Inevitável



Keane - With or Without You





Capítulo 3: Inevitável



Veja a pedra jogada em seus olhos, veja o espinho cravado em seu rosto
Eu espero por você
Num passe de mágica e num desvio de destino, em uma cama de espinhos ela faz me esperar
E eu espero... .Sem você
Com ou sem você
Pela tempestade nós chegamos à orla, você dá tudo mas eu quero mais
E eu estou esperando por você
Com ou sem você
Eu não posso viver
(...)
Minhas mãos são amarradas, meu corpo é ferido, ela me tem com nada para ganhar ...
E nada mais para perder
Com ou sem você, eu não posso viver.


Ela o esperava no barzinho que ele indicou. Já se passavam 30 minutos e nenhum sinal de Harry. Uma chuva fina caia nesse instante, e ela estava absorta em suas lembranças:

Flashback

O fim estava próximo. Todas as horcruxes já haviam sido destruídas, agora era só uma questão de tempo. Todos estavam embrenhados na busca por Voldemort e os últimos comensais. Foram dois anos nessa guerra, Hermione era apenas uma menina quando tudo isso aconteceu, e agora, aos 19 anos, sentia-se tão madura quanto uma pessoa em seus 50 anos poderia ser.

Ela estava sentada embaixo de uma árvore, em uma praça perto da sede da Ordem, ainda no Largo Grimmauld. Estava sozinha, absolta em seus pensamentos. O fim estava cada vez mais próximo e isso a deixava tremendamente angustiada. Essa com certeza seria a pior batalha que eles enfrentariam.
Ouviu passos em sua direção, virou a cabeça, e encarou a figura esguia que se aproximava.

- Oi Mione_ disse ele sentando ao seu lado.

- Olá Harry.

- Eu estava preocupado, você passou o dia fora, não disse nada a ninguém...

- Está tudo bem! Não se preocupe.

- Você não me engana Mione, eu posso ver em seus olhos... O que anda te afligindo?

Hermione pela primeira vez encarou os olhos do garoto ao seu lado. Ele cresceu bastante nos últimos anos, seus cabelos ainda eram muito pretos e ouriçados, sua pele parecia cada vez mais branca, mais fantasmagórica, e ele tinha várias cicatrizes espalhadas pelo corpo. Mas os olhos dele... Ah, os olhos dele eram os mesmos olhos que um dia ela encarou no Expresso de Hogwarts. Harry ainda tinha o olhar de um menino de 11 anos, o mesmo brilho, a mesma intensidade. Os olhos para o qual ela nunca conseguia mentir.

- Só estou um pouco preocupada Harry, nada de mais.

- Eu também estou_ confessou ele entre um suspiro.

- Essa será a ultima batalha, e a mais difícil também... Eu só não quero perder mais ninguém.

- Ninguém quer Mione... Eu te prometo que iremos voltar, todos nós!

Hermione lançou um olhar terno a Harry. Assim como ela, ele não suportaria outra perda. Ficaram alguns minutos em silêncio, os olhares perdidos em algum ponto distante.
- Mione.

- Diga Harry.

- Há algo que eu preciso te falar.

- Você sabe que pode confiar em mim Harry.

- Mas talvez isso mude muito as coisas entre nós.

- Está te fazendo mal guardar isso?

- Sim, muito! _ disse o menino sem, no entanto encará-la.

- Então vamos correr esse risco_ respondeu Hermione, tocando o queixo de Harry de modo que pudesse olhar em seus olhos.

Se estava sendo difícil iniciar essa conversa, agora, com a proximidade de Hermione e com intensidade de seu olhar, pareceu-lhe impossível.

- O que está acontecendo meu amigo?_ perguntou a garota de maneira terna.

- Bem... É que... Você é a minha melhor amiga!_ Harry falou tão rápido e tão desajeitado que Hermione não pôde segurar um sorriso.

- Ah Harry, você também é meu melhor amigo. Sempre foi sempre será!

O moreno esboçou um singelo sorriso, e voltou a falar:
- Mas o fato é que... Bem... É que eu acho, quer dizer, eu tenho certeza que eu já não posso viver sem você! E... Você é a garota mais encantadora e fantástica que eu já conheci, e o que eu to tentando dizer é que...

- O que eu quero dizer é que eu t...
Por um momento, Hermione sentiu o ar lhe faltar. Harry não era dado a esse tipo de elogio, ou a esse nervosismo ao falar. Um sinal de perigo despertou dentro dela. E no íntimo, ela torcia para que não fosse “aquilo”.

- Ei, o que vocês ainda estão fazendo aqui? _ indagou Rony que acabara de chegar. – Eu não sei se ainda lembram, mas Voldemort ainda está solto por ai, e hoje temos uma daquelas importantes reuniões da Ordem_ resmungou o ruivo, e Hermione não pôde deixar de agradecer mentalmente a intervenção do garoto. Sabe-se lá o que Harry iria dizer, mas agora, pensando bem, ela não estava disposta a arriscar a amizade deles.

- Ok Rony, já estamos indo_ respondeu ela enquanto se levantava. Rony foi à frente, e Hermione lentamente começou a seguir o caminho trilhado pelo ruivo. Após dar alguns passos, virou-se. Harry ainda estava sentado em baixo da árvore, uma expressão desolada no rosto. Hermione voltou até o moreno e ajoelhou-se diante dele. Ela retirou um pequeno colar de ouro, com um pingente de Lua do pescoço e entregou a ele:

- Para que você nunca se esqueça de mim!

Dizendo isso ela partiu, deixando-o lá, com o coração na boca e a Lua nas mãos.


Fim do Flashback


A chuva agora se tornava mais forte, um vento frio começou a soprar pelo local. Hermione já estava impaciente. Abaixou-se a fim de pegar um agasalho em sua mala, e quando voltou a sentar-se corretamente, Harry já estava no assento ao seu lado, com aqueles enormes olhos verdes a observando.

- Harry! Que susto!

- Perdão Mione, é a força do hábito. Nunca chamar atenção.

- Ah sim, e devo dizer que você é ótimo nisso. _ falou fingindo estar séria.

- É, o tempo me tornou um homem de grandes talentos_ respondeu com um sorriso maroto nos lábios. Hermione o encarava descrente. “Como ele mudou”.

- Francamente Harry!

Passaram o restante da tarde sentados no bar, relembrando os tempos de infância, contando as novidades dos últimos oito anos separados. Harry havia passado por tantas coisas, viajado o mundo. Ele tinha tantas histórias a contar, e Hermione tinha apenas a rotina do St. Mungus. Sua maior aventura em oito anos foi a descoberta de uma poção que curava efeitos causados pelo excessivo uso do Cruciatus em uma pessoa. Ela sentia-se patética ao lado de Harry, e ainda não compreendia o que ele poderia querer com ela ainda.

- Austrália?_ indagou surpresa.

- Sim, morei 11 meses lá_ respondeu Harry.

- Nossa Harry! Isso é fantástico. Eu sempre quis ir lá.

- E poderia ter ido se aceitasse o meu convite e viesse enfrentar o mundo ao meu lado.

- Ah Harry, são tantas coisas.

- São mesmo? Ou você apenas está fugindo de uma realidade diferente da que já conhece? Eu cuidaria de você!

- Oh meu herói. _ brincou meio que para mudar o rumo da conversa. Não era agradável ter alguém questionando sua coragem de viver.

E Harry pareceu ter entendido a dica, não voltando a tocar no assunto. Quando a noite se aproximou, foram para a casa que Harry havia recebido para hospedagem pelo Ministério da Magia da França.

Era uma suntuosa casa, cercada por um enorme jardim repleto de grandes arvores. A Cara era branca com alguns detalhes em verde escuro. Possuía variados cômodos, todos decorados em cores claras, com referencias a arte em todo canto. O jardim exalava um suave perfume de rosas, que contribuía para deixar o ambiente com um aspecto mais receptivo ainda.

Harry prepararia o jantar, e Hermione não pôde deixa de sentir-se admirada.
Apesar da visão dele usando avental ser um tanto divertida, ela não conseguiu rir do amigo. Melhor era rir com ele, que tinha tantas histórias para contar.

- Harry Potter um homem do lar! Por essa eu não esperava.

- Você acaba aprendendo algumas coisas quando se vê obrigado a morar sozinho!

- E você nunca encontrou alguém que o ajudasse nessas “árduas” tarefas?

- Você sabe que não Mione.

- E por que não Harry? Vamos, olhe só você _ disse aproximando-se do rapaz. – Um cara famoso, inteligente, auror conceituado, bonito e rico! Tenho certeza que não faltaram pretendentes.

Harry olhava-a surpreso e divertido. Hermione por um segundo, pareceu dar-se conta do que falara, e corou furiosamente.

- Desculpe _ murmurou de cabeça baixa.

- Desculpar o que? O famoso, inteligente, lindo e tudo o mais? Nunca fui tão bem conceituado! _ respondeu risonho.

Hermione sorriu. Sabia que era mentira. Em todo o mundo todos idolatravam Harry Potter, o menino-que-sobreviveu, o herói do mundo mágico. Claro, ainda havia exceções, mas estas sempre existiriam.

- E você Mione?

- Eu? O que?

- Não encontrou ninguém que a ajudasse nas tarefas do lar?

- Ah, bem, você sabe. Fiquei noiva por três meses. E hoje quando penso no assunto, até acho que durou muito. Nós não éramos muito compatíveis. Mas ainda assim, foi uma boa experiência. Mas sim, tenho alguém que me ajude.
.
- Tem? _ Perguntou Harry, e sua expressão era de absoluta surpresa.

- Sim, e achei que jamais faria isso.

- Isso o que?

- Bem, contratar uma elfa. Dafne é realmente eficiente, mas eu tento não abusar, sempre ajudo e ela tem dias de folga e tudo mais. _ concluiu sem perceber a tensão dissipada dos ombros do amigo.

- Ah, claro. Bem, todos precisam de ajuda. Até mesmo a grande Hermione Granger.

- A grande Hermione Granger... Quanta ilusão.

- Não para mim. Para mim, você é a melhor dentre todas. _ concluiu com um sorriso galante fingindo não reparar no embaraço da amiga.

Quando o jantar ficou pronto, eles o saborearam entre conversas, risos e brincadeiras, revivendo antigas lembranças. Sequer viram o tempo passar. A hora já era avançada, quando Harry mostrou a Hermione onde ficaria seu quarto.
Ele ajudou-a a subir com suas coisas e a acomodou num quarto próximo ao seu.

- Obrigada Harry

Estavam parados à porta do quarto dela, como se ainda não tivessem dito todas as palavras, ou se contemplado suficientemente. Olhavam um para o outro, no aguardo de algum sinal, um gesto, qualquer coisas que sanasse aquele sentimento.

- Bem, então... Boa noite.

Harry apenas a encarava sem nada pronunciar. E mais alguns segundos passaram naquela intensa troca de olhares.

- Eu esperei muito tempo pra te ter de volta. _ falou enfim. E inclinando-se levemente, depositou um beijo em sua face. - Eu nunca te esqueci minha menina. Nunca. _ murmurou ainda próximo de seu rosto, segurando firmemente as mãos dela.

Então ele se virou e seguiu para o próprio quarto
Hermione ainda estava parada no corredor. Essa era segunda vez no mesmo dia que Harry a deixava estática, olhando-o partir. Essa era a segunda vez que ele a chamava de “minha menina”, e assim como antes, Hermione adorou ouvir estas palavras. Mas dessa vez, ele deixara algo. Hermione abriu lentamente os dedos, para poder contemplar na palma de sua mão, um pequeno colar dourado, com um pingente de Lua.

Seu coração sobressaltou-se.
Certas coisas são inevitáveis. Essa, com certeza era uma delas.



Continua...

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