por entre as suas.
Ou mesmo, a pressão forte que as mãos faziam em seus seios.
-Lucius eu...
-Você? – ele perguntou, sem parar de massagear seus seios, ou de beijar-lhe os ombros por toda a sua extensão.
-Eu... Eu não posso... Continuar...
Muito embora ele soubesse sobre o que Lily falava, as carícias não cessaram.
-Tudo bem, você não precisa fazer nada, meu amor... Eu continuo... – e, como prometera, os lábios de Lucius continuaram a passear sobre a pele macia dela.
Chegava a ser entranho imaginar como o toque dele mexia com ela uma vez que ela deveria sentir apenas asco do garoto rico e convencido. Era uma sensação tão inebriante que lhe fazia esquecer as diferenças, as dificuldades, os obstáculos, a arrogância, a ganância, as ofensas, e diversas outras coisas que a teriam afastado por completo de um homem como Lucius Malfoy.
Quando se conheceram, em um pub do Beco Diagonal, ela não podia imaginar que o rapaz loiro, tão galante e educado, pertencia a uma das famílias mais tradicionais, conservadoras e preconceituosas do mundo bruxo.
Estava tão carente após a partida de James. Sentindo-se culpada pelo término dos dois e, principalmente, necessitando de elogios... E Lucius soube, como ninguém, dizer exatamente o que ela precisava ouvir... E sentir.
Daí para conseguir tê-la em suas mãos foi um pulo e, somente quando já não conseguia mais se afastar, foi que Lucius revelou quem realmente era.
Um Malfoy...
Já tinha ouvido falar tanto sobre o preconceito e a presunção dos membros daquela família que fora difícil imaginar que o seu Lucius carregasse aquele sobrenome.
Mas a seqüência de noticias ruins não parou por ai. Logo ela ficou sabendo do noivado, arranjado desde que os dois nasceram (segundo ele) com uma garota da sociedade, também.
Foram dias penosos aqueles em que ela tentara se afastar, no fim desistiu do intuito por total falta de capacidade em fazê-lo.
Esperava que a volta de James pudesse lhe render novas forças, mas a mão de Lucius a deslizar para dentro de sua saia lhe deu a certeza que não.
A loucura continuaria... E a presença de James Potter não a ajudaria em nada.

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N/A: Não havia pensado em LL até começar a imaginar a trama dessa fic gente. Entendo muito bem que muitos verão com olhos tortos tal combinação. “Lucius não é o tipo de cara que dormiria com uma Sangue-ruim, mesmo por pura atração física”, dirão. Concordo, em parte. E gostaria imensamente de tentar desenvolver um relacionamento entre eles mais detalhadamente, algo que pudesse tornar o ocorrido na fic mais concreto aos olhos de vocês, mas infelizmente não há tempo e isso aqui ainda é uma JN. Tenho prioridades a seguir (além do prazo). Por isso peço apenas que abram sua mente para essa possibilidade (dando a ela o motivo que quiserem por hora). Talvez, após acabar essa fic, eu desenvolva algo sobre como fora o relacionamento desses dois. Eu disse TALVEZ!

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