Capítulo II



Capítulo II – Desmedidas

Harry estava com a cabeça fervilhando quando chegou finalmente em sua casa.
Aquele maio, certamente, haviam sido o pior mês de sua vida. Havia discutido com Hermione mais vezes em um mês do que fizera em toda uma vida... Tudo por culpa do maldito casamento, que ele, de jeito e maneira, quisera dizer a ela.
Estavam há alguns dias sem trocar palavras e aquilo o deixava num estado de ânimo precário – para dizer no mínimo. -, o moreno suspirou, Hermione era uma das únicas coisas que o fazia sentir normal ao redor dos outros. Sentia tudo a sua volta tão superficial que seu escape tornara-se Hermione. Com ela as coisas nunca eram superficiais e ainda poderiam se divertir ironizando aqueles quantos tolos que se passavam por amigos de seus pais.
Agora, entretanto, voltara à sua casa sem seu apoio. Seus dias seriam longos...

Ele olhou a sua volta como se tentasse reconhecer o lugar e, apenas depois de ter feito isto, atravessou o grande portão da residência. Ao lado de Susan, passou a caminhar calmamente em direção à sua casa. E, ainda que Susan parecesse muito animada por estar de volta à sua casa e que desde a estação não houvesse parado de falar por um segundo, Harry não se sentia animado ao vê-la daquele modo e nada dizia. Vez ou outra assentindo ou negando quando ela lhe fazia alguma pergunta.

-Meus queridos – Lílian Potter havia aberto os braços assim que os viu. Susan sorriu genuinamente e foi ao encontro da mãe, abraçando-lhe. Harry se limitou a olhá-las. – Não vai receber seu abraço de boas-vindas, amor?

O rapaz sorriu com cinismo e deu de ombros enquanto subia as escadas em direção ao seu quarto, como se não houvesse lhe ouvido. – Harry? – Susan o chamou, fazendo-o voltar-se para ela. – Não ouviu?

-Não me importam tolices deste tipo, é diferente – retrucou lançando um rápido olhar a Lily e sumiu de vista instantes depois. Franzindo o cenho, Susan fitou por um instante sua mãe; esta parecia desapontada.
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-Vá me desculpa, meu pai, se, ao contrário do senhor e de mamãe, não consiga articular com afetação suficiente para que consiga enganá-los de que sinto a felicidade que gostariam que sentisse – Harry disse quando indagado sobre o porquê de estar com aquela cara desde o inicio do jantar. - Ou se não consigo expressar a gratidão que, obviamente, os senhores acreditam que eu deveria estar a sentir - Susan prendeu a respiração sob o comentário do irmão.

James Potter observou seriamente seu filho. – Um dia irá nos agradecer.

Harry lançou um olhar petulante aos pais antes de sorrir levemente, cheio de ironia. – É claro, meu pai – abaixou a cabeça um instante antes de voltar seu olhar para o homem. – Desculpem-me, não sinto fome – murmurou antes de se levantar.

-Harry, volte e sente-se – James pediu, o rapaz fingiu não tê-lo ouvido. – Harry, volte e sente-se agora.

Engolindo duro todo orgulho, o rapaz voltou a sentar-se à mesa, sob o olhar preocupado da irmã e o reprovador de James Potter. Não voltou, entretanto, a tocar em seu prato.
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Alguns dias depois da chegada de suas filhas, os Granger foram visitá-los. Harry não tinha certeza do que pensar enquanto observava o ar grave de Hermione enquanto esta cumprimentava seus pais e logo depois Susan.
Ele não desviou o olhar quando a morena o fitou sem saber como agir; resignada, ela suspirou e lhe estendeu a mão, a qual Harry aceitou sem contestação. Para alívio dos adultos, nem Harry ou Hermione brincou desta vez, atendo-se a um cumprimento cordial e frio.
Para estranheza dos dois casais, no entanto, Hermione não tomou o braço de Harry logo em seguida (como sempre fazia) para que fossem para fora e Harry não fez nenhum movimento para indicar que a chamaria para as suas constantes conversações nos jardins.

Vez ou outra Harry lançava olhares discretos sobre Hermione e quando seus olhos se encontravam, ele desviava sua atenção para outro canto. Hermione mordeu o lábio inferior, colocando uma mexa inexistente de seu cabelo solto atrás da orelha, inquieta quando sentiu o olhar de Harry sobre si outra vez.

Lílian observou Hermione de canto de olho antes de se voltar para ela. – Não gostaria de observar os jardins, querida?

A morena sorriu. – Adoraria – permitiu-se dizer, seria melhor tomar ar que estar nesta situação com Harry.

Lílian assentiu retribuindo o sorriso. – Harry, meu filho, acompanhe sua amiga – Harry e Hermione voltaram seus olhares para a mulher quase rapidamente demais. Mas o moreno não fez objeção quando assimilou o pedido de sua mãe e Hermione era orgulhosa demais para voltar atrás, “Pois bem, se ele pode agir assim, eu também posso”.

Ele lhe ofereceu o braço, ao qual a morena aceitou sem contestar. Eles nem ao menos se olharam no movimento ou enquanto iam ao encontro do jardim. Hermione o soltou assim que deram os primeiros passos no local e Harry andou até a fonte que encontrava-se bem no meio do lugar.

A morena se prestou, então, a fitar as costas de Harry. Vendo-o se movimentar enquanto abraçando a si mesma.

-Sei de seu segredo – ela disse em tom baixo, mas claro o suficiente para que Harry escutasse. O rapaz não fez menção de tê-la escutado. Hermione suspirou, aproximando-se; – Papai e mamãe também estão a planejar o meu casamento – murmurou enquanto fitava a água límpida daquela pequena fonte.

Aquilo atingira Harry como se uma forte corrente de ar estivesse indo de encontro ao seu corpo, ele a encarou de imediato, atordoado. Mas Hermione ainda persistia em encarar, com resignação, a fonte.

-O que?! Como--?

Hermione o interrompeu, de toda forma, já sabia o que iria indagar; ela sequer precisava, desta vez, encará-lo para o saber. Podia sentir sua confusão, era quase palpável. - Ouvi papai e mamãe comentando... Desde que cheguei em casa parece que só falam disto, de seu casamento. Bom, não apenas disto, decidiram que estou em idade para o matrimônio – ela fechou os olhos por um instante, estremecendo levemente ao expor e considerar sua situação. - Parece que seus pais lhes deram um bom exemplo - acrescentou, ainda em tom baixo, voltando-se para ele e lhe oferecendo um sorriso sem emoção.

-Eu sin... – Harry pigarreou. – Eu, eu sinto muito, Hermione. Eu realmente sinto.

A morena o fitou com um sorriso estranho. – Não se desculpe. Mas diga-me, como se sente, estando a beira do altar?

O moreno expirou com força. - Isto está matando-me, Herms... - murmurou. - Meus pais ensandeceram por completo!

-Não diga tolices, Harry. Sabes, e muito bem, que teus pais sempre desejaram o melhor para ti – o recriminou, ainda que não pudesse esconder totalmente a amargura em seu tom de voz.

-Que grandes pais são! Deveria agradecer sempre a Merlin e ao diabo a quatro por tê-los – ironizou, dando de ombros, fastidioso.

A garota não se abalou. - Por certo.

Harry a olhou com desgosto. – Olha, Hermione. No momento, o que mesmo preciso é de um defensor do senhor e senhora Potter.

-O que querias? Supõe-se que isto um dia deveria acontecer - contrapôs com enfado.

-Desculpe-me se não creio que seja o melhor para mim – redargüiu virando os olhos. – Não entendo como pode agir com tanta naturalidade diante de algo assim. Por Deus! Eu irei me casar, tudo por culpa de uma maldita tradição!

-Naturalidade?! - ela quis esbofeteá-lo. “É um tolo, não enxerga um palmo à frente de seu próprio nariz. Estúpido”. – Deves acreditar que seja bem simples para mim... – disse secamente. - Ter de, por conta da idéia que teus pais tiveram, num incentivo “sutil” aos meus, casar-me com alguém que sequer respeito ou tenho admiração. Que eu, de repente, descubra que nem tenho opinião válida para a escolha de meu marido. Alguém com quem, fica aqui implícito, passarei o resto de meus dias! Então, não me venha com deboche, Potter.

O moreno guardou silêncio, desviando o olhar. Não queria principiar mais uma discussão... Ele sabia que Hermione estava sofrendo, ainda que estivesse mais resignada que a si próprio. E era isso que não entendia... Por que demônios ela se deixara abater? Sem lutar? Por que, repentinamente, perdera seu brilho?

-Sabes quem é teu prometido? – indagou baixinho, ela assentiu. – Queres...? Quer--

-Ronald Weasley – disse, cortando-o. Então Harry pôde distinguir a sua pequena disposição e seu humor escuro. Hermione era um misto de frustração, ira, amargura e, por mais estranho que pudesse parecer, de uma determinação ofuscante.

-Meu amigo Ronald?

-Exatamente. Parece-me que ele e seu pai vieram a minha casa para pedir minha mão. Realmente, é muita petulância de sua parte. Quero dizer, o senhor Weasley bem deveria saber que eu, ao menos em estado consciente, nunca aceitaria seu cortejo - Harry prendeu o riso, vendo-a agir mais normalmente, de toda forma precisava estar ao lado do amigo. – Graças aos céus, papai não lhe deu ainda uma resposta.

-Ronald é um... – ele ponderou por um instante. - Ele é um bom rapaz. Tenho certeza que será um bom marido, Hermione.

Ela o encarou descrente. – Ele poderia ser um bom marido para qualquer outra mulher, tenho certeza que estariam encantadas em tê-lo como esposo. Mas não o será para mim.

-Por que não lhe dá uma chance? – e esta indagação lhe custou grandes cotas de força de vontade para, por fim, ganhar liberdade e ser ouvida. – Sequer tenta respeitá-lo, apenas o agride verbalmente. Não entendo este teu comportamento para com ele.

-Pelo amor de Deus, Harry! Será que sou a única que o considera inconveniente, frívolo, insensível, antipático, intrometido, inconstante e superficial?

-Vejo que o tem em alto grau de estima – retrucou em motejo.

-Preste atenção em minhas palavras, Harry, porque apenas lhe direi esta vez: eu nunca irei casar-me com este rapaz. Não o amo. Não o respeito. Sequer faz diferença se deixa ou não de respirar.

Harry ergueu a sobrancelha. - E como pretende não o fazer, se teus pais a obrigarem?

Hermione cravou seu olhar no dele, aproximando-se, e sorriu levemente sob seu olhar aturdido. – Fugirei, talvez. Tornar-me-ei uma freira, quem sabe... Certamente será a opção que meu pai me dará para que me casa com o senhor Weasley.

-Não podes fazer isso!

-Quem iria impedir? – indagou com altivez, parecia se divertir com a situação. Principalmente com o olhar que Harry lhe dispensava. Como se estivesse a ponto de prendê-la em seus braços. - Tu o farias?

-Hermione, esta é a maior tolice que já pudeste dizer – recriminou, franzindo o cenho. – Tua vida será arruinada se decidires fugir...

-Não respondeste, Harry.

-Porque é a pergunta mais tola que já me fizeste – replicou com enfado. Sua mão, inconscientemente, indo de encontro ao cabelo, colocando-o para trás, cheio de frustração. Hermione riu com leviandade.

–Ainda há mais uma opção, obviamente.

-Uma tão ou mais desvairada que as anteriores? – indagou cruzando os braços, aborrecido. - Prefiro não ouvi-la.

-Às vezes, podes ser um doce desagradável irmão superprotetor... – ela disse num sorriso, seu olhar perdido, por um instante, no céu. – Pare já com isso – murmurou, desta vez olhando-o mais seriamente. – Você não é meu irmão, Harry - acrescentou quase severa. -E não tenho a intenção que se torne agora - sussurrou, buscando seu olhar mais uma vez. Ele parecia ofendido.

-Não é a primeira vez que faz questão de lembrar-me qual é o meu lugar na tua vida – disse magoado. Por que ela não entendia que só queria protegê-la? Que tinha medo por ela? Que gostava muito dela para ver lhe acontecer algo...? – Certo, então, Hermione. Não o serei mais – disse quase secamente.

-Ótimo – disse apenas. Então, antes que Harry ficasse mais ofendido, ignorando todo recato da época de maneira proposital, cerrou a distancia entre eles e, estando na ponta dos pés, depositou um pequeno beijo nos lábios dele. O rapaz pestanejou diversas vezes, estava aturdido demais para qualquer movimento e Hermione riu suavemente sob sua atitude ao afastar-se. Significava que finalmente entendera? – Casar-me com outro. - disse antes de lhe dar as costas e se dirigir novamente para a casa.

Harry voltou a si a tempo de vê-la entrar em sua casa, estando, segundos depois, ciente de que também deveria entrar. Meneando a cabeça de um lado a outro, sorriu sem jeito passeando a mão sobre os cabelos.
**
(continua)
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Oh! Muito obrigada pelos comentários^^!
Fico feliz que tenham gostado...
Beijão
PS: Eu nem demorei tanto né?^^

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