O Paraíso



Fergie - Big Girls Don't Cry



Capítulo 4: O Paraíso



O cheiro de sua pele está grudado em mim agora
(...)
Eu preciso de algum abrigo para minha própria proteção, ficar comigo mesma concentrada, lúcida, em paz, serena
Eu espero que você saiba, que isso não tem nada a ver com você. Isso é pessoal, eu mesma e eu, nós temos que ajeitar algumas coisas.
E eu sentirei sua falta como uma criança sente falta do seu cobertor. Mas eu tenho que seguir em frente com a minha vida, chegou a hora de ser uma garota grande, e garotas grandes não choram
O caminho que eu estou trilhando, eu devo ir sozinha. Eu tenho que dar pequenos passos até estar totalmente amadurecida. Contos de fada nem sempre têm finais felizes, não é? E eu abandonarei a escuridão à frente se eu ficar
Como um colega de escola no pátio da escola, nós jogaremos cartas. Eu serei a sua melhor amiga e você será meu namorado. Sim, você pode segurar minha mão, se quiser Porque eu quero segurar a sua também. Nós seremos parceiros e amantes e compartilharemos nossos mundos secretos. Mas chegou a hora de eu ir pra casa. Está ficando tarde, está escuro lá fora, eu preciso ficar sozinha concentrada, lúcida, em paz,
serena





Hermione estava sentada em sua cama, o quarto ainda escuro, enquanto ela olhava o vazio. Estava inquieta, seu coração a todo momento dava batidas descompassadas. Ele a amava... Ainda! Não havia outra explicação. Ele ainda a amava. Ela lembrava que há alguns anos atrás eles iniciaram uma conversa “estranha” mas foram interrompidos por Rony. Uma conversa que ela já conhecia o fim. Ela sabia que naquele dia ele iria se declarar, e honestamente, ela não estava pronta para isso.
Talvez porque eles estivessem num momento difícil, de guerra e medo, talvez porque ela ainda nutrisse um sentimento por Rony, ou talvez porque ela simplesmente não estava pronta para o amor de Harry. Nem todos estão prontos para o amor quando ele aparece.
“Mas não podia ser... depois de tantos anos? Será que ele guardou esse amor mesmo depois de tantos anos? Isso é loucura...!”

Hermione andava de um lado pro outro em seu quarto, o colar ainda em sua mão. Ela ainda não estava pronta! Talvez ela nunca estaria pronta afinal.
“Eu nem sequer sei se quero mesmo o amor dele. Eu nem o amo! Isso é um absurdo, ele não pode me amar, não pode!

“ Ok Hermione, acalme-se. Respire. Muito bem, agora pare de tirar conclusões precipitadas. Esse colar não quer dizer nada, ou quer?”
Sua mente estava agitada. Ela odiava esses atos cheios de significados ocultos. Essa era uma das poucas coisas que ela simplesmente não sabia fazer bem.

“Preciso falar com ele.”

Então, antes que pudesse perceber o que de fato acontecia, já estava em frente a porta do quarto de Harry. Suas mãos estavam trêmulas e ligeiramente frias.

Por um momento, fraquejou, e tentou sair dali. Mas alguma coisa em sua mente a impediu.
Bateu na porta hesitante. Houve um segundo de silêncio antes que Harry a mandasse entrar.
Ela entrou, a respiração irregular, os olhos percorrendo todo o ambiente. Era um quarto belíssimo, as paredes em tom de branco e azul claro, uma espaçosa cama no centro, um armário, uma pequena escrivaninha, e uma porta que certamente levaria para o closet. Harry estava ao lado dessa porta. A camisa já desabotoada até a metade, os pés já descalços, e os cabelos, se possível, mais despenteados ainda. Em uma palavra, ele estava perfeito. Simples e perfeito. Talvez não fosse uma boa idéia ir bater no quarto dele.

Harry a encarava curioso.

- Hermione?

Mas ela não o ouvia. Na verdade ela estava mais preocupada em imaginar qual seria a visão se a camisa dele estivesse totalmente desabotoada.

- Hermione você está bem?

Ele se aproximou, e só então ela se deu conta do que estava fazendo, e corou, virando-se de costas para ele, quase que imediatamente.

- Harry, eu sinto muito, não queria atrapalhar. _ falou nervosamente.

- Você não atrapalhou nada. Aconteceu alguma coisa?_ perguntou deixando transparecer sua preocupação.

- Não, nada. Está tudo bem, tudo normal.

Ela estava sem jeito, e Harry percebeu aquilo.

- Vamos Hermione, o que houve?

“Isso foi uma grande, uma enorme, uma estupenda idiotice” _ pensou enquanto virava-se novamente para ele.

- Bem, é que... Eu só queria... Eu só queria saber o porquê de você ter guardado esse colar por tanto tempo? O porquê de ter me chamado aqui? Nada faz sentido pra mim. _ Ela falou com sinceridade e medo. Estava se sentido uma completa idiota. Incrível como nas ultimas horas Harry a deixou mais desorientada do que ela se lembrava de ter ficado em toda sua vida.

Ele esboçou um sorriso e aproximou-se o suficiente para tocar o rosto dela.

- Minha menina, eu nunca te esqueci. Mesmo depois de todos esses anos separados, você sempre esteve presente, em meu coração e em meus pensamentos. Naquela tarde, você me deu esse colar para que eu nunca me esquecesse de você, mas para ser franco, eu não precisaria de colar algum para me lembrar de você. Porque você já faz parte de mim, e isso nada nem ninguém podem mudar.

A voz dele era suave e acalmava seu coração. Suas mãos percorriam a face dela suavemente. Hermione nem se deu conta quando seus olhos cederam e fecharam, enquanto ela guardava em sua mente cada palavra que ele dizia.

Quando voltou a abri-los, ele estava tão perto que ela podia sentir sua respiração pesada, os olhos verdes encarando-a intensamente. Mas estranhamente, ela não se intimidou. Ao contrário, o olhou com mais intensidade ainda, as mãos num gesto rápido e ao mesmo tempo sutil foram até o rosto dele, onde agora ela correspondia com as mesmas carícias.

- Obrigada.

Harry não respondeu, apenas inclinou seu rosto na direção dela e beijou de forma doce sua bochecha. Afastou-se um pouco, olhou mais uma vez nos olhos da garota, e beijou a outro lado da face, repetindo o mesmo gesto ao beijar-lhe a testa.

- Durma bem minha menina.

- Igualmente.

Afastando-se, saiu do quarto, o corpo quente, o coração naquele estado de paz, que só ele lhe causava.

**

Ela dormiu tranquilamente. “Eu sonhei com alguma coisa, alguma coisa realmente boa, mas o que era?”. Ela tentava lembrar de seu sonho, o sonho que garantiu aquela maravilhosa noite. Mas resolveu pensar nisso uma outra hora quando virou seus olhos para o relógio. “9h00min, Harry já deve estar de pé”. Levantou-se, tomou um banho rápido, secou os cabelos, vestiu-se e desceu para sala de refeições. Harry já estava à mesa

- Bom dia _ Cumprimentou-o animadamente, depositando um beijo em sua face.

- Bom dia!

Harry a olhou com um olhar divertido e ao mesmo tempo discreto. Regozijava-se com a alegria dela, era como se o Sol brilhasse mais intensamente.

- Dormiu bem pelo visto.

- Muitíssimo bem. E suspeito que a causa disso seja você Harry.


- Eu?

- Ter você por perto outra vez, faz todo meu corpo reagir de forma diferente.

- Sabe, as mulheres costumam ter essas reações quando estão perto de mim. _ brincou.

- Harry!

- Sim?

- Você... Você não presta sabia?

- Oh meu bem, você ainda não viu nada!

Hermione o olhou surpresa, antes de sucumbir ao riso. Ele era engraçado, ela não se lembrava dele ser engraçado na adolescência, mas estava adorando esse novo lado do amigo.


- E o que faremos hoje?

- Temos uma excelente programação para hoje!

- Do tipo?

- Do tipo, assistir ao tele jornal do meio dia, resolver palavras cruzadas, tirar uma soneca durante a tarde e talvez uma partida de xadrez bruxo a noite.

- Ah. Interessante. _ falou desanimada. Intimamente, esperava mais de Harry.

- Princesa, estou brincando! Você não acha mesmo que vou te manter cativa nessa casa não é?

Hermione sorriu. Claro, como pudera acreditar naquilo? Talvez, porque na verdade, essa seria sua programação caso não estivesse com Harry.


- Certo, senhor Harry-eu-sou-o-tal. Mas então, o que faremos?

- Surpresa!

- Ah não Harry, você sabe que eu odeio surpresas. Vamos me conte, aonde iremos?

- Surpresa, já disse! Quando terminarmos o café você saberá!

Ela fez um pequeno bico mas concordou.

Ao fim do café, eles se separaram por um breve momento, enquanto se arrumavam e voltaram a se encontrar na sala.

- Há quanto tempo não anda de automóvel Mione?

- Há um bom tempo, creio. Por que?

- Porque hoje você andará.

- Carro? _ perguntou surpresa

- Sim carro! Fica mais prazeroso assim, dará mais chances de você contemplar a paisagem.

- Harry você é incrível!

- Sou? _ perguntou com um tom de diversão.

- Sim é, mas não fique se achando por isso.

De fato Harry estava certo, era muito mais prazeroso, passear de carro, ainda mais na companhia dele.
Eles estavam animados, o lugar onde ele a levaria ainda era surpresa, mas ela já estava adorando.
Harry ligou o som do carro. Hermione estava perplexa. Ele parecia o homem perfeito, o próprio príncipe encantado tirado diretamente de algum conto de fadas trouxa, ele sabia um pouco de tudo, conhecia um pouco de tudo, era um pouco de tudo.

A música que estava tocando era conhecida, e embora inibida, Hermione começou a cantar. Harry ouviu os “murmúrios” de amiga e sorriu consigo mesmo. Poucas vezes ele a vira cantando, e não estava disposto a perder esse momento. Então começou a cantar junto com ela, mais alto. Hermione surpreendeu-se, mas tão logo a surpresa passou, ela voltou a cantar. Mais alto.
Em pouco tempo estavam aos berros cantando no carro, suas vozes já encobrindo a voz do próprio cantor.

- I CAN’T GET NO, SATISFACTION...

- I CAN’T GET NO, SATISFACTION...

- AND I TRY, AND I TRY, AND I TRY, AND I TRY…

- I CAN’T GET NO, I CAN’T GET NO…

Vez ou outra trocavam olhares divertidos, mas sem nunca interromper a música.

Quando chegaram ao misterioso lugar, Hermione saiu rapidamente do carro, os olhos curiosos percorrendo todo o ambiente.

Era o lugar mais lindo que já tinha visto.
Um enorme campo, coberto de flores de todas as cores, tamanhos e formatos. Havia uma larga trilha de pedras que dava em uma espaçosa cabana de madeira lustrosa, e atrás dessa cabana corria um rio de águas escuras.

- É o paraíso _ murmurou Hermione encantada com a visão.

- Não, é apenas um pedaço dele.

Hermione olhou para Harry admirada. Ela queria dizer algo que expressasse toda sua alegria e encantamento, mas não encontrou palavras, embora achasse que Harry havia entendido tudo em seu olhar.

Ele ofereceu seu braço, que ela prontamente aceitou, e começaram a caminhar juntos pela trilha de pedras.

Ela não sabia para que direção olhar primeiro, que flor contemplar mais, e Harry não podia evitar um sorriso diante do encantamento da amiga.
A cabana era uma espécie de hotel fazenda, todos os móveis eram igualmente de madeira, havia muitas cadeiras de balanço, redes, almofadas, tudo o que fosse necessário para uma tarde de descanso. E o restaurante era aberto a todos, não só aos hóspedes. Do lado de fora, perto do rio, havia alguns quiosques e muitas famílias almoçavam lá. Um lugar perfeito
.
Resolveram caminhar um pouco pelo lugar, “reconhecimento de área” como falou Harry.
Eles caminharam de braços dados, o lugar era todo exuberante. Pararam em baixo de uma frondosa árvore. Hermione recostou-se e, seu tronco e seus olhos se perderam pelo lugar, ela contemplava o rio, um rio de águas muito escuras e calmas, parecia até um lago. Ela sequer notou os olhos de Harry observando-a, ele estava parado a frente dela, e nem mesmo ele tinha percebido o quão indiscreto estava sendo.
Quando Hermione finalmente pareceu estar satisfeita de analisar tudo a sua volta, seu estomago remexeu-se num nada silencioso protesto de fome.

- Estou com fome _ falou virando-se para encarar Harry e só agora percebendo os olhos do moreno sobre ela.

- Certo, podemos ir almoçar agora _ respondeu um tanto desconcertado.

Decidiram que almoçariam em um dos quiosques, de onde poderiam aproveitar a vista do ambiente e a brisa quente e suave que soprava.
O cardápio era tão maravilhoso quanto todo o lugar, e os dois deliciaram-se com toda aquela comida.

Depois do almoço podemos dar um passeio de barco pelo rio. _ sugeriu Harry.

- Podemos?

- Claro, tem um funcionário do hotel que guia o barco, parece ser bem agradável.

- E romântico. _ completou a garota

- É, e romântico. _ respondeu desconcertado.

Terminado o almoço, eles voltaram até a árvore que onde antes tinham descansado, às margens do rio, e sentaram-se em baixo dela. O sol ainda estava muito forte para um passeio de barco.

Hermione apoiou-se no peio de Harry encostando a cabeça em seu ombro. Ele cruzou seus dedos com os dela, e ficaram em silencio durante vário minutos. Não um silêncio constrangedor, mas sim algo cheio de significados, cúmplice e confortável.

- Eu adorei todo o lugar Harry. Obrigada.

- Eu imaginei que você gostaria.

- Sou assim tão previsível? _ perguntou com a voz preguiçosa.

- Não, eu é que te conheço muito bem.

- É, parece que mesmo depois de tantos anos, você ainda sabe exatamente como me alegrar.

- E eu espero sempre saber.

- E você saberá. Você é Harry Potter, meu melhor amigo.

- É eu sou _ a voz dele soou ligeiramente desapontada, mas Hermione não percebeu. Estava dominada por uma preguiça, uma sensação de bem estar tão grande que chegava a lhe causar sono.

- Harry. _ chamou de repente

- Sim Mione.

- Não apareceu ninguém mesmo em sua vida durante todos esses anos?

Harry foi pego de surpresa, não esperava essa pergunta, pelo menos, não agora.

- Bem, apareceram algumas mulheres, mas nenhuma por quem eu me apaixonasse.

- Nenhuma? _ perguntou ela surpresa

- Nenhuma. Sabe, meu coração não anda assim tão disponível.

- Ah é?
Afastando-se um pouco do corpo dele, ela virou-se a fim de encará-lo.

– Quem é ela?

Harry sentiu-se momentaneamente encurralado. Não poderia dizer a ela, não agora, ela ainda não estava pronta. E ele não queria cometer um erro que pudesse tirá-la de sua vida para sempre.

Limitou-se a responder: - No momento certo, vc saberá. Prometo.

O coração de Hermione deu novos sinais de perigo, mas ela resolveu ignorar, não iria ficar histérica novamente como na noite passada. Ela sabia que ele a amava, mas apenas como amigo. Pelo menos, era nisso que acreditava.

Quando o sol baixou, eles resolveram fazer o passeio de barco.
O rio era tranqüilo, e tal como Hermione dissera, além de muito prazeroso, o passeio era extremamente romântico.

- O que? Você não sabe nadar? _ indagou Harry surpreso

- Não muito bem. _ Hermione estava ligeiramente envergonhada.

- Mas... Depois de todos esses anos, você nunca quis aprender?

- Claro que sim, mas nunca tive tempo.

- Você parece tão tranqüila, em nenhum momento pareceu assustada ou com medo desse passeio.

- Claro que não, eu estou com vc. Que mal pode me acontecer? _ respondeu como se essa fosse a coisa mais óbvia do mundo, e Harry sentiu seu coração bater meio sem ritmo. Era bom perceber o quanto ela confiava nele. Isso lhe dava esperanças. Esperança de que em algum momento ela percebesse o quanto ele a amava, e que ela tbm correspondia ao sentimento. Esperança de que ela finalmente estivesse pronta para aceitar seu amor. Seus pensamentos foram cortados pela voz dela.

- Lembra que Rony viva me provocando por não saber nadar? Ele adorava me desafiar. _ falou-lhe embargada pelas lembranças.

Tarde arruinada. _ murmurou

Hermione o olhou, esperando uma resposta, uma explicação, algo que simplesmente não veio.
Sentiu-se culpada, não devia ter tocado nesse assunto. Ela sabia o quão doloroso era para os dois. Afinal, foi por causa da morte de Rony que eles se separaram.

- Eu sinto muito Harry.

Mas Harry não ouviu, sua mente estava perdida na lembrança daquela tarde fria, tarde que mudou toda sua vida.


**

N/Nina:
“I CAN’T GET NO, SATISFACTION...
- I CAN’T GET NO, SATISFACTION...
- AND I TRY, AND I TRY, AND I TRY, AND I TRY…”
(The Rolling Stones – Satisfaction)




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