A moça do lago



- Snape queria que Draco me ensinasse a resistir à Maldição Imperius, pois o ex-professor sabia que Voldemort queria usá-la contra mim. E foi o que Draco passou a fazer – todos estavam absolutamente chocados enquanto tia Gina continuava. - Snape contrabandeou uma varinha para dentro da cela e nos garantiu algumas horas com os dementadores longe para que pudéssemos treinar. Como ele fez isso nunca soubemos, mas é provável que o fato de ter assassinado Dumbledore contasse alguns pontos no quesito conseguir coisas que outros Comensais não conseguem. Eu e Draco estávamos fracos, mas não deixávamos de treinar. Draco ainda era arrogante e metido, mas havia perdido a mania de me chamar de traidora do sangue. Referia-se a mim apenas como Weasley. Para Weasley se transformar em Ginevra, e logo depois em Gina, não demorou muito. O processo de aprendizagem da resistência à Maldição exigia que eu aprendesse Oclumência. Mas todos nós sabemos que isso não é uma tarefa fácil. Sentia raiva de Draco quando ele invadia meus pensamentos, assim como imagino que Harry tenha sentido quando Snape fazia isso com ele. Draco viu coisas que eu não tinha contado a ninguém, inclusive minha paixão platônica por Harry, desde a primeira vez em que o vi. Draco então passou a tratar disso com amargura. Até que eu consegui dominar a Oclumência e, ao mesmo tempo, invadir a mente dele. O choque não poderia ser maior: vi o que estava mais superficial naqueles últimos dias e o quanto ele lutava para que aquilo não transparecesse. Vi que ele estava apaixonado por mim.

Lúthien fungou ao lado de Mia, sobressaltando a amiga. Era como se eles estivessem num mundo paralelo, visualizando cada cena relatada por tia Gina como se fosse um filme. Um longa-metragem, cujo tema central era a vida daquela mulher. Aquilo venderia bastante, se não fosse cruelmente real. Mia acabou percebendo que também tinha lágrimas nos olhos. Sentiu então a mão de Lúthien em seu ombro, novamente aquela estranha sensação de que uma precisava da outra. E, se algo faltava, chegou quando Hermes pousou a mão no outro ombro da ruiva. Foi então que ela sentiu uma estranha sensação, um frio anormal nos pés. Olhou para baixo e percebeu que a água dos canos estourados da cozinha já tinha invadido o hall de entrada da casa, chegando até seus pés. Mas não entendia como podia senti-la tão bem estando devidamente calçada. Porém, não havia tempo para pensar enquanto a história no centro da sala recomeçava mais uma vez:

- Percebi que Draco poderia ser a minha salvação. Claro que passamos alguns dias um pouco brigados pela invasão à mente dele, mas depois ele continuou me treinando, como se nada tivesse acontecido. E, ao saber dos sentimentos dele, também comecei a me envolver, mas estava muito confusa porque ainda julgava gostar de Harry. E, convenhamos, aquilo seria uma troca maluca para qualquer grifinória em sã consciência.

- E você sabe muito bem – vovó Molly falava, deixando transparecer o ar de contrariedade em sua voz – que isso é absurdo também para um Weasley! Ainda não engolimos esta história de você ter se casado com aquele Malfoy, minha filha!

- O fato é que aconteceu, mamãe. E eu não me arrependo de nada do que fiz. Mas, continuando, eu e Draco sabíamos que precisávamos fugir quando Voldemort tentasse me usar para alcançar Harry. Isso deixava Draco de mau humor. Aliás, a mera menção do nome de Harry Potter o irritava ao extremo. Chegou o dia em que Voldemort nos chamou à sua presença. Fomos levados por Snape em pessoa. Voldemort me lançou a Maldição Imperius e eu resisti, mas fingi que havia sido dominada, obedecendo a uma ordem simples que ele me deu: estuporar Draco. Quase falhei, mas o olhar de determinação de Draco me levou a fazer o que tinha que ser feito, na esperança de que Snape pudesse cuidar dele enquanto não voltássemos a nos ver. Não sabia de que lado o nosso ex-professor estava, mas achava que se Draco e eu estávamos vivos até aquele momento, era por causa de Snape. Então Voldemort e eu aparatamos no Beco Diagonal, onde a Ordem lutava contra os Comensais. A Guerra já havia irrompido, e eu não sabia de nada, tanto tempo havia permanecido presa. Voldemort planejou tudo muito bem. Quando dei por mim no meio de toda aquela bagunça, ele havia me arrastado até a Travessa do Tranco. Harry chegou minutos depois, provavelmente como parte de uma armadilha muito bem arquitetada. Ao vê-lo, meu desespero foi tão grande que não consegui mais fingir: me atirei nos braços dele. Harry estava ferido, o sangue escorria de um corte feio e profundo no ombro. Não consegui reparar em mais nada. Voldemort percebeu que eu não estava dominada pela Maldição e tentou reforçá-la. Não sei nem se eu teria conseguido resistir, mas não foi preciso. Draco aparatou no meio da confusão e, tomando meu braço para si, desaparatou comigo. Draco abandonou a vida que conhecia por amor a mim e para me salvar. Depois de fugirmos, ele me contou que Snape havia permitido que ele aparatasse e fosse atrás de mim. Disse que talvez, num futuro distante, Draco entenderia o por quê.

- Quem não conseguirr entender serrmos nós! – tia Fleur falou pela primeira vez desde que Gina começou a contar a história. – Gui me contar que Snape foi o assassino de Dumbledory!

- É o que até hoje não ficou claro para mim também, Fleur. Harry disse que viu Snape lançar a Avada Kedavra em Dumbledore. Mas ele nos salvou, a mim e ao Draco, e isto é um fato. Este é um álibi que Snape tem a seu favor, embora eu sinceramente não saiba o que aconteceu com ele depois de ter favorecido a fuga de Draco pela segunda vez. Bom, o fato é que nós nunca mais ouvimos falar do ex-professor enquanto estivemos Renegados. Logo depois que eu e Draco aparatamos da Travessa do Tranco, encontramos um bom esconderijo e permanecemos lá. Então, soubemos que Voldemort havia feito Harry prisioneiro em Azkaban. Tentei entrar em contato com Hermione para saber no que poderia ajudá-la, quais seriam os próximos planos da Ordem. Na verdade, foi Draco quem tentou. Eu ainda não era capaz de dominar a telepatia tão bem quanto ele.

- Draco domina a telepatia? – Gui parecia não acreditar na informação fornecida pela irmã. E Mia também estava surpresa. Não sabia que a telepatia era um tipo de magia, pois os trouxas também falavam sobre aquilo como se fosse algo fantasioso. Eles explicavam que a telepatia exigia um controle pleno da mente para que pudesse viajar no tempo e no espaço e encontrar outra mente, partilhando com ela os acontecimentos. - Mas apenas bruxos extremamente poderosos dominam este tipo de magia, é necessário ser um ótimo Legilimens para isso e...

- Não se esqueça, meu querido irmão, - tia Gina interrompeu as indagações de Gui para explicar – que Draco teve um ótimo professor. Snape foi quem ensinou a arte de dominar a mente ao meu marido enquanto ele ainda estava em Hogwarts, mesmo que contra sua própria vontade. O fato é que Draco invadiu a mente de Hermione e encontrou-a com Rony em Azkaban, prestes a tentar realizar uma desaparatação acompanhada com Harry. Draco disse que poderia rastrear o procedimento pela mente de qualquer um dos três. Eu pedi para que ele se concentrasse em Harry, o que ele fez muito a contragosto. Não me perguntem o porquê, mas parecia que eu pressentia que algo poderia dar errado. E foi o que aconteceu. Mas como Draco manteve a linha de comunicação sabíamos onde Harry se encontrava e eu fui atrás dele, contrariando Draco.

Mia então notou que o olhar desesperado do homem sentado em frente à tia Gina era incapaz de se desgrudar do rosto dela enquanto ouvia a surreal sucessão de fatos. Imaginou então que, se sua mente estava prestes a dar um nó com tantas informações, a dele deveria estar em parafuso. A expressão de incredulidade era evidente, e provavelmente ele só poderia julgar que aquela mulher era louca ao se dirigir a ele daquela maneira. Ela contava uma história sobre um tal de Harry Potter. Para todos os efeitos, não se tratava dele. Não podia ser ele. E ao mesmo tempo, o homem não entendia porque aquela narrativa mexia tanto com seus sentimentos, provocando uma tristeza que não parecia sua. Sem agüentar mais ouvir as palavras da ruiva, ele interrompeu:

- Desculpe, senhora, mas meu nome é Joel. Joel Barish. Não posso ser esse tal de Harry Porter... ou Potter... ou sei lá.

Neste momento, os convidados se lembraram de sua presença na sala. Era como se acordassem de um sonho e dessem com a realidade bem diante de seus narizes. Harry Potter havia retornado! Aquele que julgavam morto estava ali, na sala da mui antiga e nobre casa, no exato dia em que a Ordem da Resistência dos Renegados havia sido oficialmente instaurada. Mas ele não se lembrava de absolutamente nada, como se tivesse sido trazido da casa dos tios para o mundo mágico novamente pela primeira vez.

Compreendendo imediatamente a confusão do homem, tia Gina tomou para si as mãos geladas, segurando-as carinhosamente e pousando os olhos nos dele antes de continuar:

- Quando eu cheguei ao local, você havia acabado de aparatar, Harry. Estava inconsciente, vestido apenas com trapos, e muito machucado. Estávamos no lago próximo de Ottery St. Catchpole, onde ficava A Toca e outras fazendas que pertenciam a trouxas. Eu sabia que não deveria interferir no destino, mas ao mesmo tempo, não podia te deixar ali, sem um apoio. A jovem ao lado da qual você havia aparatado parecia perfeita. Era uma camponesa da nossa idade, que eu já tinha visto nas redondezas quando costumava passear por lá, na infância. Eu sabia que ela estava assustada e que o abandonaria ali, então tive que pensar rápido. Tudo o que fiz foi para te proteger. Eu lancei um encantamento antigo de fidelidade nela. Era algo complexo, que eu havia aprendido durante meus estudos secretos em Hogwarts. Não me recordo ao certo porque me interessei por aquele encantamento na época. Ele estava num livro sobre magia antiga que eu folheei, mas não era específico para combate às Artes das Trevas. No entanto, guardei a informação. Como nada é por acaso nesta vida, aquele era o momento de utilizá-lo. Então, com a ajuda do encantamento correto, Helena cuidou de você, fazendo com que sobrevivesse até agora sem saber quem é de verdade, mas também a salvo de Voldemort.

- Isso não é possível – o homem balançou a cabeça, desvencilhando-se das mãos de tia Gina e se levantando da cadeira em seguida para encarar os outros convidados. – Vocês não podem acreditar nisso, como eu poderia ser Harry Potter se nem ao menos me lembro de nenhum de vocês?

- Ei! Eu vi tudo isso! Eu vi quando tia Gina ajudou você, senhor Bari... bem, senhor Potter! Foi o Oráculo que me mostrou na Penseira!

Todos olharam para Mia, inclusive o próprio Harry. Ela havia se esquecido completamente que a maioria dos presentes não conhecia a existência do Oráculo. Como tinha sido estúpida! Não sabia se poderia contar sobre ele desta maneira, não havia sequer questionado Wyrda sobre a possibilidade. Agora sua grande boca havia falhado com aquele que procurava sempre ajudá-la.

Ao entender o que a amiga planejava, Hermes não se importou com a permissão do Oráculo. Afinal, Wyrda não havia questionado nenhum deles ao aparecer em Azkaban para resgatá-los e decidir sozinho o destino de Daniel. Era a vez dele se submeter às decisões dos jovens bruxos.

- Eu já sei o que faremos, Mia – disse Hermes para a ruiva, e depois se virou aos presentes. – Sei que vai parecer loucura, mas não temos tempo a perder. Vocês têm que nos aguardar aqui, nós vamos levar Harry até o Oráculo e, quando ele voltar, estará convencido da verdade.

- Mas o que isso quer dizer? – o senhor Weasley questionava, visivelmente aflito e com o total apoio da esposa. – Para onde é que vocês vão, e ainda por cima levando... bem... o senhor Potter?

- Calma, Rony – Fred tentou tranqüilizá-lo, aproximando-se do irmão e abraçando-o. Depois se dirigiu a Hermes – Vamos explicar aos que ficarem, acho que entendemos as intenções de vocês.

- Sugiro que Gina vá junto – Jorge completou o pensamento do irmão. – Acredito que ela será necessária quando Harry compreender tudo.

Hermes assentiu com a cabeça e saiu da sala seguido da mãe, que amparava Harry, de Mia e de Lúthien. Ao voltarem para a sala secreta, Mia e Hermes perceberam a presença da loira, mas não a questionaram desta vez. Mia apenas abriu a porta do armário sumidouro e fez sinal para que Gina e Harry entrassem primeiro.

- Não estranhem se sentirem um certo enjôo – Hermes avisou de maneira irônica. – O Oráculo adora fazer a gente passar mal do estômago.

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