Vergonha da Família



Capitulo IV
Vergonha da Família

Àquela manhã, Noah foi acordado por alguns berros que ecoavam pelos frios corredores de pedra do castelo.
O rapaz ergueu o tronco da cama e coçou os olhos, ainda um tanto quanto atordoado, imaginando que a sua estadia provisória na morada dos Black não tivesse passado de um sonho, mas chegou à conclusão de que não era verdade ao notar que aquele recinto em nada se assemelhava aos seus aposentos no castelo de Camelot e, muito menos, havia um criado como aquele o encarando com um mudo interesse, como se esperasse que ele dissesse algo.
Ele deixou escapar um grito de seus lábios, sendo seguido por um guincho medroso do elfo, que se escondera aos pés da cama quando Noah tomou sua espada em mãos e segurou-a firmemente, apontando de forma ameaçadora para a criatura.
-O que diabos você está fazendo aqui, seu pequeno demoniozinho? – grunhiu, irritado, ao que o elfo embolava-se nas palavras e olhava ameaçadoramente para algum ponto da parede, incerto entre responder a pergunta ou se martirizar por ter assustado o seu novo amo.
Mas, antes mesmo que Richards atacasse o pobre coitado do elfo, ou o mesmo se decidisse entre se jogar contra a parede ou responder a pergunta do rapaz, Jack irrompeu o quarto do amigo com um sorriso debochado no rosto.
-Bom dia, Noah. – o rapaz falou com uma alegria esbanjada; o loiro apenas o encarou com os olhos ligeiramente estreitados, esboçando um ar carrancudo.
-Você deve está se divertindo bastante com isso, não é, Jack? – o rapaz bufou de raiva enquanto o outro gargalhava. – Por que raios você não me avisou que eu seria acordado com tão bela figura? – ironizou, lançando um olhar carrancudo para o elfo. – Esses bruxos não têm uma coisa melhor para serem os seus criados, não?
Jack apenas meneou a cabeça perante o mal-humor matinal do amigo e dispensou o elfo calmamente, que sumiu com um leve estalo, fazendo Noah tomar um novo susto.
-Eu já disse, Noah, você terá que se acostumar com as excentricidades do mundo bruxo. Não dou uma semana para você começar a se divertir com tudo isso.
-E eu dou uma semana para eu não enlouquecer com tudo isso e resolver sair correndo daqui. – ele retrucou, arrancando mais risos do outro. – Bando de loucos! – resmungou, se levantando calmamente da cama. – E o Eric, já acordou?
-Não sei, provavelmente sim. Eu vim ver primeiro se você não estava querendo matar alguém ou se jogar pela janela do quarto. – ele respondeu com um sorriso arteiro e Noah emburrou ainda mais a cara (se é que ainda era possível).
-E que berros foram aqueles? – ele questionou, intrigado, ao notar que eles haviam cessado.
-Alguns problemas familiares dos Black; suponho que seja isso. Deve ter cessado porque eles se lembraram que portas existem para também serem fechadas, ou deve existir algum feitiço maluco para impedir que a conversa deles sejam ouvidas por, hum, intrusos. – Jack deu de ombros, sem dar muita importância ao fato. – Parece que uma delas fugiu de um pretendente ontem, ou algo assim, pelo que eu pude ouvir; – ele sorriu de forma meio maliciosa. – interessante, não?
As lembranças da noite anterior rapidamente passearam pela mente do loiro e um sorriso zombeteiro e irônico povoou os lábios do rapaz.
-Aparentemente, as mulheres daqui são bem diferentes das que nós conhecemos, não é, Lancaster? – Noah comentou, começando a vestir-se calmamente.
-Elas são Black, Noah, isso é motivo suficiente para fazê-las diferente das outras. – Jack comentou casualmente e o outro rapaz o encarou como se não tivesse entendido muito bem. – Vamos logo ver o príncipe.
-Ansioso para saber o que está acontecendo, Jack?
-Nem um pouco. – o outro sorriu e, após Richards se encontrar devidamente arrumado, os dois se dirigiram aos aposentos do príncipe.
Os dois cavaleiros saíram dos aposentos para dirigirem-se aos do príncipe, mas não conseguiram chegar lá sem que fossem interrompidos. Mesmo à distância entre os quartos sendo (após a reclamação de Lancaster) pequena agora.
Antes que pudessem alcançar a madeira da porta dos provisórios aposentos reais, Jack foi surpreendido por uma das pequenas da casa, ou melhor, pela menor delas que cruzou o corredor batendo o pé sem parecer ver nada a sua frente e, logicamente, trombou com ele.
-Hei, hei... – disse ele sorrindo (Jack tinha o péssimo costume de acordar bem humorado, pensou o amigo) – Cuidado, pequena, você pode se machucar andando desatenta por aí...
-Sai da minha frente, seu desgraçado! – berrou a jovem, empurrando-o para o lado.
-Vega! – eles ouviram alguém se aproximar – Vega, volte aqui agora mesmo!
-Volte você para aquela traidora! – gritou a caçula quando a irmã Stella apareceu.
Na mesma hora a porta do quarto do príncipe abriu, revelando a jovem realeza que encarou a garota com curiosidade.
Stella corou na mesma hora, não era dada aquele tipo de reações, mas a situação foi péssima. Ela fez uma reverencia feminina para os três homens a sua frente.
-Mil perdões, senhores... Vossa Alteza... - ouviram novos berros, vindo do corredor da onde Stella havia aparecido - O Castela costuma ser menos movimentado, não se preocupem.
-Posso perguntar o que está acontecendo sem ser intrometido, senhorita Black? – perguntou o príncipe.
-Na verdade não. Por que é um assunto de família extremamente vergonhoso. – ela deu de ombros – Mas eu não me importo de contar-lhes. Meus pais acabam de descobrir que uma de minhas irmãs largou o marido ontem e voltou para a casa.
Os três arregalaram os olhos, surpresos. Aquilo não era uma atitude muito comum entre as mulheres daquela época.
Ouviram mais alguns berros. Stella arfou.
-Minha mãe não gostou muito da atitude dela, como podem perceber... E a nossa caçula também não... – apontou na direção que Vega sumira.
-Por que? – perguntou Noah curioso – O que a garotinha tem haver com isso?
-Ah, a Vega quer casar... – riu Sté – Só que papai segue as regras antigas de casar as filhas conforme a idade, então, enquanto eu e a Betel não casarmos ela não pode casar... E agora, a mais velha que já era casada resolveu largar o marido... – ela deu de ombros – Vega deve estar pensando que não vai casar nunca.
-Casar!? – estranhou Lancaster – Ela não é muito nova para isso?
-Se o senhor conseguir fazê-la entender isso, vai nos ajudar muito. – ironizou Sté – Bom, vou levá-los a sala de refeições para o café da manhã. Acho que a discussão vai levar muito tempo ainda e não é justo que os senhores morram de fome enquanto isso.

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Persephone fechou a porta da sala depois da saída de Stella e Vega, assim não incomodariam os hóspedes mais do que já deveriam ter incomodado. Logicamente, naquela família ela era a única ligeiramente preocupada com aquilo. Betel estava sentada numa poltrona enorme num canto da sala, rolando os olhos. Sirius, seu cunhado, estava andando irritado pela sala, murmurando que Lynx havia desonrado a família e vários dos negócios provavelmente seriam arruinados pela fuga da filha mais velha.
Sua irmã não murmurava, como marido. Ela gritava, gritava tanto que Persephone jurava que seus ouvidos ainda iriam estourar.
-Até parece que foi pra isso que eu te criei, Lynx! Sua garota ingrata! Tive que carregá-la durante nove meses no meu ventre para isso! Como pôde? Quer matar sua mãe de desgosto?
Lynx não respondia, sabia que uma resposta só deixaria a mãe furiosa e pioraria a relação com a família.
-Parece que tudo que eu fiz foi em vão!Arranjei um ótimo casamento e o quê você faz?Foge!Joga tudo para o alto e decidi fugir!Por favor, não me diga que também está apaixonada por um trouxa! Sinceramente, às vezes nem parece minha filha...
-Pai?- Lynx perguntou, não prestando atenção às palavras da mãe. – Você não vai me forçar a voltar para o Slughorn, vai?
Sirius parou de andar e olhou para a filha como se pela primeira vez a notasse na sala.
-Diga-me, Lynx, você acha que ele ainda vai querê-la? Minha filha, você é linda, mas não é irresistível nem é coberta de ouro. Não, não, uma volta só tornaria as coisas piores, além do mais, aquele idiota iria querer que eu me humilhasse para aceitá-la de volta...
Lynx relaxou na cadeira. O seu pai nunca se humilharia, o que garantia que ela poderia aproveitar a boa vida no castelo. Ela não iria voltar mesmo se ele decidisse, e se fosse forçada, iria fugir de novo, já tinha tudo planejado. Mas a declaração do pai tornava tudo mais fácil.
-Não, não, você não pode voltar. Você deve é se casar novamente.
-O QUÊ?- ela e a mãe gritaram ao mesmo tempo.
-Você não pode estar falando sério, pai.
-Sirius, você sabe as conseqüências que isso trará para a família? E como isso tornará difícil para as outras se casarem?
-A decisão já foi tomada, e eu não vou mudar de idéia. Agora, vamos tomar café, por favor? O príncipe deve nos estar esperando e também deve ter ouvido os gritos. Lynx, Betel, onde está o irmão de vocês?
-Ele ainda está dormindo, eu acho. Tentei chamá-lo, mas ele não respondeu. – a mais velha respondeu, o seu irmão gêmeo deveria ter posto algum feitiço no quarto, o espertinho.
-Vá chamá-lo. Não, melhor, deixe-o dormindo. Se ele se acha esperto o suficiente para não comparecer às reuniões de família, também não vai se importar não tomar o café da manhã.

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