Sobre Fobias e Dúvidas



Capítulo 9 - Sobre Fobias e Dúvidas


- Pelo visto a perna está melhor – comentou Tonks, ao ver Lupin mancando pela sua sala de estar, enquanto lia alguns relatórios, mais tarde naquele dia. – Sente-se.
- É, acho que sim – falou ele, sentando-se ao lado de Tonks. – Sabe, eu cheguei a pensar que você morava com seus pais.
- Morar com meus pais? – repetiu Tonks, com um risinho. – Não, eles nem moram em Londres. Saí de casa assim que soube que fui aprovada para o treinamento de auror.
- E aonde é que eles moram? – quis saber Remus. Ela podia ver que ele estava levemente interessado. Era difícil Tonks falar da família, em geral ela só respondia perguntas sobre sua mãe para Sirius.
- Em Hertford, a família do meu pai mora toda lá – respondeu ela, indiferente. Mas aí tomou um ar mais sério. – O que é um erro, na minha opinião. A cidade é pequena e minhas tias sabem da vida de todos. Péssimo lugar para um bruxo viver.
- É, eu imagino que sim – concordou ele, rapidamente. – Fazendo algum progresso com os relatórios?
- O sono é que está fazendo algum progresso por aqui, se quer saber – ao dizer isso, deixou escapar um enorme bocejo. – Merlin sabe como dou graças que amanhã é Sábado.
- É... – concordou o lobisomem. – Imagino que eu só vá poder voltar à sede amanhã, não é?
- Está insinuando que não gosta da minha companhia, Remus John Lupin? – perguntou Tonks, lançando-o um olhar gélido.
- Não, certamente que gosto da sua companhia – respondeu Remus, com sinceridade. – É só que... Bem, eu imagino que alguém como você... Quero dizer, você é jovem, Tonks, é claro que gosta de sair para se divertir e.
- Só porque sou jovem não quer dizer que eu vá de festa em festa – interrompeu-o Tonks –, e eu não pretendia sair esse fim de semana, para sua informação. Só quero dormir até tarde amanhã e depois ir para a sede, temos reunião de tarde.
- Está bem – falou ele, pegando um dos relatórios (pela sua infelicidade, era um de Snape) e começando a lê-lo.
Silêncio.
Como aquele tipo de assunto irritava Tonks! Mania das pessoas acharem que só porque são um pouco mais velhas que ela, ela ainda é uma adolescente. E Remus, pelo visto, pensava igual. É claro que ele me acha uma criança, pensou a auror. Muita gente na Ordem acha. O próprio Snape disse que achava Tonks jovem demais para assumir um "papel de tamanha importância". Mas, no fundo, ela esperava que Remus fosse diferente. Pelo visto não era.
Estava aí uma explicação pela qual ele não queria deixá-la participar da luta contra os Comensais de manhã. Se bem que, depois de tudo o que aconteceu, era de se esperar que ele achasse Tonks um pouco mais confiável e menos imatura. É claro que ela não era imatura!
Quinze minutos depois, Tonks fingia ler o pergaminho e tentava pensar em uma maneira de voltar a falar com Remus normalmente. É óbvio que ela não ia simplesmente pedir desculpas por algo que ela não fez, era teimosa. E sabia que Remus era mais ainda.
Até que surgiu um terceiro elemento na sala de estar. Um terceiro elemento que rapidamente fez Tonks falar alguma coisa.
- Uma barata – disse Tonks, com o olhar preso no inseto.
- Qu... Ah, tá – respondeu Remus, com total e completa indiferença.
- Remus, uma barata – repetiu a jovem. E foi aí que ele percebeu uma fraqueza de Tonks.
- Eu já vi, Tonks, qual é o problema?
- É incrível como vocês, homens, acham que um inseto nojento não fará diferença alguma em um ambiente – retrucou ela, com um olhar extremamente desgostoso. A barata andou alguns centímetros para perto dos dois, e Tonks levantou os pés do chão e os apoiou no sofá.
- Você... não está com medo de uma barata, está, Tonks? – perguntou ele, com um sorriso irreparável no rosto.
- Eu? Não, não – ela respondeu rápido demais. – Pode, por favor, dar um jeito nessa barata, Remus?
- Tudo bem – assim que ele falou isso, a barata andou mais alguns centímetros, e Tonks abraçou Remus. – Tem certeza de que não tem medo dessa barata, Tonks?
- É claro que não – teimou ela, com um olhar zangado. E lá foi a barata, andando livremente mais alguns centímetros em direção à auror. – Quer dar um jeito nessa barata?
A pergunta foi impaciente demais, e Tonks obviamente que iria se descontrolar e piorar as coisas para o lado de Remus. Por isso ele logo matou a barata.
- Então? – começou ele, com um sorriso maroto nos lábios.
- Então o quê? – ela se fez de desentendida.
- Vai me dizer de onde que surgiu essa fobia? Afinal, não é sempre que se vê uma auror formada há mais de um ano com medo de uma minúscula barata.
- Eu não tenho fobia de barata – teimou Tonks, que agora tentava não rir diante da cara de riso do amigo. – Só prefiro ficar longe dela.
- Ah, tá – compreendeu ele, sarcasticamente, com uma risadinha.
- Dá pra você parar de rir desse jeito? – pediu ela, já rindo também. - Viu só? Agora eu não consigo mais ficar séria, Remus!
- Isso só comprova que você tem fobia de baratas – falou Remus, rindo.
- Eu não tenho, está bem? – teimou ela, ainda que se sentisse grata pela barata estar ali. Havia sido sem querer, mas conseguiu falar com Remus normalmente. Por que ela se sentia assim diante dele? Era uma sensação diferente, não sentia a mesma sensação quando falava com Sirius, ou Kingsley. Mas eram apenas amigos... Não eram?
Tentou afastar tais pensamentos, então disse:
- Eu estou ficando com fome, você não?
- É, um pouco – respondeu ele, e perguntou quando ela se levantou: – Aonde você vai?
- Vou à cozinha – respondeu Tonks, sorrindo. – Posso ser um desastre com feitiços domésticos, mas na forma trouxa eu tenho que saber fazer alguma coisa, né?
- Vou ajudá-la, então – disse Remus, se levantando também.
- Você devia ficar aí, sentado.
- Eu consigo andar – retrucou –, e eu posso ser bom em feitiços domésticos, mas também sei cozinhar.

É, pensou Tonks, apenas grandes amigos.

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