If You Leave



Capítulo 13






If you leave



– Parabéns Rony! – disse Jorge com sarcasmo. – Você conseguiu: matou a mamãe!

Ele abanava uma catatônica Sra. Weasley com um abafador de chá e olhava com desagrado para o caçula. Fred se aproximou da cadeira onde a mãe tinha desabado e passou a mão espalmada diante dos olhos dela.

– Ou no mínimo lesou ela de vez – lamentou ao constatar que ela não piscava.

– E-eu... eu... – gaguejou Rony.

– Dar notícias bombásticas não é exatamente um talento seu não é Rony? – debochou Gui enquanto passava o braço por cima do espaldar da cadeira em que Fleur estava sentada.

A família Weasley mais Harry, Hermione, Neville Longbotton e Luna Lovegood estavam sentados à mesa de jantar comemorando o aniversário de Gina. Já estavam na sobremesa quando, depois de vários olhares insistentes e alguns chutes por debaixo da mesa vindos da irmã, Rony decidiu anunciar a grande nova: ele e Hermione estavam oficialmente noivos.

Bem, Harry reconhecia que não fora exatamente isso que ele tinha dito e, pensando agora, a verdade é que Rony anunciara sem nenhum tato, aproveitando que a Sra. Weasley estava distraída servindo o bolo de aniversário: Hermione e eu decidimos nos casar. E havia tal certeza na sua voz que Harry não tinha dúvidas de que a família engasgou por achar que um funcionário do Ministério já ia entrar pela porta e casar os dois naquele exato momento.

A Sra. Weasley despencou na cadeira mais próxima com a mão no peito, enquanto o Sr. Weasley ainda olhava para todos os lados como se esperasse um grito de primeiro de abril ou coisa parecida.

– Peraí – disse Carlinhos largando a colher de sobremesa com um estrépito no prato, logo após o comentário de Gui. – Eu acho que devíamos seguir uma ordem aqui. Ok, o Gui se amarrou primeiro. Tudo bem, ele é o mais velho. E o próximo sou eu, depois é o... quero dizer, são vocês dois – apontou para os gêmeos – e aí vem o Rony.

– E eu seria a seqüência? – perguntou Gina com ar de troça.

– Nãahh, você não vai casar – falou o rapaz com um movimento de mão como se ela fosse uma criança pequena dizendo uma besteira muito grande. Gina arqueou as sobrancelhas, indignada, mas não chegou a responder e pareceu se esforçar muito para não olhar para Harry enquanto todos os rapazes faziam exatamente isso. – O fato – continuou Carlinhos, percebendo o furo em "quase" mencionar o rompimento recente, – é que o Rony só tem tamanho. Ontem mesmo ele era só um garotinho com pavor de aranhas.

A tosse de Jorge aumentou, só que dessa vez ele foi seguido por Fred e nem Harry resistiu em pigarrear, embora, por lealdade, tenha parado a um olhar de Rony. Gina engoliu o riso, mas Hermione permaneceu séria enquanto o namorado atingia progressivamente a cor de uma berinjela.

– Escuta aqui – ele se ergueu furioso da cadeira e começou a bater com o dedo no peito do irmão, Carlinhos se manteve impassível. – Eu sou maior e até já lutei numa guerra, assim como você. Na verdade, mais do que você! E não tenho culpa de que você só tenha competência para arrumar garotas com escamas e dentes grandes. – Fred e Jorge riam tolamente e isso fez Rony se virar para os dois sem diminuir o tom. – E vocês não são melhores, viram? Espantam toda a menina legal num raio de quilômetros misturando nungás sangra-nariz com bom-bons porque acham que é uma boa piada.

Neville olhava o amigo com os olhos arregalados e Harry não lembrava a muito tempo de ver Rony tão zangado. Mas assim que ele parou de falar, Carlinhos acabou desmanchando a pose com o ataque e se pôs a gargalhar junto com Gui, que se inclinou sobre a mesa para lhe apertar a mão por tirar Rony do sério.

– Meninos! – o Sr. Weasley ralhou sem convicção, mas seu olhar para Rony mudou. Havia algo que Harry identificou como orgulho ali. – Não é exatamente que sua mãe e eu e eu não estivéssemos esperando por isso mais cedo ou mais tarde, filho. Mas...

– Agora? – finalmente a Sra. Weasley se manifestou. – Vocês mal acabaram a escola e...

– Já faz um ano – resmungou Rony parecendo mais calmo, mas ainda olhando feio para os risinhos dos irmãos. – E não é agora! Vamos casar depois de eu terminar o meu treinamento Auror.

– E de eu estar mais firme em minha posição no Departamento de Criaturas Mágicas – completou Hermione. – Além disso, tem a minha mãe. Eu quero ter certeza de que ela vai ficar bem. Sabem, não muito sozinha, depois de eu me casar. – Ela trocou um olhar cúmplice com Rony e Harry sentiu uma fisgada incomoda de inveja e solidão, mas se recusou a olhar na direção de Gina.

A Sra. Weasley, porém, pareceu ganhar vida com o comentário.

– Então é mais um noivado, não é? – Hermione confirmou e Molly deu um pulinho se erguendo da cadeira e jogando longe o abafador de chá com que Jorge ainda a abanava. – Ah! Eu nem acredito! – falou num soluço enquanto corria para sufocar os dois com abraços e beijos, soltando alternadamente “meu garotinho”, “meu bebê”.

– Mamãe – reclamou Rony – se controla.

Mas logo o Sr. Weasley também veio cumprimentá-los e Gui, Fleur, Carlinhos, Neville e Luna formaram uma pequena fila atrás dele. Harry apenas afastou um pouco a cadeira da mesa e ficou olhando e sorrindo. Fred e Jorge rezingavam a um canto e Gina lhe pareceu, de onde estava, bastante feliz quando contornou a mesa para abraçar a amiga. Harry esperou que ela se afastasse para chegar aos dois e lhes dar os parabéns.

– Bem – disse a Sra. Weasley toda animada enquanto enxugava os olhos com um guardanapo de cozinha – isso merece realmente uma comemoração, não é mesmo?

– Claro, claro – falou o Sr. Weasley ainda com um braço sobre os ombros do filho e outro nos ombros de Hermione. – Acho que temos uma garrafa de whisky de fogo...

– Non! – protestou Fleur. – Non é certe comemorrar um casamente com whisky. S’il vous plâit! Non é chic.

– Meu pai diz que ocasiões especiais pedem uma boa taça de Vinagre perolado – comentou Luna brincando com as cerejas da torta em seu prato.

Uns dois segundos de silêncio depois Jorge ergueu a voz, olhando direto para Fleur e ignorando Luna.

– Hã... você tem razão cunhada – falou de má vontade. – Isso pede hidromel. E dos bons.

– E caros – concordou Fred com a mesma expressão de “o mundo está perdido”. Ele agitou a varinha conjurando uma garrafa reluzente e várias taças. Com um segundo aceno, passou a servir generosamente o líquido de um dourado quente.

Rony estava bem mais calmo, mas ainda assim olhou desconfiado.

– Isso é seguro?

– Você não merece que seja, só por perguntar – respondeu Jorge com uma pontada de indignação na voz. – Mas não se preocupe, não vamos estragar a sua festa deixando-o verde ou com bolhas roxas.

– É – concordou Fred, agora distribuindo os copos – nós até que gostamos da Hermione.

– Achamos que ela enlouqueceu de tanto estudar, mas – continuou o gêmeo – ainda gostamos dela.

O Sr. Weasley os repreendeu com o olhar. Depois, pegou o seu copo e o ergueu com um largo sorriso.

– A Rony e Hermione! Que sejam sempre muito felizes.

Todos os copos da sala se ergueram e um coro de vozes repetiu o brinde. Harry notou que, apesar de toda a implicância, Fred e Jorge brindaram ao irmão com expressões muito verdadeiras e isso, estranhamente, o fez sentir-se um intruso ali. Claro que ele queria que seus dois melhores amigos fossem muito felizes. Queria mesmo. Ainda assim, ele mal conseguia acalmar o tal monstrinho verde que arranhava a boca do seu estômago. A verdade é que fazia muito tempo que ele não sentia tanta inveja de Rony.

A noite seguiu em clima de festa. Todos estavam muito alegres, mas no caso de Hermione, parecia que alguém havia acendido uma luz dentro dela, pois a amiga definitivamente brilhava. Ela e Rony estavam tão felizes, que aquela coisa escura e cheia de ciúmes, se avolumando dentro de Harry, o fazia sentir-se sujo e mau. Como melhor amigo e padrinho – os dois nem o convidaram, falaram como um fato consumado –, ele deveria estar exultante. E ele estava! Claro que estava, pensou forçando um sorriso quando todos passaram para a sala para conversar. Fora o buraco que continuava a corroer suas entranhas, ele estava realmente feliz pelos dois.

A chuva os restringira a ficar dentro de casa, contudo Fred e Jorge haviam preparado um show de fogos para o aniversário da irmã e os ficaram jogando pela janela: dragões vermelhos que espirravam PARABÉNS em chamas pela boca; unicórnios prateados que galopavam sobre os gramados da Toca e borboletas azuis com o nome de Gina nas asas. Jorge ainda deu um pulinho na loja e voltou com alguns fogos extras para “homenagear” os noivos. Quando estes estouraram, deu para ver claramente uma noiva com um rapaz pela coleira. Um hábil feitiço de última hora e o noivo ganhou sardas e um nariz comprido.

– É da nossa nova linha para despedidas de solteiro. O pessoal tem casado bastante depois que a guerra terminou – comentou Fred chegando ao lado de Harry em uma das janelas –, mas não é o mais legal.

– Não – concordou Jorge, se juntando aos dois – temos um com uma garota tirando a roupa. – Harry arregalou os olhos e riu. – É. Só que não ia cair muito bem numa festa família.

– Em resumo: mamãe nos mataria.

– Agora, falando em casamentos, – Jorge segurou Harry pelo ombro – o que...?

Felizmente ele não conseguiu completar. Gina tinha ligado o rádio num volume ensurdecedor e, por pura pirraça com Fleur, sintonizara exatamente no programa de Celestina Warbeck, a cantora favorita da Sra. Weasley. Com risinhos de troça, ela puxou os gêmeos e os incitou a começarem um coro desafinado para as canções melosas da bruxa. Luna os acompanhou, mas a voz dela tinha algo de bonito e triste ao mesmo tempo, o que definitivamente não combinou com modelo de pantomima adotado pelos irmãos. Ainda assim, eles persistiram e ainda tiveram ocasionais adendos da voz nada melodiosa de Carlinhos, até que em “Um caldeirão cheio de amor quente e forte”, a Sra. Weasley os mandou parar.

Harry acompanhou o riso, respondeu sempre que solicitado, mas se sentiu falso. A animação da boca para fora era, no mínimo, repugnante vinda dele. E claro, tremendamente injusta com tudo o que Rony e Hermione representavam para ele. O esforço de Gina era menos visível. Porém, talvez, somente Harry tivesse condições de notar que ela estava empolgada demais, falando o tempo todo, cantando, contando piadas. Cada sorriso parecendo tão forçado, se comparados aos genuinamente felizes que ele recebera dela durante o curto namoro, que apenas tinham o condão de fazê-lo sentir-se pior. Por sorte pode conversar bastante com Neville e Luna, ouvindo-os contar sobre os estudos avançados em herbologia do rapaz e as viagens que a garota estava fazendo com o pai em busca de animais fabulosos. Isso o distraiu da própria miséria e também de ficar notando a presença de Gina o tempo todo.

Ainda assim, foi um alívio quando, por volta das duas da manhã, ele pode fingir que estava muito cansado e subir para o quarto. Ninguém estranhou muito porque, a essa altura, o Sr. Weasley já cabeceava e Fleur havia adormecido no sofá com a cabeça no colo de Gui. Harry tinha achado melhor adiar a sua partida para o dia seguinte. Não queria enfrentar Rony e a Sra. Weasley – de onde ele sabia que viria a maior oposição – num dia que era para ser de festa para eles.

Passou metade da noite se culpando pelos amigos e a outra com pesadelos e, quando o sol nasceu num céu muito limpo na manhã seguinte, ele já estava em pé colocando seus últimos pertences no velho e machucado malão dos tempos da escola. Ficou um pouco surpreso quando a porta abriu e Rony entrou, como sempre, sem bater. O amigo ficou parado, olhando fixamente para o malão ainda aberto sobre a cama.

– Você acordado antes das onze num domingo? – Harry falou calmamente, sem parar de encher a mala. – Pelo visto a emergência é grande.

Rony bateu a porta atrás de si.

– É, pelo visto é – ele cruzou os braços. – Você vai embora?

Harry apertou uma pilha de camisetas para acomodar um par de sapatos.

– Não estou me mudando para o Tibet, Rony. Apenas vou dar um tempo no Largo Grimmauld, ok? Afinal, a casa é minha e já abusei muito da hospitalidade dos seus pais. Talvez eu devesse ter feito isso desde o início. Acho que é melhor assim. – Ele puxou a tampa do malão e prendeu os fechos. – Quem te contou que eu estava indo?

– Mione. A Gina falou para ela.

– E a Mione deixou você vir aqui sozinho me convencer a ficar?

– Acho que ela está muito furiosa com você, no momento – comentou Rony. – Disse que fala com você assim que passar a vontade de te estrangular.

Harry deu um profundo suspiro.

– Olha Rony, eu sei que você também é contra eu ir embora...

– Não sou.

– O quê?

– Não sou contra – Rony ergueu os ombros e cruzou o quarto indo sentar em uma cadeira de madeira junto à janela. – Até achei que você agüentou demais. Quero dizer, achei que iria embora naquele dia em que você e Gina discutiram.

Considerando o amigo por alguns instantes, Harry sentou na beiradinha da cama e colocou o braço sobre o malão.

– Pensei em fazer – admitiu. – Eu só fiquei... – ele fez uma pausa, incerto quanto ao que dizer. – Eu não sei bem...

– Ficou esperando que talvez a Gina mudasse de idéia e ficasse com você nos seus termos? – questionou Rony com sagacidade e Harry fez uma careta. Era uma esperança tola, ele sabia. O amigo soltou um risinho descrente, mas não falou nada.

– Diga o que está pensando – pediu.

– Você sabe o que estou pensando – falou Rony com um toque de impaciência. – Você é um débil mental.

Harry brincou com a fechadura do malão.

– É, eu sei.

Ficaram em silêncio por algum tempo. Os olhares fixos, paralelos, cada qual imerso nos próprios pensamentos. Foi Rony que se fez ouvir depois de longos minutos.

– O que vai fazer agora?

– Vou para o Largo Grimmauld, eu já disse...

– Não foi o que eu perguntei.

É difícil se esconder de alguém que o conhece tão bem e Harry não se surpreendeu realmente. O fato é que ele nem mesmo podia dizer que não tinha entendido a pergunta da primeira vez. E deveria saber que dissimular não teria resultado. Desviou um pouco o olhar incisivo de Rony.

– Vou procurar o Slugh.

A menção ao ex-professor mudou a expressão do amigo imediatamente para um intenso desagrado.

– Tem certeza?

– Bom, acho que se alguém tem alguma idéia de que tipo de coisa, que tipo de magia das trevas Voldemort usaria para voltar, é ele.

– É – concordou Rony de má vontade – ele é que sabia das horcruxes daquela vez, só que você precisou de Felix felices para conseguir a informação. Acha que se ele souber de algo vai liberar com facilidade?

– Provavelmente não, mas acho que ser quem eu sou, deve ajudar.

Rony deu uma risadinha cínica.

– Claro, ele certamente não vai perder a chance de bajular “O Herói”.

Sem se conter, Harry revirou os olhos com asco da expressão, embora fosse exatamente nisso que ele estava pensando. Afinal, era assim que a imprensa, especialmente O Profeta, o chamava após ele ter derrotado Voldemort. “O Eleito” e o “menino que sobreviveu” já haviam perdido a força para vender exemplares. Harry detestava o novo epíteto ainda mais que os anteriores.

– Se ele não quiser me “bajular” – falou com uma raiva súbita – sempre posso usar outras táticas. Não creio que ele queira ter a mim na sua lista de desafetos.

– Não, ele não vai querer – concordou Rony com um certo divertimento na voz. Ele se esticou e deu um soquinho no braço do amigo. – Ah agora sim! Esse é o Harry que eu conheço. Eu nem acredito que você guardou isso por um ano inteiro sem ir atrás, sem procurar saber o que o maluco quis dizer com a tal ameaça.

– Você tem razão – concordou Harry sem emoção. – Acho que nem eu estava me reconhecendo. Fiquei tão feliz em continuar vivo, em tê-lo vencido, que me pareceu, sei lá... Achei que merecia um tempo antes de fazer minha vida voltar a girar em torno de Voldemort. Eu realmente achei que não precisaria me preocupar com isso, não agora...

Ele parou de falar. Tinha coisas que seriam mais fáceis de expressar se ele estivesse diante de Hermione que de Rony. Ela sim entendia bem esses negócios de sentimentos.

– Você está falando daquela sua idéia de não voltar com a Gina? – perguntou Rony.

– É. Mas eu achei que acabaria esquecendo, sabe? Quero dizer, quando eu gostei da Cho e foi um tempão, foi tão fácil. Um dia ela estava ali, ocupando um enorme espaço, no outro... não havia nada. Achei que poderia, sei lá, sair com algumas garotas, mas nada que fosse sério. Nada que eu precisasse me preocupar em colocar outra pessoa em perigo. – Harry olhou pela janela aberta evitando os olhos do amigo. – Eu nunca imaginei que... fosse sentir uma coisa assim por alguém.

– Você é realmente um débil mental.

– Quem falando? – Ironizou Harry. – Sr. Lilá Brown.

– Hei! Eu estou noivo, lembra? E da Mione. O solteirão babaca aqui é você. Além do mais, eu tenho feito tudo certinho nos últimos tempos. Bem ao contrário de você parceiro, que só tem metido os pés pelas mãos. E tem mais! Acha que vai ser só sair por aí e colocar mais uma estrelinha no seu caderninho de herói que a minha irmã vai cair nos seus braços de novo? – Harry abriu a boca, mas achou melhor não comentar o episódio da noite anterior no galpão de ferramentas. Rony interpretou o silêncio de modo diferente e continuou: – Você vai ter que suar, cara. Vai ter que reconquistá-la e... – ele fez uma pausa que soou dramática nos ouvidos de Harry.

– O quê?

Rony fez uma careta e hesitou por um momento até falar a contragosto.

– Um cara não deve comentar isso da própria irmã, mas... eu conheço a Gina, ok? É o jeito dela. Lembra de como ela agia comigo na escola quando achava que eu estava errado? Como ficava me imitando e tirando sarro de tudo o que eu fazia? Pois é. Você vai ver o que ela vai fazer com você. Embora... claro, acho que a tática vai ser diferente – terminou num resmungo.

– Como assim?

– Ela vai te provocar, cara. Vai te fazer subir pelas paredes antes que você consiga que ela volte a ficar com você. E ainda tem o lance de ser Auror – acrescentou rápido como se não quisesse se alongar demais no assunto anterior. Harry entendeu a deixa.

– Está falando dela não estar gostando do que está fazendo?

Rony confirmou com a cabeça.

– E também do fato de que ela vai se enfiar em todo o tipo de missão perigosa apenas para provar para você que ela pode. Acredite, ela não vai facilitar a sua vida.

Harry ficou pensativo. Isso o vinha atormentando desde que ouvira a conversa entre Rony e Hermione, escondido na janela. Porém, ele já tinha algumas idéias a respeito. De fato, tinha várias. Tanto sobre o futuro de Gina, quanto sobre o seu próprio. E se, em tudo o que tinha falado, Rony tinha razão, numa coisa ele tinha mais do que em todas as outras: Harry Potter não é o tipo de pessoa que fica esperando que os acontecimentos o peguem dormindo placidamente na própria cama. Ia resolver tudo, pensou com uma dose temerária de auto-confiança, nem que tivesse de desenterrar cada osso de Voldemort e fazer o que fosse para acabar com ele mais uma vez.

– Harry – chamou Rony arrancando-o de seu juramento interior, o qual o amigo não pareceu notar ou dar atenção. A preocupação dele era outra. – Er... vamos com você, não é? Procurar o Slugh.

Não havia como não registrar a excitação na voz de Rony. Sete anos vivendo aventuras, mesmo com risco de vida, eram o suficiente para tornar qualquer um apreciador da adrenalina que corria nas veias por causa de um novo mistério, de uma nova investigação. Mas tinha mais na fala de Rony.

Desde que a escola terminara, por mais juntos que Harry, Rony e Hermione estivessem, não eram mais um trio. Os dois rapazes estavam se formando Aurores, passando por pesados treinamentos, sendo testados constantemente. Já Hermione estava integrando as seções mais burocráticas do Ministério e não estava sempre com eles. O namoro dela e Rony não melhorara a situação. Era óbvio que eles preferiam passar o pouco tempo que tinham juntos, apenas os dois, e não com Harry segurando vela. Isso não fora um problema enquanto ele e Gina estavam juntos, mas agora afastava os três, antes inseparáveis, ainda mais. Uma investigação, Harry sabia, era uma forma de voltar aos velhos tempos.

– Não – respondeu com displicência, embora sem encarar o amigo para poder continuar sério. – Acho melhor eu ir sozinho. Slughorn é um osso duro. Ele vai se intimidar se formos em bando.

Olhou de canto de olho e viu que Rony concordava, mas as orelhas em tom púrpura o denunciavam.

– É claro – prosseguiu – que vou ficar realmente decepcionado com vocês se não estiverem me esperando hoje à noite no Largo Grimmauld para decidirmos o que vamos fazer a seguir.

O rosto sardento do amigo se iluminou e ele riu se descontraindo.

– Claro! É claro que estaremos lá.

– Ok – disse Harry com um sorriso enquanto levantava e erguia o malão da cama para colocá-lo no chão. – Agora vou precisar da sua ajuda... não com o malão, Rony! Com a sua mãe.

– Ihh! Será que eu não posso só levar a bagagem?

– Pensei que você fosse meu amigo.

– E eu sou, quero dizer, nada que envolva enfrentar a mamãe e... ah, tá bom. Mas ficamos quites da vez em que você salvou a minha vida.

Os dois desceram as escadas e largaram o malão na sala antes de seguirem para a cozinha. A Sra. Weasley já tinha acordado, mesmo sendo tão cedo da manhã. Ela estava sentada calmamente à mesa, de penhoar e chinelos, lendo O Profeta Dominical. Assim que os viu entrar, ela se afastou da mesa com uma expressão muito desconfiada e levou as mãos à cintura. O olhar era tão astuto que os rapazes instintivamente se encolheram. Harry ainda se impressionava com a capacidade da mãe de Rony pegar as coisas no ar. Queria realmente saber se todas as mães eram assim, porque a sua tia Petúnia não tinha esse tal “sexto sentido materno”, nem com o Duda.

– Qual o problema?

Covardemente, Rony deu um passo para trás e empurrou Harry com o ombro para frente.

– O Harry tem uma coisa a dizer.

– Obrigado, Rony. Fico te devendo uma.

A Sra. Weasley estreitou os olhos ainda mais e os fixou em Harry.

– Aconteceu alguma coisa, querido?

Procurando olhar para qualquer lugar que não fosse o rosto gorducho e bondoso da Sra. Weasley, Harry começou a dar voltas sem saber o que dizer. Não queria, de forma alguma, que ela o achasse mal agradecido ou coisa assim.

– É... Sra. Weasley, eu... bom, a senhora sabe, eu tenho aquela casa e... não que eu não goste daqui, eu adoro. É o melhor lugar do mundo. É só que... eu...

Ela deu a Harry um sorriso com um longo suspiro.

– Eu imaginei, querido. Não se preocupe – disse puxando-o para um abraço que lhe esmagou o pescoço. Um pouco atrás ele viu, pelo canto dos olhos, Rony resmungar alguma coisa como “é só porque é com ele”. – Apenas quero que você saiba que esta casa também é sua e que você pode vir para cá sempre, sempre que quiser. – Ela se afastou e tomou seu rosto nas mãos. – Para mim e Artur, você é como se fosse nosso. Sabe disso, não sabe?

– Sei sim, Sra. Weasley. Muito obrigado.

Ela sorriu de um jeito emocionado e depois se afastou começando a lidar pela cozinha.

– Mas você não vai sair sem tomar café, viu? Aliás, deveria ir depois do almoço, ou quem sabe amanhã que é segunda. Passar o domingo sozinho...

– Mãe, se for assim ele não irá nunca – falou Rony enquanto os dois sentavam à mesa e observavam o pão, uma travessa com bolo, pratinhos, xícaras, colheres e facas voarem para a mesa.

– Ah é, bem. É melhor então.

Um bule com café quente saiu do fogão e foi se derramar nas xícaras em frente aos rapazes e a Sra. Weasley sentou diante dos dois, os olhos grudados em Harry.

– Onde vai ficar, querido?

– Largo Grimmauld, Sra. Weasley. A cas... – ele não conseguiu completar porque ela deu um guincho desaprovador.

– Ah não, Harry! Aquela casa horrível! Você não pode ficar lá. Ainda mais sozinho. Logo estará tão deprimido quanto Sirius.

Parou abruptamente. Obviamente ainda considerava, de alguma forma, o assunto Sirius um tabu para Harry, mas ele meramente respirou fundo.

– Não vou ficar sozinho, Sra. Weasley. Eu pretendo chamar o Monstro. Acho que ele vai gostar de voltar para casa. – Um novo guincho da Sra. Weasley e dessa vez ela deve ter chegado perto do tom ultra-sônico, porque os dois rapazes precisaram levar os dedos aos ouvidos e massagear os tímpanos.

– Isso nem pensar. Aquele elfo horrível, maléfico, descuidado, ele vai torturar você por lá e...

– Mãe! Mãe! Calma! Nós já contamos que o Monstro mudou com o Harry. Não se preocupe, ele vai deixar a casa em ordem e... bem, ele até cozinha bem.

A Sra. Weasley fez um muxoxo sentido de quem não estava convencida e serviu um pedaço de bolo para Harry que mais parecia um tronco de árvore. Rony fez um sinal para que ele comesse e elogiasse, rápido.

Por alguns minutos tudo o que se ouviu foi o som da louça e das mastigadas, então como que vencida por uma lógica irresistível, Molly se virou para Rony.

– Você vai com ele, Ronald.

A ordem foi tão súbita e decidida que Rony engasgou.

– O QUÊ?

– Não quero o Harry sozinho naquela casa, com aquele elfo e todas aquelas lembranças. Você vai junto. Assim fico mais tranqüila. Não me olhe com essa cara menino! Não é você que sempre diz que queria ter a independência dos gêmeos? Não morar mais na casa dos pais? Bem, é a sua chance. – Ela pigarreou e se ergueu da cadeira num movimento brusco. – Agora terminem logo e vão de uma vez. Vão, vão!

Disse enxotando os dois, que se ergueram da mesa e cada um veio lhe dar um beijo na bochecha.

– Vão logo! E, esperem! – Os dois pararam à porta da cozinha. – Quero os dois aqui todo o domingo e pelo menos umas duas vezes na semana, entenderam? Se sumirem das minhas vistas, eu vou caçar os dois onde estiverem, ouviram!

Harry e Rony riram e não tiveram outra alternativa senão concordar e depois subir correndo para o quarto de Rony.

– Ela quer é que eu vigie você – sussurrou o amigo nas escadas.

– Sei. Eu entendi – concordou Harry, mas ele realmente tinha gostado do arranjo e os dois se divertiram juntando as coisas de Rony pelo resto da manhã.

Hermione apareceu uma hora depois, pelo visto já sabendo de tudo e, para o bem da saúde de Harry, já havia se acalmado. Ela passou a ajudar os dois, o que tornou o trabalho da mudança bem mais eficiente do que vinha sendo até então. Gina, porém, não deu as caras e nenhum deles falou nela. Por volta das onze horas, os três aparataram, levando os pertences dos meninos, após se despedirem do Sr. e da Sra. Weasley. Pelo visto, Artur também concordara com o arranjo de Molly, pois não disse nada contra a partida deles.

Instalar-se no Largo Grimmauld não foi tão fácil, no entanto. Harry não retornara à casa no último ano. Então, ela estava imunda e muitas das infestações que eles tinham limpado haviam voltado. Rony foi mordido por uma fada mordente menos de cinco minutos depois de eles chegarem, o que rendeu um bocado de encenação e tantos cuidados de Hermione que Harry já se sentia nauseado.

Monstro apareceu assim que Harry o chamou e, como o rapaz imaginara, ele ficou muito satisfeito em voltar de Hogwarts para a casa dos Black. Certamente que ele não tinha por seu novo mestre o mesmo amor que pelos antigos, mas passara a respeitar Harry por ter terminado a obra do “seu menino”, que era como ele chamava Régulos Black. E, sendo assim, considerava sua obrigação cuidar de Harry e de seus amigos. Além disso, mesmo preferindo morrer a admitir, o velho elfo se afeiçoara à Hermione, coisa que eles somente notavam porque tudo o que ela dizia gostar rapidamente aparecia na mesa.

Próximo ao fim da tarde, Harry deixou os três ainda ajeitando a casa – Monstro era tremendamente eficiente quando queria – e seguiu em busca do seu ex-professor de Poções. Slughorn continuava na ativa, parecia ter voltado a tomar gosto por ensinar. Mantivera-se em Hogwarts durante todo o ano da guerra e não saíra no ano seguinte. Claro que, nas vezes em que se encontrou com Harry, ele apenas comentara que estava esperando que aparecesse um novo professor de poções. Alguém tão habilidoso quanto Severo Snape, ele próprio ou talvez, como Harry. Slughorn ainda acreditava que o sucesso de Harry em seu sexto ano naquela matéria se devia a um talento natural, herdado de Lilian Potter.

Como as aulas em Hogwarts ainda não haviam recomeçado, Slughorn estaria fora da escola, mas Harry sabia onde encontrá-lo. As festinhas do Clube do Slugh continuavam ocorrendo, mesmo fora do ano letivo. Harry recebera todos os convites, embora não tivesse comparecido nem uma única vez. Hermione e Gina também prosseguiam sendo convidadas e, depois da guerra, até mesmo Rony invariavelmente recebia o seu pergaminho de letras douradas.

Um sol avermelhado já se punha quando Harry desaparatou à sombra de um velho carvalho, próximo a uma estradinha rural. A sua frente, um minúsculo povoado, com casinhas de aspecto bucólico que formavam uma única volta, em forma de ferradura, em torno de uma praça e uma igreja de uma torre só. Caminhando calmamente, Harry seguiu, com as mãos nos bolsos, em direção ao centro da aldeia. Obviamente o local fora escolhido a dedo para oferecer a Horácio Slughorn os confortos de que ele tanto gostava. E Harry tinha certeza de que isto incluía o visual piegas e saudosista do vilarejo.

Hermione não tinha concordado com Harry quanto à forma daquela visita. Para ela seria melhor esperar a próxima festinha, comparecer e pegar o professor desprevenido.

– O Slugh é tudo menos burro, Harry! – ela repetiu isso mais de uma vez durante a tarde. – É claro que ele vai desconfiar. Você nunca aceitou os convites dele e de repente aparece do nada para fazer uma visita. Ele vai achar que corre algum tipo de perigo. É mais provável que fuja e nem o receba.

Não era difícil concordar com o ponto de vista muito lúcido de Hermione, mas Harry não tinha a menor intenção de esperar pela próxima “festinha”, ele tinha pressa. Seus passos lentos e quase despreocupados disfarçavam alguém que queria que seus problemas se resolvessem o mais rápido possível. Alguém que não queria correr o risco de perder nada. E ele não estava pensando somente numa possível volta de Voldemort e tudo o que isso implicaria. Eram as palavras de Rony naquela manhã, acrescidas de sua própria insegurança que mais o atormentavam. E se, com tudo aquilo, Gina finalmente cansasse dele? E se ela achasse que não valia à pena ter a vida continuamente empatada por causa de Harry Potter? E se aparecesse alguém menos complicado e que a conquistasse enquanto ele continuava em sua luta contra um inimigo que parecia sempre disposto a voltar, outra e outra vez?

Quase sem sentir seus passos ficaram mais rápidos ao entrar na vila. Havia aqui e ali um ou outro morador aguando os gramados aparados e um pouco ressequidos pelo verão. Várias cabeças se voltaram quando ele passou, mas, sendo um povoado trouxa, Harry tinha a certeza de que não fora reconhecido. Por outro lado, era fácil ler nas expressões curiosas o quão intrigante parecia aquele rapaz saído do nada entrando na cidade. A aparência de Harry nada tinha de incomum, mas, sendo um estranho, tudo nele parecia atrair olhares desconfiados e desgostosos. Os cabelos desalinhados, o corpo magro e esticado de um garoto que crescera tarde e ainda não adquirira massa muscular. Os óculos não ajudavam muito para torná-lo respeitável, não quando estava vestindo uns jeans velhos e uma camiseta vermelha com uma chamativa estampa de dragão (presente de Gina em seu aniversário) – um homem parecido com o tio Valter registrou isso com os olhos miúdos e evidente censura. Harry cumprimentou simpaticamente todos os que o encararam por mais de dez segundos. Isso fez com que alguns virassem rápido o rosto como se tivessem sido surpreendidos, outros responderam, mas não mudaram o olhar cheio de suspeita.

Harry, porém, não se deteve. Apesar dos avisos de Hermione, uma parte bastante confiante dele tinha plena convicção de que Slughorn não fugiria. A curiosidade em saber o porquê de Harry ir procurá-lo certamente superaria os seus receios. Além disso, após o fim da guerra, bruxos da idade de Horácio Slughorn acreditavam que não teriam mais suas vidas atrapalhadas por batalhas e coisas assim.

Bem perto da curva da ferradura, Harry parou diante do número sete. A casa tinha um jeito de casinha de bonecas. Um reboco branco que lembrava glacê e esquadrias em tom marrom chocolate tornavam-na, porém, muito parecida com aquelas gravuras de livros trouxas para a casa da bruxa de João e Maria. Ele abriu o portão baixo de madeira e entrou no jardinzinho bem cuidado, pensando que o professor de poções também tinha as suas formas de cobrar tributos aos que freqüentavam a sua casa. Perto da porta, Harry se deteve e bateu palmas. Era certo que o dono da casa já sabia da sua presença, mas era preciso completar a encenação. Nem chegou a ficar preocupado com uma possível fuga, porque logo a porta se abriu num estrondo e Slughorn avançou para ele de braços abertos e uma expressão deliciada. Parecia ainda mais rotundo do que Harry lembrava, os botões do colete bem cortado que ele vestia afiguravam estar sob grande esforço para se manterem fechados.

– Harry, Harry! Mas que surpresa maravilhosa! Que felicidade! – Ele apertou entusiasticamente a mão do rapaz. – É uma honra ter “O Herói” em minha humilde residência.

Ele falava tão alto que Harry pode sentir que mais vizinhos tinham ficado atentos à visita do número sete.

– Como vai professor Slughorn? – cumprimentou.

– Horácio, meu rapaz, para você é Horácio. – Ele colocou a mão gorducha sobre o ombro de Harry e passou a conduzi-lo para dentro da casa. – Eu vou muito bem, muito bem. Fora claro, os achaques de gente velha e que vive quase abandonada, – ele fixou em Harry um olhar suavemente repressor – tenho ex-alunos que sistematicamente se recusam a vir me visitar.

Usando de toda a cara de pau de que dispunha, Harry lhe deu um sorriso firme antes de comentar.

– O treinamento de Auror tem sido bem pesado, Horácio.

O homem deu uma risada rouca.

– Ora Harry, você não vai querer me convencer que Shacklebolt tem sido exigente com você.

– Especialmente comigo – disse Harry com naturalidade, mas deu um tom de confidência à frase seguinte. – Não é bom dar razões para a impressa falar que o Ministério tem facilitado para mim. Você sabe como ainda sou visado pelos caçadores de notícias, Horácio.

– E vai ser sempre – trovejou o bruxo alegremente, como se estivesse constatando uma coisa maravilhosa. Harry se forçou a manter o sorriso cordial. – Ah meu caro rapaz, você é realmente único. É impressionantemente parecido com a sua mãe. Que fibra! Que caráter! Venha, venha, entre...

Ele conduziu Harry por um corredor que se estendia além do hall atulhado de objetos de decoração. Nas paredes, fotos e mais fotos de numerosos integrantes do Clube do Slugh ao longo de décadas. Alguns deles saudaram Harry, uma enorme quantidade de bruxas das mais diferentes idades lhe jogou adeusinhos, mas também houve alguns que se achavam tão importantes que meramente registraram a visita.

Os dois entraram por uma porta à esquerda que dava para uma confortável sala de estar cheia de poltronas e sofás fofos, com muitos pufes para se esticar os pés. Havia umas duas estantes com troféus e fotos, que se espalhavam também pelo console da ampla lareira, e quadros de artistas bruxos famosos. Harry os reconheceu porque Hermione ficara encantada ao descobrir a arte bruxa e havia arrastado Rony e ele por uma longa visita ao Museu de Artes Plásticas do Ministério Bruxo. Como ela e Rony ainda não estavam namorando até que foi divertido, teria sido bem pior com os dois se agarrando o tempo todo e Rony fingindo mais interesse do que realmente sentia.

– A casa é sua, Horácio? É muito bem decorada.

Slughorn estufou como se o elogio fosse para ele.

– Na verdade, não – respondeu enquanto fazia um gesto para que Harry sentasse em uma das poltronas diante da lareira. – É de uma grande amiga. Lya Pip, a escritora, conhece? Ahh ela tem uma obra muito interessante sobre os bruxos que ainda vivem em tribos, misturados aos trouxas. É bem famosa, mas está sempre viajando e tem essa casa maravilhosa que ela só usa quando se isola para escrever. Agora ela está na Finlândia, se não me engano. Recolhendo material para o novo livro, sabe. É claro que dei meu toque pessoal a casa. Hidromel?

Harry aceitou a taça que ele lhe oferecia de boa vontade. Horácio ainda puxou a varinha e conjurou vários tipos de tira-gosto que repousaram coloridos na mesa de centro e então ele se sentou na poltrona diante da de Harry. Ergueu um brinde silencioso e o rapaz o acompanhou. Só depois de um bom gole da bebida foi que ele fixou no visitante os olhinhos astutos.

– Então, rapaz, vai me dizer a que eu devo essa surpreendente visita?

– Claro – disse Harry se recostando na poltrona. – Vim pedir sua ajuda.

– Minha ajuda? – Ele assentiu e Slughorn riu com descrença. – Não creio que um velho como eu possa ajudar simplesmente aquele que é, provavelmente, o bruxo mais poderoso do nosso tempo. Sei que é bom demais para isso Harry, mas você poderia ser o que quisesse. Sempre me pergunto se foi Dumbledore que o criou com temor a poderes demasiados grandes ou se... bem, você é tão parecido com...

– Minha mãe – completou Harry.

– Exato – ele falou sentimental e tomou outro grande gole de hidromel, mas esperou que Harry também bebesse antes de voltar a falar. – Não vejo no que um bruxo velho como eu poderia ajudá-lo, Harry.

– Bem, bruxos velhos são sábios e você, Horácio, além de sábio é muito bem relacionado. – Harry avançou o corpo para frente e largou a taça sobre a mesa. – Vou direto ao assunto. Preciso de sua ajuda com um contato e uma informação.

O bruxo o olhou com seriedade, então se serviu de uma grande quantidade de castanhas e comeu-as calmamente. Harry continuou a fitá-lo sem mover um músculo sequer.

– Uma informação, eh? – Hermione tinha toda a razão quanto a Slughorn. Ele registrara exatamente o favor mais problemático. – Que tipo de informação?

– Do tipo que você não gosta de dar.

O bruxo fez uma expressão de franco desagrado.

– Acho que já lhe dei a informação que você queria há três anos.

– A que eu queria há três anos, sim. A informação que quero agora é outra.

Horácio relaxou um pouco, como se a afirmação de Harry não representasse perigo.

– Seria sobre o que, especificamente?

– Que outras alternativas Voldemort poderia ter para se tornar imortal? – lascou Harry sem piedade e viu o bruxo tremer ao ouvir o nome sem nenhum tipo de hesitação.

– Eu não tenho idéia do que Dumbledore disse a você – ele retrucou zangado – mas não sou nenhum tipo de especialista nas barbaridades perpetradas por aquele... aquele...

– Não estou dizendo isso, professor – atalhou Harry com a voz macia.

– Eu não sei nada sobre Você-sabe-quem ter feito algo além das horcruxes – ele trovejou indignado.

– Não estou dizendo que sabe. Tudo o que me interessa é conhecer as alternativas.

Novamente, o olhar astuto se demorou sobre o rapaz.

– Por que você quer saber isso? Você o derrotou. Todos viram. Ele está morto.

– Não tenho dúvidas disso.

– Então?

– Quero garantias.

– Garantias? Ora Harry, em quase todas as culturas conhecidas existiram magos que pretenderam descobrir o segredo da imoralidade. Tom Riddle pode ter feito dezenas de salva-guardas para a sua vida, mas isso não quer dizer que sua alma possa voltar do inferno para usá-las.

Foi a vez de Harry ter um tremor involuntário, mas ele se controlou quase imediatamente.

– Ainda assim. Não quero ser pego desprevenido, Horácio. Eu preciso ter certeza de que ele não voltará.

– Há alguma coisa que eu não sei?

Harry piscou os dois olhos e depois voltou a pegar sua taça e se recostar na poltrona, bebericando o hidromel sem pressa.

– Não – disse admirando a cor da bebida. – Excelente o seu hidromel! Da Madame Rosmerta, não é? – comentou em tom de conversa. – Ontem bebemos um de ótima qualidade, mas os gêmeos Weasley me disseram que o haviam importado de algum lugar da Escócia...

– Bannockburn – Slughorn completou a pausa de Harry, mas não mudou a expressão cheia de suspeita.

– Isso mesmo. Estávamos comemorando o noivado dos meus amigos – explicou Harry jogando a isca num tom absolutamente inocente.

– Noivado?

O jovem deu um largo sorriso.

– Sim, Rony e Hermione vão se casar.

– Oho! Mas está é uma grande notícia! – Slughorn pareceu agradavelmente surpreso.

– Não é? Imagine o que vai ser esse casamento agora que Artur Weasley é um altíssimo funcionário do Ministério e Gui, seu filho mais velho, é atualmente o homem de confiança dos duendes do Gringotes. Além disso, os gêmeos estão fazendo uma verdadeira fortuna na loja de logros. Não sei se você soube que eles compraram a Zonkos e encamparam as fábricas do Dr. Filibusteiro. A família está planejando uma grande festa. – Harry tomou outro gole da bebida. – Certamente vai ser um evento lembrado por décadas.

Horácio também voltou a beber, mas os olhos cobiçosos avaliavam Harry e o mundo que ele descortinava. A oferta era óbvia. A ajuda de Horácio em troca do que ele considerava no momento um bilhete premiado: a possibilidade de gozar da intimidade d’O Herói e seus amigos mais chegados.

– Imagino que os convites serão restritos – comentou o bruxo com displicência.

– Ah sem dúvida. Rony e Hermione são pessoas discretas, provavelmente haverá apenas a família e um ou outro amigo mais chegado, como o Ministro, por exemplo. – A frase soou horrível mesmo para Harry que teve a nítida impressão de ouvir Hermione dizer dentro da sua cabeça: “zero de sutileza, Harry!” Mas pela expressão de Slughorn, Harry tinha acertado o alvo, em cheio.

– A Srta Granger sempre foi uma das minhas alunas favoritas.

– Eu sei. E ela sempre o considerou um ótimo professor – havia uma sinceridade tocante na voz de Harry.

Os dois voltaram a ficar em silêncio. Harry manteve a expressão simpática enquanto observava Slughorn secar sua taça e se curvar para se servir de mais. A barriga dificultou o movimento e ele, pressuroso, serviu o ex-professor com generosidade. Alguns goles depois, Horácio finalmente encontrou a voz novamente.

– Você alguma vez se perguntou sobre os diferentes nomes dele?

O tom tinha mudado e Harry avançou o corpo mal disfarçando o interesse.

– Nomes?

– É. Ele forjou um nome para encobrir a origem trouxa, deu a este nome sua personalidade real. Lembre que Tom Riddle era um jovem sedutor, mas Lorde V-Volde-mort... – ele sacudiu um arrepio – bem, ele aterrorizava muito diretamente. Usava o terror mais que a sedução.

– Ele odiava ser chamado de Tom.

– Sim, e fez todos temerem usar o nome que ele próprio criou para si.

Harry ainda não tinha visto no que isso poderia ter ligação com a possibilidade de Voldemort voltar, mas Horácio tomou outro grande gole e voltou a falar.

– Não posso ajudar muito, não sou nenhum pesquisador do assunto. Na verdade, sei mais por ouvir falar, mas creio que... Bem, a Srta. Granger com certeza irá ajudá-lo bem mais do que eu... na pesquisa. – Ele parou para outro gole e Harry chegou a prender a respiração. – Existem histórias, coisas antigas, lendas diriam alguns, que falam de bruxos que conseguiram dar a si mesmos um nome secreto, um nome que passava a ser o único e verdadeiro. Um nome cheio de poder e que era capaz de significar o bruxo mais completamente que qualquer outra coisa. O nome devia ser escondido por magia, de forma que nunca fosse alcançado, pois quem o descobrisse teria total poder sobre o feiticeiro e poderia até mesmo matá-lo.

Fazia sentido, muito sentido. Voldemort tinha um certo fetiche pelo próprio nome. Escolheu algo que atemorizasse, depois construiu nas pessoas o medo de dizê-lo. Porém, este já era um nome que as pessoas conheciam. E se ele buscasse por outro. Um nome não de origem, como Tom Riddle, ou de terror, como Lorde Voldemort, mas um nome de poder! O cérebro de Harry começou a trabalhar de forma alucinada organizando todas as informações que ele e Dumbledore tinham reunido sobre Riddle. Sim, fazia completo sentido. Sem se dar conta do que fazia, Harry esvaziou a sua taça e largou-a sobre a mesa passando a caminhar pela sala. O espaço atulhado de móveis não permitiu muito movimento e ele voltou a olhar para Slughorn que o analisava com a vista meio embaçada pela terceira taça de hidromel.

– É só o que eu posso lhe dizer, meu rapaz – disse o bruxo. – Veja bem, é uma dica e tanto. Porque, afinal, eu fui professor dele e eu lembro do quanto ele se preocupava com o nome. Lembro dos colegas da Sonserina já o chamando de Lorde e lembro... – ele se calou e Harry viu que tinha mais coisa ali. Pegou a garrafa de hidromel e encheu a taça dele novamente.

– Lembra?

– Eu me sinto tão envergonhado, mas como eu poderia saber?

– Não havia como saber – incentivou Harry lhe estendendo o pote de castanhas. – É claro que você não tem nenhuma culpa, Horácio.

– Eu sei, eu sei... Ah, são tantos arrependimentos...

– Do que você se lembra?

O bruxo parou com a mão cheia de castanhas pouco antes de chegar à boca.

– Discutimos em um dos pequenos encontros na minha sala sobre as possibilidades do nome secreto. E de como alguns bruxos africanos haviam conseguido uma longevidade extraordinária escondendo esses nomes no interior de crocodilos. Claro, são lendas...

– Mas nada garante que ele não tenha ido atrás. Ele viajou por anos e ninguém sabe exatamente o que fez. Nem mesmo Dumbledore descobriu. – Harry passou a mão no restante das castanhas e encheu a boca. Não era fome, mas precisava evitar a si mesmo de pensar em voz alta.

Quando ele engoliu, já tinha uma boa quantidade de idéias para discutir com Rony e Hermione e estava tão ansioso que era melhor encerrar a visita de uma vez.

– Muito obrigada, professor – hesitou um pouco antes de dizer, mas disse: – Lhe sou muito grato por isso.

Slughorn já estava um pouco alto, mas pareceu muito satisfeito em ouvir aquilo.

– Ora, meu rapaz, todo o agradecimento de que preciso é a sua amizade.

Sei.

– Bem, talvez eu fique lhe devendo mais uma além desta, Horácio.

O outro se aprumou rapidamente, parecendo que Harry tinha anunciado que ia lhe dar um presente.

– Trata-se de um pequeno favor.

– Se estiver ao meu alcance, Harry.

– Está, certamente que está. Eu preciso que o senhor me apresente uma pessoa.




Menos de meia hora depois, Harry entrava quase aos pulos pela porta do número 12 do Largo Grimmauld, só não gritou por Rony e Hermione para não acordar a Sra. Black. Tinha certeza de que os encontraria na cozinha do andar de baixo esperando-o para saberem as novidades. Contudo, sua expressão entusiasmada morreu assim que ele abriu a porta. Rony e Hermione estavam ali sim. E também Neville, Luna e, escorada no fogão no fundo da sala, Gina.

– Oi.

– Oi Harry – cumprimentou Neville que parecia muito constrangido. Luna o olhara com um sorriso vago e Rony e Hermione estava definitivamente tentando fingir que não viam sua expressão furiosa.

– Eu não quero ser grosseiro, – disse admirando-se do próprio controle – mas a que devo a visita de vocês três?

– Viemos ajudar você na investigação sobre o Voldemort – respondeu Luna como se aquilo fosse a coisa mais natural e evidente do mundo.

Harry se virou para Rony e Hermione e ambos se encolheram. Ele ia matar os dois.

– Não é culpa deles estarmos aqui, Harry – a calma na voz de Gina não fez a raiva diminuir, mas ele se voltou para ela. – Nós dois já havíamos “conversado” sobre as suas suspeitas. Quando a mamãe contou que você tinha se mudado e Rony tinha vindo junto, eu meio que deduzi o que vocês pretendiam fazer. Achei que seria legal reunirmos novamente a AD, ao menos a cúpula, para investigar.

– Achou é?

– Não foi uma idéia maravilhosa?

– Eu adorei a idéia – comentou Luna animada. – Você também, não é Neville? – O garoto apenas sacudiu a cabeça, sem jeito, parecia ter sido o único dos três a registrar toda a fúria de Harry. – O que foi que o professor Slughorn disse?

Seu olhar tornou a cair sobre Rony e Hermione. Isso era culpa deles. Afinal, só os dois sabiam daquilo e haviam contado tudo para Gina e o resto da galera. A vontade de Harry era de quebrar alguma coisa. Qualquer coisa.

– Harry... – tentou Hermione, mas Gina a atalhou.

– Eu os forcei a falar.

– Não, não forçou – disse Hermione.

– Eu os ameacei com a mamãe. Eles não tiveram o que fazer.

– Olha Harry, a gente não ia falar nada, mas agora está feito e...

– Certo – cortou Harry cada vez mais bravo – eu vou ter uma conversinha com vocês dois mais tarde. Agora – ele fez um gesto na direção de Gina – quero falar com você! Lá fora.

E sem esperar saiu novamente pela porta e rumou para a sala de estar do primeiro andar, onde se escorou na tapeçaria da família Black e cruzou os braços. Não precisou esperar muito. Gina entrou na sala alguns instantes depois. Não parecia nem um pouco abalada com o olhar furibundo com que Harry a recebeu.

– O que há com você? – perguntou entre agressivo e quase desesperado. – Por que você tem que dificultar as coisas?

– Bem, vamos nos entender aqui Harry. Eu não lembro de, em momento algum, ter sequer dado a entender que eu facilitaria.

– Gina... por favor – era como discutir com uma parede, porque ela não parecia nem mesmo disposta a alterar a expressão irritantemente tranquila com que o encarava. – Eu já estou longe de você porque não quero que se arrisque.

– Você está longe de mim porque eu não aceitei os seus termos, Harry. Não vamos namorar sob “condições”. Claro que se você fosse meu namorado eu até consideraria a sua opinião. Mas – ela poliu as unhas na roupa – como não temos nada um com outro. Somos só amigos.

– Não!

– Não somos amigos? – ela arqueou as sobrancelhas.

– Não quero você metida nisso.

– Eu sou maior de idade e Auror.

– Você está em treinamento.

– Você também.

– A resposta ainda é não.

– Ah Harry, se eu fosse você não faria isso – ela disse de um jeito como se tivesse pena dele.

– Isso o quê, Gina?

– Não me obrigaria a usar as minhas armas contra você.

Uma rápida imagem que incluía beijos e peças de roupas sumindo cruzou a mente de Harry antes que ele pudesse evitar. Cruzou os braços com força, um pouco mais e ele interromperia a corrente sanguínea.

– O que quer dizer?

Gina deu um passo na sua direção e ele recuou batendo dolorosamente com a cabeça na parede.

– Quero dizer que o Quim e os meus pais iam realmente gostar de saber que Voldemort andou fazendo ameaças antes de morrer e que você acredita que elas são reais.

– Você não faria isso.

– Tem certeza de que quer me testar?

– Droga, Gina!

Harry deu um passo para o lado e se afastou dela vários passos até se sentir seguro. Tinha que admitir que estava tão completamente apaixonado que mesmo olhar para Gina por muito tempo, por mais raiva que ele estivesse no momento, era perigoso. Muito perigoso. Como descruzara os braços ele jogou as mãos dentro dos bolsos. Precisava manter o corpo sob controle perto dela.

Ainda assim, tinha que admitir que ela lhe deixara poucas alternativas. Não queria que suas suspeitas chegassem até Quim, a Ordem ou os Srs. Weasley. Não havia certezas, apenas a palavra de Harry e isso poderia ser interpretado como uma nova guerra ou, pior, como se ele tivesse ficado obcecado. Por outro lado, tentar manter Gina afastada significava que ela faria coisas sem que ele ficasse sabendo. Novamente as palavras de Rony naquela manhã voltaram a atormentá-lo. Não, o melhor era deixá-la sob as vistas dele, embora... ele não pudesse dizer melhor para quem.

– Certo – falou finalmente. – Você não me deixou escolha mesmo.

Ela deu um sorriso triunfante.

– Ora, não faça essa cara – disse alegre. – Eu prometo – ela beijou os dedos cruzados – que não vou jogar sujo com você.

– Mais do que já está fazendo?

– Bem, eu podia usar a química que a gente tem para fazê-lo concordar com o meu ponto de vista sobre o nosso relacionamento. – Harry engoliu em seco. – Mas não vou. Vou me comportar e prometo que não chegarei perto de você até isso estar terminado.

– Que legal da sua parte – ele não disfarçou o sarcasmo.

– Eu sei – o sorriso travesso só mostrava o quanto ela estava se divertindo, zoando com ele daquele jeito. – Agora é melhor a gente voltar e começar a trabalhar. Se não vou agarrar você, também não quero a fama.

Antes que ele pudesse pensar em responder, Gina já tinha sumido pela porta e depois de várias respirações muito profundas, Harry a seguiu resignado. A conversa foi menos complicada do que Harry imaginou. Neville e Luna participaram de forma brilhante dando sugestões e se dispondo a pesquisar o que fosse. As idéias de Luna eram extravagantes, mas ela conhecia uma boa quantidade de coisas estranhas e o que sabia sobre as magias dos bruxos africanos e árabes – que usavam o poder dos nomes secretos mais frequentemente – impressionou até mesmo Hermione. No caso de Neville, passado o constrangimento inicial, por causa da reação de Harry, ele voltou a demonstrar a disposição guerreira da época da resistência em Hogwarts. Extraiu de Harry cada elemento que pode da ameaça de Voldemort, fazendo-o contar detalhes que ele não tinha dito nem mesmo a Rony e Hermione, e buscou nisso pistas que eles poderiam seguir na investigação.

Já era passado da meia-noite quando, lembrando que todos trabalhavam no dia seguinte, eles resolveram encerrar. Combinaram reunir livros e fazer do largo a base para agrupar as informações necessárias para a nova caçada. Rony queria que Hermione passasse a noite ali, mas não conseguiu convencê-la.

– Fiquei de dormir em casa, Rony. Mamãe está me esperando.

– Ela vai entender – choramingou ele. – Não acredito que vai me deixar sozinho.

– Não seja criança, Rony. A gente se vê amanhã.

Nada satisfeito, ele ficou alongando as despedidas e, por puro constrangimento, os outros quatro seguiram para a porta deixando-os para trás.

– Não acho que eles vão esperar muito para casar – disse Neville com simpatia.

– E você acha que nesse fogo, eles ainda estão esperando alguma coisa – caçoou Gina, maldosa e Luna depois de piscar alguns segundos para a amiga deu uma gargalhada quase histérica.

– Shhh – disse Harry, rindo também – você vai acordar a Sra. Black.

Os quatro estavam no hall de entrada já há alguns minutos quando Rony e Hermione finalmente apareceram. Harry abriu a porta e apertou a mão de Neville que saiu para a noite, Luna deu-lhe um beijinho na bochecha e seguiu o amigo. Hermione e Rony ainda se despediam quando Gina parou diante dele.

– Você sempre consegue o que quer, não é? – a voz dele saiu baixa, mas não havia exatamente recriminação ali. Gina sorriu.

– Sempre.

Ela se ergueu na pontinha dos pés e deu-lhe também um beijo no rosto. Os pelos da nuca do rapaz arrepiaram imediatamente. Nada mais diferente do que aquilo e o beijinho inocente e fraternal que Luna lhe dera há alguns segundos. Harry soltou o ar pesadamente e a olhou, o sorriso levado informava que Gina tinha plena consciência da provocação.

– Pensei que não fosse jogar sujo.

– Eu menti. Tchau Harry!

Ainda olhava estático pela porta por onde ela sumira, quando um terceiro beijo feminino o acordou. Hermione seguiu a cunhada e pelo riso dela, Harry viu que não teria ali nenhuma solidariedade. A mão pesada de Rony lhe caiu sobre o ombro.

– Como eu disse: você é um homem morto, companheiro.

– Eu sei.

Mas quando fechou a porta, Harry sorria.




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NB Sônia: Eu tenho sorte na vida. Eu leio ineditamente esses tesouros com que a Sally nos presenteia, ganho status de beta e não tenho trabalho algum! A minha maior “participação” nos arquivos que a Anam me manda são os comentários que não consigo controlar! E nesse capítulo, eles foram muitos e desvairados. Adorei o noivado de Ron e Mione, me surpreendi com a Sra. Weasley liberando o Harry E O RON para morarem longe dela, ergui uma sobrancelha sarcástica para o sempre escorregadio e interesseiro Slug, ... E quando eu acho que sei o que ela nos reserva, e que estou preparada para tudo, me cai esse mistério bombástico no colo: NOME SECRETO??? - Em uma palavra nada original, mas muito adequada: UAU!!!!!! – Mal posso esperar para ver onde isso vai dar! - E finalizando, Gina e Harry. Eu pedi durante a leitura, e te peço novamente, Anam: Faz as pazes desses dois, por favor! Eles são tão certos juntos que parte o coração vê-los nessa situação!!!! Ai, ai, ai! – XD - Lá se foi o comentário que era para ser racional direto para o espaço! Mas fazer o quê? Essa fic me deixa entusiasmada...EXTREMAMENTE!!!! =D – Anam, perfeito! Gostaria de ter um repertório maior de elogios, para sempre usar um novo,mas... Está perfeito! Não tenho outra palavra! Beijos muitos!!! Aplausos estrondosos!!! ;D

N/A: Trovoadas, tempestades, guerras, enfrentei inúmeros perigos após lançar-me ao mar bravio, mas finalmente estou aqui! Rsrsrs Céus, bem que queria que minha vida fosse tão emocionante, mas... foi só muuuuitooooooooo trabalho. De qualquer forma meu barquinho voltou para as águas calmas e eu pude sentar num barril e escrever sem as ondas jogarem muito.

Sei que estou devendo o Retorno a mais tempo, mas nesse período tumultuado, quando eu tinha um tempinho vinham flashes da Just, que sempre exige um pouco menos. Ainda mais agora que a outra fic entrou na reta final.

A música é uma relíquia da década de 80 e foi um marco no início da minha adolescência (cruzes, olha eu me entregando). É linda! If you leave e é do OMD, mas foi gravada junto com o The Cure. Como sempre a letra está na comu das fics no Orkut e ela próprio no meu Multiply que é o link lá no fim.

Gente, eu pensei muito em por um aviso de spoiller nesse capítulo, mas cheguei a conclusão que não era realmente necessário. Usei elementos do livro sete sim, mas nada que comprometa a leitura do livro. Além disso, quem leu sabe o que é. Quem não leu não vai descobrir até ler porque eu não vou contar. Espero que os que não leram me perdoem.

Agora, os agradecimentos aos comentadores. Meu muitíssimo obrigada a:

Mimi Potter, Priscila Louredo (tb te amo, amiga!), Tonks Butterfly, Lica Martins (obrigada querida, vocês duas também são muito especiais), Gina W. Potter, Belle Sarmanho (muito obrigada as duas), Mari Granger (obrigada por ter comentado neste =D), Sus, Patrícia Ribeiro, Mirella Silveira, Drika Granger, Mi Potter (obrigada por Run e por vc), Lili Negrão(Liz), Clara (muito obrigada, Clara e seja bem vinda!), Amanda Regina Magatti, Alessandra Silva, Bernardo Cardoso, Paty Black, Susan (muito obrigada, mesmo! Adorei o seu comentário), Regina McGonagall, Charlotte Ravenclaw, Sô (valeu, querida!), Thais Domingos dos Santos Rodrigues, Guida Potter (acertou na mosca, Guida!), Pamela Black, Doug Potter, Eleonora, Naty L. Potter (sou fanática sim, então é só aguardar hehe), Daiana Braga Pereira, Natinha Weasley, Gabizinha, Maionese, Tammie, Luisa Lima (obrigada de coração, meninas!), Liih Potter (hahaha), Ana Eulina Carvalho, Georgea, Ana Rocco, Gianna, Carlos Miguelito (obrigada e bem vindo!), Sônia Sag, MárciaM (fica de mal não, tudo na vida tem um propósito, rsrs o meu é deixar a fic legal hehe), Lola Potter, SaRa_lins.

Um beijo enorme e até o próximo capítulo do Retorno.
Sally


P.S.: Vocês viram que a FeB vai mudar de versão? Pois é, mas apenas por segurança eu pediria a todos que comentarem que marquem a caixinha do e.mail. Eu realmente fico arrasada quando perco os comentários de vocês. Obrigada!








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