Visita à Hogsmead



Cap. 7 –Visita à Hogsmead


O mundo bruxo passara os últimos dias se questionando em quem acreditar. Estava sendo bombardeado por uma série de notícias, cada jornal contava uma versão diferente, mas em qualquer primeira página era evidente em grandes letras farfalhosas:
‘O retorno de Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado (segundo Albus Dumbledore)’. Era também essa a manchete que ocupava a primeira página de Profeta Diário, imprensa a qual Dumbledore revelara a informação da volta Daquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado, porém sem mencionar a fonte. O director de Hogwarts igualmente afirmara que Cornellius Fudge, fora um dos primeiros a ser informado de tal assunto.

Dias seguintes outra manchete brilhava nas capas dos jornais: ‘Cornellius Fudge – O que ele nos esconde?’ O ministro da Magia havia dado uma entrevista em que declarara claramente a fonte de Dumbledore: Harry Potter.
‘Não valeria a pena alarmar a população acerca de algo que nunca irá acontecer. E como todos sabemos, Dumbledore está velho, decrépito e fraco e Harry Potter teve um sonho com o retorno de Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Pronunciado, foi apenas um sonho de um adolescente abalado mentalmente, nunca passará disso. Albus Dumbledore, está mentindo sobre esse retorno para enfraquecer a minha posição e tomar o meu cargo, o do Ministro da Magia. E...ora... não vamos dar importância a um sonho de um garoto, que aconteceria se o mesmo sucedesse com todos os outros garotos de 15 anos que tiveram o mesmo sonho? Está mais que visto que Harry Potter é um jovem com excesso de imaginação, em busca de constante atenção e um tanto perturbado, consequências pela maldição o que o está deixando paranóico. E por falar em ocultação, não sabemos onde Harry Potter esteve durante estes anos todos. E acrescento que...infelizmente, Dumbledore é um grande bruxo que está perdendo seus poderes e sua capacidade de pensamento.’ afirmava Fudge.

Uma semana depois, na capa do Seminário das Bruxas.: ‘Quem está certo: Dumbledore ou Fudge?’,artigo publicado por Rita Skeeter.
A primeira página era acompanhada por uma foto frente a frente de Dumbledore e Fudge, se encarando e logo mais abaixo:

‘Segundo Fudge, a ambição de Dumbledore em querer assumir seu lugar, está fazendo o próprio perder capacidades mentais. O ministro igualmente afirmou que Harry Potter é um garoto alucinado devido a falta de uma boa estrutura familiar que nunca teve.

Nas semanas seguintes, ainda outras manchetes tais como: ‘Dumbledore: realidade ou imaginação?’, ‘Harry Potter de volta ao mundo bruxo.’ ou ainda ‘Fudge continua no poder?’ ocupavam os jornais:

As opiniões eram diversificados, deixando a maior parte da população preocupados em quem deviam acreditar. Fudge dirigia-se a comunidade bruxa pelos jornais afirmando que não havia motivos pra prevenção e que tal como havia acontecido nos últimos catorze anos, o mundo bruxo continuaria a viver livre de qualquer ameaça e sobre sua gestão. Palavras que trouxeram conforto há muitos e que há outros levam a questionar acerca das atitudes de Dumbledore.
**
Harry olhou em redor. Finalmente tinha chegado em Hogsmead, o local tanto falado e elogiados pelos meninos.
Hogsmead era uma vila constituída por pequenas casas com telhados cobertos de finas camadas de neve e lojas tinham enfeites chamativos nas portas.
_Por onde começamos? - perguntou Neville entusiasmado.

_Ora…pelos Doces dos Duques. Já imaginaram prateleiras e prateleiras dos melhores doces possíveis? Feijões de todos sabores, centenas de variedades de chocolates em filas, bombons explosivos, creme de hortelã-pimenta em forma de sapo… – o ruivo disse em tom sonhador.

_Já entendemos Rony, mal posso esperar. Vamos! - Seamus exclamou em direcção a loja, onde muitos estudantes faziam fila pra entrar.
O moreno demorou pra responder. Os olhos corriam a vila à procura de Hermione, porém, foi apenas possível ver uma cascata de cabelos castanhos afastando-se para o interior da vila. Ficou vendo-a se afastando. E ele sabia bem pra ir ter com quem.
Assim que conseguiram entrar na loja, Harry admirou-se. Ainda era melhor do que Rony descrevera. Um cheiro adocicado usurpava o ambiente quente e colorido. Imensas prateleiras dos mais suculentos doces ocupavam as paredes. Olhou o rosto babado de Rony que estava provando algo que enchia dois grandes barris a entrada.
_Harry, experimenta estas lesmas de geleia. São ótimas! - o ruivo exclamou de boca cheia.
O moreno hesitou em provar, afinal entre os elfos a alimentação era feita a base de vegetais e frutas, contudo, pegou de uma bandeja nos caramelos de vários gostos. O sabor era realmente bom, o que levou a comprar mais alguns. Ao lado dele, Dean e Seamus vibravam com os ratinhos de gelo enquanto nível pagava uma saqueta de penas de açúcar.
Uma hora depois, saíram da loja e foram em direcção a Loja das Piadas de Zonko, passaram pela vitrine de uma loja onde vendiam artigos de Quadribol, onde se demoraram algum tempo. Harry principalmente, admirava uma excelente vassoura que se encontrava exposta.
Saíram e caminharam para a Loja das Piadas de Zonko, quando, de repente, Harry ouviu alguém gritar seu nome. Virou-se e viu Sirius e Rose acenarem pra ele. O moreno foi de encontro a eles.
_Harry? Prazer em revê-lo? - Rose cumprimentou.

_Igualmente. - retribuiu-lhe a simpatia.

_Você que ir tomar uma cerveja amanteigada no Três Vassouras? - Sirius propôs esfregando as mãos devido ao frio.

_Claro. – anuiu ele.

Atravessaram a rua e dirigiram-se para um pub cheio, barulhento, quente e esfumaçado. Sentaram-se numa pequena mesa que se encontrava vaga ao lado da janela. Pouco depois foram atendidos pela dona, Madame Rosmerta, a quem fizeram seus pedidos.
Sírius e Rose conversavam animadamente sobre algo que acontecera a um amigo em comum, então Harry resolvera observar o que acontecia a seu redor. O bar estava cheio, havia bruxos de vários tipos e idades no local, além de vários estudantes de Hogwarts, umas garotas que Harry não conhecia, mas que pareciam ser um pouco mais velhas, olharam para ele e uma acenou discretamente, porém Harry achou melhor não retribuir o gesto. De repente houve um grande silêncio e um feixe como o de um flash de câmera brilhou, chamando a atenção de Harry para frente do bar, onde viu Hermione entrar de mãos dadas com um rapaz bem mais alto que ela, cabelos negros compridos e oleosos, nariz adunco e que caminhava um pouco curvado e com passos um pouco estranhos. Eles se sentaram em uma mesa perto de uma janela e madame Rosmerta foi atendê-los rapidamente. Os dois pediram algo e a mulher os deixou, então Harry teve que se segurar para não lançar uma azaração no homem que agora abraçava Hermione.

Sírius observou o casal que entrara e depois olhou para Harry, que tinha os olhos fixos nos movimentos que Vitor Krum fazia. Ficou sem saber se sorria ou lamentava por descobrir que a garota que tanto mexera com seu afilhado era Hermione, que já estava comprometida, no entanto, a resposta veio assim que chamas tomaram as cortinas do bar e copos e garrafas explodiram, quando Krum beijou rapidamente a namorada.

-Desculpe, eu... –Harry começa incerto ao ver o fogo sendo apagado por feitiços, mas logo Sírius o interrompe.

-Ninguém precisa saber que foi você, até porque vai acabar tendo que arcar com o prejuízo. –Sírius fala apontando para as garrafas quebradas nas mesas e Harry cora.

-Mas porque isso tudo? –Rose pergunta para Harry, que leva as mãos ao cabelo, sem saber como responder.

-Meu jovem afilhado está interessado naquela bela morena, que acompanha Krum. –Sírius fala de modo simples, mas em tom baixo para que ninguém, além dos três, escutasse.

-Mas ela nem é tão bonita assim. –O comentário, que não fora maldoso, saiu acompanhado de uma expressão confusa. Porém ao voltar a olhar para Harry, Rose se arrependeu de tê-lo feito.

-Hermione tem a beleza de uma flor prestes a desabrochar, o frescor da brisa primaveril, um sorriso tão quente e luminoso quanto o Sol de um dia claro de verão e seus olhos de brilho tão puro e inocente ocultam a sede de conhecimento e a imensa sabedoria que sua generosidade compartilha com quem precisa. Porém ela é muito mais que beleza e sabedoria, Hermione é tão complexa que eu poderia observá-la por uma vida inteira e ainda assim estaria sujeito a me surpreender com uma faceta nova e inexplorada, mas tão adorável e intensa quanto todas as outras. –Harry a descrevia em tom suave e distante, os olhos verdes levemente úmidos e brilhantes, perdidos no rosto da jovem.

-Isso só pode ser defeito genético! –Sírius exclama balançando a cabeça negativamente e depois ajeitando os cabelos para trás. Ao ver os olhares confusos de Harry e Rose, ele continua. –Seu pai se apaixonou muito jovem pela sua mãe, assim como você por Hermione, se bem que ao contrário de você, ele não se importava em sair com outras garotas enquanto Lily não queria saber dele.

-Como assim? Minha mãe também tinha um namorado na época? –Harry pergunta parecendo interessado.

-Não, ela apenas não gostava do James. Seu caso é bem diferente, você é amigo da Hermione, além disso, é muito mais bonito que aquele cara, por isso minha sugestão é que se declare para ela, se ela tiver bom gosto e for esperta, dá um chute no feioso e fica com você! –Sírius fala empolgado e sorrindo marotamente, antes de fazer um sinal para Rosmerta trazer mais cerveja amanteigada.

-Sírius tem razão. E, como mulher, eu posso dizer que qualquer garota da idade dela está interessada em rapazes bonitos, educados, gentis e românticos e você cumpre todos os requisitos com louvor.

-Estão mesmo sugerindo que eu tente conquistá-la? –Harry pergunta um tanto incrédulo.

-Claro! Eu aposto que com meus conselhos, em uma semana estará desfilando com a garota. –Sírius fala com tanta confiança, que Harry fica hesitante. –Ela está vindo pra cá. –Sírius avisa e disfarça, assim como Rose, já Harry fica nervoso e não consegue evitar olhar para Hermione, que sorri e acena.

-Com licença, mas eu poderia roubar o Harry por uns minutos? –Hermione fala de modo educado, sem deixar de sorrir para o amigo.

-Claro, fique à-vontade. Eu e Rosinha estávamos mesmo precisando de um tempo a dois. –Sírius fala com um sorriso maroto, prontamente retribuído pela mulher.

-Nos encontramos em Hogwarts, Sírius. Foi ótimo revê-la Rosinha! –Harry se despede de um jeito um tanto formal, fazendo uma suave mesura a Rose, parte por culpa de sua educação entre os elfos, parte por culpa de seu nervosismo.

-O prazer foi meu, gatinho. –Harry cora com o jeito da mulher, desviando o olhar e deixando-se conduzir por Hermione que segurara sua mão e agora o levava para mesa onde Krum os aguardava.

Quando chegaram à mesa, Harry viu o homem se levantar e observou a expressão dele, que não parecia muito feliz ou talvez aquela expressão fosse a natural, pelo menos para Snape era, aliás, ao pensar melhor, viu grandes semelhanças entre Vitor Krum e Severo Snape.

-Harry, este é Vitor Krum. Vitor, este é o amigo de quem tanto falava. –Hermione faz as apresentações e observa os dois apertarem as mãos.

-Prazer em te conhecer, Potter. –Apesar de tentar parecer amistoso, Harry sentiu que ele apertava sua mão mais que o necessário, então retribuiu a força.

-O prazer é meu, Krum. –Harry sorriu satisfeito ao ver que o outro afrouxara o aperto e tentava soltar a mão. Pelo menos nisso havia levado vantagem.

-Vamos nos sentar. –Hermione sugere e os dois, que se encaravam em um estudo silencioso, se sentam frente a frente. –Vou pegar uma cerveja amanteigada para nós. –Hermione já saía, quando Harry a interrompeu, segurando-a pelo braço.

-Faço questão de ir e pagar a rodada. –Harry fala lançando um sorriso amistoso a Krum. Hermione vê o sorriso e aceita a proposta de Harry.

Enquanto caminhava até o balcão e pedia as cervejas, Harry tentou pensar no porque da hostilidade aparente de Krum. Teria ele percebido seu interesse por Hermione? Não, não era o tipo de coisa que poderia perceber tão rápido. Pegou as garrafas e voltou à mesa.

-Obrigado Haryon. -Hermione agradeceu a Harry, que entregava as bebidas.

-Haryon? –Antes que Harry pudesse responder ao agradecimento, Krum se manifestou e sua expressão pareceu um pouco mais séria que antes.

-É o jeito como os elfos chamavam Harry, e eu adotei como um apelido. –Harry percebe que Hermione responde de modo tranqüilo, parecendo não ter percebido o ar mais sério que o namorado adotara.

-E o que significa, Harry? –Krum pergunta parecendo mais relaxado e levando a mão livre até a mão de Hermione, que pareceu um pouco desconfortável.

-Príncipe Herdeiro. Os elfos do conselho me chamaram de Haryon justamente por acharem que eu me tornaria Príncipe dos Istari, que são os magos, bruxos e etc., então todos os elfos passaram a me chamar assim. –Harry responde de modo resumido, não podia e nem queria expor muito dos ritos que envolviam os elfos.

-É uma pena que não possa ver algumas das magias que Harry sabe, são incríveis! –Hermione fala olhando para Krum, seus olhos brilhando como sempre que tinha a chance de aprender algo. –Ele anda me ensinado algumas.

-Você me falou sobre as aulas que estão tendo. Aliás, Hermione me disse que você entrou pro time de quadribol da sua casa, é apanhador como eu, certo? –Krum pareceu querer mudar de assunto e Harry observou que Hermione perdeu o brilho no olhar, que se voltou desanimado para a garrafa de cerveja amanteigada que segurava.

-Sim, eu estou no time. Ainda não houve nenhum jogo, mas meus companheiros de casa e meu padrinho estão empolgados, dizem que eu jogo bem. –Harry comenta parecendo não ter tanto interesse assim no assunto.

-Está confiante em si mesmo ou só não tem interesse pelo jogo? –Harry notou que aquela pergunta parecia esconder outra e decidiu mudar o assunto.

-Adorei o quadribol, é muito divertido. Mas eu gostaria de saber mais sobre o Torneio Tribruxo, Hermione disse que você foi o vencedor. –Os olhos de Krum pareceram brilhar e Harry notou que ele se sentava mais ereto, como se pretendesse narrar uma verdadeira epopéia. Trocou um olhar cúmplice com Hermione, que agradeceu em silêncio por ele não estar falando de quadribol.

Durante os minutos seguintes Harry o ouviu narrar sobre suas provas e por vezes ele e Hermione começavam a debater algum assunto relacionado ao desafio, mas Krum rapidamente arranjava um modo de os prender novamente em sua história. Quando Harry começou a falar sobre o que estava achando do mundo bruxo, notou que Krum se aproximara mais de Hermione e passara um braço por suas costas, sua mão acariciava o ombro dela, mas foi quando ele tentou beijar Hermione, que Harry se levantou, não poderia mais continuar com aquela tortura.

-Bom, se me derem licença eu já vou, está ficando um pouco tarde e quero dar um passeio. –Harry fala escondendo qualquer emoção que tivesse, era algo que aprendera com a convivência com os elfos.

-Mas já? Não quer ficar mais um pouco e depois voltamos juntos para o castelo? –Hermione pergunta parecendo desapontada, o que o fez pensar em talvez ficar mais um pouco.

-Querida, não vê que ele está sendo gentil conosco, nos oferecendo mais tempo para ficar a sós, já que ficaremos um bom tempo sem nos ver? –Krum fala de um jeito insinuante que faz Hermione corar e Harry fechar as mãos com força.

-Bom fim de passeio para vocês. Foi um prazer conhecê-lo, Krum, parecesse ser um grande bruxo. –Harry fala e faz uma mesura respeitosa. Apesar do ciúme, era obrigado a reconhecer que Krum tinha vencido o torneio com mérito e parecia ser capaz de grandes feitos.

-O prazer foi meu, Potter. Espero nos vermos em uma próxima visita a Hogsmeade. –Krum não pareceu muito sincero, mas Harry aceitou o cumprimento.

-Nos encontramos em Hogwarts, devo ir para a biblioteca antes do jantar. –Hermione fala e Harry assente, antes de sair do bar.


Harry respirou fundo o ar frio e úmido assim que saiu do bar. Sentia-se zonzo e perdido, então decidiu rumar para o castelo, onde tentaria por as idéias no lugar. Percorreu o caminho imerso em seus pensamentos, lembrando de como Hermione sorria para o namorado e o quanto ele se mostrava carinhoso com ela, dando a entender que devia ser um bom namorado, alguém que a fazia feliz.
Mal acreditou quando se deparou com os portões de Hogwarts, para sua mente parecia que havia acabado de sair do Três Vassouras. Ficar pensando em Hermione não o estava o ajudando a se acalmar, então resolveu mudar seu foco e se dedicar a refletir sobre o que estava acontecendo com ele desde que chegara ao mundo humano, por isso caminhou até a floresta que margeava os terrenos da escola, Hermione havia dito que era proibida por ser perigosa, mas Harry crescera cercado por florestas com áreas muito perigosas e não temeria uma sitiada em uma escola.

Novamente deixando-se vagar em pensamentos, ponderou sobre a reação do ministro e do mundo bruxo diante de suas revelações e estes pensamentos, de modo inconsciente, o empurravam para as partes mais sombrias da floresta, como se quisesse fugir do Sol e a luz ofuscante que poderia desviar seus pensamentos para uma morena que o deixava ainda mais confuso e perdido. Concentrando-se em sua situação com o ministério, ainda não entendia o porquê dos bruxos não acreditarem nele, havia sido claro em suas visões, reconhecera os comensais que trouxeram Voldemort de volta a vida, no entanto o chamavam de mentiroso, de interesseiro, o acusavam de querer manipular a opinião pública e quase o transformaram em inimigo público número um. Não teria a ajuda deles para achar Voldemort, a tal Ordem da Fênix que Dumbledore fundara não aparecia com informações relevantes, por isso, depois de pensar seriamente sobre o assunto, decidira abrir sua mente ao menos parcialmente para o bruxo das trevas, sabia que ninguém o apoiaria, mas não se importava, já era considerado adulto pelos elfos e isso significava muito mais para ele que qualquer julgamento humano.

Parou a beira de um lago e pela primeira vez prestou atenção onde estava. O lugar era semelhante a um pântano, as árvores eram altas e de troncos grossos, cobertos por musgos e cipós, as folhas eram de um verde desbotado, o chão lamacento, o lago era composto por uma espécie de lama negra, o sol entrava muito timidamente naquela região, por entre as altas copas via apenas nuvens acinzentadas. De repente viu uma grande rocha cinza claro se mover e acho aquilo muito estranho.

Viu que na verdade a rocha era uma criatura que saía do lago, nadando na direção da margem oposta a sua. A cabeça era semelhante à de um crocodilo, mas devia ter quase cinco metros, tentou apurar a vista, mas não conseguiu ver o que acontecia, até que viu o enorme ser sair da água e abocanhar algo que grunhiu, parecia um filhote. Deu as costas, Melroch o havia ensinado que não podia se meter na cadeia alimentar por mais cruel que esta pudesse parecer, no entanto um pedido de socorro chegou a sua mente, havia agonia e pavor no pedido, além de uma inocência que só poderia vir de um filhote, um animal que não poderia se defender, isso significava que a vítima além de não ser um simples animal, rogava por sua interferência, o que mudava completamente a situação .

Correu, como se fosse parte do solo, sobre a água escura, em direção a criatura de escamas acinzentadas, deslizou alguns metros e depois girou rapidamente, formando um rodamoinho de água que subiu e alcançou metade do ser, se congelando e fazendo o ogro gigantesco se debater pelo choque térmico. Harry escalou a saltos o ogro, fez um movimento rápido com o punho direito e então chamas saíram de sua mão e atingiram a região entre os olhos, que além de grandes e sem pálpebras, eram negros com a íris branca e em forma de estrela. Pousando sobre o focinho longo, se segurou ao sentir o ogro agitando o focinho, mas quando enormes mãos bateram no focinho e as garras passaram perto de si, resolveu descer e viu que algo escuro também caía no chão. O gelo se partiu e voou na direção de Harry, que rapidamente conjurou uma barreira de fogo, que derreteu o gelo.

-Péssimo dia para me provocar! –Harry exclama enquanto desvia de uma cauda enorme e cheia de espinhos que apesar de pequenos, lhe pareciam perigosos.

O ogro estava tão perto da margem que seu corpanzil estava quase todo exposto, devia ter quase vinte metro, era humanóide, coberto de escamas cinza, os braços eram fortes e musculosos, os dedos longos ligados por uma membrana e as garras apesar de pequenas em relação ao resto, poderiam fazer grandes estragos nele, assim como a cauda cheia de pequenos espinhos. Já enfrentara criaturas parecidas em Almaren, tinham o corpo resistente, mas nenhuma inteligência.

Assumindo uma postura firme, Harry bateu o pé fortemente no chão e sem tirar os pés do solo, girou 180°, as mãos se esticaram e os braços foram para trás, depois para frente com força e velocidade, tudo em frações de segundos. O chão se ergueu quase três metros e se partiu e diversas rochas que avançaram contra o corpo forte do ogro, atingindo-o com força, mas não o ferindo, apenas deixando mais enfurecido. E como represália pegou uma enorme árvore e arremessou contra Harry, que saltou sobre ela e correu por seu tronco, saltando e atirando um feixe vermelho de sua mão na direção da cabeça do ogro, antes que fosse pego pelas mãos fortes da besta. Sorriu ao ver que o feitiço estuporante havia o deixado atordoado por uns segundos, mas o sorriso desapareceu ao sentir seus ossos começarem a serem comprimidos pela mão forte.
Sabendo que não adiantaria atingir o corpo, se concentrou em um feitiço forte o suficiente para rasgar a pele do animal, o raio prateado passou pelo pulso como uma lâmina afiada, fazendo um líquido verde musgo e viscoso escapasse pela ferida, a dor do corte fazendo a mão se abrir em um reflexo. Harry, no entanto, não se deixou cair, se segurou em um dedo e se balançou para frente, se soltando e girando no ar, caindo sobre a mão ferida e subindo correndo pelo braço, até que a bocarra, cheia de dentes serrilhados e com um cheiro pútrido quase insuportável, veio em sua direção como previra. Animais usam sempre as garras e a boca para atacar e geralmente a boca apesar de ser mortal, também é muito frágil a ataques, por isso lançou um potente jato de chamas garganta a dentro do animal, que urrou e caiu como se mergulhasse para parar a queimação com a “água” do lago.
O garoto pretendia ir para terra e ver se achava o tal filhote que estava sendo atacado, mas a cauda do ogro não só se chocou, como se enrolou a Harry, que gritou de dor ao sentir uma ardência e depois uma queimação em sua pele. Tendo seus braços presos e sabendo que era impossível respirar em baixo de lama, mesmo usando magia, Harry começou a se concentrar para diminuir a produção de gás carbônico e o consumo de oxigênio, o que lhe daria um pouco de tempo para agir, antes que precisasse respirar. Segundos depois de submergir já havia executado o feitiço, sentiu seu corpo relaxar completamente e depois um frio subir por seus ossos e se enraizar em seus músculos, os quais logo depois sofreram um grande espasmo, que forçou a cauda o suficiente para que Harry pudesse libertar seus braços. Ignorou a ardência que a água do pântano causou nos ferimentos deixados pelos espinhos, atendo-se a sentir o ambiente em volta.
O ogro havia lhe apertado mais a cauda em volta do corpo, parara de se sacudir, provavelmente tendo sanado a queimação na garganta, e agora encontrava-se nadando com grande agilidade para o meio do lago, onde a profundidade seria maior e portanto, Harry teria mais dificuldade. À medida que a criatura ia se movendo, Harry vez ou outra tocava o solo e sentiu que o impacto não era grande, havia limo e cipó no fundo, tornando-o bem escorregadio. Decidiu então usar os cipós que cobriam quase todo fundo do mar, só precisaria fazer os cipós se erguerem e depois se enrolar nos obstáculos que encontrassem.
Já havia passado quase um minuto que estava submerso, quando os cipós começaram a se enrolar no ogro, que reagiu tentando rasgar os cipós com as poderosas garras e dentes, ao mesmo tempo em que apertava mais a cauda em torno da presa. Harry então usou o feitiço de corte, colocando força suficiente para arrancar o pedaço da cauda e se libertar. Não se permitiu sentir alívio, sabia que o muro de cipós que havia colocado em sua proteção não o ajudaria muito, então nadou o mais rápido que pôde para a superfície e chegando lá usou a magia para se erguer sobre o lago.

Estava a vários metros da margem, no meio do lago, então como única opção viável, se concentrou e enrijeceu a “lama” que formava o lago negro, logo depois sentindo um forte impacto sob seus pés. Correu com toda capacidade que tinha na direção da margem e sentiu as “águas” se moverem sob si, então novamente endureceu a superfície, que desta vez foi erguida pelos braços fortes do ogro. Antes que houvesse tempo dele tentar virar a “prancha” rochosa ou atirá-la, Harry saltou na direção do ogro e lançou um feitiço em seu olho esquerdo, a cauda do ogro logo veio em represália, mas desta vez bateu em um escudo mágico, lançando-o até a margem, mas sem feri-lo.

Como um felino, Harry caiu de pé, com os joelhos levemente flexionados. Olhou ao redor a procura do que poderia usar contra o adversário, que logo sairia das profundezas do lago, furioso e querendo matá-lo rapidamente. Formou uma base forte, os olhos fixos no lago negro, respirou fundo sentindo toda a vida que crescia a sua volta, dos pequenos insetos as aves que vez ou outra cruzavam o céu acima das enormes copas das árvores. Captou o momento em que o ogro nadava em sua direção, preparando-se para atacá-lo, então esperou friamente o momento certo e, no segundo preciso, lançou um tronco que estava atrás de si dentro da boca de crocodilo, que não era forte o suficiente para quebrar o tronco, que de tão espesso forçava a boca a ficar totalmente aberta.

-Isso é para aprender a nunca se meter com um bruxo! –Harry fala em meio a risos, vendo o ogro submergir agoniado. Sentiu os ferimentos em seu corpo arderem e observou que os furos estavam inflamando e havia manchas escuras em torno deles. –Amiguinho, onde você está? –Perguntou em voz alta, fazendo o mesmo mentalmente, em uma tentativa de achar o filhote.

Uma presença fraca se manifestou atrás de uns arbustos a sua direita e Harry seguiu cautelosamente até o lugar. Quando afastou as folhagens e analisou a bela e pequena criatura que se encontrava estendida no chão. O corpo era alongado, em forma de serpente. Fixou-se nos semi cerrados olhos vermelhos brilhantes, tão vermelhos quanto rubi. A criatura assemelhava-se a um dragão serpenteado, se que é que não o era mesmo. Possuía um dorso repleto de escamas de cor ametista e a parte inferior, desde o pescoço vistoso até a ponta da cauda era negro. Uma cauda constituída por uma crista de acúleos cortantes e lancinantes que chegavam até a ponta da elegante e inanimada cauda no solo. De suas costas abriram duas asas perfeitas também ametistas que até então haviam permanecido encolhidas. Os limitados fios de sol faziam com que suas escamas resplandecessem criando uma frágil aurora. O bater de asas numa tentativa sem sucesso de voar gerou uma brisa que tornava o ambiente agradável para Harry.
Certos pormenores singulares favoreciam-no como um animal admirável na opinião do moreno.
Harry aproximou-se cuidadosamente e fez intenção de o tocar. O dragão, numa tentativa falhada de se erguer deixou-se continuar ali. Então fechou os olhos, contorceu-se e começou a entoar uma melodia de sons lúgubres. E com isso, Harry pôde notar que apesar de pequeno possuía robustos dentes e garras fortes.
O dragão desviou-se seus olhos do garoto pra o ferimento profundo que corria ao longo de todo seu flanco, o sangue escarlate corria abundantemente, encobrindo o brilho das escamadas ametista. Harry, aproximou-se pra ajudá-lo, porém do dragão ecoou uma sibilar intimidante e ele viu-se obrigado a controlar a vontade de ajudar.
A criatura teimava em continuar tentando levantar voo.
O moreno acercou-se lentamente. Chegou tão perto do dragão que viu o seu reflexo nos olhos rubis, tentou pegá-lo, e nisso, depois dele muito tentar escapulir de seus braços, e numa dessas vezes fez um corte profundo no antebraço do moreno que permaneceu o segurando. Pouco e pouco, a criatura foi-se acalmando e aceitando a ajuda.
_É melhor te levar pra Hagrid ver isso. – disse preocupado pra o dragão manso e ténue e olhando para o sangue que agora manchava sua roupa.


Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.