De Volta a Rua dos Alfeneiros



Capítulo 1: De Volta à Rua dos Alfeneiros

Era uma tarde de verão comum para a maioria dos moradores da Rua dos Alfeneiros em Surrey, Inglaterra. Mas não para os da casa nº 04, nem para aquele rapaz de 16 anos desde que voltara da escola em que estudava, faltando apenas 10 dias para as férias de verão (embora para ele fosse uma eternidade). Para ele, o clima era cada vez mais triste e carregado de preocupações e angústias.

Harry não era um adolescente comum. Ele era um bruxo, e carregava o peso de ser a esperança de toda a comunidade bruxa na luta contra o maior bruxo das trevas que se teve conhecimento, Lorde Voldemort (ou Aquele-que-não-deve-ser-nomeado, como diziam todos aqueles que não tinham coragem de dizer seu nome).

Harry nunca tinha se considerado feliz na casa de seus tios (ele morava com seu tio Válter, sua tia Petúnia e seu primo Duda), mas os fatos que ocorreram nos dois últimos anos tinham tornado esse período da sua curta existência a mais sofrida e triste que se lembrava.

A perda de seu padrinho Sirius (o único familiar que conheceu vivo) na luta contra os comensais da morte de Voldemort, no Ministério da Magia, no fim do seu quinto ano de escola, e a perda de Alvo Dumbledore (diretor de Hogwarts e que nos 6 anos posteriores foi sua fonte de esperança e de força) pelas mãos de Snape no fim do último ano letivo, o fizeram sentir a dor de se perder quem se ama. Porém, foi a decisão de se afastar de Gina Weasley (irmã caçula de seu melhor amigo Rony, e por quem estava apaixonado), para protegê-la, o erro que o fazia sofrer como nunca antes. Ele passava seus dias trancado em seu quarto e só saía para se alimentar.

Isso incomodava seus tios, pois eles preferiam saber o que se passava com ele em seu quarto. Imaginavam que qualquer coisa que os ligasse ao mundo dos bruxos poderia acabar com a sua reputação no bairro.

- Não se preocupem, só ficarei poucos dias e é bem provável que nunca mais me vejam depois! – era o máximo de palavras que Harry dirigia a seus tios durante as poucas brigas que tiveram nos dias que se passaram.

Por algum motivo, a única pessoa na casa que não brigava com Harry (embora fosse seu costume também) e que parecia se importar com seus ataques de nervosismo era sua tia Petúnia. Quando as brigas aconteciam, ela se recolhia à cozinha (o lugar da casa que julgava ser seu território) e ficava ali por horas, parecendo se ocupar com as atividades domésticas diárias. Harry estranhava essa atitude da tia, pois ela nunca pareceu se importar com o bem estar do sobrinho.

Tia Petúnia era irmã de sua falecida mãe Lílian Evans (depois Potter), e era sua única parente de sangue, pois não tinha conhecimento de nenhum parente da família Potter vivo. Isso fazia ele se sentir incrivelmente sozinho.

O único motivo pelo qual tinha voltado à Rua dos Alfeneiros nº 4 era uma promessa feita a Dumbledore. Ele lhe explicara que sua mãe, antes de ser assassinada por Voldemort, tinha executado uma magia muito antiga que lhe protegeu da maldição da morte, e que esta proteção seria mantida até sua maioridade (no mundo bruxo, a pessoa se torna adulta aos 17 anos) desde que ele voltasse todo ano para a casa de seus únicos parentes de sangue vivos, ou seja, deveria voltar à Rua dos Alfeneiros em todas as férias de verão enquanto estudasse em Hogwarts.

Harry era visto como um delinqüente pela vizinhança, graças aos boatos que seus próprios parentes diziam aos vizinhos, preferindo que eles o vissem como um pequeno marginal, do que soubessem de sua situação como bruxo.

Estas férias de verão estavam sendo muito diferentes das outras que já havia passado nas casas de seus tios. Todo o tempo em que Harry ficava em seu quarto não era gasto em sonecas ou leituras banais, mas sim com estudos que pudessem lhe ajudar na luta contra Voldemort. Harry tinha descoberto através de Dumbledore, no ano anterior, que Tom Riddle (nome real de Lorde Voldemort) tinha separado sua alma em 7 partes, prendendo-as em objetos através de uma magia negra muito antiga. Para matá-lo, Harry deveria destruir estes objetos, que possuíam o nome de Horcruxes. Dumbledore tinha compartilhado as suas lembranças e de várias pessoas também com Harry, e lhe passado informações e suspeitas de quais seriam e onde poderiam ser encontradas as Horcruxes. De acordo com Dumbledore, os objetos que certamente eram Horcruxes eram o diário de Tom Riddle (que foi destruído por Harry no seu segundo ano em Hogwarts) e o anel de Servolo Gaunt, descendente direto de Salazar Sonserina (que foi destruído por Dumbledore no ano anterior). Porém, ele apenas desconfiava que pudessem ser Horcruxes uma taça que pertenceu a Helga Hufflepuff (que foi roubada de uma bruxa chamada Hepzibá Smith por Voldemort, quando o mesmo trabalhava na Borgin & Burkes), a cobra Nagini, que sempre acompanhava Voldemort, e o medalhão de Salazar Sonserina, que pertencia também a Servolo Gaunt. Dumbledore e Harry achavam ter descoberto o medalhão no ano anterior, mas ele, na verdade, tinha sido apanhado por alguém que se denominava R.A.B.

O grande problema de Harry era que ele teria de encontrar o medalhão e a taça desaparecidos e ainda faltava a sexta Horcruxe a ser descoberta. Provavelmente, seria um objeto ligado a Godric Griffyndor ou Rowena Revenclaw, visto que Voldemort achava que somente objetos com algum significado histórico seriam dignos de conter uma parte de sua alma.

Por mais que tentasse, não encontrava uma solução para o mistério da última Horcruxe e isso o deixava cada vez mais irritado, visto que não havia muito tempo para destruir as Horcruxes (Harry temia que Voldemort descobrisse a sua busca pelas Horcruxes e tentasse recolhê-las antes dele).

Ele só se tranqüilizava um pouco quando pensava em seus amigos Ronald Weasley e Hermione Granger. Eles poderiam ajudar a resolver esse mistério, para então ele partir em busca das relíquias que faltavam e enfrentar Voldemort finalmente.

Não suportava mais a situação de viver em constante perigo, e que as pessoas ao seu redor tivessem que passar por isto também.

Após uma semana na casa dos Dursley, ele decidiu que quando Rony entrasse em contato, ele se dirigiria à Toca (casa da família Weasley) para o casamento de Gui (irmão de Rony) com Fleur Delacour, reencontraria Rony e Hermione, e então partiriam para a busca das relíquias que estavam faltando.

Ele pensou em não permitir que Rony e Hermione o acompanhassem, mas sabia que seria em vão, pois os dois de forma alguma deixariam Harry sozinho (tinham participado de todas as batalhas de Harry contra Voldemort nos anos anteriores). Harry sabia que seria perigoso, mas a presença dos dois sempre lhe deu coragem, foi muito necessária e preciosa durante todas as batalhas.

A Família Weasley e Hermione eram o mais próximo que Harry chegou de ter uma família. Eles se conheciam desde o primeiro ano, e Rony e Hermione eram seus melhores amigos.

Há muito tempo (desde que foi para Hogwarts), Harry não considerava os Dursleys sua família, e a única companheira que tinha naquela casa era Edwiges, sua coruja das neves, que embora pudesse levar cartas aos seus amigos, permanecia presa em casa. Harry achou melhor não criar motivos para que os Dursleys lhe incomodassem.

Ele se recolhia toda noite com a esperança de que eles entrassem em contato, para ele voltar a ter notícias do mundo dos bruxos.

O clima estava quente e as pessoas passavam muito tempo em frente às casas aproveitando a brisa leve pelo bairro. Harry esperava que quando a coruja de Rony lhe trouxesse notícias, ela viesse de madrugada, pois senão teria que escutar muitas reclamações de seus tios.

Naquela noite, Harry foi acordado durante a madrugada pelo barulho de asas batendo em sua janela. Saltou de sua cama já empunhando sua varinha (passou a dormir com ela desde que voltou da escola, por temer um ataque dos seguidores de Voldemort mesmo sabendo da proteção da magia de sua mãe).

Ao se aproximar, seu coração se encheu de alegria ao ver Pichi, a coruja de Rony, com uma carta presa a sua perna.

- Seja bem vinda. Você demorou, hein. – disse Harry, ao abrir a janela e deixar que Pichi entrasse em seu quarto.

A coruja logo se aproximou e permitiu que Harry tirasse a carta de sua perna, voando em seguida e se acomodando com Edwiges na gaiola existente no quarto (Edwiges, embora ciumenta, não se importou, pois já tinha se acostumado com Pichi).

Harry abriu a carta e pôde reconhecer a letra nada caprichada de Rony.

Harry,

Iremos lhe buscar logo. Esteja pronto. Papai achou melhor não informar a data e nem que eu me alongasse. Hermione já está aqui e está morrendo de saudade. Nos veremos em breve.

Do seu amigo,
Rony


Harry finalmente sentiu-se aliviado, pois a espera estava por terminar e embora temesse muito tudo que estava por vir, ele acreditava que no fim tudo daria certo e, com a ajuda de seus amigos, ele poderia enfim derrotar o Lorde das Trevas.

Os primeiros passos de sua jornada já estavam resolvidos, retornaria à Toca para o casamento de Gui, se reuniria com Rony e Hermione e então seguiriam para Godric’s Hollow, lar de seus pais assassinados e onde tudo começou.

Pensava em como tudo tinha começado. Lembrou de Snape escutando parte da profecia feita pela Profª. Trelawney para Dumbledore no Três Vassouras, e como o professor tinha passado essa informação para Voldemort. Voldemort resolveu então matar a criança que poderia vencê-lo e optou por Harry Potter, embora pudesse ter escolhido Neville Longbottom, filho de Aurores que o tinham enfrentado três vezes, como os pais de Harry, e que nascera no mesmo mês.

Essa escolha tinha selado o destino de Harry e do próprio Voldemort, pois, na opinião de Dumbledore, se Voldemort não tivesse marcado Harry como igual ao lhe lançar a Avada Kedrava, a profecia não teria se concretizado e a vida de Harry teria sido bem diferente.

Como seria sua vida se ele tivesse escolhido Neville?

Embora desejasse do fundo de sua alma que sua vida fosse diferente, ele não conseguia desejar para Neville esse mesmo destino. Se fosse para escolher, ele preferia carregar essa sina.

Neville era um garoto gorducho que havia sido criado pela avó e apesar de não ter sido escolhido por Voldemort, não teve uma sorte muito melhor. Seus pais haviam sido torturados até enlouquecerem por seguidores de Voldemort, quando ele sumiu após tentar matar Harry e perder boa parte de seus poderes.

Neville era da mesma casa de Harry (grifinória) e era muito atabalhoado e inseguro. Fruto, diziam alguns professores (Minerva McGonagall, por exemplo) das atitudes de sua avó, que costumava lhe dizer que nunca seria um bruxo tão bom quanto seu pai.

Harry gostava muito de Neville, pois além de ser um amigo muito leal, foi membro da A.D., esteve com ele no Ministério no quinto ano e, quando Harry precisou da A.D. no ano anterior, ele foi um dos poucos que responderam seu chamado.

Tudo isso já provaria que Neville era um grande bruxo e que merecia ser membro da Grifinória por demonstrar coragem em seus atos.

Ele resolveu dormir novamente. Falaria com seus tios pela manhã, pois como não sabia a data exata de sua ida, ele já os deixaria avisados.

Embora não alimentasse nenhuma esperança de que algum dia os Dursley pudessem o aceitar como ele era, sentiu uma pontada de tristeza por talvez nunca mais ver os tios. Percebeu que, mesmo com os anos de humilhações e perseguições, ainda conseguia nutrir algum sentimento bom por aquela família.

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