O Primeiro Erro



Capítulo 2-O Primeiro Erro

Eu estava deitado no chão. Pisquei muito, aliás. A luz em meus olhos era forte, e eu imediatamente arranquei meu cachecol. Não só pelo fato de estar quente como um final de verão, mas pelo fato de, por um instante, eu ter pensado que Flame que se enrolara em meu pescoço.
Só então percebi que estava em um trem. Não, não em UM trem, mas NO trem: o trem de Hogwarts. Mas o barulho da locomotiva não estava audível. Pelo menos não do local que eu me encontrava: no chão de uma cabine.
Passei os olhos por ela, e só então percebi Krabb e Goyle olhando pra mim, como pedras, atônitos. Foi um reflexo passar os dedos pelo meu cabelo: ele provavelmente estaria ruivo. Mas não. Eu estava louro. Louro como sempre fui.
Só então comecei a entender. O que fez tudo se encaixar foi, na minha frente, uma mosca. Sem barulho. Sem movimento. Sem vida.
O mundo, aparentemente, havia parado de girar. Com exceção a mim, o que é inútil lembrar. Eu, em minha vida toda, ao longo de meus dezesseis anos, NUNCA ouvira falar de qualquer magia capaz de tanto. Nenhuma.
Apesar de ter começado a entender o que ocorria em minha volta, eu ainda me sentia como se tivesse sido dopado. O pior era achar que não era apenas o choque e a tontura, mas também o veneno daquela serpente maldita. Ou não. Não sei.
Só quando parei de mergulhar em devaneios que percebi que algo se movia. Algo além de mim. Lá estava, sob meus pés. A cobra mágica, serpente peçonhenta, Flame. Sibilando.
Me encarando.
Isso serviu pra me deixa mais chocado. O que também havia ajudado fora o fato de ela estar da grossura do meu dedão. Sendo que, quando havia cravado seus dentes em mim, ela tinha a espessura de meu braço, ou até um pouco maior.
Aquilo me deixou com a desagradável sensação que ela havia injetado seu peso em veneno no meu sangue. A cobra parecia estar furiosa, nervosa, sibilando e movendo-se.
“Primeiro de muitos outros...” sibilou a serpente, sem abrir a boca, com uma voz cavernosa de gelar o sangue.
Só então entendi. Devo dizer que agora, e naquele momento, fiquei me sentindo como um completo idiota. Afinal, havia esquecido o propósito de ceder à mordida da cobra: conhecer a vida que eu poderia ter tido se não tivesse errado tanto. Eu retornara ao primeiro erro de muitos outros em minha vida: o tratamento e impressão que deixei em meu primeiro ano de Hogwarts.
A cobra, fina, serpenteou por meu tórax até que sua minúscula cabeça estivesse a centímetros de meu rosto amedrontado.
“Conserte-os você mesmo.” Sibilou.
Eu queria perguntar muita coisa. Muita mesmo. Mas nada me ocorreu no momento. Nenhuma pergunta. Quando que ia finalmente formular uma única pergunta, uma única sílaba pra me expressar, ela enroscou-se em meu braço, e simplesmente endureceu. Não sibilava, nem nada.
Formou-se então, em meu braço esquerdo, o lembrete de que eu estava naquele mundo, tempo, universo paralelo ou seja lá o que for, como passageiro. Uma pulseira, ou bracelete, não sei definir, que ia até dois dedos depois de meu cotovelo até meu pulso. Facilmente, até mesmo que conveniente, de esconder com a manga de minha roupa escolar.
Mas não tive tempo nem energia pra assimilar mais nada. Krabb e Goyle começaram a se mexer, muito nervosos.
“Draco! Draco, você está bem?” Goyle meio que berrou. Krabb já havia abaixado pra me ajudar.
“Você caiu tão derrepente! Não é melhor chamar alguém que possa receitar qualquer coisa à você?” Pergunto Krabb, já apoiando meu braço em seu ombro, me ajudando a levantar.
Notei que ele estava mais baixo, pra depois perceber que eu, ele, e todos do trem, estávamos com cinco anos à menos do que devíamos ter. Ou tivemos. Ou teremos?
“Não... não, é sério, tá tudo bem.” Murmurei. Senti uma vontade, quase um reflexo, de chamá-lo de inútil. O que eu provavelmente teria feito, se não quisesse consertar tudo. “Valeu, caras. Juro que não sei onde estaria sem vocês!” Aquela amostra repentina de afeto deve tê-los surpreendido bastante.
Eles pareciam surpresos, tanto que Goyle mediu minha temperatura. Me desvencilhei dele, ainda meio cambaleante. Nesse momento, a senhora do carrinho de doces passou. Quando me viu sair da cabine, fez uma cara horrível. Meu pai provavelmente não a tratava, ou trata, bem. Ela virou-se pra sair.
“Espere! Ei, não vai servir a minha cabine?” Ela pareceu surpresa. E, pelo que entenderia mais tarde, não pelo fato de eu ter-lhe dirigido a palavra, e sim por não ter colocados adjetivos como “gorda inútil”, entre outros no final da frase.
Mas ela ainda não parecia convencida.
“O que vai querer?’ rosnou. Não estava interessada em esconder a má-vontade.
“Um sapo de chocolate. Não, espere...” contei os galeões de meu bolso. Depois fiz um cálculo incluindo isso, o preço dos sapos de chocolate e as pessoas que estava no corredor. “Quem está afim de um sapo de chocolate?” Todos os sete passantes levantaram a mão instintivamente, mais Krabb e Goyle. “Certo, é um pra mim, e um pra cada um deles. Dão dez sapos de chocolate, e pago mais um pra senhora. O Preço fica, pelo meus cálculos...”
“15 galeões e 7 sicles.” Murmurou uma garota. Só então percebi ser Granger, de passagem.
“Adicione mais uma pra moça, se puder.” A doceira parecia estar imensamente feliz com aquilo tudo.
“Não, eu... olha, juro que não quero!” Nem dei tempo de ela tentar pensar em uma desculpa ou argumento. Distribui os pacotes, inclusive o dela.
“Se não gostar, ou estiver sem vontade, pode dar pra alguém.” Disse isso baixo, próximo dela. O corredor comemorava animadamente, enfiando goela abaixo os chocolates, agradecendo-me. Ela entrou na cabine que provavelmente estariam Potter e Weasley.
Entrando novamente em minha cabine, testei os nomes baixinho. Potter e Weasley. Potter e Weasley. Potter e Weasley. Só depois da Quarta vez que consegui falar o que queria: Harry e Rony. Aqueles que, apesar de eu tê-lo achado por um tempo, não eram causadores de meus infortúnios.
Krabb e Goyle sentaram novamente, ainda estranhando minhas atitudes, apesar de deliciados com os chocolates.
“Vocês preferem ser chamados de...” vi, nesse momento, que uma breve luz passou pelos seus olhos. Eles provavelmente achavam que um nome ofensivo ou obsceno viria depois das reticências “... esqueçam.”
Seus primeiros nomes não eram algo incomum, são até nomes usados, não raramente em trouxas, Vincent e Gregório. Eu ia perguntar se eles sentiam-se ofendidos de serem chamados pelo sobrenome, se preferiam serem conhecidos como Greg e Vincent. Mas só então vi que aqueles dois não valiam a pena. Eram dois capachos. Não valiam a pena como amigos. Se eu os deixasse, não ficariam chateados, pois, em minha linha de raciocínio, não pareciam estar satisfeitos sendo tratados como iguais. Eu tentaria me afastar deles depois.
O apito do trem tocou. Era a hora da saída.
Eu me lembrava perfeitamente daquele momento: na entrada de Hogwarts, eu havia proposto a Potter...foi mal: eu havia proposto a Harry uma amizade a base de interesse, da qual, na época, eu acreditava que ele também sairia lucrando.
Mas isso tinha que ser mudado. Eu tinha que tentar ser, não melhor amigo, mas pelo menos alguém próximo de Potter. Harry. Tanto faz.
Meus devaneios deviam ter sido mais duradouros que o normal, por que Goyle me arrastava pelos portões de Hogwarts. Lá, longe, vi o menino-que-sobreviveu.
Seu amigo meu viu, e seu rosto ficou no mesmo tom avermelhado de seus cabelos. O pai da família Weasley já odiava os Malfoy. Eu devia agradecer ao meu pai antes que tudo. Aliás, quando sobrevivi de tudo isso, passei pelo meu pai e disse mesmo um obrigado. O velho até agora não entendeu.
“Hey, você é Harry, certo? E você, é... pera, é Ronald, certo?”
Foi a primeira vez que vi Harry olhar pra mim sem pensar nada. Tipo, sem sentir ódio (pelo menos, acho que ele não o sentia antes de me conhecer). Mas Weasley não fez o mesmo.
“Vaza daqui, Malfoy.” Rosnou Rony
Harry Potter, o menino que deveria saber de muita coisa, parecia ser o menos informado da conversa.
Depois disso tudo, ainda acho que eu daria um belo advogado, seja trouxa, seja bruxo.Sou bom de lábia, mas nunca usei pra arranjar amigos. Em uma pequena conversa, consegui por em dúvida a opinião de Rony. Não sobre minha família: é duro admitir, mas são todos idiotas (menos eu, talvez) Hermione não me odiava, e parecia estar gostando, devo ter causado uma boa impressão com aquele sapo de chocolate.Harry não me conhecia.
E eu me senti feliz. Conversamos de música trouxa té as expectativas sobre Hogwarts. Estavamos animados.
Eu estava começando de novo.
Mas dessa vez, eu começava certo.

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