Capítulo 17



CAPÍTULO 17:


-Pai...

“Até quando ela ia continuar a fugir?”

-Pai...

“Não importava a hora que ele chegasse na Toca, nunca conseguia encontrá-la.”

-Pai...

“Ela deve estar se divertindo com o meu desespero”.

-PAAAAAAAAIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII....

O grito foi acompanhado por um nada delicado cutucão no braço.

-Aiii... O que é Matt? – perguntou impaciente.

O menino se assustou com o tom usado pelo pai.

-Desculpe, papai, eu não queria incomodar.

Harry se arrependeu no mesmo instante que viu a expressão magoada do filho, afinal ele não tinha que descontar no garoto a frustração que estava sentindo. Trouxe o menino para perto e lhe deu um abraço.

-Você é que tem que me desculpar, eu não devia ter falado assim. Você me desculpa?

O menino deu um sorriso e deu um abraço apertado no pai.

-Tudo bem.

-Mas para que você estava me chamando?

-Eu queria perguntar se nos podíamos dar mais uma volta de vassoura.

-Claro que podemos. Vá ao seu quarto buscar um casaco.

Harry ficou observando o filho enquanto ele atravessava a sala e subia as escadas como um raio. Era o primeiro final de semana que Matt ia passar com ele e o moreno estava adorando a experiência.

Já era fim da tarde de sábado e desde a noite de sexta os dois tinham se divertido muito juntos. O cronograma de atividades deles envolveu saborear uma pizza, sobrevoar a cidade e jogar várias partidas de Snap explosivo até tarde na primeira noite; assistir ao treino do Chuddley na manhã seguinte, passear pelo Beco Diagonal, onde almoçaram e se dividiram entre apreciar os artigos das Gemialidades Weasley e da Artigos de qualidade para quabribol. Tudo estava sendo perfeito, exceto pelo fato de que agora, na tentativa de se recuperar do cansaço, Harry havia sentado para assistir televisão que não foi capaz de distraí-lo o suficiente, e assim o assunto que vinha o perturbando tinha achado espaço para voltar à tona. Ginny.

A ruiva continuava com a tática do esconde-esconde. Harry tinha plena certeza de que o fato de ter sido dada a ele a oportunidade de passar dois dias inteiros com o filho, tinha muito a ver com o fato da mãe dele querer se ver livre da possibilidade de vê-lo.

-Já estou pronto! – Matt descia a escada ruidosamente.

-Então vamos!

Mathew o seguiu enquanto ele foi ao armário de casacos que ficava no hall de entrada e de lá tirava a vassoura e a capa de invisibilidade. Os dois se dirigiram então para o quintal. Harry jogou a capa nas costas e montou a vassoura, enquanto Matt assistia a tudo ao seu lado. Mantendo a vassoura numa altura baixa, o homem segurou o filho por debaixo dos braços, o ergueu do chão e fez com que ele montasse a frente dele na vassoura.

A já conhecida sensação de liberdade tomou conta dele, a presença de Matt e o vôo conseguiram diminuir o sentimento ruim que havia dentro dele. Mesmo protegidos pela capa de invisibilidade, Harry fez com que a vassoura subisse o bastante para que as construções da cidade se tornassem pequenos pontos luminosos na escuridão que começava a envolver a cidade.

-Eu adoro voar! – ao mesmo tempo que disse isso Matt abriu os braços e passou a movimentar as mãozinhas para brincar com a corrente de ar produzido pelo movimento da vassoura – Pai, quando eu vou poder guiar uma vassoura?

-Bem, uma dessas, só quando você tiver 12 anos! – Harry escutou os muxoxos indignados do filho – Mas existem vassouras para crianças, então podemos resolver isso no seu aniversário.

-Vassouras para criança não voam tão alto quanto essa, não tem a mínima graça.

-Não seja apressado, Matt, tudo a seu tempo.

-Bem, o senhor não fez tudo ao seu tempo. Você guiou uma dessas antes de ter a idade certa, não é?

-Bem... – Harry se sentiu ligeiramente desconfortável com a observação do filho – Mas era diferente.

-O que era diferente? – insistiu o menino.
-Ora... Foi por um acaso, eu não quis guiar uma vassoura antes da idade certa, não foi essa a intenção. Além disso eu era mais velho do que você é agora.

-Os adultos sempre arrumam uma desculpa – resmungou o garoto.

Harry se sentindo tocado pela indignação do filho e também pela ponta de orgulho que sentiu por perceber que o filho gostava de voar tanto quanto ele, resolveu:

-Olha Matt, por que não fazemos assim: no seu aniversário nos compramos uma vassoura infantil... – o menino deu um muxoxo – ...mas por enquanto, eu vou te passar umas lições na minha vassoura, o que acha?

-Quer dizer que você vai me ensinar a guiar? – Matt virou o rosto para trás afim de encarar o pai, com um enorme sorriso no rosto.

-Vou... – por incrível que pareça o sorriso do menino se alargou - ...mas você só vai poder voar alto comigo por perto, entendeu?

-Sim...

-Promete? – perguntou sério.

-Prometo papai!

Satisfeito com a promessa do filho, Harry começou imediatamente as lições. Primeiro ensinou como segurar a vassoura, depois, com as mãos cobrindo as do filho, passou a ensiná-lo como fazer com que a vassoura obedecesse aos comandos da sua mão. No primeiro momento, Mathew fazia com que a vassoura fizesse movimentos bruscos, mas meia hora depois já havia conseguido controlar o pedaço de madeira. Após algumas horas, Harry deu as aulas daquele dia por encerradas.

-Agora vamos voltar para casa filho.

Aproveitando a deixa, orientou Matt a aterrissar. Quando sentiu os pés encontrarem o chão, depois de uma descida levemente desajeitada, ajudou o filho a desmontar da vassoura. Mal ele tinha feito o mesmo, viu o filho pular em seu pescoço e lhe dar um abraço muito apertado.

-Obrigada, papai! Foi o melhor dia da minha vida.

-Não tem de que, garoto – ao ver a felicidade do filho, sentiu que aquele também era o melhor dia da sua vida.

-A mamãe nunca me deixaria fazer isso.

-É que sua mãe se preocupa muito com você.

-É, eu sei. Vovô sempre diz que as mulheres da nossa família são excessivamente preocupadas com a cria – Harry achou graça da fala e da postura do filho. Com as mãos na cintura e uma expressão séria, balançava a cabeça em uma atitude que misturava resignação e desaprovação.

-Mas isso é bom, não é? Significa que elas os amam muito – disse enquanto os dois entravam na casa e se dirigiam a cozinha.

-É... Acho que sim - Matt se sentou numa cadeira e anuiu quando o pai com um gesto mudo lhe ofereceu um refrigerante.

Após um momento de silêncio, Matt voltou a falar.

-Pai!

-Uhn? – Harry murmurou enquanto bebia o refrigerante.

-É que... – Mathew balançou a cabeça e completou – Não, não é nada.

Vendo que o semblante do filho parecia preocupado, Harry insistiu.

-Diga Matt. O que está lhe preocupando?

-É que a minha mãe... – o menino repetiu o gesto – Não, não, eu não posso contar, eu prometi.

-Sua mãe? – o moreno perguntou exasperado – Tem alguma coisa acontecendo com a sua mãe?

-Desculpe papai, mas eu não posso te contar.

-Sua mãe disse que era pra você não me contar?

O garoto pensou por alguns instantes e de repente suas feições se tornaram animadas.

-Não! O que ela disse, é que não era para eu contar para o meu vô e minha vó. Mas não disse nada sobre você, o que quer dizer que para você eu posso contar, não é?

-É claro que sim! – Harry confirmou desesperado – O que está acontecendo com sua mãe, Mathew?

-Ela está passando muito mal. Toda vez que vou ao quarto dela de manhã, ela está deitada, fazendo careta e com a mão na barriga, e às vezes ela corre para o banheiro. Quando eu pergunto, ela diz que só está indisposta, mas que logo, logo, vai passar. Um dia eu disse que ia chamar o meu vô e minha vó para ajudar, mas ela disse que não, que estava tudo bem e me fez prometer que eu não contaria nada a eles, para que não ficassem preocupados com bobagens.

Alguma coisa na cabeça de Harry se pôs em alerta. Rony tinha falado muitas vezes sobre aquilo, de como era horrível quando Mione estava no início da gravidez e passava mal todas as manhãs. Então era por isso que ela vinha fugindo dele, provavelmente foi por isso que ela pediu licença do trabalho. Isso também justificava o fato de Hermione, não querer mais conversar com ele sobre Ginny, ela provavelmente sabia, e por medo de revelar alguma coisa, evitava o assunto.

Ginny estava grávida.

De súbito uma onda de felicidade começou a invadi-lo, o que fez com que ele tomasse uma decisão. Não ia mais deixar Ginny fugir dele, ou melhor, DELES. Essa gravidez era a prova de que o amor deles devia prevalecer. Ele não ia esperar, ia falar com Ginny agora mesmo.

Já ia levantar da cadeira, quando um nome lhe veio a mente.

Thomas.


_____________________________________________________________________


Há horas ele estava olhando para o nada. Chamar por ele mais uma vez era pura perda de tempo. Estava adorando passar o fim de semana com o pai, mas, definitivamente ficar olhando para o nada não era o que se podia chamar de diversão.

Essa era uma situação que pedia atitudes drásticas. Bem, é verdade que ele não sabia o que exatamente significava isso, mas sempre que os tios, Fred e George, diziam essa frase, e isso sempre acontecia em dias chuvosos, nos quais Matt e os primos eram proibidos de brincar no quintal, a diversão estava garantida.

Mathew adquiriu a posição que sempre assumia quando se concentrava em algo. Apoiou o cotovelo na mesa e a cabeça na mão, os dedos então, passaram a ser tamborilados sobre o queixo. Olhou para a televisão onde um episódio de um desenho, que diga-se de passagem ele já tinha assistido umas mil vezes, era exibido. Não... assistir àquilo pela milésima primeira vez não era uma opção. Então... O que fazer?

Deu mais uma olhada no pai... Ele continuava olhando Merlin sabe pra onde. E o pior é que nem se estivesse n´A Toca ele estaria livre disso. A mãe também andava muito distraída e além disso, todo dia de manhã ficava com o rosto com a mesma expressão e a mesma cor de quando o padrinho de Matt ia entrar numa partida de Quadribol. E, além disso, quando estava na casa da mãe, tinha que aturar aquele cara... Thomas. E pensar que ele teve a ousadia de pedir que Matt o chamasse de “Tio Dino”... Pois sim! Ele é que esperasse sentado.

Mathew via como o Sr. Thomas, era assim que ele se referia ao sujeito, olhava para sua mãe. Também percebia o olhar que o padrinho e a madrinha lançavam a mãe e ao Sr. Thomas quando eles vinham jantar na Toca e o sujeito estava lá, quase babando em cima da sua mãe e enchendo a vó Molly de elogios. O padrinho mantinha no rosto um olhar assassino, e ao contrário da madrinha, que quando a mãe de Matt a encarava disfarçava o olhar de desaprovação com um sorriso, Rony fazia questão de mostrar que não estava gostando daquilo. O que fez Matt se sentir muito grato ao padrinho.

Mas Matt não tinha facilitado para o Sr. Thomas. Ele podia ser o “amorzinho” que a avó dizia que ele era, mas também podia ser motivo de orgulho para os tios gêmeos. Uma fada mordente escondida num paletó, uma lesma de jardim estrategicamente posicionada sob uma folha de alface, um gnomo acidentalmente jogado no colo do Sr. Thomas... É, apesar de essas brincadeirinhas inocentes, foi como ele as tinha denominado para a mãe e a avó, terem resultado em alguns dias sem TV e sem sobremesa, tinham rendido a Matt horas de satisfação, sorrisos cúmplices do avô e uma camisa novinha dos Chuddley, um presente do padrinho.

E não importava o quanto a mãe e a avó ralhassem com ele, Matt ia continuar lutando. Por que era assim que ele encarava o fato de ter que fazer aquele cara parar de ir atrás da mãe dele, era uma Guerra. Afinal de contas, agora que o pai tinha voltado, eles tinham que passar a viver juntos. Matt não queria ter que escolher passar o fim de semana com a mãe ou com o pai, ele queria ficar com os dois, durante a semana, os finais de semana e até mesmo nos feriados. Era assim que uma família de verdade era, era assim que tinha que ser.

No Natal, achou que tudo tivesse sido resolvido. Afinal de contas a mãe e o pai tinham se beijado, ele tinha visto. Quando aquilo aconteceu, ele quase gritou de tanta felicidade, mas a madrinha o impediu. Mandou que ele entrasse e mais tarde pediu para que ele não comentasse sobre aquilo com os pais. Matt obedeceu, mas ficou tão agoniado, por que os pais nos dias que se seguiram se comportaram com se nada tivesse mudado, que falou escondido com a madrinha pela lareira.

Disse para a madrinha que não entendia por que os pais ainda não estavam juntos, não entendia por que eles ainda não podiam ser uma família. Quando respondeu, a voz de Hermione era carinhosa e meio chorosa. Segundo a madrinha, era uma situação complicada – como tudo que envolve os adultos, Matt não pode deixar de pensar – e que Harry e Ginny iam resolver aquilo com o tempo. Mathew perguntou a madrinha quanto tempo aquilo ia levar e a resposta que ele obteve foi: “Tenha paciência, tudo vai se resolver da melhor maneira possível”.

Ele odiava esse tipo de resposta, sabia que aquilo significava que ia demorar um bom tempo. Tudo bem, ele podia não falar nada com os pais, mas isso não impedia que ele ajudasse, e era por isso que ele estava determinado a botar o Sr. Thomas para correr, era um obstáculo a menos para que o pai e a mãe resolvessem logo a situação complicada deles.

- Pai?!

Humf! Não tinha jeito, o pai continuava no mundo da lua. Matt se pôs a caminhar pela casa, quem sabe assim ele não encontrasse algo para fazer. Foi ao quarto que o pai tinha feito para ele, mas não se interessou por nenhum dos brinquedos. Não tinha graça brincar com eles sozinho. Voltou ao andar de baixo, o pai continuava olhando para um ponto fixo no quintal. Mathew se dirigiu ao hall de entrada, o armário estava com a porta entreaberta.

Uma idéia lhe passou pela mente. Inclinou o corpo para conseguir avistar o pai sentado na poltrona da sala, bem, não fazia mal olhar, não é? Entrou no armário, e como imaginou que seria, lá estava a vassoura do pai. Ele sabia que era o último modelo, a mais rápida, a mais bonita. Como tinha sido boa a sensação de guiá-la, esperava que pudesse fazer de novo.

Não resistindo, tirou a vassoura do canto e passou a examiná-la mais de perto. Passou a mão pelo cabo de madeira escura e depois pelas cerdas que eram macias, mas ao mesmo tempo eram bem fixadas, não permitindo que o conjunto perdesse o formato. A vontade de montar foi muito grande. Então, ele, depois de inclinar o corpo para ver o pai, saiu do armário e passou uma das pernas por cima do cabo. Deu um impulso muito leve, e a vassoura se afastou poucos centímetros do chão. Direcionou o cabo levemente para baixo, e imediatamente estava com os pés no solo.

Desmontou da vassoura, e já se encaminhava para colocá-la no armário, mas outra idéia lhe passou pela mente. Talvez o pai se animasse em dar um passeio, assim como Matt, ele adorava voar. Foi até a sala, o pai continuava com o olhar perdido, mas não custava tentar.

- Pai?!

Nada.

Matt deu uma olhada para o quintal, depois voltou a olhar para o pai. Quais foram mesmo as palavras que o pai usou: “ ...mas você só vai poder voar alto comigo por perto, entendeu?” . Bem... o pai estando na sala e ele no quintal, era perto, certo? Além do mais o pai ia estar de olho nele, afinal era para o quintal que ele estava olhando há horas. E além do mais, há pouco, ele tinha conseguido controlar bem a vassoura e ainda tinha o fato de ele ser parte de uma família que era cheia de bons pilotos de vassoura, isso devia ser alguma coisa que estava no sangue, não é?

Voltou ao armário e pegou a capa da invisibilidade, ele sabia que não podia ser visto pelos trouxas. Atravessou a sala em um passo muito lento, afinal ele não estava fazendo nada de errado, não tinha que correr. Abriu a porta, e foi para o quintal. Olhou mais uma vez para trás, o pai continuava olhando para lá, ou seja, estava olhando para ele. Ou seja, ele podia dar uma ou duas voltas com a vassoura. Fechou a porta que dava para a sala da casa.

Mathew montou na vassoura, colocou a capa sobre a cabeça de modo que ela cobriu todo o seu corpo e o veículo também. Deu um leve impulso e seus pés já não tocavam o chão. Sorriu. É, ele conseguia guiar uma vassoura. Direcionou a ponta do cabo para cima, o que levou mais para cima. Deu o comando para que a vassoura seguisse em frente. Depois de dar duas voltas pela área, decidiu que era capaz de controlar um vôo em uma velocidade maior, se inclinou então sobre o cabo e após duas voltas, conseguiu atingir uma velocidade incrível.

A área do quintal pareceu muito pequena agora, em cinco segundos ele conseguia dar duas voltas, andar em círculos já estava lhe deixando tonto. Resolveu voar em uma maior altitude. Quando parou de subir, estava a tal altura, que a casa do pai tinha se tornado bem pequena. Fez um percurso em zigue-zague, em sobe-desce, em círculos. Merlin, como era bom estar voando. Voltou a andar em linha reta, diminui um pouco a velocidade, olhou para baixo e conseguiu ver a piscina da casa do pai. A água já era azul de perto, mas lá de cima era tão bonita e... azul, que ele ficou hipnotizado.
Era melhor voltar a olhar para a frente.

Assim que girou a cabeça, viu um vulto escuro vindo em sua direção, se assustou, tentou desviar, mas estava muito perto, o vulto acabou se chocando em Matt que tentando tirar, o que quer que fosse aquilo, da sua frente soltou as mãos do cabo da vassoura.

O vulto piou. Era um pássaro. Matt debatia os braços e ao mesmo tempo o pássaro agitava as asas, o movimento conjunto dos dois fez com que a capa se embolasse. O corpo de Mathew se deslocou para a frente da vassoura, o que fez com que ela começasse a descer. Ele sabia que estava indo rápido demais, mas não conseguia se livrar do pássaro.

Ele se inclinou tanto sobre a vassoura, que acabou escorregando.

______________________________________________________________________


Merlin! Ela não lembrava o quanto podia ser horrível. Geralmente, era pior de manhã, mas naquele dia tinha durado a manhã e a tarde inteira. Alisando o ventre disse:

- Pequeno, eu te amo, mas pare de fazer a mamãe passar mal!

Ela precisava de um daqueles chás que a mãe fazia. Mas ela não podia pedir. A mulher já andava desconfiada, de vez em quando aparecia no quarto de Ginny pela manhã, horário em que a filha, geralmente estava no banheiro, ou deitada na cama com uma coloração verde tingindo seu rosto.

Desconfiava. Quanta inocência. Para uma mulher que era mãe de sete filhos, e tinha um número considerável de netos devia estar escrito na testa de Ginny: Gravidez. Até o pai, parecia saber, já que vinha tratando a caçula com cuidados excessivos.

Mesmo assim, Ginny achava melhor esperar mais para a declaração oficial. Afinal havia muito a ser resolvido. Uma coisa era Molly Weasley saber que a filha estava grávida e outra coisa era essa filha confessar que estava grávida. E ela sabia que se a mãe soubesse por sua boca que estava grávida, sua vida ia piorar. Com certeza a mãe ia lhe fazer dizer quem era o pai da criança... Apesar de ela provavelmente também já saber disso.

É claro que o curto namoro com Dino deve ter confundido um pouco a matriarca, mas o fato de Ginny ter terminado o relacionamento com o rapaz na noite anterior fez desaparecer uma leve ruga de preocupação que havia surgido no rosto envelhecido da Sra. Weasley. A essa altura era capaz de ela estar se regozijando com a idéia de um futuro casamento entre a sua caçula e o seu preferido, talvez isso explicasse os sorrisos de satisfação que a mãe lhe lançava.

Podia parecer uma idéia estranha, mas a ruiva entendia a lógica da mãe. Para Molly Weasley, o casal Harry e Ginny sempre foi muito desejado, tão desejado que na época em que namoravam, a mulher fazia vista grossa ás visitas que o garoto fazia ao quarto da filha. Depois que o moreno voltou, principalmente depois da festa de Natal, a matriarca dos Weasley demonstrava o quanto queria que a reconciliação acontecesse.

Quando Dino apareceu n´ A Toca e Ginny disse aos pais que estavam saindo juntos – ao que o rapaz a corrigiu, pois disse que estavam namorando, o que foi um erro – a ruiva mais velha deu um sorriso amarelo e tratou o rapaz com cordialidade, não simpatia, apenas uma simples e fria cordialidade.

Ao saber do fim do relacionamento, Molly não tentou disfarçar o grande sorriso de satisfação, assim como não conseguiu se impedir de comentar com o marido, ao passar pela porta do quarto da filha, em uma voz baixa, mas intencionalmente audível: “É o melhor para todos na atual situação”. Frase que foi repetida mais tarde por uma sorridente Hermione. Essa última compartilhava da lógica da outra que era: Um filho e uma gravidez eram motivos mais do que suficientes para uma união entre Harry e Ginny.

É claro, que tanto a mãe como a cunhada não tinham um pensamento tão retrógrado a ponto de achar que uma mulher deve se casar com alguém apenas pelos filhos, acontece que as duas acreditavam piamente que Harry amava Ginny, e Ginny amava Harry, e o fato de que tinham um filho e mais um a caminho encerrava a questão. E era por isso que Ginny estava protelando ao máximo fazer o anúncio aos pais e ao resto da família, a expectativa que isso criaria neles a sufocaria. Também não estava preparada para enfrentar a expressão de desagrado que encontraria nos rostos de todos quando avisasse que não ficaria com Harry, que ia criar os filhos sozinha.

E ainda tinha Mathew. Como uma criança ia encarar uma confusão dessas?!

Ginny olhou para a foto do filho que mantinha no móvel ao lado da sua cama. Nela um garoto de cabelos castanho-acobreados sorria abraçado a uma mulher ruiva que lhe dava beijos na bochecha. Sorriu e passou a mão sobre a barriga. Agora ela teria alegria, sorrisos, abraços e beijos em dobro. Apesar de tudo, a idéia era tão maravilhosa, era tão sublime ser mãe.

Escutou batidas fortes e apressadas na sua porta.

- Só um instante!

Levantou da cama e se olhou no espelho, seu rosto ainda estava pálido. Correu para o banheiro e jogou uma água no rosto. As batidas voltaram a ecoar pelo quarto, tinham um tom de urgência. A ruiva beliscou as bochechas de leve para dar um pouco de cor ao rosto e se pôs a caminho da porta. Assim que colocou a mão sobre a maçaneta, novas batidas foram ouvidas. Abriu a porta e encontrou o pai com uma expressão grave no rosto que estava pálido.

- Papai, o Sr. está bem? – ficou preocupada, notou que os olhos do pai estavam levemente vermelhos – Aconteceu alguma coisa?

- Sim... Não... Se vista e desça minha filha, temos que ir ao St. Mungos.

- Para quê?

Ginny começou a entrar em pânico, o pai era uma espécie de termômetro para ela, se ele, que era o membro mais controlado da família estava tão transtornado, era por que algo de muito grave tinha acontecido.

- Quem se feriu, papai? – o homem nada respondeu, lhe encarava com olhos desolados – Pelo amor de Merlin, papai, me diga o que aconteceu!

- Calma, minha querida, não é bom para você ficar assim – o pai avançou e tentou abraçá-la, mas ela fugiu de seus braços.

- Se quer que eu me acalme me diga o que está acontecendo.

- Eu peço primeiro que se vista e desça, depois nós conversaremos – sem dar chance para que Ginny fizesse mais alguma pergunta, o Sr. Weasley se encaminhou para a escada e desceu.

Vendo que o único jeito de descobrir o que tinha acontecido era fazendo o que o pai pedia, a ruiva foi ao banheiro lavar o rosto mais uma vez, penteou os cabelos os prendendo em um rabo-de-cavalo, trocou de roupa e desceu para encontrar o pai. Chegando a sala viu que Arthur consolava uma desesperada Molly Weasley, que assim que percebeu que a filha estava na sala, correu até ela e a abraçou.

- Oh, minha filha... minha filhinha – Ginny enlaçou o corpo roliço da mãe, enquanto assistia o pai se jogar em uma poltrona e esconder o rosto entre as mãos, os ombros do homem tremiam, sinal de que estava chorando – o meu bebê... o meu bebê!

A mulher entoava um choro convulsivo. Ginny estava angustiada. Quem afinal tinha se machucado?! Era tão difícil saber. Meu bebê, era isso que a mãe dizia em meio ao choro, mas isso não dizia nada, já que para a Sra. todo mundo da família, que não fosse ela ou o marido, era considerado um bebê.

- Calma, mamãe! – a ruiva acariciava os cabelos rubros da mãe – Papai, me diga o que está havendo, quem foi que se machucou?!

Depois de um suspiro, o homem se levantou e tentando conferir firmeza a sua voz, se dirigiu até onde estavam a mulher e a filha, e passou a conduzi-las até a lareira.

- Vamos para o hospital, minha querida! – sem dar tempo de ela reagir, colocou um pouco de pó-de-flu em uma de suas mãos, enquanto a desvencilhava da mãe – Vá, minha filha, peça para ir ao consultório de Hermione, nos encontraremos lá em instantes.

Mais uma vez se viu obrigada a obedecer ao pai. Depois de sentir a sensação desagradável da viagem via flu, estava no consultório da cunhada, que aparentemente não estava por ali. Quando saiu da lareira, foi que percebeu uma forma luminosa encostada ao pé da porta, era uma lontra, o patrono de Hermione. Assim que percebeu sua presença na sala, a cabeça do animal se virou para ela e da sua boca, saiu a voz da cunhada.

Me esperem aqui, volto em um instante.

Espere. Calma. Essas palavras já estavam irritando Ginny. A ruiva resolveu se sentar, realmente não estava no seu estado normal, pois se estivesse já teria saído porta a fora à procura da cunhada para saber o que estava acontecendo.

Ouviu um som vindo da lareira e logo em seguida sua mãe se sentava na cadeira ao lado da sua com o rosto enterrado em um lenço. Em instantes o pai também saia da lareira, vindo se postar em pé entre ela e a mãe. Como uma forma de consolo colocou uma mão num dos ombros das duas. Um silêncio tenso tomou conta do ambiente, a Sra. Weasley gemia baixinho. Ginny até pensou em perguntar de novo o que estava acontecendo, mas não queria que a mãe voltasse àquele lamento desesperador, não faria bem a ela.

A ruiva passou então a especular. Só podia ser alguma coisa com algum dos irmãos, com maiores chances para Fred e George, que viviam fazendo invenções malucas, e Rony. Quadribol não era o que se podia chamar de jogo tranquilo, um Balaço podia fazer bastante estrago.

Escutou a maçaneta sendo girada. Hermione nem chegou a cumprimentar os três, simplesmente se dirigiu a um armário que ficava do outro lado da sala e após mexer em alguns vidros, voltou de lá levitando três copos contendo um líquido lilás. Ao se aproximar da mesa, fez com que os recipientes repousassem sobre a madeira. Pegando um dos copos se agachou em frente a Sra. Weasley e pediu que ela bebesse a poção.

Depois de ver a sogra beber tudo, a morena ofereceu a poção ao Sr. Weasley.

- Eu não quero tomar isso, minha filha.

- Por favor, Arthur, tome. O Sr. não está em estado melhor que o de Molly.

Depois de uma certa relutância, o homem bebeu o conteúdo do copo, não sem antes fazer uma careta. Por respeito ao estado dos pais, Ginny se segurou para não fazer a pergunta a cunhada. Hermione lançou um sorriso ao sogro e se abaixou para dar um beijo na mulher mais velha. Então, se virou para a cunhada e segurando suas mãos, fez um pedido mudo para que ela se levantasse.

- O que está acontecendo, Mione?

A ruiva perguntou enquanto a cunhada indicava que ela devia se sentar pequeno sofá que havia ali no consultório. Ainda mantendo suas mãos seguras, Hermione acompanhou seu movimento, e se sentou de frente para ela.

- O que está acontecendo, Mione?

Repetiu a pergunta de maneira nervosa, aquele suspense todo a estava enlouquecendo.

- Ginny... – a voz da amiga estava embargada, lágrimas se formavam nos seus olhos - ... ac-aconteceu um... um acidente...

Ginny já sabia que alguém tinha se machucado, mas escutar Hermione falando aquilo trouxe o peso da realidade, alguém tinha se machucado... e pelo visto era grave.

-Mione, por favor, quem se machucou? – agora as lágrimas escorriam pelo rosto da morena, fazendo trilhas no rosto, que só agora Ginny percebia, estava extremamente pálido – Oh, Meu Merlin, Mione... – se aproximou da outra, para abraçá-la – Foi o Ron?

A pergunta pareceu doer em Hermione, que abraçada a amiga, apertou os braços e soltou um gemido, quase um ganido, que retratava uma dor profunda. Tinha sido Rony.

- N-n-não foi o Rony, Gin....

- Então quem foi?

Hermione se afastou do abraço, respirou fundo e encarando a amiga com olhos inundados de dor sussurrou:

- Não foi o Rony, Ginny. Foi M-matt.
___________________________________________________________________

N/A: Não vou nem desviar dos estupore e dos avada. Eu sei que mereço.

Galera, DESCULPA, MIL VEZES, não mil vezes é pouco, MILHÕES DE DESCULPAS. Como eu já havia dito, eu estava envolvida com a minha monografia, estágio, decidindo o que ia fazer depois de ter o meu diploma na mão, e isso causou o meu longo afastamento da fic.
Hoje quando eu vi a data da minha última atualização, me assustei e vi o quanto os últimos meses me consumiram. Apresentei a monografia na semana passada, e agora pude voltar a fic.
Vou tentar ser rápida e fazer as atualizações em no máximo a cada duas semanas, por que afinal eu estou de FÉRIAS!!!!
A quem ler isso, obrigada por não ter abandonado a fic.
Bjos e desculpas mais uma vez.

P.s: Espero que tenham gostado do capítulo, até o próximo.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.