A Cobra Dançarina

A Cobra Dançarina



Capítulo 1-A Cobra Dançarina

Vilão e Herói. Inteligente e Burro. Céu e Inferno. O famoso "Hell". Por mais que me falem e ditem os conceitos de cada uma dessas palavras, nunca distingui muito bem a diferença.
Minha família toda escolheu esse lado. Por que, afinal, eu seria diferente? Carrego o sobrenome Malfoy na certidão, na identidade e nas costas. E Draco? Draco vem do latim, quer dizer "dragão". Dragões são criaturas irracionais, cruéis e sanguinárias. Quando vi essa definição, estranhei o fato do animal Dragão representar Hogwarts. Só pude supor ao contrário: dragões não são maus...
Certo?
Tanto faz, gramática e definições nunca foram o meu forte.
Eu já me questionava por ter seguido minha família, depois da morte de Dumbledore. Mas depois de ontem... Não questiono só minha família, meu lado e minha escolha. Questiono também minha existência.
Eu estava andando. É, simplesmente andando. Caminhando. Obviamente, logo após de minha mãe cuidadosamente aplicar um encantamento de troca de rosto. Disse que, para qualquer um que não fosse leal ao Lorde, eu era Pandemus Foley. Me perguntei por que raio usar um nome tão ridículo e incomum. Ela pareceu perceber e simplesmente murmurou, meio que pra mim, meio que pra ela própria:
"Um nome fácil de lembrar vai fazê-los pensar que você não se preocupa em ser lembrado. Era... isso." ela suspirou tristemente, não me pergunte por que. "Cabelos ruivos e sardas os convencerão de que você possui inocência. Pode passear por Hogsmeade, agora. Ou pelo que restou dela."
A expressão de minha mãe sempre foi tristonha, mas tive a impressão de que as lágrimas viriam em breve quando saí.
Talvez ela se questione como eu.
Andando pelo povoado, o mais perceptível era o medo. Medo em seu estado mais puro. Muito diferente da alegria que vi na minha primeira visita com Hogwarts.
Talvez eu fosse feliz naqueles dias. Talvez não.
Minha intenção inicial era ir a Dedosdemel. Eu havia me tornado um garoto de prazeres simples: um banho de sol, um pedaço de um bom chocolate ou um livrinho qualquer.
Prazeres simples, aliás, que em minha vida toda eu havia abominado. Fora o chocolate, obviamente.
Estava um pouco frio. Tentei entrar o mais rápido possível, mas um cantarolar lançado ao vento era hipnotizante. Era uma melodia suave, difícil de esquecer...

"I don't know,
Who you are,
But I need sing,
To see you fly,
Sing to see your dance,
So I'm singing to you
And you are dancing to me."

Eu não sabia nem sei o que tanto me atraiu, mas eu segui a voz idosa e o que julguei masculina. De olhos fechados, tentando ouvir além dos leves murmúrios.
Era perto da Casa dos Gritos. Estranhamente, não me decepcionei quando vi o velho com aspecto de mendigo com uma cobra serpenteando em sua frente. Eu só queria ouvir aquela cantiga um pouco. Mas parecia que tirei o velho de seu transe, por que ele levantou os olhos e calou-se.
Ele era cego.
No primeiro momento, fiquei meio impressionado. Nos seguintes, esperei uma pergunta qualquer, ingenuamente esperava que ele perguntasse "Quem está aqui?"
"Garoto, sou cego mas não devo estar surdo. Penso que gostaria de sentar, estou certo?"
Ele poderia ter feito ou dito centenas de coisas, mas acho que se ele me batesse com um peixe morto seria a única maneira de me impressionar mais.
Sentei sem dizer uma palavra.
Ele acariciou a serpente, que tinha olhos extremamente verdes, e contraste com sua cor verde escuro e opaca.
"Você carrega a culpa nos ombros. E temo que eu não posso apazigá-la, nem dizer que não vale a pena se alto flagelar por ela."
Aquele homem, do nada, me deixou extremamente amedrontado. O fato de saber, mesmo eu nunca tê-lo visto antes. E ele, certamente, nunca me viu.
"Uma pequena ajuda é que não foi você que o realizou. Estou certo?"
Não. Não era pra estar,pelo menos. A serpente não tirava os olhos de mim, o que me deixou menos à vontade.
"Co... como?"
Foi tudo o que consegui gaguejar.
"Ela é meus olhos. Ela sou eu, eu sou ela."
O velho falou tudo de modo tão calmo que demorei uns bons sete segundos pra assimilar aquilo.
"Você é louco. Eu vou sair daqui.", desafiei.
Fiz menção de levantar, mas a cobra deu o bote. E errou, penso eu, de propósito. Seus dentes enterraram-se a na pedra como se esta fosse gelatina.
"Como seria?" indagou o velho pra si mesmo
Eu estava congelado: a serpente permanecia com o olhar sobre mim. E o mendigo sempre a acariciando.
"Como devo chamá-lo?" Ele levantou os olhos, que me atravessaram como uma faca.
"Pandemus. Pademus Foley."
A mentira saiu como um reflexo, e os "olhos" daquele homem certamente percebeu. Sibilou pra mim.
"Certo, Pandemus." Ele não parecia se importar com o fato de eu mentir e dele saber disso. "Como seria sua vida se recuasse e refizesse as escolhas? Como viveria?"
Eu abri a boca. Não pra falar, mas pra indagar comigo mesmo. O que eu faria se recuasse cada passo? Eu não sei quanto tempo passei mergulhado e meus pensamentos, só sei que ele recomeçou a cantiga:

"I don't know,
Who you are,
But I need sing,
To see you fly,
Sing to see your dance,
So I'm singing to you
And you are dancing to me."

Eu acordei de meu transe.
"Flame pode mostrar à você."
Eu sabia que ele se referia à cobra.
"Mas vai ter que deixar o veneno penetrar seu sangue e cérebro."
Demorou novamente para eu entender bem. Trocando os miúdos: eu deveria deixar a serpente furiosa me morder.
Eu abri aboca pra falar, mas novamente o velho antecipou-se a minha mente, e tudo o que senti foi a cobra cravando os dentes em meu braço.

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