A Serpente



Na sala de espera de um tatuador no centro da cidade, estava sentado um garoto loiro de 18 anos recém completos, folheando um catálogo. Seu nome era Draco Malfoy, e os seus olhos, de um azul inegavelmente maravilhoso, acompanhavam página por página já há algum tempo, procurando por algo mas sem obter resultados. Suas sobrancelhas contorcidas demonstravam um certo desagrado, deixando transparecer seu estado claramente indeciso. Vestia uma bonita camiseta verde oliva e calça cinza, um pouco mais larga do que o necessário, o que lhe fazia parecer meio franzino. Detrás de um balcão, um homem gordo, tatuado dos pés à cabeça e cheio de brincos nos lugares mais improváveis, olhava o garoto com cara de quem não estava entendendo o que um legítimo mauricinho como aquele estava fazendo ali naquele lugar.
O garoto então levantou de um pulo do sofá vermelho puído e velho, com o olhar já decidido e um sorriso só na metade da boca.

- Aqui está, já escolhi. Quero essa aqui. - falou devolvendo o catálogo para o homem enquanto apontava para um desenho de uma serpente, que saía de dentro da boca de uma caveira.

oooooooooo

Draco andava amuado nos últimos tempos. Não agüentava mais sua mãe Narcisa buzinando em seus ouvidos todo o tempo para que estudasse, que assim não iria entrar em uma universidade nunca, que decepcionaria seu pai. E na realidade ele já não se importava mais com isso. Seu pai, Lúcio Malfoy que era deputado, havia decidido que ele faria faculdade de Ciências Políticas e Sociais, para seguir sua carreira na política e Draco não havia se conformado ainda: fazia dias que não aparecia no cursinho pré-vestibular, aliás, fazia dias que não fazia nada que precisasse sair de casa, mais precisamente de seu quarto. Foi quando decidiu fazer algo para alfinetar o pai. É claro que qualquer coisa que ele fizesse não o livraria de ter que acatar as decisões de Lúcio sem dar um pio, mas era perfeito para passar a mensagem que o garoto queria mandar a tanto tempo: "já consigo pensar por mim mesmo, não quero mais fazer o que você acha que eu devo fazer". E uma tatuagem foi a idéia perfeita. Sempre quis tatuar o braço, mas Lúcio o proibira por que achava que era coisa de presidiário, e a prisão era algo que ele sempre temera. Agora ele já era maior de idade, e assim não haveria problemas quanto a isso.
Duas horas depois de ter entrado naquele tatuador, o garoto saia de lá com uma atadura cobrindo o braço e o ombro direitos. O que havia acabado de fazer, ele sabia que lhe traria problemas em breve. Tinha consciência de que aquilo era mais um capricho do que uma tatuagem, pois seu pai nunca permitiu esse tipo de coisa. Era, por assim dizer, um homem inteiramente da política, o deputado Lúcio Malfoy. Há muitos anos atrás, fora envolvido em graves especulações de corrupção juntamente com o então vice-presidente da República Tom Riddle; este foi cassado permanentemente de seus direitos políticos e estava exilado, e Lúcio Malfoy, como que por intermédio de um milagre, foi absolvido. É claro que o Sr. Malfoy não acreditava em, milagres, e o seu próprio consistiu apenas em uma quantia voluptuosa de dinheiro e um pouco de lábia aplicados na pessoa certa. De tempos em tempos ainda vinha à tona na mídia algum boato (ou nem tanto) sobre o tal escândalo Riddle, como foi chamado por alguns tablóides sensacionalistas, mas passavam batidos, para a sorte de Lúcio. Entretando, para o azar de Draco, ninguém que o conhecesse o deixava esquecer, nem por um segundo quem era o seu pai, e aquilo realmente o aborrecia.

oooooooooo

No outro dia, pela manhã, em seu quarto, Draco dormia como um anjo, literalmente, pois era o que ele parecia quando adormecido. Seu cabelo tão loiro que chegava a ser branco, sua pele lisa, agora sem a companhia daquele ar aristocrático e usuais sorrisos debochados, lhe conferiam a aparência de um verdadeiro querubim, enrolado em meio à enormes lençóis brancos.

- Draco, meu filho, acorde. Não vai à aula hoje de novo? - disse Narcisa, dando uma batidinha na porta de leve.

"Droga." Pensou. "Paciência, agora já não vou mais conseguir dormir mesmo."

- Já estou descendo, mãe.

Levantou da cama com pesar e se dirigiu ao banheiro. Um banho era a melhor maneira de acordar numa segunda-feira enfadonha como aquela. Ao sair do box, olhou-se no espelho levemente embaçado com o vapor do chuveiro, e passou a mão no ombro tatuado. Estava levemente dolorido, mas a vermelhidão já tinha sumido. Sentiu-se satisfeito com a imagem que viu no espelho, vestiu sua camisa preferida e antes de sair, passou pela mesa da cozinha e entrou no carro com uma torrada na mão.
A alguns quarteirões de distância da casa de Draco, um outro garoto se dirigia ao mesmo local que ele, o famigerado cursinho pré-vestibular. O tal garoto se chamava Harry Potter, e gozava de certa reputação no cursinho. O tempo todo cheio de gente em volta, o que os tornava quase como rivais na disputa de popularidade, com a diferença de que Potter ganhava naturalmente a admiração das pessoas sem o mínimo visível de esforço. Era sabido por todos que não se gostavam nenhum pouco, mas mesmo sem saberem, à quarteiros de distância, estavam com o pensamento um no outro. Draco odiava o rapaz, apesar de não saber bem o porquê, e sinceramente, apenas a perspectiva de vê-lo, por mais de longe que fosse, já fazia aquela segunda feira parecer muito pior do que já era.

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