Reflexões de um Lobo



Capítulo 8 - Reflexões de um Lobo



Ele sentia suas costas doendo e a perna esquerda latejando. Era natural que estivesse assim; havia provavelmente desmaiado anteriormente. Apesar de sentir uma dor incômoda, ele se sentia também confortável. Ainda assim, teve receio em abrir os olhos. Ao abrí-los teve, no entanto, um alívio.
Estava deitado em uma cama. Havia uma porta fechada à sua frente e, sentada no chão com a cabeça apoiada na cama, Nymphadora Tonks dormia. Ele tentou se levantar, mas a perna doeu violentamente. Ao fazer isso, Tonks acordou.
- Remus! – exclamou ela, abraçando-o fortemente. – Você está bem? Ah, é claro que não está bem, que pergunta! Por Merlin, você me assustou quando desmaiou daquele jeito!
- Me desculpe – pediu ele, sorrindo.
- Desculpas aceitas – ela sorriu, mas logo voltou a ficar séria. – Você não devia ter feito aquilo, somos uma equipe! Prometa que nunca mais vai fazer isso de novo!
Ela não estava pedindo, estava mandando.
- Está bem – respondeu Remus, com rapidez. Ele reparou que as vestes do braço direito dela estavam rasgadas, e seu braço, enfaixado. – O que houve com seu braço?
- Nada muito preocupante – respondeu Tonks. – Você me pegou de surpresa desmaiando daquele jeito, acabei deixando você cair. O feitiço do Comensal atingiu meu braço, mas eu já cuidei dele.
- Er... Onde estamos? – perguntou ele, olhando ao redor.
- Ah, é mesmo – falou a jovem, batendo na cabeça. – Meu apartamento.
- Seu apartamento? – repetiu ele.
- Exato – confirmou ela. – Eu ia te levar para o Largo Grimmauld, mas Dumbledore sempre diz que em situações de risco nós não devemos ir para a sede.
- E ele está certo – confirmou Remus.
- Agora, fique à vontade, eu tenho que ir à sede – falou Tonks, indo em direção à porta. – Não vou demorar muito.
O quarto de Tonks nem parecia que era dela; havia muitos objetos trouxas, inclusive um telefone. De fato, as únicas coisas mágicas naquele momento eram a pena que se movia rapidamente sobre um pergaminho e as fotografias que se moviam, espalhadas pelo criado-mudo e pela escrivaninha.
Ao olhar as fotos, também se podiam ver a anormalidade de algumas. Afinal, se ele não conhecesse Tonks, iria pensar que havia várias mulheres e meninas diferentes nas fotos. Havia duas fotos no criado-mudo; obviamente as mais especiais. Em uma delas, estava uma Tonks (de cabelos cor-de-rosa) abraçada com duas meninas que deviam ter uns três anos. Na outra, que chamou mais atenção de Remus, estava Tonks (ruiva, por sinal) abraçada com um homem de cabelos castanhos, que devia ter uns vinte e cinco anos.
Assim que viu aquela foto, ele se sentiu estranho. Por que ele se sentia daquele jeito? Pensou no que Sirius diria; é claro que falaria que eram ciúm... Não, não podia ser. Tonks era apenas uma grande amiga. Era natural que ele se sentisse inseguro quanto àquela foto. Ele nem conhecia o homem na foto. Poderia ser um amigo, ou um parente. Ou um namorado. Pensando bem, Tonks nunca chegara a mencionar se tinha um namorado ou não, embora Sirius vivesse para fazer essa pergunta quase que semanalmente. Ela só respondia que "da minha vida, cuido eu". Tentou se sentir feliz por Tonks, mas logo um sentimento de culpa e tristeza o invadiu.
Era óbvio que Tonks nunca se interessaria por alguém como Remus. Ele se sentiu culpado por pensar nisso, afinal, ele e Tonks eram amigos e nada mais que isso. Ele só não podia negar que sentia uma atração por ela desde que a conheceu, e que a sintonia entre eles sempre fora ótima, desde o princípio.
É claro que esse tipo de pensamento sempre foi enclausurado dentro dele e nem ele mesmo reunia coragem para tirar esses assuntos e contar para alguém. Afinal, a quem ele contaria? Sirius obviamente que ia adorar saber dessas coisas. Serviria para tirar a monotonia do dia-a-dia, como ele mesmo costumava dizer. Era o assunto preferido dele quando James sentia um amor ainda platônico por Lílian, e com certeza que seria um assunto ainda mais interessante se se tratasse de Remus.
- Alô, Tonks chamando Remus! – gritou uma voz, fazendo-o se sobressaltar. Estivera tão submerso em pensamentos que nem reparara que Tonks voltara.
- Ah, oi, Nymphadora – falou ele, agora já de volta ao mundo real.
- É Tonks, Remus – corrigiu a jovem, com um arrepio. – Acabei de falar com o Sirius, ele estava louco para vir até aqui te visitar.
- É, me visitar – comentou Remus, sarcástico. – Ele está louco é para sair daquele lugar, não para vir até aqui. Aposto que só ficou por causa do Harry.
- Você é bom – elogiou Tonks, sorrindo. – Em todo caso, Molly disse para você ficar aqui até amanhã, ela acha que você já poderá andar até lá - ao ver que ele nada disse, continuou: – Como é que você está?
- Já estive pior – respondeu ele. Ao ver que ela o olhava descrente, acrescentou: – É só a minha perna, mas eu não vejo o que fizeram com ela.
- Ah, não sei bem qual é o feitiço – comentou a jovem, lançando um olhar preocupado à perna dele. – Acho que foi o mesmo que atingiu meu braço. Mas eu já dei um jeito. Admito não ser muito boa com feitiços domésticos, mas três anos no treinamento para auror me fez aprender a usar poções e feitiços para curar alguns ferimentos. Falando nisso, você tem que tomar uma poção...
Ela se voltou para uma gaveta no criado-mudo, onde havia muitos frascos de diversos tipos de poções. Ela serviu à Remus uma com uma aparência um tanto... Fumegante.
- Tome logo, é uma poção para repor o sangue, você perdeu muito – falou ela, impaciente.
Ele obedeceu, ainda que a poção tivesse um gosto horrível.
- Aposto que você deve estar com fome, eu vou à cozinha pegar alguma coisa – ela se levantou rapidamente.
- Não precisa, não, Tonks – negou Remus, mas ela fez um gesto impaciente com o braço intacto.
- É claro que precisa – teimou. – Até eu já estou com fome.
É, pensou Remus, eram apenas grandes amigos.

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