O Almoço no Três Vassouras

O Almoço no Três Vassouras



Harry não tinha acordado bem disposto aquela manhã. Bateu com força a porta de casa ao sair, e entrou no elevador do edifício. Na distância percorrida entre o oitavo e o primeiro andar, todos que estavam ali com ele puderam compartilhar do som que saía dos seus fones de ouvido com volume suficiente para ser escutado do outro lado da rua. Encostou-se em uma placa e ali ficou esperando o ônibus para ir ao cursinho. Olhou para o relógio e viu que estava um pouco adiantado, e bufou de mau humor.
Quando a condução chegou, entrou nela aos pulos, pagou a passagem, sem deixar de reparar em uma inconfundível cabeça ruiva sentada no fundo. Sentou-se ao seu lado.

- Oi Harry!

Aquele era Rony, um garoto de cabelos vermelhos e nariz comprido. Era seu melhor amigo desde a primeira série, quando foram colegas no Colégio Hogwarts. Sua outra melhor amiga era Hermione, que também tinha sido sua colega, mas, diferentemente dos dois, a menina tinha passado de primeira no vestibular para medicina, sem necessidade de cursinho.

A primeira aula do dia, era uma aula dupla de história com o professor Binns, um homem muito velho e enrugado. Normalmente, Harry aproveitaria a aula de história para tagarelar com Rony, tirando proveito da suposta surdez do Professor Binns, mas naquele dia especificamente não sentiu a mínima vontade. Atirou-se displicentemente na cadeira e fingiu dormir para evitar o amigo, mas permaneceu com os ouvidos atentos. Alguns minutos se passaram e ele reparou que não conseguia cochilar, pois havia uma voz irritante que entrava na sua cabeça, de maneira assustadoramente chata. Era muito fácil destinguir a dona daquele timbre semelhante à unhas arranhando um quadro negro com muita vontade, uma vez que ninguém havia atingido aquela nota ainda no mundo natural, exceto Pansy Parkinson. uma garota chata que só sabia incomodar todo mundo, exceto Malfoy, é claro, a quem fazia de tudo para agradar. Porém, naquele momento, o que lhe surpreendeu foi uma outra voz feminina que tagarelava juntamente com Pansy. Era a voz de Gina Weasley, irmã mais nova de Rony. Ela fazia o cursinho junto com o colégio, alegando ser uma boa aluna querendo se adiantar. Harry já tinha saído com ela algumas vezes, e até nutria ainda algum sentimento por ela além da amizade. Indagou-se sobre o que ela estaria fazendo ali ao lado de Parkinson e Malfoy. Abriu os olhos meio contrariados pela claridade da sala de aula e olhou para trás para confirmar o que tinha escutado. E estava certo.

- Rony, olha isso. – disse baixinho.
- O quê?
- Sua irmã! O que ela faz ao lado daquela gente que, somando todos juntos, não conseguem atingir um Q.I de dois dígitos?
- Ah, Parkinson. – e soltou um muxoxo com os lábios – Eu já sabia disso. Gina chegou atrasada semana passada e o único lugar vago era ao lado de Pansy. Ficaram amigas, acredita?
- Hm... mais ou menos. Esse é o tipo de coisa.... hm, como eu posso dizer... inacreditável?

Harry coçou os cabelos rebeldes por um instante, tentando processar a avalanche de informação que seu cérebro havia acabado de receber.

No intervalo, Harry comprou um suco na cantina e sentou-se em um banco afastado, para observar o movimento, ao lado de Rony. Do outro lado do pátio, Malfoy exibia sua nova tatuagem com orgulho para Crabbe, Goyle, Gina e Pansy, enquanto as duas garotas batiam palminhas e davam gritinhos histéricos de empolgação.

O resto da aula transcorreu normalmente, e, ao final da aula, enquanto guardava seus livros na mochila para ir embora, Harry surpreendeu-se com um toque suave nas costas. Virou-se e deu de cara com Parkinson e Gina. Sentiu um solavanco no coração, sem notar que Gina segurava um envelope amarelo com seu nome escrito. Sentia-se desconfortável perto dela desde que pararam de sair, e o constrangimento de ambos era facilmente perceptível quando estavam perto um do outro.

- Ehr... Harry. – e, por mais impossível que parecesse, Gina ficou ainda mais vermelha do que já era.
- Oi Gina. Tudo bem?
- Tudo. Olha, sábado é meu aniversário, sabe, e eu gostaria que você fosse, se você puder. Vai ser lá em casa, sabe. Isso se você quiser ir, claro. – disse hesitante, encarando o chão o tempo todo.
- Ah, legal. Obrigada. – pegou o envelope com cuidado para não tocar seus dedos - Estarei lá.
- Então tá, até sábado.

As duas se viraram e os olhos verdes de Harry acompanharam-nas saindo de braços enganchados e dando risadinhas.

oooooooooo

Chegando em casa, procurou por alguém, mas só encontrou um bilhete em cima da mesa.


Harry
Estou num almoço de negócios com o pessoal do escritório.
Deixei dinheiro em cima da mesa pra você pedir alguma coisa por telefone pra comer.
Sirius

P.S.: Por favor, procure não atear fogo na casa caso tenha uma vontade incontrolável de usar o nosso fogão ou microondas.


Riu alto, enquanto jogava a mochila em cima do sofá da sala, e depois, entrando na cozinha, prendeu o convite do aniversário de Gina na porta da geladeira com um ímã.
Sirius era seu padrinho, e morava com ele desde que seus pais tinham morrido. Harry o adorava, e, apesar de não terem laços sanguíneos, eram a única família um do outro.
Afundou-se no sofá da sala com displicência, como se quisesse entrar dentro dele, e acariciou a gatinha branca de olhos amarelos que tinha subido em seu colo.

- É Edwiges... Acho que fomos abandonados pelo ingrato do Sirius.

Pegou o celular no bolso e discou alguns números.
- Oi Mione, sou eu, Harry.
- Oi Harry.

Sentiu alívio ao ouvir a voz da amiga. Estava mesmo precisando conversar com alguém.

- Eu sei que o convite é de última hora, mas eu estava pensando se você não quer almoçar comigo no Três Vassouras.
- Claro, pode ser!
- Você acabou de me salvar de ter que comer algo preparado por mim mesmo. – riu.
- Então estou passando aí pra buscar você.
- Ok, tchau.

oooooooooo

Chegando no restaurante, Harry e Hermione se sentaram em uma mesa afastada, por causa do barulho, pois o Três Vassouras era um lugar movimentado. A garota de cabelos castanhos levantou o braço com seu jeito simpático de sempre e o garçom se aproximou para anotar os pedidos.

- Traga uma pizza de calabresa, por favor, e dois sucos de laranja. – e sorriu para o amigo – Pode ser, Harry?
- Por mim, tudo bem.

O garçom se retirou num gesto polido, e Hermione ficou esperando que ele saísse, como se fosse contar algo de natureza secreta.

- Você está sabendo da festa de aniversário da Gina? – disse, virando-se para frente novamente.
- Sim, ela me convidou hoje. Você vai?
- Acho que sim. E você?
- Depois do que vi hoje, não tenho certeza se vou.

Hermione apenas encarou o garoto, certa de que não sabia de alguma coisa importante.

- Você se lembra de Pansy Parkinson?
- Claro, aquela garota com cara de buldogue que vivia pendurada no pescoço de Malfoy.
- Agora ela e Gina estão amigas. Hoje mesmo vi Gina paparicando Draco junto com ela no cursinho.
- Oh, Harry. Você... Você ainda gosta dela, não gosta?

A garota parou de falar, como se soubesse que tinha acabado de pisar em território perigoso. Um cheirinho gostoso de pizza invadiu o ambiente e Harry se aproveitou da chegada do almoço para fugir da pergunta que não queria responder nem para si mesmo. Hermione o conhecia bem o suficiente para saber se ele estaria mentindo e preferiu não encarar aquela verdade que o incomodava tanto: ele era apaixonado por Gina Weasley.

- E como vai a faculdade, Dra. Granger?
- Oh.. Muito bem. – disse Hermione, fingindo não ter percebido que Harry não tinha respondido sua pergunta – Mas ainda faltam uns 4 anos para Dra. Granger.

Riram juntos e continuaram concentrados na pizza de calabresa, com eventuais menções à Gina. Hermione era uma das poucas pessoas que Harry sabia que o compreendia sem julgá-lo, e sentia-se mais leve por estar ali com a única pessoa do mundo com que ele podia abrir o coração sem medo. É claro que ele também tinha Rony se quisesse conversar, mas ele era um cabeça-dura, um verdadeiro teimoso. Hermione era melhor do que ninguém para uma conversa daquele tipo.
Após uma sucessão interminável de fatias de pizza, os dois pagaram a conta e saíram em direção ao estacionamento.

- Quer que eu te largue em casa ou você vai para algum outro lugar?
- Vou dar uma volta por aí, preciso espairecer.
- Tem certeza, Harry? É caminho pra mim, não me custa nada te largar em casa...
- Sério, tenho umas coisas pra fazer - mentiu.
- Até outro dia então
- Até. Foi bom te ver, Mione.
- Você também.

Deu um beijo estalado na bochecha da menina e saiu caminhando cabisbaixo e chapinhando nas eventuais poças d’água que atravessavam seu caminho. O vento com cheiro de chuva tomava conta do ar à sua volta, mas o garoto não se importou com o fato de de não estar com um guarda chuva. Apenas quando um clarão tomou o céu com um estrondo distante foi que Harry levantou a cabeça para ver aonde seus pés o tinham levado, e bateu os olhos verdes numa vitrine. Lembrou-se do aniversário de Gina e que devia comprar-lhe um presente, afinal de contas, por mais que não tivessem a mesma intimidade de antes, seria indelicado aparecer por lá sem um embrulho nas mãos, por mais singelo que fosse. Atravessou a rua e pegou um ônibus para o shopping.

Harry deu muitas voltas antes de se decidir quanto ao presente. Pensou em milhares de possibilides, e todas pareciam incrivelmente inadequadas. No fim das contas, comprou um par de brincos, não muito grandes, não muito pequenos. Comprou também um cartão, um papel de presente estampado com flores brancas e uma fita larga de cetim rosa, para o embrulho. Pensou em cada detalhe, repassou nos dedos cada passo, para não esquecer de nada: estava com medo de não agradar. Enquanto caminhava, tinha tomado a decisão de ter uma conversa séria com Gina no sábado, pois sentia que aquela situação não iria leva-los a lugar nenhum. Ou eles voltavam, ou colocavam um ponto final de uma vez por todas. Não agüentava mais ter que desviar seu olhar do olhar firme dela. Levantou-se carregando as sacolas que pareciam pesar bem mais do que realmente pesavam. Passou pela porta do shopping e viu que na rua já caía uma garoa fina e gelada e lamentou-se agora por não ter um guarda-chuva consigo. Parou na calçada, e olhou para o semáforo de pedestres. Estava verde, mas Harry tinha uma mania, quase uma superstição quando atravessava a rua. Tinha medo que o sinal abrisse enquanto ele estava atravessando, portanto sempre esperava abrir e fechar mais uma vez para que ele tivesse certeza de que daria tempo de chegar vivo do outro lado. Enquanto esperava o sinal abrir novamente, sentiu alguém que falava alto e autoritariamente no telefone celular se aproximando de suas costas e indo atravessar a rua. Em apenas uma fração de segundo, Harry viu o sinal dos carros abrir e sua única reação no momento foi largar as sacolas que estavam nas suas mãos e puxar o garoto que se dirigia aos carros distraidamente.

- CUIDADO!

O garoto que teve o braço puxado caiu por cima de Harry e os dois caíram no chão.

- Tudo bem? Você est... VOCÊ?!?!

O garoto levantou-se do chão, batendo a poeira das roupas. Estava ali, na sua frente, completamente paralisado, segurando o celular ainda aberto e fitando Harry com os seus olhos quase prateados tão abertos que pareciam que iam cair no chão. Ele havia acabado salvar a vida de Draco Malfoy, seu inimigo declarado desde sempre. Ficaram ali se encarando por alguns segundos, meio absortos com a situação totalmente inesperada, mas a chuva tratou de despertá-los.

- Você está bem, Malfoy? – disse Harry azedo, quebrando o silêncio desconfortável que havia se instalado.
- Estou. - meio relutante, o garoto loiro prosseguiu em um volume quase inaudível – Obrigada.
- Ok... Estou indo então... – disse juntando suas sacolas e atravessando a rua.

Draco ficou ali parado, sentindo a chuva em seu rosto, e observando Harry entrar dentro de um ônibus e desaparecer. Estava pasmo, tudo acontecera muito rápido. Estava discutindo com sua mãe aos berros no telefone e no segundo seguinte estava no chão, em cima da pessoa que mais odiava no mundo.

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N/A: Gente, aí está o segundo capítulo! :) Está um pouquinho maior que o primeiro! Delícia! Espero que gostem e comentem bastante.
Aliás, um recado às pessoas que entraram aqui e não comentaram, VOCÊS SÃO UNS MELEQUENTOS E EU NÃO AMO VOCÊS!!
Já aviso que só atualizo o próximo capítulo se houverem pelo menos 5 comentários! Só cinco, vai, é pouquinho...
Beijões, e obrigada a todo mundo que leu e que comentou o primeiro capítulo! :)

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