Feliz Natal, Rony!

Feliz Natal, Rony!



Resmunguei. Por que aquele maldito despertador sempre tinha que interromper meus melhores sonhos?

O que eu sonhava? Sonhava que tinha conseguido falar tudo para Hermione. Sonhava que tinha beijado-a. Não importava que, como Hermione mesmo diz, não tenha sido um beijo de final de filme (e até hoje eu não sei o que ela quer dizer com isso). De qualquer maneira, eu e ela concordamos em uma coisa: foi o início de tudo. Foi o primeiro dia do resto de nossas vidas.

Como eu queria continuar a sonhar... Melhor: eu queria que aquele sonho fosse real.

Mas o despertador não parava de tocar, e um dia, aquele mesmo dia, estava começando.

Abri os olhos. Tudo bem, disse a mim mesmo. Que o dia se repetisse. Eu não me importava de dizer milhões de vezes a Hermione que a amava. Eu não me importaria de estar debaixo do visco mais uma vez.

No entanto, uma coisa eu estava estranhando: por que Harry ainda não tinha reclamado para que eu desligasse o despertador?

Quando sentei, colocando os pés ao lado da cama, quase pisei em um monte de pacotes. Pacotes? Olhei arregalado para eles e peguei um deles na mão. Eram... presentes... presentes de Natal...

Ainda um pouco abobado, desliguei o despertador sem notar que o fazia. Meus olhos só conseguiam enxergar os presentes. E não era pelo simples fato de serem presentes, era o que eles significavam: o Natal tinha chegado; eu nunca mais teria que viver aquela mesma véspera?

Comecei a rasgar os papéis de presente e procurava avidamente entre os cartões a letra caprichada de Hermione. Por sorte, eu estava sozinho no dormitório e ninguém me ouviu rir sozinho por ser Natal. Procurava, procurava, mas não achava. Já estava começando a me desanimar quando encontrei, escondido, um pequeno embrulho... azul escuro... Quando abri o presente, não acreditei no que via. Mas o que mais me emocionou foi a mensagem do cartão musical, escolhido a dedo, e tão caprichado. Eu nunca poderia esquecer o sentimento quente e prazeroso que escorreu dentro de mim.

Não havia Bichento correndo atrás de ratos explosivos quando eu estava descendo as escadas segurando, em uma mão, o presente, e em outra, o cartão. E também não havia barulho algum. O único som era distante, parecia que não era na Torre, e eu comecei a achar que estava sozinho. Mas não importava que eu estivesse sozinho contanto que eu achasse a pessoa que queria.

E eu a achei. Sentada em um dos sofás de veludo vermelho, lendo seus próprios cartões de Natal. Parei perto da porta da Sala Comunal, apenas observando-a. A sala estava vazia, com exceção dela, ou então eu não estava vendo mais nada que não fosse Hermione. E ela parecia absorta demais para me notar.

Aproximei-me furtivamente por trás do sofá onde ela se encontrava. Sorri ao ver que ela lia, justamente, o meu cartão. Encostei meu queixo no seu ombro e senti o sobressalto dela, mas o que era melhor era seu perfume, seu cheiro...

- Você me assustou. - ela sorriu para mim, e eu senti que realmente aquilo, simplesmente aquilo, era tudo que eu poderia querer.

- Como é bom viver o hoje, você não acha? - perguntei, sentando-me ao seu lado e observando-a atentamente, como que hipnotizado. Ela colocou sua mão nos meus cabelos.

- Hoje é um dia especial. - ela falou, abraçando-me apertado. - Feliz Natal, Rony!

Acariciei, um tanto sem jeito, o topo de sua cabeça e fiz de tudo para que ela continuasse me abraçando. Como eu queria ouvir aquilo. E ouvir com a voz de Hermione fazia com que tudo fosse melhor.

- Não é especial só por isso. - ela se afastou do abraço, mas continuou bem perto de mim, e eu ainda acariciava seus cabelos. - É o nosso dia, o que acha?

- Acho que não poderia ser um dia melhor.

Tanto eu, quanto ela, abaixamos os olhos para o presente que ela tinha me dado. Hermione riu. Eu observei, sorrindo, o frasco de perfume azul escuro que ela tinha me dado.

- Você gostou? - ela perguntou ansiosa.

- Se gostei? Como poderia não ter gostado? É um presente seu, só por isso já é maravilhoso. Além disso... - eu ri. - Eu mesmo o escolhi.

- E você pensando que era para outra pessoa... - ela caçoou.

- Nunca pensei que você pudesse vir a se interessar justo por mim, Mione.

- Como você é besta... Eu gosto de você do jeito que é, Rony. Sem tirar nem por.

Aquilo foi o meu melhor presente. Hermione deu-me um beijo na bochecha e se levantou, segurando em suas mãos o meu presente: uma tiara.

- Vou experimentar meu presente.

- Por que não faz isso aqui? - perguntei choroso, clamando para que ela ficasse.

- Porque quero me arrumar. Para você.

Observei-a enquanto subia as escadas. E, finalmente, aquilo era real. Não era apenas um sonho. Era a minha vida. E a minha vida estava junta da dela a partir daquele momento.

Abri novamente o cartão que ela tinha me dado. Uma música agradável começou a tocar e eu senti o cheiro dela impregnado no papel. Sua letra arredondada me dizia palavras que eu nunca esqueci.

Meu querido Rony,

Pensei muito antes de escrever essas palavras. Tive medo que você risse de mim ao lê-las. Há muito tempo que eu queria escrever isso, porque, por mais que você possa me achar corajosa, eu não conseguiria te dizer tudo isso olhando nos seus olhos. Foi difícil até mesmo escrever, mas depois do que aconteceu, debaixo do visco, eu não tenho mais dúvidas de que é isso que eu quero. E que você quer.

Uma coisa que sempre me disseram foi que eu sou discreta. Sei esconder bem meus sentimentos. De certa maneira, excetuando-se alguns eventuais deslizes, eu até consegui esconder o que sentia. Porque eu sinto isso há muito tempo. Porém, parece que eu tenho perdido o jeito. Há algum tempo que eu não consigo mais esconder o que sinto.

Só você não percebia, e eu não sabia se isso era bom ou ruim. Eu queria que você percebesse, mas você não notava. E eu também não queria que você percebesse, porque tinha medo que você risse de mim... achasse que fosse uma piada. Só agora sei que você também tinha medo. Somos dois medrosos, afinal.

Eu também te amo, Rony. Pelo que você é. Eu me encantei por você exatamente por causa desse jeito despreocupado, despojado... É isso que eu quero para mim. Eu quero você.

O Natais serão, de hoje em diante, muito mais especiais para mim. Porque tenho você ao meu lado. Porque a vida, nossa vida, começou nesse dia.

Feliz Natal, hoje e sempre.

Hermione

Quantas vezes eu já reli esse cartão? Mais que cinqüenta vezes... Como eu sei disso? Você já vai entender...

Hoje, mais uma vez, minhas mãos, agora enrugadas, seguram esse cartão. A luz pálida do sol o ilumina, e eu sinto a neve fofa sob meus pés. O nosso jardim, meu e de Hermione, parece coberto de chantilly.

Eu leio novamente esse cartão em todos os Natais, desde aquele, distante, em que eu tinha apenas quinze anos. Apesar disso, hoje, com quase setenta, eu ainda sinto a mesma emoção que senti naquele momento. Ainda sinto a mesma coisa quente escorrendo no meu coração e preenchendo-me por inteiro.

Não posso dizer que minha vida foi feita inteira de felicidades. Mas se eu fosse fazer um saldo dela, com certeza seria positivo. Porque, estando há tanto tempo ao lado da minha Mione, eu sei que, para ser feliz, tenho que passar pelas coisas ruins, deixá-las ir, e apreciar as boas.

Nunca tive certeza se o que aconteceu naquela véspera de Natal, quando eu tinha quinze anos, foi mesmo real ou não. Nunca soube, também, se era ou não uma maldição. Mas se foi, não sinto nenhuma raiva ou mágoa disso. O que aconteceu comigo me ajudou de muitas formas.

Eu aprendi a viver um dia de cada vez, a aproveitar cada momento diferente que acontece em minha vida. Aprendi que tenho que resolver tudo o que puder o mais cedo possível, e nunca adiar para o dia seguinte. Porque o dia seguinte nunca será igual ao anterior.

Eu cresci. Eu envelheci.

Mudei.

Mas ainda sou o mesmo, bem no fundo.

- O que você está fazendo aí sozinho, meu velhinho?

Levantei minha cabeça e vi quando uma velhinha se aproximou de mim, sentando-se ao meu lado. Seus cabelos ainda eram cheios, mas não mais castanhos: agora, eram brancos... Sua pele ainda era macia ao meu toque, mas estava enrugada. E cada uma daquelas rugas me fazia lembrar de algo bom que vivemos juntos. Suas mãos, também enrugadas, se sobrepuseram às minhas e um sorriso se formou no seu rosto.

- Eu só estava pensando... - respondi, ouvindo minha própria voz lenta e rouca. - Em como é bom viver o hoje... ao seu lado.

A minha velha Hermione, minha mulher, minha garota, minha menina... minha eterna namorada, encostou devagar sua cabeça no meu ombro e, juntos, observamos a neve fina que começava a cair naquele Natal.



FIM

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Comentários (5)

  • Yasmin2538

    Maravilhoso, fantástico, incrível! Uma das únicas fanfics de romione que conheço, e a ÚNICA boa.

    2017-11-12
  • judyweasley

    Por Merlin!! Eu NUNCA, NUNCA, NUNCA NA MINHA VIDA LI UMA FIC COMO ESSA. É simplesmente LINDA, INTELIGENTE, ROMÂNTICA, BRILHANTE! Todos os meus sentimentos parecem estar presentes nessa fic! TUDO que eu sinto pelo Rony e pela Hermione foi completamente reforçado com essa história! Cada palavra, cada gesto, cada sorriso, isso é completamente o espírito de '' romione ''. E esse final, ah esse final, completamente inesperado, lindo, emocionante! Saiba que fico lendo fics o dia todo, e com certeza essa fic é a mais linda de todas. Você conseguiu praticamente EXPLICAR o amor verdadeiro, o amor infinito, aquele que a gente nunca desiste de amar. Simplesmente magnífico! Confesso que estou aos soluços! Nunca chorei tanto lendo algo. Quando acabei de ler simplesmente não consegui segurar o choro, apenas deitei minha cabeça no travesseiro e passei a chorar, chorar de uma forma que nunca chorei antes, chorar porque eu finalmente encontrei a forma mais linda de falar sobre o amor verdadeiro! Um choro que simplesmente colocou para fora meus sentimentos mais desesperados e profundos. Obrigado por ter escrito essa fic! Eu simplesmente A-M-E-I! Meus sinceros parabéns, e por favor, escreva mais fics como esta. Pena que a nota só vai até 5. 

    2012-07-20
  • Ingrid Maciel

    Adorei essa Fic! Parabéns é maravilhosa!

    2011-12-16
  • analuba97

    aaaaaaawwwwwwwnnnnnnnnnnn!!!! chorei no final:') que lindoooooooooooooooooooooooooooooo

    2011-08-20
  • Priscylla Lorrheyne

    ooun' LINDOOOOO ! *--*

    2011-05-17
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