Capítulo V



Hermione sentou-se em frente à penteadeira e começou a escovar os cabelos com muito mais força que o necessário. Deus do céu, como estava com medo! Parecia um coelho perseguido e assustado. E era certo que seu rosto pálido não escondia isso, nem suas pernas, que tremiam levemente sob a linda camisola de seda que Gina lhe dera.

Ela era a esposa de Harry e o peso da aliança de ouro em seu dedo servia para lhe lembrar este fato. De agora em diante, dividiria com ele sua cama, sua vida. Será que todas as noivas sentiam-se assim nervosas na noite de núpcias? Será que o lado físico do amor atemo¬rizava a todas elas?

A porta se abriu de repente e Harry entrou, usando um elegante roupão azul-marinho. Ele parecia calmo e tranquilo e seus olhos não escondiam o desejo quando começaram a percorrer o corpo de Hermione. Fechou a porta atrás de si, como que isolando-os do resto do inundo e, aproximando-se dela, tomou suas mãos antes que Hermione tivesse chance de se ocupar novamente com a escova de cabelos. Era difícil fitá-lo nos olhos.

- Não me diga que você está nervosa — Harry zombou.

Não era hora para fingir e, levantando os olhos para encará-lo, Hermione admitiu:

- Estou mesmo... e bastante.

- Onde está aquela mulher provocante e insinuante que zombava de mim no restaurante?

- Não estou acostumada a beber tanto champanhe e acho que disse coisas que não diria normalmente.

- E agora está morrendo de medo?

O tom de zombaria machucava, e Hermione retirou suas mãos das dele.

- Eu nunca dormi com um homem antes, Harry.

- E pensa que eu não sei disso?

- E se eu desapontar você? — ela afinal confessou seu medo real.

Harry olhou-a carinhosamente, deslizando os dedos pelo pescoço de Hermione, descendo até o pequeno vale entre os seios, deixando atrás de si uma trilha de fogo. Com suavidade, eles subiram novamente até chegar ao queixo de Hermione.

- Você não me desapontará, Hermione.

- Como pode ter tanta certeza?

- Talvez eu a conheça melhor do que pensa

Harry começou a desamarrar o laço que prendia a gola da camisola de Hermione e ela corou, sentindo o próprio rosto em brasa.

- Você é tímida. Nunca teria acreditado se me contassem.

- Será que... será que poderia apagar a luz? — Hermione pediu, confusa e embaraçada.

- É claro que sim se isto a faz sentir-se melhor.

A súbita escuridão que invadiu o aposento fez com que Hermione tivesse vontade de se esconder em algum lugar, rapidamente. Mas num instante Harry estava de volta, sua boca quente logo encontrando a dela, suas mãos deslizando pelo corpo e desabotoando definitivamente a camisola.

Nada, nem mesmo a escuridão, poderia protegê-la agora das sensações que os toques de Harry lhe provocavam, da mistura de timidez dolorosa e do sublime êxtase que começava a vencê-la. Quando os dedos dele tocaram os bicos rigidos de seus seios, nada mais fez sentido senão entregar-se àquele delírio maravilhoso... Hermione cruzou os braços atrás do pescoço de Harry e seus corpos se colaram, como dois imãs poderosos se atraindo.

Harry afastou-a um pouco para abrir o cinto do próprio roupão e tirá-lo e, no instante seguinte, puxou Hermione novamente para perto. A um leve toque de seus dedos, a camisola já desabotoada caiu aos pés dela. Pela primeira vez, seu corpo nu entrava em contato com o corpo também nu de um homem, e Hermione sentiu a vibração viril que tomava conta de Harry.

Os lábios quentes dele deslizavam sobre seu pescoço, seus ombros, passavam por sua boca entreaberta. Ela começava a se perder numa torrente de sensações desconhecidas, porém, só queria mergulhar mais

E mais à busca de prazer. Sentiu-se flutuar, como se seu corpo fosse chama pura a queimar numa febre louca de excitação.

- Harry... — ela sussurrou, uma faísca de incerteza invadindo aquele paraíso.

Harry soltou um murmuro para dizer que estava ouvindo, enquanto sua boca novamente brincava com os sentidos de Hermione.

- Oh, Harry, eu te amo! — As palavras escaparam de seus lábios e então Hermione se rendeu em definitivo à paixão daquele momento.



Quando abriu os olhos na manhã seguinte, foram necessários al¬guns segundos para ter consciência de onde se encontrava. Estava sozinha na cama de Harry, mas tinha passado a maior parte da noite em seus braços, sentindo-se protegida como nunca em sua vida.

A lembrança do que tinha acontecido entre eles ainda era forte para fazê-la corar. Não havia um único centímetro de seu corpo com o qual Harry tivesse deixado de travar conhecimento. Seu medo logo desaparecera, substituído pelo desejo louco de estar sempre mais e mais perto dele. Seus corpos tinham se tornado instrumentos de prazer, conduzindo-os a um desfecho inimaginado. Hermione conhecera sensações e sentimentos que nunca supôs que existissem.

Mais tarde adormeceram lado a lado, felizes. O coração de Harry, batendo sob seu ouvido, dava-lhe uma sensação de tranquilidade e segurança, o corpo saciado.

Hermione espreguiçou-se, bocejando, e seus olhos deram com o relógio sobre a mesinha-de-cabeceira. Já era tarde, oito e meia, ela tinha dormido demais e... com os diabos, estava nua! Agarrou rapidamente o lençol e cobriu o corpo com ele. Mas riu de si mesma ao perceber que as únicas testemunhas de sua nudez eram as paredes brancas do quarto. Levantou-se e retirou um roupão da mala. Tinha que desempacotar suas coisas, mas isso poderia ficar para mais tarde.

Meia hora depois, preparava o café na cozinha, após ter tomado banho. Estava acabando de colocar duas fatias de pão para torrar quando, inesperadamente, dois braços vigorosos a agarraram pela cintura.

- Harry! Será que precisa chegar assim sem se fazer notar e me assustar?

Ela acusou-o rindo, enquanto se virava para fitá-lo com um ar de convite que não passou desapercebido a Harry.

Ele a beijou longamente, como se estivesse saboreando o gosto de sua boca, e quando afinal se separaram, os toques dele eram ternos e suaves.

- Teve bons sonhos?

- Acho que não cheguei a sonhar um minuto. Dormi tão profundamente como se alguém tivesse me nocauteado.

- Puxa, será que fui assim tão rude com você?

- Não me amole! — ela reclamou, corando.

- Sua timidez me fascina — ele disse, imobilizando o rosto com as mãos. — Você a escondeu muito bem sob essa aparência decidida e valente.

- Bem, agora então já sabe.

- Sim, agora eu já sei — Os olhos de Harry passeavam pelo de Hermione. — Aliás, fiz também outras descobertas muito interesse a seu respeito.

- As torradas — ela protestou, quando viu o ruído saltando para fora do aparelho, mas Harry só a apertou ainda com seu abraço.

- Elas podem esperar. — Foi a última coisa que disse antes que sua boca calasse quaisquer outros protestos que Hermione pusesse a fazer. Ela se entregava à magia daqueles lábios, tentando convencer a si própria de que Harry a amava tanto quanto ela.

As torradas e os ovos já estavam frios quando sentaram-se à para o café, mas Harry não disse nada e Hermione estava feliz demais para se importar com o que comia.

- O dia está lindo lá fora — Harry comentou, depois de tomar mais um gole de café. — Que tal se fizéssemos um piquenique em algum lugar à beira do rio? Tenho que fazer muito exercício as pernas, ordens do médico.

- Acho uma ótima idéia. Apesar de não usar mais a bengala é importante que continue exercitando as pernas.

Era uma quente manhã de domingo, e eles caminharam por um tempo, às vezes se aproximando do rio, outras, se afastando para desfrutar a beleza dos campos abertos e floridos. Harry trazia o alimento numa pequena mochila de couro, pendurada no ombro.

Mais tarde, sentaram-se em meio a um bosque adorável à do rio, o ar perfumado pelas flores vermelhas das árvores frondosas.

Comeram os sanduíches de galinha feitos por Hermione e beberam champanhe que Harry trouxe numa pequena bolsa térmica repleta de cubos de gelo. Hermione amava cada minuto daqueles, sentindo que era de novo o homem que conhecera há anos atrás. Ele parecia relaxado, que era como se o calendário tivesse voltado seis anos trás, escondendo os cabelos brancos que tingiam suas têmporas, a cicatriz do acidente na testa e na mão. E deitado, os olhos fechados, Hermione sentiu vontade de tocá-lo, beijar aquela boca agora conhecida. Mas ainda hesitava em se permitir intimidades com esse homem tão complexo com o qual tinha se casado no dia anterior. Harry sabia que ela o amava, porém tinha que ser cuidadosa para não ultrapassar os limites que haviam estabelecido.

Harry abriu os olhos de repente e Hermione desviou o olhar, dizendo a primeira coisa que lhe veio à cabeça.

- Sabe que quando eu tinha dezesseis anos considerava você o homem mais lindo do mundo inteiro? — Sua língua incontrolável já ia confessando certos segredos íntimos.

- Bem, tenho certeza de que de lá para cá certamente mudou de idéia, não é?

- Oh, não. — Ela sorriu, com uma sinceridade zombeteira. — Contínuo achando que é o homem mais lindo do mundo!

Harry riu alto, seus dentes alvos contrastando com a pele bronzeada, um ar de grande serenidade no rosto.

- Você devia rir com mais frequência.

- Tenho certeza que você vai me divertir.

- Farei o máximo possível, senhor — ela zombou e Harry levantou- a mão para tocar seu rosto, mas Hermione segurou-a antes e começou a examinar a cicatriz. — Harry... a respeito de sua mão...

Ele retirou rapidamente a mão, e sentou-se num gesto brusco.

- Nós não vamos conversar sobre isto.

- Mas você...

- Eu disse que não vamos conversar sobre isto! — Hermione também sentou, afastando-se um pouco dele. Fitava as mãos de Harry, que tinha recolhido um graveto no chão e agora o partia ao meio numa clara denúncia de como estava nervoso.

- Harry, não seja covarde!

Ele virou-se para Hermione, uma frieza glacial nos olhos.

- O que foi que disse?

- Disse para você não ser covarde.

- Meu Deus, eu... — Seus olhos brilhavam de fúria quando começou a falar.

- Harry — Hermione interrompeu-o e ajoelhou-se para chegar mais perto dele, tomando suas mãos e segurando-as com força. — Se você não notou como sua mão melhorou, então eu notei. E se não quiser discutir o assunto depois disso, não é só covarde mas também tolo!

Hermione soltou-lhe as mãos e voltou para perto da toalha, começando a recolher as coisas para guardá-las dentro da mochila.

Harry ficou sentado, observando cada gesto dela, uma expressão absorta de que estava imerso em profundos pensamentos.

- O que você está fazendo? — perguntou, afinal.

- Arrumando as coisas para voltarmos para casa.

- Hermione — ele começou a dizer, enquanto se aproximava e a impediu de continuar — você sempre foi um espinho irritante no meu lado. Naquela época, eu podia simplesmente evitá-la ou não, mas agora estará presente permanentemente.

- Então você esperava que eu ficasse sentada, enquanto escondia cabeça na areia como uma avestruz e se recusasse a fazer alguma coisa pelo futuro de sua carreira?

- Minha carreira como cirurgião está terminada. — Hermione ia contestar mas Harry a calou com um olhar. — Está bem, há uma leve melhora em minha mão. Talvez não tenha sido tão gravemente atingida quanto pensei a princípio, mas, o que me garante que algum dia ela ficará boa o suficiente para que eu possa operar novamente?

Hermione fitou-o nos olhos e viu que uma profunda angústia se escondia na alma de Harry. Desejou poder abraçá-lo com força, mas essa era a pior hora para demonstrações de compaixão. Não era disso que ele precisava no momento.

- Quantas vezes você operou pacientes sem dar-lhes garantia nenhuma de que a operação seria um sucesso? — Os olhos fixos Hermione não permitiam que Harry desviasse o olhar. — Você quer uma garantia escrita, antes de deixar que algum médico cuide de sua mão?

Por um longo tempo ele nada disse. Continuou fitando-a intensamente. Depois, aproximou-se e beijou-a suavemente nos lábios.

- Acho que já conversamos o suficiente a esse respeito. É melhor voltarmos para casa.

O silêncio pesava entre eles no caminho de volta. Tentavam conversar com naturalidade, mas nenhum assunto fazia sentido. Hermione não conseguia compreender como um homem tão determinado quanto Harry aceitava a derrota com tamanha facilidade. Se ao menos lhe explicasse por que agia assim.

Naquela noite, quando estavam lado a lado na cama, sem nada a dizer e sem se tocarem, Hermione decidiu que não podia aguentar mais aquela situação. Sentou-se, encostou-se na cabeceira e acendeu a luz do abajur.

- Eu sinto muito, Harry — ela disse, fitando as costas musculosas do marido. — Mais uma vez acabei dizendo coisas que não devia

Harry continuou quieto.

- Oh, diga alguma coisa, por favor, aceite minhas desculpas, ou as recuse, mas diga alguma coisa!

- A aceitação para mim não vem de maneira fácil... — Ele também sentou-se na cama e a olhou. — Hermione você chamou minha atenção para o fato de que minha mão melhorou um pouco. Mas não pretendo fazer nada até ter certeza de que realmente há motivo para ter esperanças.

- Quer dizer que não ficou bravo comigo? — Hermione estava boqui¬aberta.

- Não, não fiquei. — Harry sorriu, enquanto seus olhos fitavam com desejo os seios de Hermione, que sobiam e desciam pela gravidade da respiração dela. — Estava pensando muito, só isso.

- Sobre o que eu disse?

- Sobre isso e outras coisas também.

- E você não vai me contar? — ela perguntou ao verificar que Harry não queria continuar a conversa. Mas ele só fez menear a cabeça e sorrir com aquela ironia que deixava Hermione com vontade de saltar sobre ele e arranhá-lo, furiosa. — Por que insiste em me deixar fora das coisas, Harry? Por que não pode me dizer o que está pensando e sentindo?

- Vou dizer-lhe o que estou pensando — ele arrancou a camiseta em somente um gesto e a soltou sobre a mesinha-de-cabeceira. — Estou pensando que você fica linda quando está nervosa, e eu a quero muito.

- Pare com isso e fale seriamente. – Hermione disse encantada com a visão do peito nu de Harry.

- Eu estou falando seriamente — Harry disse com suavidade, aproximando-se e beijando o pescoço de Hermione.

- Harry, nós precisamos conversar! — ela ainda protestou, quan¬do ele já desabotoava sua camisola.

- Conversaremos amanhã — ele sussurrou em seu ouvido antes de beijá-la com paixão, fazendo com que toda preocupação cedesse lugar ao desejo de se amarem. Quando finalmente adormeceram, abraçados, Hermione sentia-se bem e segura mas, no fundo, percebia que sua felicidade era uma coisa frágil, que talvez durasse mais que uma bolha de sabão.


As duas primeiras semanas de casamento não poderiam ser descritas como o idílio maravilhoso que Hermione esperava, e segunda iniciou-se da mesma maneira. Harry estava sempre absorto, perdido em pensamentos dos quais Hermione era sempre excluída. Cada vez que ela o interrogava a respeito, Harry zangava-se e saia para pensar, voltando só horas depois, como se nada tivesse acontecido. Aquela situação já a estava deixando tensa e irritadiça, pois nunca sabia quando conversar com ele.

Certa noite, quando Harry já tinha ajudado Hermione a arrumar as louças sujas do jantar, ele disse inesperadamente:

- Volto para Johannesburg no fim desta semana.

Hermione fitou-o, surpresa, e um raio frio percorreu-lhe o corpo.

- E... E eu?

- Você vem comigo, é claro.

- Sério?

- Será que pensou que eu a deixaria aqui?

- Acho que foi a maneira como você falou, — Sua voz era calma, mas Harry a perturbara seriamente. — Quando tomou decisão?

- Hoje de manhã — ele explicou, enquanto terminava de secar um prato e colocava-o de lado sobre a pia fazendo o mesmo com o pano, para depois virar-se para Hermione.

- Será que posso saber os seus planos ou não devo nem perguntar?

- Você tem o direito de saber. É minha esposa, não é?

- Estou surpresa por você ter se lembrado disso, já que nesses dias tem me tratado como parte da mobília.

- Tenho tomado decisões difíceis. — Harry respondeu com um gesto de impaciência.

- Eu posso imaginar, mas...

- Mas...?

- Não importa.

- Você nunca hesitou em dizer algo para mim... Será que vai me esconder alguma coisa agora? — Harry falava com ar zombeteiro que deixava Hermione muito mais irritada.

- Eu o amo, Harry. Não quero incomodá-lo ou embaraçá-lo com meus sentimentos, mas gostaria muito de não me sentir excluida a maior parte do tempo!

- Excluída?

- Sim! Excluída de seus pensamentos, de suas esperanças e quem sabe de seus temores!

- Pelo amor de Deus, Hermione! Será que espera que eu lhe conte cada pensamento que me vem à cabeça?

- Não, claro que não. Só gostaria que dividisse alguns deles comigo, os mais importantes, pelo menos.

- Com os diabos, o que estou fazendo agora?

- Você poderia ter me informado enquanto ainda estava considerando esta decisão da mudança!

- Maldição! Não me venha dizer que fui arranjar uma mulher que quer me sufocar!

O fato de ter se referido a ela como "mulher" e não como "esposa" foi o suficiente para faze-la perder o controle e explodir.

- Harry, é bom que saiba que não pretendo ser somente a mulher que você leva para a cama todas as noites! Quero ser sua esposa em toda a extensão da palavra. Quero dividir as coisas boas e as ruins, quero dividir tudo! E tenho todo o direito de desejar isto!

Fez-se um pesado silêncio por alguns instantes, e então Harry perguntou com uma voz estranhamente serena:

- Já terminou o que tinha para dizer?

- Sim — Hermione suspirou.

- Então vamos colocar as coisas em seu devido lugar! — Harry se aproximou com ar ameaçador. — Quando a pedi em casamento, deixei bem claro o que tinha para lhe oferecer e você aceitou minhas condições. Se não está feliz com elas pode ir embora que não vou me importar!

Harry levantou e pouco tempo depois Hermione ouviu a porta da sala bater com força, deixando-a com uma horrível sensação de desamparo e solidão. Sim, era verdade que tinha aceitado aquela união consciente das restrições Harry. Porém era difícil não se rebelar! Ela podia ir embora se não estivesse satisfeita, ele dizia... Será que falava realmente a sério ou dissera aquilo num momento de fúria?

Hermione apoiou-se na mesa, desolada. O carro estava estacionado na garagem, tudo que ela teria a fazer era pegar suas coisas e partir. Será que era isso que Harry desejava? Sim...? Não...? Oh, Deus, ela não sabia dizer!

Quase inconscientemente, apanhou a cesta de costura e começou a pregar alguns botões numa camisa de Harry, fitando sempre o relógio. Já fazia quase uma hora que ele saira. O que estaria fazendo lá fora, na escuridão?

Tentou afastar a tensão com um banho bem quente e relaxante, mas só conseguiu acalmar-se com os pesados passos de Harry, entrando na sala. Ela desligou o chuveiro rapidamente e já ia alcançando a toalha quando ele entrou no banheiro.

Hermione o fitou perturbada, sem saber direito qual seria a atitude do marido. O rosto dele mostrava uma certa tranquilidade, o que serviu para aliviá-la um pouco. Harry avançou alguns passos, tomou-lhe a toalha das mãos e, em seguida, começou a enxugá-la gentilmente, como se ela fosse uma criança frágil. Apanhou o roupão que estava pendurado na parede, e segurou-o de maneira que ela pudesse colocar braços na manga e vesti-lo.

- Hermione, por deus, eu tive tanto medo de que você tivesse ido embora - falou aliviado, enquanto fitava os dedos da esposa abotoando o roupão.

- Sei que o deixei nervoso. Espero que tenha sido por isso que me disse tudo aquilo.

Eles se olharam com carinho e no momento seguinte Hermione estava nos braços de Harry, silenciosa. Que mais havia a dizer a não ser “te amo”? As palavras ardiam na garganta dela, querendo sair, mas não diria algo que ele não compreenderia.



- Estou feliz que tenha vindo me visitar — Gina disse, enquanto caminhava até o grande móvel da sala de jantar e pegava um envelope fechado. — Luna mandou esta carta para você.

- Obrigada — Hermione guardou o envelope na bolsa.

- Você não vai ler?

- Mais tarde. — Hermione seguiu Gina até a cozinha, onde sentou numa cadeira ao lado da pia enquanto a ruiva preparava chá para elas. Conversaram sobre muitos assuntos enquanto bebiam até que, finalmente, Hermione tocou no assunto que a tinha levado ali.

- Harry e eu vamos para Johannesburg na sexta-feira.

Gina pareceu chocada, mas recuperou-se com rapidez.

- Vão morar lá ou só passear?

- Morar, Gina. Estamos de mudança. Harry deseja se tratar com um médico amigo seu. Ele acredita que talvez possa recuperar movimentos completos com a mão acidentada.

- E você acha que existe possibilidade disso acontecer?

- Tenho certeza de que, pelo menos, ele concordará em ser operado mais uma vez. — Hermione replicou sem pensar. Gina ainda continuava cética.

- Pode imaginar como será ruim para ele se tiver esperança de se curar completamente e isto não acontecer?

- Eu prefiro não pensar.

- Mas precisa pensar, Hermione. É você quem estará lá, ao lado dele, se acontecer o que nenhum de nós deseja, então terá que preparada para lidar com esta situação, ensiná-lo a viver de novo.

Hermione sabia que a amiga tinha razão, ela precisava enfrentar e possibilidade de que o tratamento fosse mal-sucedido.

- Eu só posso ajudá-lo se ele me deixar fazer isso.

- Sim, eu sei que Harry pode ser extremamente teimoso nesse sentido.

- Queria pedir-lhe uma coisa — Hermione preferiu mudar de assunto. — Queria deixar aqui o meu carro, é muito grande para mim. Harry disse que vai me comprar um menor. Acha que Draco poderia vendê-lo para mim?

- Com certeza. O que quer que eu faça com o dinheiro?

- Guarde para mim. — Hermione sorriu, tentando parecer despreo¬cupada. — Quem sabe algum dia ainda preciso dele, não é?

- É uma coisa muito estranha de se dizer, considerando que você casou com um homem rico. — Gina replicou, franzindo a testa com um ar desconfiado.

- Você sabe que sempre pode haver tempestade.

- Ei, não está escondendo nada de mim, não é?

- Ora, Gina... Bem, vou embora. Tenho que fazer muitas compras. Há muito que arrumar até sexta-feira.

Hermione estava muito perturbada quando saiu, minutos depois. A razão de sentir essa incerteza e angústia com relação a seu futuro com Harry era algo que não sabia explicar.



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