Coincidência? Acho que não...

Coincidência? Acho que não...



- Desliga essa porcaria, Rony!

Abri os olhos. Não... não estava acontecendo... Por favor, alguém tinha que me dizer que era uma mentira... Não poderia estar acontecendo...

Mas estava, e o despertador filho da mãe não parava de tocar.

Levantei-me enfurecido. Eu estava quase lá! Por uma palavra! Uma palavrinha pequenininha, e Hermione não escutou eu dizer que a amava!

CRACK.

O despertador tinha se estatelado no chão quando eu o atirei. Algumas molas saltaram para fora, e ele ainda ameaçou fazer mais um "bzziss". Pisei nele com força.

- CALA A BOCA, INFELIZ!

Com um último "tic-tac", o derradeiro suspiro, ele partiu para o outro mundo. O mundo para onde iam os espíritos dos despertadores. Ou então ele iria para o lixo. O que viesse primeiro.

Harry, ainda deitado na cama, me encarou chocado. Seus olhos esbugalhados fitavam o falecido relógio.

- Talvez você precise tomar um suco de maracujá... ou um chá.

- FOI A GOTA D’ÁGUA! - gritei, sem me importar se Harry iria ou não entender o que começava a lhe dizer. Eu só precisava desabafar aquilo ou explodiria.

Harry piscou, provavelmente me achando insano. Neville se sentou na cama, esfregando os olhos.

- Onde tá pegando fogo? - ele murmurou sonolento.

- Na masmorra do Snape. - Harry respondeu, sentando-se na cama. - Não precisa acordar só por causa disso, Neville.

- Ah, tá...

Harry respirou fundo e colocou os óculos. Encarou-me com um olhar apaziguador.

- Calma, Rony. Respira fundo e se acalma.

Eu não queria me acalmar. Eu queria gritar para o mundo que o dia estava se repetindo e, por culpa disso, eu não tinha acabado de dizer a Hermione que gostava dela.

- Bem na hora, Harry! Bem na hora que eu ia falar, pimba! - bati uma mão sobre a outra com estrondo. - O relógio deu meia-noite.

- E você virou abóbora? - Harry riu.

Sentei-me na cama, aparvalhado.

- O quê?

- Esquece, Cinderela. - Harry disse ainda rindo. - Ou devo dizer... a "Rainha de Copas"? Você tá tão nervoso, que tá mais parecendo ela. Cortem-lhe a cabeça! - ele finalizou teatralmente.

Fiquei paralisado por alguns instantes. Pelo menos não era só eu que era maluco. Harry riu.

- Ótimo, você fala uma língua e eu outra. Estamos quites. Que tal começarmos a falar inglês agora?

Dei-me conta que Harry achava que aquele era um dia comum, e que nada de errado estava acontecendo. Ele não sabia que o dia estava se repetindo e, por isso, não entendia quando eu dizia que quase tinha conseguido falar tudo para Hermione na noite anterior.

- Harry... você vai me achar doido quando eu contar... - comecei timidamente.

- Sem problemas! Eu já acho você maluco, Rony.

Suspirei.

- O dia está se repetindo. - disse de um fôlego só.

Harry não disse nada por alguns segundos. Parecia estar absorvendo o que eu tinha acabado de falar. Ele colocou uma mão na minha testa e a outra na dele.

- Parece que não está com febre...

- É sério, Harry! Eu tenho certeza do que estou dizendo!

Eu estava desesperado. Tinha que fazê-lo acreditar! Até quando iria repetir o mesmo dia? Isso iria me enlouquecer!

- Que tal você visitar Madame Pomfrey, Rony?

Segurei-o pelos colarinhos, balançando-o.

- Você tem que acreditar em mim!

- Vai com calma, Rony... Senta e me conta o que está acontecendo. Mas me larga primeiro.

Larguei-o, mas não tive calma o suficiente para me sentar. Comecei a andar de um lado para o outro. Harry me acompanhava com os olhos e, pelo menos eu achava, ele escutava com atenção o meu longo relato.

- E foi isso, Harry! Ontem, quando eu estava quase dizendo tudo para ela, deu meia-noite, e eu não me lembro de mais nada depois disso!

Harry estava boquiaberto. Ele coçou a cabeça, bagunçando os cabelos já bagunçados.

- O dia está se repetindo. E como eu ou Hermione, ou qualquer outra pessoa, não sabe disso?

- Como é que você quer que eu saiba? Acho que só está acontecendo comigo...

- Você tem certeza de que não é um sonho? Que tal se beliscar?

- Não é um sonho! Pára de tirar uma da minha cara!

- Eu não estou! - ele disse rápido, tentando me tranqüilizar. - Eu sei como é estar preso em um sonho, Rony... Esqueceu que isso sempre acontece comigo? Quando eu sonho com o...

- Não precisa dizer o nome dele! - eu falei de supetão. - Já está bastante ruim sem você lembrar que ele existe.

Harry bufou irritado como fazia todas as vezes em que eu, ou qualquer outra pessoa, tinha medo de ouvir o nome de Você-Sabe-Quem.

- Olha, Rony, eu já fiquei preso em sonhos... E eles realmente pareciam reais. Talvez isso seja apenas um sonho.

- Você acha?

- Bem... pra mim é bastante real. Mas isso não significa -

- Harry, eu estou desesperado! Não agüento mais!

- Calma. A gente só precisa pensar direito.

Sentei-me de frente a ele.

- Você acredita em mim?

- Rony, depois de tudo que já aconteceu comigo na minha vida, eu acredito em qualquer coisa... - ele disse seriamente. - Além disso, você está tão desesperado que eu não tenho como não acreditar.

Respirei aliviado.

- O que você sugere?

- Hermione.

- Hermione? - gritei assustado, já sentindo as orelhas quentes.

- Claro, quem mais? Antes de ela ser a garota que você gosta, ela é a sabe-tudo do grupo, lembra?

Não me preocupei em pedir para ele não dizer o nome dela alto. Aquele dia se repetiria de qualquer maneira, e tudo seria esquecido no final...



*******



- Bem, o melhor é você explicar tudo para ela... como fez para mim.

Pela terceira vez, que eu me lembrasse, eu e Harry estávamos descendo juntos as escadas do dormitório masculino, em direção à Sala Comunal. Minha cabeça doía só de pensar em viver o mesmo dia novamente. No entanto, dessa vez, Harry (e logo Hermione) sabia o que estava acontecendo e, pelo que parecia, acreditava em mim. Com toda a certeza um dos dois saberia me tirar daquela enrascada. E se tinham duas pessoas que eu confiava cegamente no mundo, essas seriam com certeza meus dois melhores amigos: Harry Potter e Hermione Granger.

Ouvi um miado distante e logo me lembrei do que ia acontecer. Coloquei um braço na frente de Harry, forçando-o a parar de descer as escadas. Eu não tropeçaria naquele maldito gato novamente. Harry me olhou curioso.

- O que foi?

- Bichento vai atravessar nosso caminho correndo atrás de um rato.

Não deu outra. Quando Bichento passou por nós e começou a correr ao nosso redor atrás do bendito rato explosivo, Harry me olhou em estado de choque.

- Se eu não tivesse acreditado em você antes, Rony, acreditaria agora.

- Espere, ainda tem mais. - eu sorri, começando a aproveitar a idéia de que eu sabia tudo antes de acontecer. Abaixei-me e apanhei pelo rabo o rato que Bichento perseguia; como conseqüência, o gato começou a arranhar as minhas pernas para tentar alcançar o bicho.

- O que você vai fazer com isso? - Harry perguntou curioso, acompanhando-me enquanto eu descia as escadas. Bichento nos seguia, ronronando irritado.

- Isso é um rato explosivo, uma das "Gemialidades" de Fred e Jorge.

- Como você sabe? Ah, deixa eu adivinhar, isso já aconteceu?

- Já.

Eu estava tão feliz comigo mesmo! Daquela vez, eu não tinha tropeçado em Bichento e me esborrachado no chão! E ainda poderia dar o troco em Fred e Jorge! Era maravilhoso!

- Bom dia, meninos. - Hermione cumprimentou-nos assim que aparecemos na Sala Comunal, levantando-se e largando um livro na poltrona. - O que você está fazendo com esse rato, Rony?

- Bichento estava atrás dele.

- E por que você o apanhou? - ela perguntou sem entender. - Deixasse que ele continuasse perseguindo-o. Bichento faz isso todos os dias.

- Eu não fiz isso porque... - os gêmeos, como eu previa, apareceram na sala. - ...ele é um rato explosivo, feito por Fred e Jorge!

Foi Jorge que apanhou, surpreso, o rato que eu tinha jogado em cima deles. Hermione os encarava incrédula. Fred estava estupefato. E Harry, a custo, segurava o riso.

- O que significa isso, Roniquinho? - Fred perguntou com as sobrancelhas erguidas. Hermione olhou dos gêmeos para mim, e depois encarou Bichento, que arranhava agora as pernas de Jorge, tentando inutilmente alcançar o rato nas mãos dele.

- Eu já entendi tudo! - Hermione exclamou indignada. - Vocês iam testar mais uma das suas invenções malucas no meu gato?

Fred e Jorge me fuzilaram com o olhar, mas eu sorri por dentro. Esse era o troco por terem, duas vezes, zombado de mim quando eu caí da escada.

- Mionezinha... - Fred começou. - Você precisa entender que -

- EU NÃO PRECISO ENTENDER NADA! - ela gritou exasperada. - O meu Bichento... vocês iam -

- Bom dia! - Neville exclamou, aparecendo na sala.

- AH! - Jorge, que ainda segurava o rato, gritou, e rapidamente jogou o rato para Neville, que o apanhou sem entender nada. Todos o encararam.

BUM.

Neville parecia ter acabado de perder uma partida de Snap Explosivo. Suas sobrancelhas estavam chamuscadas, e seu cabelo exalava fumaça preta e fedorenta no ar. As cinzas do rato jaziam na sua mão.

- É, né? - Jorge falou simplesmente. - Parece que funciona.

Pelo menos o dia estava sendo diferente, pensei. Eu estava mudando-o. Mudando meu destino.



*******



- Espera um pouco... - Hermione sussurrou, seus olhos arregalados. A torrada que ela iria levar a boca ainda estava na sua mão, esquecida. - O que vocês estão dizendo pra mim?

Dessa vez, não houve discussão entre Hermione e os gêmeos no meio do Salão Principal. Gina e Neville (que já tinha se limpado das cinzas) conversavam sobre a mesma coisa: os preparativos da festa de Natal do dia seguinte. Enquanto isso, eu e Harry contávamos a Hermione sobre o que estava acontecendo comigo.

- O dia está se repetindo. - eu falei, já novamente deixando de achar isso divertido. Tá bom que adivinhar certas coisas era legal, mas eu já estava me enchendo de viver sempre a mesma coisa.

Ela largou a torrada sobre o prato e mordeu o lábio inferior, parecendo pensar.

- Você tem certeza, Rony? Não é nenhuma brincadeira?

- É claro que eu tenho! - respondi desesperado. - Eu não brincaria com uma coisa dessas!

- Não sei... talvez vocês só estejam querendo me aplicar uma peça.

- É sério, Mione. - Harry se interpôs. - Eu acredito no Rony. Diante de tantas coisas estranhas que já me aconteceram, não consigo deixar de não acreditar.

- É exatamente por isso que eu acho estranho. - Hermione retrucou. - Geralmente as coisas esquisitas acontecem com você, Harry, e não com o Rony.

Harry se calou por alguns instantes.

- Mas está acontecendo comigo, é o que importa! - protestei. Hermione ia dizer algo, mas Harry começou a falar seriamente.

- Será... que isso tem a ver com o Vol...

- Não diga o nome dele! - eu falei depressa, antes que ele completasse a palavra.

Harry me ignorou solenemente.

- Mas se for mesmo por culpa de Voldemort...

- Se fosse por ele, Harry... - Hermione começou. - O feitiço, ou maldição, ou o que quer que seja, não recairia sobre você, ao invés de Rony?

- Mas e se deu errado? - Harry supôs. - E se ao invés de me atingir, ele não atingiu Rony por engano?

- Esperem um pouco. - eu intervi apressadamente. - Esse não é o ponto. Não importa saber se foi Você-Sabe-Quem ou se eu estou nessa situação por engano. O que realmente importa é que eu não agüento mais isso, e que quero sair desse pesadelo!

- Um pesadelo? - Hermione repetiu pensativa. - Você já verificou se isso é realmente um sonho? Se é real?

- Eu já supus isso também. - Harry falou.

- Não sei... - respondi, enfiando as mãos nos cabelos. - Como vou saber?

Levantei a cabeça e vi uma cena que já tinha visto antes:

- Neville, me passa a garrafa de suco de abóbora. - Fred pediu.

- NÃO FAÇA ISSO! - gritei, levantando-me, mas o estrago já tinha acontecido. A jarra de suco já tinha se partido, e Gina estava completamente encharcada.

- De-desculpe...

- Depois que desculpa foi inventada muita gente deixou de apanhar! - ela retrucou com os olhos faiscando, levantando-se e indo embora batendo os pés.

- Mulheres... - Fred comentou, como se fosse um grande sábio. - Sempre parecem que engoliram pimenta.

Sentei-me desolado, enquanto Harry e Hermione me encaravam atônitos.

- Não vamos a Hogsmeade hoje. - Hermione decidiu. - Vamos à biblioteca!



*******



Infelizmente para mim a nossa busca não retornou resultado algum. Passamos todo o resto da manhã, a tarde e o início da noite na biblioteca, vasculhando livros. Madame Pince achou que estivéssemos aprontando algo, já que era totalmente improvável que três alunos passassem a véspera de Natal enfurnados na biblioteca ao invés de estarem passeando em Hogsmeade.

Era óbvio que isso não era exatamente divertido, mas eu estava tão desesperado para sair daquele pesadelo, que não me importava em ler quantos livros fossem necessários. Até mesmo Hogwarts, uma história, e acho que essa foi a única vez em que me senti tentado a fazer isso. Mas era um momento de desespero, e em horas assim, as pessoas fazem as coisas mais inimagináveis.

Uma coisa que me deixou imensamente contente foi ver o empenho dos meus amigos para me ajudar. Eles poderiam não ter certeza se aquilo era mesmo real, ou se serviria de alguma coisa, mas estavam me ajudando do jeito que podiam. Hermione vasculhava livros com uma velocidade incrível, e Harry se propôs a ir roubar livros da Seção Reservada com sua Capa de Invisibilidade se isso se fizesse necessário.

No entanto, eu já estava achando que aquilo não serviria de nada. Exausto, abaixei minha cabeça sobre um exemplar de Maldições: defenda-se!. Estava tentado a desistir de tudo aquilo.

- O que está fazendo, Rony? - Hermione perguntou enérgica, soltando uma pilha de livros grossos sobre a mesa com estrondo. - Você não vai desistir, vai?

Escondi meu rosto entre os braços. Eu queria que aquilo acabasse...

- E se eu for dar uma olhada na biblioteca particular do Snape? - Harry sugeriu em um sussurro. Levantei minha cabeça rapidamente, e Hermione se virou bruscamente para olhá-lo. - Eu sei que ele tem uns livros de Artes das Trevas lá, talvez se eu olhasse alguns...

- Você tá doido? - perguntei. - Em se tratando de Snape, e justamente você, a coisa pode tomar formas estrondosas!

- Como uma expulsão... - Hermione falou baixinho, sentando-se.

- De que importa? - Harry abriu os braços, encostando-se na cadeira. - Rony, você não disse que o dia está se repetindo? Isso quer dizer que amanhã nada disso terá acontecido, e eu não serei expulso. Além disso, vocês não confiam em mim? Eu sei me virar.

Não pude deixar de admirar meu amigo intimamente. Harry era realmente ousado.

- Mas e... se Rony estiver errado? - Hermione disse, olhando-me temerosa. - Não que eu não acredite em você, Rony, mas... e se amanhã o dia não se repetir? Harry, você pode se meter numa grande encrenca...

- Grande coisa. Quantas vezes isso já não aconteceu?

- Eu não posso permitir isso. - falei depressa. - Você não vai se arriscar com Snape por causa de algo que pode ser besteira minha. Eu posso estar apenas... ficando maluco.

- Também não é assim, Rony! - Hermione protestou. - Você não está ficando doido!

- Vamos, vamos! - Madame Pince interrompeu nossa conversa, batendo palmas. - Saiam da minha biblioteca, já está na hora de irem para suas Casas!

Ao sairmos da biblioteca, estávamos carregados até as orelhas de grossos livros. Quando estávamos no corredor do quinto andar, Harry parou de andar e exclamou:

- Eu já me decidi! Vou na masmorra do Snape!

- Não, Harry! - Hermione exclamou, mas ele já estava despejando metade dos livros nos meus braços e a outra metade nos de Hermione.

- Espera mais um pouco. - eu pedi. Não queria que Harry se metesse numa encrenca dessas por minha causa. - Talvez se nós -

- Eu vou pegar minha Capa de Invisibilidade e o Mapa do Maroto na Torre. Vejo vocês mais tarde.

- ESPERA! - eu gritei, lembrando-me de algo. Harry se virou. - Você tem que voltar antes da meia-noite.

- Antes da meia-noite? Por quê? - Hermione perguntou.

Harry a encarou por alguns segundos e depois me olhou. Entendi exatamente o que se passava na cabeça dele: a conversa que tivemos pela manhã, quando contei a ele que não tinha conseguido falar sobre meus sentimentos com Hermione exatamente por causa da meia-noite.

- Tudo bem, Cinderela. - Harry piscou para mim. - Que tal aproveitar enquanto eu estou fora para fazer aquilo?

Ele riu e foi embora antes que eu pudesse protestar. Hermione se virou intrigada para mim.

- "Cinderela"? Fazer o quê?

- É uma longa história, Mione. - eu falei, sentindo as orelhas quentes. - E ainda não estou pronto para te contar.



*******



Minha cabeça estourava de dor, e eu deitei-a sobre meus braços. Hermione, que tinha acabado de virar uma página de Feitiços - um apanhado desde a Idade Média, olhou-me de esguelha e deu um ligeiro sorriso.

- Você precisa mesmo descansar, Rony.

Só estávamos nós dois na Sala Comunal novamente. Já tinha passado das onze horas, e Harry ainda não tinha voltado. Eu e Hermione procurávamos nos livros que tínhamos, mas não havíamos achado absolutamente nada de aproveitável. Sinceramente, eu já estava começando a me acostumar com a idéia de viver, mais uma vez, o mesmo dia. Mas Hermione estava decidida em encontrar uma solução antes da meia-noite. E eu não podia deixar de me sentir imensamente feliz pela preocupação dela comigo.

- Pare com isso, Mione. - murmurei. - Você também deve estar cansada.

- Faltam apenas mais dois livros, Rony. Não vou parar até achar.

Sentei-me ereto novamente e a encarei por vários minutos, observando cada movimento seu, cada traço de seu rosto. Engoli em seco e, antes que pudesse me conter, segurei sua mão, impedindo-a que virasse mais uma página. Hermione me olhou confusa.

- O que foi?

- Obrigado.

Ela sorriu, ruborizando.

- Você é meu amigo, Rony. Eu tenho que fazer isso por você.

Sem saber de onde tirava coragem, aproximei minha cadeira da dela. Hermione não tirou os olhos de cima de mim. Comecei a sentir aquela contração involuntária no topo do estômago. Mas eu tinha que falar; tinha que dizer para ela o que sentia.

- Hermione... tem algo que eu preciso lhe dizer...

- Pois então diga.

- Tantas vezes eu já tentei te dizer isso, Mione... E eu não consigo... Eu tenho medo... Medo de dizer e, também, do tanto que eu gosto...

A passagem do retrato abriu-se abruptamente, mas tanto eu, como Hermione, não vimos ninguém entrar. Entreolhamo-nos e tivemos o mesmo pensamento.

- Harry? É você? - Hermione perguntou se levantando, assim como eu.

O capuz da capa escorregou e pudemos enxergar o rosto vermelho de Harry. Seus óculos estavam tortos no rosto, os cabelos mais despenteados do que nunca, e ele parecia completamente sem fôlego. Hermione e eu nos aproximamos dele, ajoelhando-nos ao seu lado.

- O que aconteceu? - Hermione perguntou com urgência.

Ele respirou fundo, parecendo tentar recuperar o fôlego.

- Snape... ele entrou... bem quando eu... estava mexendo nos livros...

- Ai, meu Deus! - Hermione exclamou, levando as mãos à boca.

- Ele te viu? - perguntei, imaginando o pior.

Harry negou.

- Eu estava bem escondido por baixo da capa... mas deixei o livro cair no chão. - ele respirou muito fundo. - Mas Snape sabe que era eu. Ele sabe que eu tenho a capa. E tudo que acontece de errado ele me culpa... se bem que... - ele riu. - ...não posso tirar a razão dele por isso; geralmente a culpa é minha mesmo.

- Mas alguém mais te viu?

- Não, Mione. - ele sorriu. - Quer dizer... Madame Nor-r-ra me farejou, mas eu fugi antes que Filch chegasse. - ele se virou para mim. - Mas eu estava mais preocupado com o horário, por isso vim correndo. Que horas são, Cinderela?

Virei-me para olhar o relógio da parede e minha respiração paralisou quando vi que faltava apenas um minuto para a meia-noite. Harry e Hermione enxergaram o mesmo que eu.

- Você descobriu algo? - Hermione perguntou, atropelando as palavras.

- Sim. Rony está mesmo sob uma maldição, mas eu não consegui trazer o livro para vocês lerem. - ele fez um gesto displicente. - É um nome complicado que não me lembro, mas o importante é que -

- Você sabe como revertê-la? - perguntei, já ouvindo a primeira badalada.

Harry postou a mão nos meus ombros, olhando profunda e seriamente nos meus olhos.

- Você tem que resolver seu assunto mais importante. É isso que está lhe prendendo no tempo. A coisa mais importante...

Ele olhou Hermione de soslaio e voltou a me encarar. Já era a sétima badalada. Harry abriu minha mão e colocou algo dentro dela.

- Você tem que ter coragem. Tem que dizer aquilo.

Abaixei meus olhos. Dentro da minha mão, Harry tinha colocado um visco.

A décima segunda badalada. Meia-noite novamente.

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