Capítulo I



Capítulo I – Atitudes

Os meses haviam passado tão rapidamente que ele se surpreendeu ao acordar àquela manhã e se precatar que já estava em maio, próximo ao termino de suas aulas.
Seus professores o estavam enlouquecendo com o incessante assunto dos exames de fim de ano, isto, contudo, sequer o preocupava no momento - não que fosse o aluno mais excepcional de sua classe, acreditava estar longe desta posição. Mas, ao menos, aplicado era. - Suspirou profundamente ao relembrar os dois últimos dias.

[Flash-back]
Um rapaz, de seus dezesseis anos, moreno, cabelos negros (ainda) desordenados – embora o criticassem constantemente por esse modo tão desleixado de se apresentar. – E, de certo, alto para sua idade – quase um metro e oitenta. – encontrava-se absorto às chamas da lareira à sua frente, na qual, segundos atrás, jogara com agressividade uma carta endereçada a ele. Estava no salão comum de sua casa – grifinória. -, e, por mais incrível que possa parecer, há àquela hora encontrava-se sozinho no local.

Desorganizou ainda mais seu cabelo, em sinal de desconcerto. “Como podem ser tão cínicos?”.
**&**
21:41, salão comunal da grifinória.

-Harry? O que estás a fazer aqui, sozinho?

-Apenas pensando – retrucou sem ânimo.

-O que aconteceu? – Ronald Weasley indagou. – Parece-me... Mais descomposto que o normal – avaliou franzindo o cenho.

-Eles mentiram para mim – redargüiu surpreendentemente, ao menos para Ronald, enfurecido. – Eles haviam me prometido que só tratariam disto quando eu terminasse meus estudos em Hogwarts, quando eu pudesse assumir os negócios da família – Harry respirou agitadamente.

-Pelo modo que estás falando, refere-te a teus pais, presumo...

-Quem mais pode deixar-me assim? – contrapôs de dentes cerrados.

-E a que te referes?

-Um casamento. Meu casamento, Ronald.

-Estás a brincar?!

-Parece que estou a brincar? – indagou com sequidão. O moreno expirou com força. – Recebi uma carta, me caso em dois meses. Antes mesmo de completar a maior idade.

-Não sabia que tinhas uma noiva – contrapôs Ronald surpreso. – E não lembro de tê-la visto em tua casa...

Harry forçou um sorriso. – Desde o berço. Uma noiva a qual nunca troquei palavra, a qual nunca vi o rosto... Estão forçando-me a casar por um pacto, um que sequer conheço bem os termos – o rapaz sorriu sem emoção. – Não é de todo surpreendente observando o fato de eu também sequer saber quem é a minha noiva. Nada de sobrenome, nome ou endereço... Quase como se fosse um completo fantasma...

-Talvez se dialogasse com eles... E—

-Você não os conhece realmente, Ronald – Harry replicou, interrompendo-o. – São vis quando o desejam. Ainda que me rebele, nada posso contra a força que eles detêm. Olvidaste que perante a lei sou menor? – indagou frustrado. – Planejava ludibriá-los fingindo acatar suas ordens até me tornar maior-de-idade. Como adulto e, assim, responsável por meus atos, poderia negar, quando chegasse o momento, minha prometida. Parece que os subestimei – Harry suspirou. – Sempre estão um passo a minha frente... – disse observando a fogueira, ainda acessa. – Sabes que sem a ajuda de meus pais sou um ninguém, Ronald. Eles têm influência suficiente para arruinar minha vida onde quer que eu esteja. Isto, se não fizer suas vontades.

-Acredita que teus pais possam chegar a tal ponto? Quero dizer, o senhor e a senhora Potter sempre me pareceram coniventes a todas as tuas travessuras quando moleque.

-Se eu os contrariar...

-Talvez... Esse casamento seja melhor para ti – Harry fitou o amigo com incredulidade. – Teus pais, acredito, querem tua felicidade. E—

-Não preciso de um alcoviteiro, Ronald – interrompeu-o friamente. – Como pode ser melhor? Sou compromissado, desde o berço, com alguém que sequer conheço. Isto, por culpa do humor sádico de meus pais... Que, como dizem, “quem me surpreender”. Veja só! Nunca vi as fuças dessa dama! Como poderei ser feliz deste modo?

-Nem todos têm a sorte de não ser tão rico quanto a ti, Harry Potter – retrucou com ironia. O moreno o olhou com rancor e, sem mais uma palavra, se retirou do local.
**&**

Pela manhã, no salão principal do colégio.

-Harry? Senti-se bem? – Hermione Granger indagou aproximando-se.

O moreno levantou os olhos de seu prato e retrucou com a voz mais livre de amargura que pôde encontrar. – Tudo bem, Herms... – ela fez uma careta, preferia quando ele lhe chamava de ‘Mione’.

E então a garota franziu a testa preocupada. O conhecia, o conhecia demasiadamente... Podia até mesmo aposta que havia algum problema. Harry ainda não havia percebido, mas a maioria das vezes que estava com problemas, de qualquer espécie, ele a chamava assim, ‘Herms’.

-Não podes me enganar – ela disse enquanto sentava-se ao seu lado. – Sabes disto. Então, é melhor que me digas e poupe a ambos um tempo precioso – falou enquanto observava a mesa, tentando escolher o que comer. Logo, se voltou novamente para o rapaz. - Antes que eu arranque isto de ti – completou erguendo a sobrancelha. Isto fez Harry rir, e era a primeira vez no dia.

-Isto não são modos de uma dama, senhorita Granger – ele contrapôs em deboche.

A garota sorriu com desdém. – O que pode falar sobre modos, caro senhor Potter? – retrucou por sua vez. – Mal apresenta-se devidamente – disse olhando-o da cabeça aos pés, detendo-se nos abarrotados cabelos negros do rapaz.

-Touché – ele murmurou num sorriso.

Eles eram os melhores amigos desde o berço. Praticamente cresceram juntos, visto que os Granger tinham uma mansão próxima (e tão grande quanto) a dos Potter, e eram amigos íntimos dos mesmos.
Hermione era mais nova que Harry quase dois meses. Pouco mais de dois palmos menor e tão impetuosa e atrevida quanto ele.
Ela tinha longos cabelos castanhos e cacheados que viviam presos. Harry não gostava de vê-los presos, achava-os macios e belos demais para estarem escondidos. Preferia vê-los soltos. Como ela sempre os deixava quando ia a residência Potter, ela só o fazia lá – isto é, deixá-los soltos. - Dizia isto à amiga - que preferia vê-los soltos. -, esta apenas sorria e negava com a cabeça como se Harry fosse um tolo... Não conseguia entender o olhar dela nesses momentos.
A jovem tinha os olhos castanhos, mas de algum modo, sob o sol - Harry já percebera. – ficavam de um verde suave salpicado por manchinhas âmbar. Eram uma explosão, o rapaz pensava.
Hermione também era irritantemente teimosa e, contrapondo-se a isto, irremediavelmente doce... Inteligente, leal, altiva, prestativa... E, um dia, discutindo com sua irmã, Susan – um ano mais nova que ele. –, chegou à conclusão de que ela, Hermione, era bela.
Foi chocante. Harry levava anos vendo-a apenas como uma companhia, aquela que brincava com sua irmã e consigo quando os Granger iam passar o dia em companhia dos Potter. Vendo-a como aquela garotinha que sempre fazia festa ao ver os Potter’s em seu portão. E então Susan o retirou forçosamente daquela redoma, estilhaçando-a para que não houvesse meio de consertá-la, nem por meio de magia. Fazendo-o ver que todos haviam crescido e que Hermione já não corria ao seu encontro toda vez que os Potter’s eram anunciados em sua residência. Ainda que continuasse demasiadamente feliz em vê-los.
Ela apenas sorria e, comportadamente, - “como uma dama faria” chasqueava sempre Hermione quando estava perto de Harry e podiam falar-se sem que pudessem ser ouvidos. Os pais de ambos não gostariam de vê-los ironizando a sociedade que freqüentavam... Eles, no entanto, sempre o faziam, cedo ou tarde, acompanhados ou não por Susan, irmã de Harry, e Christine, irmã de Hermione. – e dirigia-se ao encontro da família. Ela cumprimentava seus pais (os dele) primeiramente, depois falava com Susan e, por fim, dirigia-se a Harry – este, pomposamente pegava sua mão estendida e a beijava e Hermione, logo depois, fazia uma reverencia exagerada. E então eles ririam das caras de desaprovação de seus pais. Depois disso, Hermione o tomava pelo braço e o levava para fora, onde ficariam, acompanhados ou não – ainda que sempre vigiados. -, conversando, arrumando os jardins – regando o local, plantando, podando as folhas e galhos mortos. - ou comentando como seria e desejando a volta para Hogwarts e a pseudo-liberdade que detinham naquele lugar. Até serem chamados por um dos elfos ou criados da casa, na hora de almoço.
Enfim, uma amiga preciosa. Sua melhor amiga.

-Ainda não respondeu...

-Não acredito que irá conseguir lhe retirar nada, senhorita Granger...

Hermione o olhou e o ruivo tinha um sorriso torto nos lábios, a morena ergueu a sobrancelha e sem comentário algum se voltou outra vez para Harry. – Harry? O que tens a dizer?

-Meus pais enviaram uma carta.

-Aconteceu algo de ruim?

-Não exatamente – ela continuou fitando-o em expectativa. O moreno suspirou. – Sei o quanto detesta coisas desse tipo, mas... É assunto de homem.

A morena o fitou seriamente e, ao perceber que o amigo não iria mesmo contar, desviou o olhar, decepcionada. – Tudo bem.

-Mione, por favor, não fica brava comigo. Eu não--

-Não estou brava.

-Obviamente que não... – contrapôs descrente.

-Não estou brava – repetiu olhando-o. – Apenas chateada. Não é nada demais, logo irá passar – ele apertou levemente a mão dela por baixo da mesa. - E só que... porque contou à ele?

O rapaz pareceu confuso. – Ronald é meu amigo, Hermione.

-E eu, todavia, também o sou - ela contrapôs. - E, realmente detesto fazer comparações, mas conheço-lhe mais bem que qualquer outra pessoa, sabes... – ele assentiu. – Porque, então, hesitas em contar-me? Quando, ao que pude ver, o senhor Weasley parece saber do assunto, e em detalhes? Ah claro. É um assunto de ‘homens’.

Harry estreitou a vista. – Que tom é este?

-Pois se não o único que tenho.

-Hermione...

-Está bem! Não falarei mais sobre este assunto estúpido – disse contrariada.

-Que linguajar, senhorita! – Ronald comentou erguendo a sobrancelha.

Ela se aproximou perigosamente do rapaz e, ao estar próxima ao seu ouvido, retorquiu secamente - Dane-se.

Ronald estava chocado. Harry sorriu – Tome como um aviso, não se intrometa em nossa conversa Ronald, será pior para você. Garanto-lhe – comentou ao levantar-se.

-Aonde vais?

-Atrás de minha amiga, obviamente.

-Irei contigo.

-O que? Não lhe bastou a sessão de hoje? Francamente e adeus, Ronald.
**&**

-Hermione! Espere – ele chamou correndo ao seu encontro.

Ela se voltou para o rapaz repentinamente. – O que quer desta vez, Harry?

-O que há? Estás a se comportando de maneira bastante infantil. Por favor, Hermione!

Ela lhe lançou um olhar ofendido. – O que queres? Já lhe deixei em paz, já não falarei mais sobre o teu assunto, o que quer que eu faça?!

-Pois poderia parar de agir como se eu a tivesse atraiçoado?

-Como queira – ela deu de ombros. – É apenas isso, ou teria você mais alguma outra exigência, senhor Potter? – ela complementou com ironia.

Harry virou os olhos. E, aplacando a distância entre eles, de modo que seus corpos ficaram muito próximos, segurou seus ombros firmemente, surpreendendo-a. – Por Merlim, Hermione. Será que poderia parar de tentar me ferir? Isto é frustrante e cansativo. Não quero estar mal contigo. Por favor!

-O que estás a fazer? – ela sibilou tentando se afastar, sem sucesso. – Não acredito que nos veriam com bons olhos nesse momento. Solte-me agora, Harry – ela ordenou severamente. Com relutância, o rapaz se afastou.

-Pois eu não me importaria.

A jovem lhe ofereceu um sorriso amargo. – Quando foi que se importou com algo que diz respeito a mim ou a minha reputação?

Harry a olhou como se houvesse sido esbofeteado. – Eu... Eu não – o rapaz suspirou profundamente, ainda sem reação. Se Hermione queria magoá-lo, pois bem, havia feito um bom trabalho.

“Como pôde dizer algo assim?” Ele pensou ainda a fitando. “Em todos estes anos eu venho lhe protegendo, eu... Nenhum rapaz nunca sequer se aproximou o suficiente dela para lhe falar de modo mais reservado, não em minha presença” Ele a viu desviar o olhar do dele. “Tenho sido como um irmão superprotetor por anos. Não poderia me acusar de uma falta como esta”.

-De todas as coisas que poderia me insultar, esta é a mais ultrajante e caluniosa. Estou, e sempre, velando por tua honra. Venho protegendo a ti desde que chegamos neste castelo de qualquer tipo que tente se aproximar de ti. Como teu pai pediu. Como podes dizer algo assim?

Ela voltou a encará-lo. - Pois olvidaste que não somos irmãos? De tal forma, ainda que aja deste modo, como um irmão, aos outros tu não és visto assim. Porque, afinal, não o és em verdade. E por este motivo, podes, tanto como outros que, como dizes, não deixas que se aproximem de mim, macular minha honra – ela contrapôs com voz firme.

O rapaz franziu o cenho sem entender onde a amiga queria chegar. - E o que quer que eu faça? Afastar-me de ti?! – Hermione guardou silêncio enquanto Harry a observava com incredulidade.
[Fim do Flash-back]

Amar, ser correspondido(a), se comprometer, namorar... Casar numa grande comemoração. E, enfim, ser feliz para sempre...?
Tudo isto não passa de tolices!

Naquela época, o casamento arranjado era tradição entre as famílias de Sangue-puro. Os noivos, em muitos dos casos, sequer eram consultados. Não tinham opinião válida quando se tratava de uma aliança – casamento, um mero contrato social. - vantajosa, ainda que sem amor.

“Amor? O amor vem com o tempo...” diziam os mais experientes. Enquanto, desconsoladas, jovens viam se quebrar à frente de seus olhos seus sonhos infantis.

Um bom casamento, como todos sabem, garantiria sua sorte. Compromisso deste tipo é sinônimo de status social.

A sociedade bruxa, de fato, é muito conservadora. Presa, antes de tudo, a continuidade de sua ‘raça’. Assim como sua pureza.
Não é fácil - sequer cabível. - ir de encontro a esses preceitos... E, por este motivo, jovens de famílias de puro-sangue eram ‘predestinados’ ao casamento desde o berço. Compromissados antes mesmo de ter conhecimento suficiente para entender o que isto deve acarretar em sua vida, no futuro.
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(Continua)
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Espero que curtam! Desculpem-me os erros.
Até breve, acredito!^^

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