Telefone de Trouxas



Hermione Granger usava uma grande escova para tentar abaixar os cabelos lanhosos e volumosos que adornavam sua cabeça, lutando com todas as forças contra aquele utensílio decididamente trouxa. Ela não gostava deste rótulo – trouxas -, que os bruxos em geral utilizavam com aqueles que não possuíam poderes mágicos. Afinal, seus pais eram dentistas e, indubitavelmente, trouxas. No entanto, prestes a entrar no quinto ano da Escola de Magia e Bruxaria Hogwarts, a garota lentamente se afastava da herança não mágica dos pais e começava a se irritar com mais facilidade com aquele parafernália de aparatos trouxas. A escova mágica que a garota comprara em Hogsmeade, a única vila completamente bruxa da Inglaterra, era muito mais fácil de usar – resmungava, em um muxoxo.

No entanto, seus pais haviam lhe pedido para usar o mínimo de coisas mágicas na sua casa. Não que eles tivessem algum tipo de preconceito ou medo da filha bruxa. Seu houvesse uma família com sentimentos mais diversos dos Dursley, os famigerados tios de Harry, estes seriam o Sr. e a Sra. Granger. Entusiasmados com a carta que receberam de Hogwarts há quase cinco anos, os pais de Hermione aceitaram muito bem o fato da única filha ser uma bruxa e estar estudando na escola de bruxos desde então.

Mas a perspicaz Sra. Granger, um pouco amedrontada com o fato da filha estar se distanciando cada vez mais das suas raízes familiares, teve uma conversa bastante esclarecedora com a filha, quando esta regressou para as férias de verão. No final, elas chegaram a um acordo e a varinha de Hermione, bem como a grande parte de seus apetrechos mágicos, estava fielmente guardada dentro do malão de Hogwarts, enfiado debaixo da cama da garota. Ela aceitara o pedido sem restrições, pois seus pais haviam deixado de fora todos os livros da escola – incluindo todo o material do quinto ano. Considerando que seus preciosos volumes eram a coisa mais importante na vida da garota, as férias haviam passado em relativa tranqüilidade.

A garota bufou de raiva e frustração novamente. Irritantes minutos se passaram e, finalmente, Hermione desistiu de lutar contra a cabeleira e desceu as escadas de sua residência em Oxford, bufando consternada com sua inabilidade com uma simples e ridícula escova.

- E pensar que eu posso muito bem preparar qualquer poção do sexto ano – resmungou, mais para si do que para a mãe, que se ocupava em preparar o desjejum.

- Bom dia para você também, menina – disse a Sra. Granger, já acostumada com os arroubos irritadiços da filha quase todas as manhãs, principalmente nos últimos dias.

- Bom dia, mãe – disse rapidamente, em tom de desculpas, observando atentamente a Sra. Granger arrumar o café da manhã, os longos cabelos louros presos em um coque muito bem feito. Ela usava uma impecável roupa branca de dentista, o que contrastava com os lábios vermelhos e os dentes brilhando.

Hermione passou novamente as mãos sobre os cabelos lanhosos, bufando, observada pelo canto do olho pela Sra. Granger. Sem saber, mãe e filha estava pensando quase a mesma coisa. Apesar da garota sentir quase vergonha dos sentimentos que lhe afloravam nos últimos dias, era óbvio que uma grande transformação estava ocorrendo com Hermione. Normalmente mergulhada no meio de uma enxurrada de livros e pergaminhos, a garota nunca se permitiu gastar um pouco do seu tempo para pensar em si mesmo. Ela considerava o hábito de passar horas na frente do espelho, como ela estava acostumada observar nas colegas, uma absoluta perda de tempo. A Sra. Granger sorriu para o gesto da filha, mas resolveu permanecer calada.

A garota bufou novamente, revoltada com sua inabilidade, ao mesmo tempo em que agarrava uma colher com violência, mirando sua face na sua superfície prateada. Logo depois, atirou novamente a colher sobre a toalha azul xadrez, cruzando os braços, insatisfeita.

Sua mãe lhe serviu leite e torradas de pão de centeio.

- Mãe... – resmungou ela, com uma torrada na mão, sem sentir a mínima vontade de comer.

- Sim? – respondeu a Sra. Granger, se esticando para agarrar o pote de biscoitos sem açúcar da última prateleira do armário.

- Você me ajuda com o meu cabelo? – pediu, com uma voz tão sumida que sua mãe mal ouvira. Assim que falara, a garota corou terrivelmente.

A Sra. Granger sorriu novamente, aproveitando que estava de costas para a filha. Ao se virar, já exibia o ar mais natural que conseguira.

- É claro. Mas o que você quer fazer com eles? Eu acho seu cabelo tão bonito... – replicou com um sorriso. Ela se aproximou da garota, notando o visível embaraço dos fios que a menina sofrera tanto para romper, sem lograr êxito.

- Eles estão horríveis! – exasperou-se, erguendo a mão em protesto contra o jeito condescendente da mãe.

- Hmmm... – concordou a Sra. Granger, com um muxoxo, erguendo uma sobrancelha enquanto passava delicadamente as mãos tranqüilas e graciosas nos cabelos da filha – Acho que tenho exatamente o que precisamos – disse, abrindo um sorriso.

- Jura?! – exclamou a garota, exaltando um ar de felicidade que arrancou o terceiro sorriso cúmplice da mãe.

- Sim, está lá no meu quarto. Se você quiser, depois do... – mas a Sra. Granger não conseguiu terminar a frase, pois a filha já saltara da cadeira e pulara de volta para o corredor. Erguendo ainda mais as sobrancelhas, ela decidiu seguir Hermione, encontrando seu marido descendo as escadas. A garota acabara de passar correndo por ele, soltando um beijo no ar.

- O que está acontecendo? – perguntou, com a expressão divertida.

- Coisas de mulher – respondeu-lhe a Sra. Granger, fazendo um carinho na face do Sr. Granger e seguindo depressa para o segundo andar.

- Ligue para o meu consultório – ainda gritou – Diga para minha secretária que eu vou me atrasar um pouco.

***
Logo após o almoço, Hermione ajudava seus pais com a louça suja enquanto saltitava contente pela cozinha. O tratamento que sua mãe lhe emprestara encacheara levemente os cabelos, deixando-os mais sedosos depois de um bom tempo imersos em um creme que lhe parecia terrivelmente com pus de bubotúberas diluído. No entanto, a experiência da Sra. Granger com cabelos revoltos, afinal, suas mechas louras não eram muito diferentes dos fios secos da sua filha, dera bons resultados e a garota sorria, exibindo os dentes diminuídos magicamente no ano anterior. Mas sua mãe já advertira que somente um tratamento continuado faria surtir os efeitos desejados e era bom que ela se acostumasse a perder um pouquinho mais de tempo para se cuidar.

Enquanto Hermione retirava os últimos copos da mesa, o barulho inconfundível de asas rebatendo ecoou pela janela de madeira. A garota saltou para o postigo, deixando entrar a excitada e minúscula coruja de Rony.

- Pichi! – exclamou, os olhos brilhando.

O Sr. e a Sra. Granger trocaram olhares cúmplices.

- É a coruja do seu amigo Rony, não é? – perguntou a Sra. Granger, que estava absolutamente acostumada com as corujas que voavam para dentro de sua casa durante todo o verão. O principal meio de comunicação bruxo já era bastante familiar aos Grangers, apesar da sua mãe ter notado a presença contínua de outra coruja que ela não conhecia. Estava acostumada com Hermes e Pichi, as corujas dos Weasley, assim como a ave branca e magnífica de Potter. Mas uma coruja imponente, de um negro translúcido, também aparecera diversas vezes durante as férias, parecendo sempre muito cansada e sedenta, como se tivesse feito uma grande viagem.

Alheia aos pensamentos da mãe, a garota agarrou a corujinha, respondendo rapidamente.

- É, sim – disse ela, acariciando Pichi.

- Pode ler sua carta. Nós já estamos terminando – disse a Sra. Granger para a filha, que sorriu agradecida e subiu correndo as escadas, se fechando no seu quarto com um grande estrondo.

Hermione ralhou com o Bichento, que se espreguiçava lentamente sobre sua cama de lençóis de linho impecavelmente esticados. Apesar de não aceitar as provocações de Rony, ela tinha certas suspeitas sobre os hábitos noturnas do gato de pêlos alaranjados e feição complacente. Piscando o olho amarelo duas vezes para Pichi, Bichento saltou para o chão e se enroscou na cadeira da dona, lambendo as patas.

A garota retirou um petisco de corujas do saco que sempre mantinha na primeira gaveta do seu criado-mudo, lançando o biscoito para a Pichi, que comeu com satisfação, empoleirada no parapeito da janela de Hermione. Com mal disfarçada ansiedade, retirou o enorme rolo que estava firmemente preso na pata esquerda da ave, puxando o pergaminho para a cama. Enquanto lia a mensagem, seu queixo foi caindo na mesma proporção que a felicidade lhe escorria pelo rosto como água da chuva. Momentos depois - depois de reler a carta três vezes, para se certificar que entendera a letra hieroglífica de Rony -, ela ouviu sua mãe lhe chamar do hall de entrada. Arrastando os pés, escondeu a mensagem no fundo do bolso das calças jeans e desceu melancolicamente os degraus.

- Nós já estamos saindo, meu bem... Tudo bem com você? - perguntou a Sra. Granger, desconfiada da expressão desanimada da filha.

- Er... Tudo bem - mentiu a garota, sentindo a face enrubescer.

- Você tem certeza? - insistiu sua mãe, enquanto esperava pacientemente o Sr. Granger buscar a maleta com seus pertences.

- Claro! - respondeu a garota, em uma exclamação tão alta que perturbou a Sra. Granger.

Instintivamente, a mãe de Hermione mordeu os lábios. Ela já havia se atrasado pela manhã e sua fila de pacientes deveria estar dobrando o quarteirão. Acreditando que tudo não passava de, provavelmente, algum drama juvenil, ela resolveu não insistir. Afinal, pressionar sua filha adolescente sem ter tempo para aprofundar a questão não era uma atitude que ela considerava das mais aconselhadoras. Em pouco tempo, um apressado Sr. Granger carregou a esposa para fora, se despedindo rapidamente da filha.

Hermione suspirou aliviada ao notar a saída dos pais. Ela não queria preocupá-los com os assuntos da escola, apesar destes estarem sempre atentos ao que se passava em Hogwarts. No entanto, a garota os ocultará completamente de todos os problemas de verdade que ocorriam no mundo mágico. Se limitando a comentar acerca dos colegas e das pequenas desavenças juvenis, ela nunca falará uma única palavra sobre as proteções mágicas que eles haviam desafiado no primeiro ano para chegar à pedra filosofal, nem tampouco sobre seu congelamento temporário no segundo ano, que quase lhe custara a própria vida. Provavelmente, sua mãe teria um chilique nervoso se soubesse que a filha andava se virando com artefatos mágicos para mexer com o tempo, como no terceiro ano, ou que soubesse de fonte fidedigna que Voldemort, o bruxo mais perigoso que já existira, retomará os poderes. Desta forma, não era possível para a garota comentar o que significava ter Malfoy como diretor da escola.

- Um Comensal da Morte dirigindo Hogwarts - sibilou ela, sentindo um arrepio gelado que lhe congelou as entranhas.

A garota sentiu náuseas e precisou se sentar, para não desmaiar. O que eles fariam? - pensou, consternada.

Súbito, o telefone tocou e o som estridente da campainha ecoou de forma fantasmagórica pelos corredores vazios da residência dos Granger. A garota teve um sobressalto. Já tivera notícias ruins demais por um dia. No entanto, todos os seus amigos lhe correspondiam com corujas. Aquela deveria ser uma ligação para seus pais ou um engano.

Atendeu o telefone mecanicamente, a voz sem emoção.

- Alô?

- Hermione, é você?! Caramba, que sorte... - respondeu uma voz bastante conhecida.

- Harry?!

- Oi, Mione - cumprimentou o garoto, que sorria aliviado por ouvir uma voz companheira.

- Como você me encontrou? E porque está usando um telefone dos trouxas? - insistiu a garota, olhando incrédula para o aparelho como se procurasse algum sinal de encantamento ou feitiço.

- Não foi fácil - respondeu o garoto, com um alto grau de satisfação consigo mesmo - Eu aproveitei que Moody tira uma soneca depois do almoço para subir para o primeiro andar. Ainda bem que o telefone estava funcionando. Ele me contou que mantém o apartamento como disfarce contra os trouxas.

A garota permaneceu muda, espantada demais para fazer algum comentário. Harry interpretou o silêncio como uma deixa para continuar.

- Depois, só foi contatar a central telefônica. Sorte que eu sabia que você morava em Oxford e que não há muitos Granger por aí - concluiu ele, dando uma risada meio abafada.

Novo silêncio.

- Mione, você ainda está aí? - perguntou o garoto, preocupado. Afinal de contas, manter Hermione quieta era uma das tarefas mais árduas que ele poderia imaginar.

- Isso... você aí com Moody... é por causa da prisão de Dumbledore, não é? - respondeu a garota, falando pausadamente, enquanto tentava conectar todas as informações que recebera nos últimos minutos.

- Sim - respondeu Harry, desanimado - É melhor eu lhe contar tudo... - decidiu, resumindo rapidamente a sua situação.

- Então, você está preso com Sirius na... como ele chamou mesmo?... ah,sim... Caixa forte de Moody? - perguntou ela, balançando a cabeça, incrédula.

- Não... quer dizer, sim... Mas Sirius foi embora. Eles acharam que já haviam dado muita bandeira sem a presença do meu padrinho por aqui - respondeu, a voz traindo sua dor em ver novamente Sirius se arriscar a voltar para Azkaban por sua causa.

- Bom, se Dumbledore achava melhor você fugir da casa dos Dursley, eu imagino que ele tenha suas razões - comentou a garota, tentando consolar o amigo.

- Eu sei. Eles me contaram tudo pela manhã - disse Harry, a voz em um fiapo quase inaudível - Ele não quer que eu retorne para Hogwarts!

- O QUÊ?!

- Ele diz que a escola vai ser muito mais perigosa do que seu estivesse andando desacompanhado pela Travessa do Tranco - resmungou, amargurado, enquanto sentia, tristemente, a reação da garota se desenrolar exatamente como previra. E isso que ele ainda não tinha contado para o Rony!

- Oh, céus, Harry.

Um silêncio incômodo passou pela linha.

- Talvez... talvez ele tenha até razão, Harry - resmungou Hermione, ainda perturbada.

- Eu sei - disse o garoto com a voz embargada - Mas, e quanto a vocês? Malfoy pode descontar sua raiva sobre você e Rony se eu não estiver aí... - protestou, sentindo sua cabeça latejar. A possibilidade de Lúcio converter seu ódio de Potter para os seus dois maiores amigos não era nada desprezível, e até mesmo Moody e Sirius haviam concordado com as preocupações do garoto. Malfoy era rancoroso e suficientemente malévolo para tornar a vida dos dois insuportável durante aquele ano.

- Mas ele vai ser o diretor da escola, Harry. Ele não pode sair perseguindo os alunos. O Conselho Escolar o demitiria em segundos - protestou Hermione, tirando momentaneamente o garoto de seus devaneios.

- O Conselho Escolar? - desdenhou Harry - Aquele mesmo conselho que destituiu Dumbledore duas vezes? - perguntou, balançando a cabeça - Metade dos alunos vão estar pendurados pelos punhos na masmorra de Filch antes que o conselho descubra o que está acontecendo.

Mais uma vez, somente o silêncio se seguiu a este comentário.

- Isso não importa, Harry - disse Hermione, decidida a não transparecer uma grama sequer de medo para o amigo - Eu e o Rony sabemos nos cuidar. Você é que precisa ter cuidado! Para onde você vai?

- Beauxbatons - respondeu, amargurado.

- É uma das melhores escolas da Europa - comentou Hermione - Segundo o livro Uma Avaliação da Educação em Magia na Europa, Beauxbatons é considerada uma das melhores agremiações estudantes...

- Mione...

- ... e a diretora é amiga de Dumbledore, você conheceu ela durante o ano passado, é claro... –

- Mioneee!

- Além disso, você já conheceu alguém da escola! – continuou a garota, em uma súbita inspiração – Fleur Delacour pode lhe ajudar a se enturmar. Ela anda de namorico com Gui e eu tenho certeza que o Rony pode convencer o irmão a falar com a namorada. Ela pode ser ótima companhia...

- Mione! – exclamou Harry, em um tom mais alto sem, contudo, parar a metralhadora verbal da amiga.

- E você pode aprender novas azarações e outros feitiços diferentes. É uma oportunidade única para abrir seus horizontes, Harry! Saber realmente como a bruxaria está difundida em nossa mundo e...

- HERMIONE! – gritou o garoto, finalmente fazendo com que ela se calasse no meio da frase.

- Eu sei o que você está fazendo e eu agradeço muito. De verdade! – disse Harry, sendo o mais sincero possível – Mas Beauxbatons não é Hogwarts! E eu não estarei aí com vocês... – concluiu, sentindo um nó na garganta.

- Eu sei... – murmurou Hermione, em tom de desculpas.

- Só me prometa que vocês vão cuidar um do outro, ok? Que vão deixar as diferenças de lado, para variar... – pediu ele, lembrando nitidamente das brigas entre os dois amigos no último ano por causa do fatídico Baile de Inverno e de um certo apanhador de quadribol búlgaro.

Hermione mordeu a língua, constrangida. Harry, mesmo à dezenas de quilômetros de distância, percebeu a hesitação da amiga.

- O que foi?

- Nada – mentiu ela, erguendo as sobrancelhas e xingando sua própria indiscrição.

- Nada uma dúzia de ovos de salamandra – resmungou Harry, indignado. Tinha verdadeiro ódio que as pessoas escondessem coisas deles, alimentado pelos anos que crescera na mais completa obscuridão em relação ao mundo mágico – O que houve, Hermione?

A garota torceu as mãos no telefone, um dilema interior a corroendo por dentro como sangue de dragão concentrado. Ela não queria aumentar a carga de problemas do amigo com a situação de Rony mas, ao mesmo, tempo, ela precisava desabafar a ansiedade que sentia por perder seus dois únicos amigos.

- Mione! – vociferou Harry, irritado.

- Tá bom! Ta bom! – suplicou a garota, suspirando fundo. E como se derramasse todos os sentimentos amargurados que já tivera na vida de uma vez só, contou toda a história que Rony lhe mandara via correio coruja.

- ... e é isso – concluiu ela, bufando – Eu não sei se eles vão ir para Hogwarts! – completou, se referindo aos Weasley e tomando o cuidado de não tocar no nome do Rony. Era dolorido demais pensar no amigo individualmente, mas a garota não conseguia explicar o porque. Achava que devia sentir mais pena pela Gina, que era mais jovem e vivera menos em Hogwarts... No entanto, seu coração lhe pregava mais uma peça.

Harry, que sentira sua raiva crescer como um gêiser aferrolhado, apertara os dentes até quase senti-los trincar. Seu pescoço parecia uma bolsa de água quente e ele se imaginou tal qual o Tio Valter quando ficava irritado. A lembrança dos Dursley clareou sua mente e ele conseguiu falar novamente.

- Hermione, você disse que somente o Rony sabe sobre o corte das bolsas, certo?

- Foi o que ele escreveu – confirmou a garota.

- Certo... Hmmm – murmurou, tentando tomar uma decisão, que foi muito apressada ao sentir uma descarga mágica no quarto ao lado. Moody despertara.

- Mione, eu não tenho tempo. Moody está aqui – murmurou o garoto, a voz saindo rápida e quase entrecortando as palavras – Mande o Rony falar com os gêmeos.

- O QUÊ? Os gêmeos? – repetiu a garota, sem entender, balançando a cabeça e franzindo o cenho. Não havia dúvidas de que compreendera mal o sibilar do amigo. As últimas pessoas do mundo para quem Hermione pediria conselhos ou ajuda eram os desmiolados irmãos de Rony.

- Isso mesmo! – exclamou Harry, elevando o tom de voz mais do que gostaria – Mande Rony contar tudo para os gêmeos!

- Harry, você não acha... – começou a garota, preocupada que o choque das últimas notícias tivesse abalado o bom senso do amigo.

- Agora não, Mione – protestou Harry, cortando as delongas da colega ao ouvir o passo descompassado da perna de pau do seu anfitrião logo atrás da porta – E diga para ele mandar Edwiges para Beauxbatons – ainda pediu, desligando o telefone no exato momento que Olho-Tonto Moody escancarava a porta com um feitiço, entrando com a varinha em punho.

- Meio mundo atrás de você e o senhor dá uma escapulida para falar com sua amiga, não é garoto? – rosnou ele, o olho mágico percorrendo todo o aposento empoeirado e se fixando na cicatriz de Harry, que sentiu sua face enrubescer. Súbito, ele percebeu uma coisa.

- Como o senhor sabia que...

- Eu não estou vivo como auror até hoje sendo um otário, garoto. Minha obrigação é saber das coisas. Os Weasley nunca teriam um helefone instalado na sua casa, mesmo com aquela fixação idiota de Arthur pelos artefatos trouxas. A única opção lógica era a Srta. Granger – resmungou Moody, em uma careta.

- Eu precisava falar com ela – respondeu Harry em voz baixa, mas sem pedir desculpas.

- Eu sei – rosnou Moody, fazendo um gesto com as mãos para que ele o acompanhasse – Corujas pode ser interceptadas. Já uma ligação pelo helofone...

- É telefone, Senhor – corrigiu Harry, sorrindo.

- Que seja! – resmungou, mal humorado – Uma ligação com esta... coisa provavelmente passaria desapercebida. Boa idéia, garoto! – concluiu com um tom supostamente gentil.

Harry assentiu com os ombros.

- Venha, vamos descer – disse Moody, empurrando o rapaz com a bengala enquanto se aproximava da passagem secreta que dava acesso ao subterrâneo. Emburrado, o garoto acompanhou o antigo professor, se escondendo novamente na Casa Forte.

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