Capítulo IV



Foram necessários alguns segundos para que as palavras de Harry rompessem a armadura que Hermione tinha colocado em volta de si mesma. "Aceita se casar comigo?", ele havia perguntado, e ela não sabia se devia rir, chorar, ou investir furiosamente contra ele. Sim, pois era claro que não podia estar falando sério... Ou será que podia?

Não havia sinal de ironia no rosto de Harry, só a expressão de quem esperava pacientemente uma resposta a algo muito sério. Aos poucos, Hermione conseguiu recobrar o autocontrole.

- Bem, sempre imaginei que uma proposta de casamento deveria ser procedida de uma declaração de amor — ela conseguiu falar com um certo ar zombeteiro, cruzando os braços, apesar de estar enormemente embaraçada.

- Não tenho muito amor para lhe oferecer, mas preciso de uma esposa.

- O que está realmente dizendo é que precisa de uma mulher em sua cama, não é, Harry?

- E isso é tão terrível assim?

- Sim... e não. — Hermione virou-se e olhou o jardim, através da janela. Tudo lá fora parecia calmo e normal, tão distante da tormenta que ganhava dentro dela. — Por que eu, Harry, por que justamente eu? — ela perguntou, sem se virar.

- Você é uma ótima companhia, uma cozinheira excelente e nunca em minha vida usei roupas tão bem passadas.

- Suponho que eu deva me sentir lisonjeada.

- Com os diabos. Hermione, se é todo aquele palavratório romântico que deseja ouvir, então é melhor esquecermos tudo, mas... — Ela virou-se e seus olhos se encontraram. — Hermione, acho que seremos felizes se casarmos!

- Devo dizer que você esteja se referindo ao aspecto físico do casamento.

- Sim. estou.

- Você não está realmente me oferecendo muita coisa, não é? Só desejo físico.

- Nunca lhe faltará nada, Hermione.

- Ora, Harry! — Ela começava a ficar furiosa. — Será que é capaz de pensar que o status financeiro de um homem tem alguma importância para mim, quando se trata de casamento?

- Não sei, Hermione. — Harry passou as mãos pelo cabelo negro, extremamente incomodado. — O que você deseja, então?

- Quero aquilo que você obviamente não é capaz de me dar — Ela sempre havia dito o que sentia e, principalmente agora, não poderia esconder nada. — Eu quero seu amor.

Ele pareceu surpreso, sem saber como reagir. Alguns momentos se passaram antes que afinal dissesse algo.

- E por que isso seria tão importante?

- Porque eu o amo, Harry.

Hermione falou com voz tranquila, revelando o segredo guardado por tanto tempo. Se Harry ainda tivesse alguma dúvida a respeito da verdade daquelas palavras, então um simples olhar para Hermione seria capaz de confirmar-lhe a imensidade daquele amor.

- Você é realmente sincera. — Ele parecia acusá-la.

- Acredito na verdade, ainda que ela possa machucar, às vezes.

Uma eternidade se passou enquanto Harry continuava passando as mãos pelo cabelo nervosamente, mergulhado nos próprios pensamentos. Hermione também nada tinha a dizer.

- Não posso lhe dar o que não tenho para ofertar a ninguém, Hermione — ele falou, finalmente. — Posso dar-lhe companhia, carinho, respeito e o lado físico do amor, mas não mais que isso... É esta minha proposta e, como vê, também estou sendo absolutamente sincero.

- Talvez esteja fazendo a maior besteira de minha vida — ela disse enquanto aproximava-se dele, parando a um palmo de distância de Harry, não ligando para a voz interior que lhe gritava para ter precaução. — Eu aceito o seu pedido, Harry.

Era alívio, que existia nos olhos dele? Harry abraçou-a, seus lábios se encontrando num beijo profundo e demorado.

Hermione desejava que aquele momento nunca mais terminasse, mas a vida real é inexorável e, em pouco tempo, Harry se afastava.

- É melhor voltar para a segurança da casa de Gina — ele falou, brincando. — Poderemos discutir todos os detalhes amanhã.

Hermione não o contradisse. Estava muito feliz e, ao mesmo tempo, consciente do fato de que tinha concordado em casar com um homem que nunca a amaria da maneira como ela o amava.


Foi só após o jantar, naquela noite, que Hermione deu a notícia a Gina e Malfoy. Como já esperava, a reação da ruiva foi a pior possível.

- Ora, Hermione, você está ficando louca? — A voz calma de Gina de repente ganhava um tom cortante.

- Eu o amo, Gina.

- É uma grande tola se imagina que algum dia ele poderá vir a sentir a mesma coisa por você.

Aquilo doía, sempre iria doer, mas Hermione não deixaria que Gina percebesse como esse fato a fazia sofrer.

- Eu sei que ele não me ama. Harry deixou isso bem claro. E eu aceitei sua proposta nessas condições.

- E Cho Chang? Que acontecerá se ela resolver aparecer de novo na vida dele?

Era como se uma faca pontiaguda perfurasse o coração de Hermione, mas ela nada deixou transparecer.

- Espero que, se um dia isto vier a acontecer, ele já tenha se apaixonado por mim. — Hermione disse com um sorriso malicioso e brincalhão, mesmo que toda sua alma estivesse a acusando de tamanha enganação.

- Oh, Hermione! — Gina maneou a cabeça e fitou Malfoy por um segundo, como se pedisse ajuda. — Você sabe no que está se metendo?

- Sei que não será fácil — Hermione suspirou — mas espero que o melhor aconteça.

- Bem, se é que me permitem, gostaria de dizer algo — Draco aproximou-se de Hermione. — Felicidades, querida! — Ele abraçou com carinho e beijou-a suavemente no rosto. — Quando será o grande dia?

- Bem, não conversamos a respeito disto ainda, mas... — Hermione fitou Gina — ... tenho certeza de que será breve.

Gina parecia mais calma, quase aceitando o fato. Ela chegou perto de Hermione e tomou-lhe a mão.

- Tenho medo do que possa vir a lhe acontecer, Hermione.

- Ora, não seja boba, querida. — Malfoy tentava confortá-la. — Hermione sabe o que está fazendo e é capaz de tomar conta de si mesma.

Mais tarde, já deitada na cama, mas sem conseguir adormecer, Hermione pensava nas palavras de Draco: "Hermione é capaz de tomar conta de si mesma" Ela apreciava a confiança que o marido de sua amiga depositava nela, porém duvidava daquelas palavras. Será que seu amor por Harry não a tornaria mais vulnerável quando estivessem casados? Pensando em tudo aquilo, ela mal dormiu durante a noite e, na manhã seguinte, acordou com uma terrível dor de cabeça que só começou a ceder depois que tomou dois comprimidos.

Quando chegou à High Ridges, Harry estava sentado na cozinha, segurando uma xícara de café entre as mãos. Sua barba estava por fazer e havia uma sombra em seu olhar.

- Desisti de meu exercício matinal — ele disse, referindo-se à caminhada que fazia todas as manhãs para exercitar a perna.

- Você não está doente, está?

- Não, estou bem. Só não consegui dormir esta noite.

- Bem, para mim também não foi fácil.

- Você reconsiderou sua decisão? — Ele tinha um brilho de ansiedade no olhar.

- Não! – respondeu Hermione sem hesitar - E você, Harry?

Harry levantou e chegou perto de Hermione. Tomou seu rosto nas mãos e beijou-a com delicada sensualidade.

- Eu a quero, Hermione, e só Deus sabe como necessito de você a meu lado — Seus corpos se separaram e Harry afastou-se um pouco. — Temos muito que conversar, não é?

- Está bem, vamos conversar, então — ela concordou, ignorando o pedido de seu corpo para que aquela troca de carícias continuasse.

- Quando pretende casar comigo? — Harry perguntou e Hermione invejou seu autocontrole.

- Assim que você quiser.

- Sábado?

Hermione sentiu um frio na barriga, que a fez prender a respiração por um momento.

- Só faltam dois dias para sábado.

- É claro que podemos esperar mais se você desejar um casamento tradicional, com todas as formalidades e a pompa usual.

Ele tinha feito a oferta, e Hermione sabia que Harry concordaria em fazer as coisas como ela preferisse, apesar de não haver dúvida de que não sentia vontade de passar por um casamento tradicional. Ela também não estava inclinada a fazer isso. Seu pai havia morrido há poucos meses e Gina acabava de ter o bebê.

- Acho que podemos fazer uma cerimônia informal e sem convidados. Como não há muito a preparar penso que sábado será uma ótima data.

- E sua família?

- Eles concordarão com o que eu decidir.

- Não fizeram objeção, quando você disse que pretendia casar comigo?

- Gina achou que eu estava ficando louca, mas concordou que já tenho idade suficiente para decidir por mim mesma. — Hermione preferiu mudar de assunto. — Nós vamos morar aqui, não é?

- Por algum tempo, sim.

- Harry... — Ela hesitava, mas a pergunta tinha que ser feita. — E Cho?

Os olhos de Harry pareceram ganhar a frieza de um iceberg.

- Nós não conversaremos sobre ela.

- Mas...

- Já disse que prefiro que nunca conversemos a respeito dela — ele replicou num tom selvagem, levantando-se em seguida. — Ela pertence ao passado, e é onde deve permanecer!

- Está bem, se é assim que você prefere. — Hermione falou com frieza e rispidez.

- Hermione, por favor, tente compreender.

Quando tomou suas mãos, ela sentiu que Harry tremia um pouco. Ele apertou-a num abraço forte, sufocante, e Hermione sentiu um novo medo brotar em sua alma. O que ele lhe pedia para compreender? Que a estava usando para esquecer Cho Chang? Oh, Deus, aquilo doía muito...

- Acho melhor começar a arrumar a casa — ela pronunciou assim que seus corpos se separaram.

- Vou até a cidade acertar nossos papéis.

Quando Harry saiu, Hermione sentiu que seu corpo inteiro tremia, numa sensação confusa de alegria, medo, ansiedade e esperança. Ela sempre fora muito autoconfiante e não seria diferente desta vez. Sim, aquele casamento ia dar certo, ela faria tudo para que isso acontecesse e, quem sabe, talvez um dia Harry viesse a amá-la.

Hermione saiu para fazer compras naquela tarde, preocupada sobretudo em achar o vestido que usaria no dia do casamento. Decidia que não poria o tradicional vestido branco, optou por um lindo modelo de cor bem clara, simples e elegante.

- É esse vestido que vai usar no casamento? — Gina perguntou pouco antes do jantar, quando entrou no quarto de Hermione e viu o vestido pendurado no cabideiro.

- Sim, é simples e muito bonito.

- Tenho certeza de que você ficará adorável nele.

- Acha mesmo?

- Claro que sim!— Gina garantiu. — Bem, vim avisar lhe que temos um convidado para jantar. Sugiro que vista algo mais especial.

- É alguém importante? — Hermione perguntou distraída, enquanto arrumava suas compras dentro do guarda-roupa.

- Deixarei que você mesma decida isso. — Gina sorriu para Hermione. — Vou terminar de arrumar as coisas. Não demore muito, está bem?

Gina saiu e Hermione suspirou, um pouco irritada. Tinha que terminar de escrever uma história e despachá-la para a editora o quanto antes. Seu casamento já bastava para ocupar-lhe todo o tempo disponível e, se Gina e Draco tinham um convidado para jantar, bem que podiam tê-la deixado fora daquilo. Ela não se sentia com muita vontade de ser agradável para estranhos, mas não podia desapontar Gina.

Quando afinal já estava pronta, olhou-se no espelho e percebeu seu ar frágil e feminino. Sim, externamente ela era uma fortaleza, sempre pronta a dizer tudo aquilo que pensava. No fundo de seu coração, porém, era terna e frágil. Sempre houvera um homem com a capacidade de revelar aquele seu lado tão feminino e, dentro de pouco tempo, este homem se tornaria seu marido!

Marido!... Harry seria seu senhor, pois sua alma e seu corpo lhe pertenciam, ela não podia enganar a si própria. Pensar assim a deixava nervosa e confusa. Não tinha nenhuma experiência em intimidades sexuais, guardara-se para o homem que um dia seria seu marido. Entretanto, o medo de decepcioná-lo crescia dentro dela, e com ele a dúvida sobre se teria agido corretamente.

Era um pensamento perturbador, mas Hermione fez força para tirá-lo da cabeça e desceu as escadas, em direção à sala.

Podia ouvir Gina na cozinha, terminando de preparar o jantar. Draco certamente estaria no estúdio, entretendo o convidado. Assim que chegou à grande sala de estar, viu Harry de pé, ao lado da janela.

Se ele fez algum gesto que a convidasse ou se foi algo espontâneo de sua parte. Hermione jamais saberia. Mas ela correu para os braços dele tão naturalmente quanto um pássaro volta ao ninho. Trocaram um beijo rápido e caloroso antes de se separar.

- Por que ninguém me disse que você estava aqui? — Hermione perguntou, admirando a beleza de Harry vestido com uma jaqueta bege e uma elegante calça mais escura.

- Você já ia descer de qualquer maneira... Hermione, temos muito o que conversar.

- O quê, por exemplo?

- Sobre você e eu, sobre nosso casamento no sábado à tarde, e sobre nosso futuro! — O sorriso de Harry o tornava ainda mais bonito e atraente.

- Harry...

Ele enfiou a mão no bolso da jaqueta e tirou uma pequena caixinha. Dentro dela havia um lindo anel com um rubi rodeado por pequenos brilhantes. Harry colocou a delicada jóia no dedo de Hermione.

- Oh, Harry... — Tomada pela surpresa, ela não sabia o que dizer.

- E então, você gosta?

- É lindo, mas...

- Mas...?

- Você não devia... — Hermione não conseguiu acabar de falar, pois duas lágrimas caíra de seus olhos.

- E nunca a vi chorar antes — Harry disse ao mesmo tempo emocionado e preocupado.

- É uma de minhas falhas. Quando estou feliz, sempre termino chorando.

Harry acariciou-lhe o rosto e, com muita ternura, secou com um beijo as lágrimas que corriam por seu rosto.

- Posso entrar? — Gina perguntou, batendo na porta.

- Claro que sim — Harry concordou enquanto se afastava um pouco de Hermione. Gina entrou na sala, com Draco.

- Acho que a ocasião pede um champanhe, vocês não concordam?

- Tem toda a razão! — Hermione concordou, radiante de, felicidade.

A garrafa foi aberta com estardalhaço e brindaram à saúde dos noivos. Hermione sentia-se feliz como nunca, todos conversavam animados, e ela chegou- a pensar que Harry também estava tão feliz quanto ela. Entretanto, mais de uma vez percebeu uma sombra no olhar do homem que amava, como se por um momento ele se distanciasse daquilo tudo. Será que pensava em Cho Chang, será que desejaria que fosse ela a noiva a qual brindavam?

Aquele pensamento doía e, durante o jantar, Hermione ficou calada a maior parte do tempo. Entretidos com o clima do, momento, ninguém percebeu seu ar pensativo entre um sorriso e outro.

Quando Harry afinal anunciou que ia embora, Hermione o acompanhou até o carro. Havia tantas coisas que ela desejava lhe dizer, mas as palavras simplesmente não apareciam. O fato de Harry estar imerso nos próprios pensamentos só servia para deixá-la mais confusa.

- Nos veremos amanhã? — ele perguntou de repente.

- Com toda certeza — ela replicou, com uma vivacidade que soou falsa a seus próprios ouvidos.

A noite não havia sido a mais tranquila nem a menos perturbadora possível, no entanto, tudo isso perdeu a importância quando suas bocas se encontraram num longo beijo de despedida.

- Harry — ela disse, enquanto se desembaraçava de seus braços e se afastava um pouco — se você ainda quiser mudar de idéia a respeito de nosso casamento, pode estar certo de que eu compreenderei.

- E o que a faz pensar que eu desejaria mudar de idéia?

- Nada em particular. — Ela engoliu em seco. — Estou só lhe dando a oportunidade de cancelar tudo, se ainda tiver alguma dúvida a respeito da decisão que tomamos.

Harry chegou mais perto de Hermione e colou seu corpo ao dela, num abraço carinhoso e excitante.

- Quero casar com você, Hermione, só não tenho certeza se estou sendo justo com você.

- Diz isso por saber o que eu sinto por você, Harry?

- Sim, exatamente.

- Você foi honesto comigo e honestidade é tudo que eu sempre quis.

- Eu tinha quase certeza de que você ia dizer isso, Hermione, mas... - Ela pôs o dedo sobre os lábios dele.

- Sei o que quero Harry, e se você permitir, farei tudo para torná-lo feliz.

- Você é a pessoa menos egoísta que conheci em toda minha vida, e espero nunca tirar vantagem disso. — Ele puxou-a para perto com enorme suavidade. Mais uma vez os dois se perderam num beijo prolongado e profundo. — Boa noite, Hermione — ele murmurou afinal com suas testas coladas. Em seguida entrou no carro e partiu.



Pela segunda vez em menos de dois meses, Hermione estava empacotando suas coisas. Ela tinha ido à fazenda de Harry na sexta de manhã, sabendo que aquela era a última vez que o veria antes de casarem. Agora, sábado de manhã, havia tanta coisa a fazer que o tempo parecia escasso para tudo. Hermione se perguntava se Harry também estava nervoso e aflito como ela, e se os homens não sofriam dessa tensão antes do casamento.

- Essas são as últimas? — Malfoy perguntou, trazendo-a de volta à realidade. Era ele quem estava levando as coisas de Hermione para High Ridges, e aquela seria a última viagem que faria antes do casamento.

- Sim. Só faltam essas duas malas.

- É melhor você se apressar, Draco — Gina disse, assim que entrou na sala. — Não se esqueça de que ainda tem que tomar banho e se arrumar depois que voltar de High Ridges.

- Ora, ainda há muito tempo, querida. Não são nem duas horas!

- E o casamento será as quatro, o que significa que está quase na hora! — Hermione interveio em tom brincalhão.

Sim. Dali a pouco mais de duas horas ela seria a Srta. Potter, e seus sentimentos estavam cada vez mais confusos. Draco e Gina saíram, deixando-a sozinha na sala. Por mais inacreditável que pudesse parecer, no fundo ela sentia-se extremamente calma. Na verdade, talvez não fosse difícil saber a razão dessa mistura de excitação e medo. Afinal, ia casar com o homem que amara durante toda a vida, e aquele frio que insistia em percorrer a espinha certamente devia ser devido à ansiedade de uma noiva prestes a seguir para a igreja.

Esta noite estarei dormindo com Harry, ela pensou. Dormindo em sua casa, em seus braços e... Oh, não queria desapontá-lo de nenhuma maneira.

Mas agora não havia muito tempo a perder, e Hermione foi tomar banho. Já estava em seu quarto, pouco mais tarde, se maquilando, quando Gina entrou. Seus olhos se encontraram através do espelho.

- Hermione, talvez este seja o último momento em que poderemos conversar a sós antes do casamento.

Hermione olhou Gina com certa preocupação, sabendo que a última coisa que desejava naquele momento era conversar sobre as condições em que aquele casamento se realizava.Gina certamente compreendeu a apreensão dela e deu um sorriso.

- Tudo que tenho para dizer é que se algum dia precisar de mim, estarei sempre perto para ajudá-la em tudo que for possível.

- Oh Gina! — Hermione não pôde evitar as lágrimas que irromperam de seus olhos. Ela se levantou e abraçou a amiga, com força. — Sabia que podia contar com você, muito obrigada!

Quinze minutos depois, os três seguiam para a igreja, Draco dirigindo o carro. O Jaguar branco de Harry já estava estacionado ao lado do templo e pela primeira vez naquele dia, Hermione sentiu-se realmente nervosa. Seu coração batia acelerado e ela não parava de esfregar as mãos uma na outra.

Harry a esperava sob o grande umbral da porta e, quando suas mãos se tocaram, todo o nervosismo pareceu abandonar Hermione. Ele estava lindo num elegante terno claro, os cabelos rebeldes - pelo jeito que o conhecia saberia dizer o tempo que devia ter ficado tentando arruma-los, que no fim acabou por desajeitar mais ainda - e o aroma de sua colônia perfumando ainda mais aquela bela tarde de abril.

Foi um casamento extremamente simples, que teve Gina e Malfoy como únicas testemunhas. Seria, porém, o dia mais memorável na vida de Hermione. Várias lágrimas rolaram por sua face quando finalmente saíram sob o sol à porta da igreja. Harry passou-lhe um lenço de seda, enquanto o outro casal, inesperadamente, os cobriam com uma chuva de grãos de arroz.

- Tenho champanhe esperando por nós no hotel. — Harry anunciou. — Nos encontramos no saguão, está bem?

- Não se apressem — Draco falou com um sorriso malicioso. — Se demorarem um pouco mais, compreenderemos o que aconteceu.

Nenhum dos dois conversou, enquanto Harry dirigia. Hermione não perguntou nem por que ele tomou uma direção diferente da de Malfoy e Gina. Em pouco tempo, estavam numa pequena estrada calma e tranquila. Harry estacionou sob a sombra de uma árvore.

- Eu tinha que tê-la, mesmo que fosse só alguns minutos. — Ele sorriu e em seguida lhe deu um beijo tão apaixonado que abalou todos os sentidos de Hermione. Quando afinal suas bocas se separaram, ela tinha a respiração entrecortada e as idéias embaralhadas. — Eu precisava disto — ele confessou. Apesar de não dizer nada, Hermione sabia que também precisava.

Hermione sentia-se muito feliz quando, duas horas mais tarde, novamente se viu a sós com Harry depois de terem tomado o champanhe com Draco e Gina. Entretanto, ele tinha mais uma surpresa para ela: reservara uma mesa no melhor restaurante da cidade. Enquanto fitavam um ao outro, durante o jantar, Hermione sabia que as pessoas em volta não teriam nenhuma dúvida de que se tratava de um casal recém-casado. Ela não conseguia desviar os olhos de Harry. Ele era tão lindo, e agora era seu marido.

O jantar foi calmo e delicioso. Eles conversavam despreocupadamente sobre os mais variados assuntos. Hermione continuava totalmente absorvida pela presença de Harry, alheia a tudo que passava a seu redor.

- Foi um dia muito longo — ele disse, quando tomavam o café.

- Sim, muito longo e repleto de acontecimentos.

- Vamos embora, então?

Hermione fitou-o com olhos cheios de malícia.

- Pensei que nunca fosse sugerir isso.

Harry respirou fundo e também esboçou um sorriso malicioso.

- Você é uma pequena feiticeira — sussurrou ele, sorrindo. — Vamos?

Hermione estava surpresa por ser tão fácil para ela falar as coisas daquela maneira. Pensou que devia ser o campanhe que tinha afastado todas as suas inibições.



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