What can I do?



Capítulo 9



What can I do?





Harry não saberia dizer o que era mais difícil. Se suportar os olhares repressores da Sra. Weasley ou segurar o sorriso que teimava em não deixar o seu rosto. Não que a mãe de Gina não tivesse gostado. Na verdade, ela estava até mais carinhosa com Harry. O problema é que ela não aprovava os dois estarem juntos sem que Luc houvesse sido oficialmente dispensado. Aliás, em termos oficiais, Gina e ele também não estavam juntos. A noite anterior tinha sido só um... deslize, talvez um escorregão, muito mais provavelmente um tombo.

– Quer parar de sorrir como um panaca?

Esse era o segundo problema: o mau humor de Rony. É claro que Harry e Gina não tinham saído contando para a família o fato de terem ficado juntos no telhado, na noite anterior. Inclusive fizeram o possível para manter segredo. Por isso, ele achava que talvez houvesse alguma estranha mágica que fazia os Weasley saberem de tudo o que acontecia na Toca ou, ainda, que seus rostos, para lá de culpados, felizes e satisfeitos, os tivessem denunciado. O fato é que, naquela manhã, enquanto tomavam o desjejum, ficou bem claro que ninguém tinha dúvidas sobre os dois. E, fora a Sra. Weasley, nem Rony nem o Sr. Weasley pareciam realmente incomodados, fosse com isso, com o telhado ou com o "francês". Rony, entretanto, estava preso demais à própria miséria para suportar o excesso de felicidade alheia.

– Se te incomoda tanto, não fique me olhando – respondeu Harry.

Os dois estavam sentados a uma mesa, sob um caramanchão florido nos fundos da Toca, descascando ervilhas. A Sra. Weasley tinha pedido que eles enchessem duas bacias para ela fazer conservas. Quando Rony reclamou, ela lhes entregou uma dúzia baldes cheia de pêssegos, que ela queria descascados para fazer geléia. Então, após o almoço, tinham procurado um lugar onde houvesse sombra e alguma brisa para se colocarem a fazer a tarefa. Rony resmungara uma boa parte do tempo dizendo que ela não podia fazer isso com dois bruxos famosos e importantes como eles, que eles eram heróis e não elfos domésticos. Harry, porém, não se incomodara realmente. Não queria que o Sr. e a Sra. Weasley, que sempre o tinham tratado tão bem, ficassem aborrecidos com ele e, nesse caso, era melhor que ele ficasse o mais distante possível de Gina no momento. O fato é que perto dela, Harry não tinha certeza de que poderia se responsabilizar por si mesmo ou pelas suas mãos. Provavelmente, a Sra. Weasley pensava a mesma coisa, pois mantivera Gina escrupulosamente sob suas vistas por quase todo o dia e quase nunca deixando que os dois ficassem sozinhos por mais de dois segundos. Se tivessem ficado três, Harry tinha certeza absoluta de que já a teria beijado novamente.

Sem Gina, no entanto, o que lhe restavam eram ervilhas, pêssegos e o mau humor quase insuportável do amigo. Rony e ele tinham enfeitiçado umas duas facas cada um. E estas, velozes, tiravam a pele dos pêssegos no lugar deles, porém tinham de ser constantemente vigiadas. O problema é que não havia um feitiço que fizesse as ervilhas pularem para fora das vagens, logo, nessas, eles tinham de usar as mãos. A tarde estava excepcionalmente quente e anunciava que choveria à noite ou, no máximo, no dia seguinte. O fato de estar suando e fazendo um trabalho chato e braçal também não estava contribuindo para melhorar o humor de Rony e era em Harry que ele estava descontando.

– Vocês podiam pelo menos tentar disfarçar, não é?

Harry deu um profundo suspiro, jogou uma vagem vazia fora e pegou outra.

– Eu pensei que estávamos fazendo exatamente isso.

– Rá! – Debochou Rony.

– Se não estivéssemos disfarçando, eu não estaria aqui desfrutando da sua agradável companhia.

– É? – Retrucou o outro. – E estaria onde? Não responde, não responde.

Harry riu, mas achou melhor segurar a provocação que lhe viera à cabeça. Os dois ficaram em silêncio por mais um tempo.

– Rony.

– Humm?

– Acha que seus pais estão muito chateados com a gente?

– Nãããã, mamãe só está emburrada porque acha que fica "feio" parecer que a Gina tem dois namorados.

– Ela não tem dois namorados! – Indignou-se Harry.

– Enquanto ela não terminar com o Luc, ela tem.

– Gina já terminou com o idiota do francês – falou com despeito. – Ele só... não sabe.

– Por que ela simplesmente não manda uma coruja dizendo: Tchau!?

Harry deu um suspiro não muito conformado.

– Gina acha grosseiro. Ela quer conversar com ele.

Rony atirou uma vagem longe e pegou mais um punhado que recomeçou a descascar com o mesmo tédio.

– Mulher tem esse tipo de bobagem. Vai mandar o cara pastar mesmo. Qual é a diferença de ser pessoalmente ou por escrito? O que ela quer? Dar uma chance para o outro implorar?

– Ela quer ser legal, Rony.

– Humpf – Rony voltou novamente à atenção para as vagens, até que não agüentou. – Se ela quer ser tão correta, porque ficou com você ontem à noite?

Harry não pode evitar sorrir.

– Digamos que a culpa foi toda minha – ele desviou de várias vagens que Rony jogou nele em seqüência. – Ei, por que perguntou se não queria saber?

– Precisava responder com essa cara? Pô, Harry. Você está falando da minha irmã.

– Eu não falei da sua irmã. E se não quer ouvir respostas, não pergunte – disse Harry rebatendo a guerra de vagens.

Os dois prosseguiram na batalha, agora usando algumas ervilhas também, o que doía um bocado quando acertava alguma parte sensível. Rony levou uma no olho e recobrou a carga, acertando Harry dolorosamente no meio da testa. Só pararam quando alguém abriu com violência e depois bateu com força a porta da cozinha e saiu para o pátio. Harry se virou esperando ver a Sra. Weasley, provavelmente vindo acabar com a farra dos dois, mas era Gina que vinha em direção a eles. Chegou a ensaiar um sorriso, mas a expressão furiosa dela o desanimou. Rony e ele a observaram se aproximar com passos duros. Quando chegou perto deles, ela jogou o longo cabelo para trás e pegou um punhado de vagens da bacia de Harry e começou a descascá-las com ferocidade.

– Tudo bem? – Arriscou Harry.

– Perfeito.

Os dois rapazes trocaram um olhar temeroso. O tom do "perfeito" dela poderia ter cortado um deles ao meio. Gina deu um bufo cheio de contrariedade.

– Mamãe está se superando hoje – reclamou furiosa. – Eu não tenho culpa que o Luc não tenha podido vir falar comigo! Eu só mandei uma coruja para ele ontem. O que ela quer? Que eu saia caçando o cara?

– Talvez, ela apenas queira que você e o Harry parem de ficar se agarrando por aí até você terminar com o francês – sugeriu Rony inocentemente, recebendo um olhar fora de si de Gina.

– Foi você, não foi?

– Eu o quê?

– Que contou para ela que... – ela olhou para Harry rapidamente – a gente...

– Ficaram de amasso no telhado até de madrugada? – Perguntou Rony com veneno. – Não, não fui eu. Mamãe deve ter deduzido quando não encontrou você no seu quarto e como ela sabia que Harry estava no telhado... ela juntou dois e dois, digo, um mais um.

– Ok – reclamou Harry contrariado – todo mundo sabe que aquele é o meu... – ele não soube bem como expressar, não quis usar o termo "lugar secreto", pois obviamente não era mais.

– Que você gosta de se esconder no telhado quando quer ficar sozinho? Ou com a minha irmã? – Completou Rony. – É, todo mundo sabe. – Disse lançando um olhar para Gina, que baixou a cabeça e voltou a violentar as pobres vagens.

Harry olhou de um para outro.

– O quê?

– Você não contou para ele? – Provocou Rony, mas a garota manteve a atenção no trabalho e pegou mais vagens da bacia de Harry. – Foi Gina quem descobriu. Nas férias do nosso sexto ano. – Harry já intuía que tinha isso, apenas os dois não tinham falado sobre o assunto. – Mas ela só contou numa tarde em que você sumiu e mamãe achou que Você-sabe-quem tinha te raptado.

– Humm – foi tudo o que Harry achou para dizer. Ainda se impressionava com a atenção que Gina sempre prestara nele e isso, constantemente, o fazia se sentir um idiota.

Os três ficaram em silêncio, com Rony olhando de um para o outro esperando que dissessem alguma coisa. Finalmente, Gina acabou falando, parecendo um pouco sem graça.

– Você está bravo comigo?

Harry ergueu os olhos e a mirou com seriedade.

– Não, apenas... – observou-a morder o lábio inferior, numa demonstração de insegurança que ele achou uma gracinha – isso me coloca na obrigação de achar outro lugar... De preferência um que seus pais e irmãos não nos descubram.

Ela riu enquanto Rony reclamava e fazia ameaças aos dois de que os vigiaria de perto. Em resposta, Harry e Gina o atacaram com uma saraivada de ervilhas. Só pararam quando a Sra. Weasley, colocando a cabeça pela janela, disse que obrigaria os três a catarem sem magia as ervilhas que estavam desperdiçando. Antes que ela cumprisse a promessa, Gina puxou a varinha do cós dos shorts e fez um gesto amplo convocando as ervilhas, que voltaram todas para a bacia do Harry.

– Hei – reclamou Rony – metade dessas são minhas!

Gina não lhe deu atenção e Harry presenteou o amigo com um sorriso presunçoso. Contrariado, Rony voltou à tarefa de encher a sua bacia, mas aparentemente resolveu não voltar a brigar com os dois, já que, sozinho, levaria a pior. Aproveitando-se do fato de que estava depositando as ervilhas que descascava na bacia de Harry, Gina se aproximou mais dele, o que, se não fosse pela presença de Rony, o teria desconcentrado totalmente do trabalho.

– Rony – chamou Gina, mas o irmão apenas resmungou em resposta. – Por que todo esse mau humor, hein? Semana passada, quando eu estava dando aulas de dança para o Harry, eu achei que você queria que a gente voltasse.

– O mau humor não tem a ver exatamente com a gente – disse Harry, displicentemente.

– Você continuaria saudável se mantivesse a boca fechada, cara – resmungou o amigo – e parasse de ficar roçando esse braço na perna da minha irmã.

Harry disfarçou um sorriso de lado, mas Gina parou o que estava fazendo em pôs as mãos na cintura decidida.

– É. Eu sei que não é com a gente. Afinal, o que aconteceu entre você e a Mione na noite da festa?

– Preocupe-se com a sua vida, Gina.

Ela olhou para Harry esperando que ele contasse. Ele até poderia manter a fidelidade a Rony, mas o fato é que Gina ia ficar sabendo de qualquer jeito.

– Rony a beijou.

– Qual é Harry? – Reclamou o amigo.

– Ah Rony, como se a Gina já não suspeitasse que tinha sido isso?

– Ótimo, você deu certeza pra ela.

Gina puxou o cabelo para um dos lados do pescoço e se debruçou ao comprido sobre a mesa, em direção ao irmão. Harry achou que as ervilhas tinham perdido definitivamente qualquer graça, assim como os problemas de Rony e tudo mais. Foi preciso um grande esforço para voltar a prestar atenção na conversa.

– Você já tentou falar com ela? – Perguntou Gina.

– Não – respondeu Rony cheio de ironia. – Caras como eu costumam andar armados com clavas, esperamos as garotas estarem distraídas e aí PIMBA! Não usamos conversar nas cavernas.

– Nossa – reagiu a garota – a conversa de vocês foi tão ruim assim?

Passando a mão em um novo punhado de vagens, Rony pareceu fazer força para continuar concentrado no que fazia.

– Rony...

– Foi uma droga, Gina! O que você acha? Por acaso fui eu que passei uma noite romântica sob as estrelas, no telhado? Não! Então, porque vocês dois não vão encontrar outro “lugarzinho secreto” e me deixam em paz, hein?

Sem nem olhar para os dois, Rony levantou com violência, deixando a cadeira cair e saiu dali. Harry e Gina o acompanharam com os olhos enquanto ele se afastava em direção ao outro lado da casa.

– Por Mérlin – disse Gina abismada. – Eu nunca vi o Rony nesse estado.

– É – concordou Harry – mas já vimos a Mione assim por causa dele, lembra?

– Humhum. Caso Lilá Brown – comentou Gina.

– Eu tenho uma pergunta – falou Harry, fazendo-a se voltar para ele ainda sem erguer o corpo de cima da mesa. – Você está realmente preocupada com o Rony ou está apenas tentando me provocar?

Gina acompanhou o olhar dele para o próprio corpo e sorriu.

– Tentando?

O Sr. e a Sra. Weasley que o perdoassem, mas Harry estava prestes a aceitar a provocação e devolvê-la com tudo o que tinha direito. Suas mãos já estavam praticamente a meio caminho do alvo quando Molly providencialmente gritou pelos dois.

– Harry! Gina! Olhem quem está aqui! – Disse ela da porta da cozinha, numa voz alta e nervosa, que claramente pretendia ser animada.

Ao lado dela, Bridget sorria segurando um prato coberto com um guardanapo branco.

– Ah Deus – gemeu Gina baixinho, finalmente se endireitando e ficando em pé ao lado dele. – Ela trouxe bolinho de novo?

– Isso tem algum significado na linguagem feminina que não estou alcançando? – Perguntou Harry também em voz baixa. Achou melhor confessar a ignorância desse universo que parecia misterioso mesmo para os garotos que tinham tido uma mãe e irmãs a quem observar.

Gina deu um risinho jocoso.

– Claro. Quer dizer: case comigo, Harry Potter? Eu não sou perfeita? Além de beijar, sei cozinhar – respondeu com voz de falsete.

– Uau! Tudo isso com um bolinho?

Ela revirou os olhos não gostando da ironia e se adiantou quando Molly tornou a chamá-los para cumprimentar a visita. Harry a seguiu com um sorriso divertido. Alguns passos a mais, porém, fizeram o sorriso sumir. Ele teria de conversar com Bridget e desfazer as ilusões da garota. De repente se deu conta de que não tinha nenhum preparo para fazer uma coisa assim e a perspectiva o deixou apavorado. Molly Weasley, no entanto, não parecia disposta a respeitar as limitações emocionais de Harry em terminar relacionamentos. Assim, tão logo acabaram os cumprimentos, ela pegou o bolo e convidou Gina para ajudá-la a fazer um chá gelado, enquanto sugeria a Harry que levasse Bridget para dar uma volta pelos jardins. O garoto não pode deixar de notar que a menina ficou empolgada, provavelmente interpretando aquilo como uma espécie de aceitação da família. Isso o fez se sentir absolutamente monstruoso.

– O que estavam fazendo lá? – Ela perguntou apontando para o caramanchão onde ainda era possível ver as quatro faquinhas descascando os pêssegos.

– Rony e eu... e Gina também, estávamos preparando uns ingredientes para as geléias e conservas da Sra. Weasley – explicou enquanto, por segurança, movimentava a varinha e fazia as facas caírem inertes no chão.

Recebeu um olhar cheio de admiração de Bridget.

– Eu jamais imaginaria você fazendo isso.

– Por quê? – Estranhou Harry.

– Ora, você é Harry Potter!

– Ah, ele. Quero dizer, eu... é... Bem, eu sou bem normal. Na maior parte do tempo – juntou se sentindo cada vez mais desconfortável.

Os dois continuaram caminhando lado a lado por algum tempo.

– Você... – começaram juntos e acabaram rindo, um pouco sem graça.

– Fale – disse Harry sonhando em ser dispensado sem ter de fazê-lo. Mas o olhar brilhando que Bridget lhe dirigiu minou as suas esperanças.

– Ok. – Ela respirou fundo. – Hã, meus pais gostariam de conhecer você.

– O quê?

Ele devia ter parecido muito chocado, porque ela se retraiu.

– Não. Por favor, não pense que é algum tipo de intimação paternal – ela deu um risinho nervoso e pareceu completamente desconfortável. – Não pense isso. Eles... eles apenas querem conhecê-lo porque você e eu somos amigos, não? E porque, bem, você é o grande Harry Potter e tudo mais. Não tem nada a ver com a gente. Nada mesmo! Eles só queriam saber se você não gostaria de jantar conosco um dia desses, porque... hum, lá em casa todos te admiram tanto. Mesmo! Sempre torcemos por você, sabe?

– Bridget – decidiu que era melhor fazer aquilo de acordo com a tática dos dentistas: ia doer, então, era melhor que fosse rápido. – Você é uma garota muito legal e eu terei prazer em conhecer os seus pais a qualquer hora, mas seria melhor se eles não achassem que podemos ser mais do que amigos. Então, talvez, jantar na sua casa não seja uma boa idéia.

Terminou de falar já corroído de remorso, mas era melhor assim. A menina continuou olhando para ele com o sorriso meio congelado, como se estivesse ainda absorvendo o que ele tinha dito.

– Claro – respondeu por fim. – Mas eles não pensariam que somos mais do que amigos.

Não conhecia muitos sinônimos de monstro, então ficou repetindo a palavra mentalmente a guisa de xingamento. Ainda assim, ficou com medo que Bridget não tivesse compreendido exatamente o que ele tinha dito. Não tinha lhe escapado que ele negara a possibilidade de serem mais que amigos no futuro e que ela usara a frase no presente. Não era nenhum expert em garotas, mas isso não parecia um bom sinal. De qualquer forma, ou ela não entendera ou não quisera entender. Ok, melhor pegar o boticão e puxar com tudo.

– Er... eu estou saindo com alguém.

Finalmente o sorriso congelado de Bridget sumiu.

– Oh! – Ela olhou para o chão agora bem desconfortável e Harry estava realmente com pena, embora soubesse que não tinha nada o que pudesse fazer. – Então... claro. E é sério?

– É a mulher da minha vida, Bridget – respondeu com sinceridade.

Ela mexeu lenta e positivamente com a cabeça, um pouco abismada.

– Sendo assim... eu não tenho muita chance, não é?

– Eu sinto muito.

– É. Eu também. – O mal estar era palpável e Harry só conseguia implorar mentalmente para que a garota não caísse no choro. Tinha péssimas recordações de episódios envolvendo lágrimas e garotas e não queria repeti-los, até porque, ainda não tinha a mínima idéia de como reagir. – Eu... acho que eu vou indo, então – ela anunciou finalmente.

Embora uma voz na cabeça de Harry dissesse que o educado era pedir que ela ficasse e tomasse o chá com a Sra. Weasley (mesmo sabendo que ela recusaria), ele ficou tão satisfeito em ouvir isso, que apenas concordou e começou a caminhar com ela até a frente da casa.

– Posso te fazer uma pergunta? – Disse ela depois de alguns passos.

– Claro.

– Você finalmente se acertou com a Hermione Granger?

– O QUÊ?

Bridget não pareceu entender a indignação dele.

– Todo mundo na escola falava de vocês andarem sempre juntos. Não é dela que você está falando?

– NÃO! Hermione é minha amiga!

– E daí?

– E daí? Daí que nunca teve nada entre a gente! Isso foi... Eu não acredito que continuaram falando sobre essa bobagem?

Agora, era ela a parecer um pouco chocada.

– Ok, ok. Então não é ela?

– NÃO!

A menina não esperava esta veemência toda e ficou constrangida.

– Certo, então. – Tinham chegado ao portão da frente. – Espero que essa garota, a mulher da sua vida, como você disse, o faça feliz.

– Ela faz sim, obrigado. – Engraçado como a piedade evaporara. Harry sempre detestara os falatórios a seu respeito e este, de início, fora apenas mais um. Mas a longevidade do boato realmente o incomodava.

Sem se preocupar muito que ela o achasse grosseiro ou insensível, Harry se despediu quase secamente e, depois que Bridget aparatou, voltou para casa a passos lentos. Rita Skeeter já se encarregara mais de uma vez a lançar boatos maldosos sobre ele e Hermione e isso já colocara a amiga em algumas situações bem incômodas. Depois da época do Torneio Tribuxo, sempre que Rita publicou alguma coisa, ela alfinetou Hermione. De forma sutil, para que a garota não pudesse reagir. As estocadas mais pesadas vinham por jornalistas amigos dela ou em artigos publicados com pseudônimos. O fato é que, como Rony dizia toda vez que isso aparecia na imprensa, Harry e Hermione tinham se tornado inimigos declarados da jornalista e como os nomes deles vendiam jornais, ela não iria deixá-los em paz.

Tinha caminhado apenas alguns poucos passos além da cerca e um barulho de chicote estourou quase ao seu lado fazendo-o se virar pensando que Bridget talvez tivesse voltado. Mas ao invés dela deu de cara com Hermione.

– Oi – cumprimentou ela com um sorrisinho.

– Olá – Harry não podia negar que estava aliviado em vê-la ali. Quem sabe assim as coisas se resolvessem entre ela e Rony? Estava sentindo falta dos dois amigos junto dele.

– Tudo bem por aqui?

Ele ergueu as sobrancelhas.

– Por aqui com quem?

Hermione pareceu desconcertada com a direta dele.

– Ora Harry, com todo mundo. Com você, com a Gina...

– Com o Rony – ele afirmou. Não era do feitio de Hermione ser hipócrita e ele não deixaria que ela o fosse com ele. A garota mordeu o lábio, mortificada.

– Como ele está?

– Acabado.

– Ai Harry, não me diga isso.

– O que você esperava?

Ela começou a esfregar as mãos uma na outra, num cacoete nervoso.

– Eu não sei... Eu não queria que ele ficasse assim, eu... Ah Harry, você me entende, não entende?

Harry colocou as mãos no bolso das bermudas e olhou para a amiga já sem a mesma certeza que tinha antes.

– Acho que sim. Mas eu também entendo o Rony, sabe? E ele está realmente magoado.

Intensificando as negativas com a cabeça, Hermione pareceu que não saber o que dizer para se justificar. Mas Harry também sabia que não era para ele que ela tinha que explicar qualquer coisa. E, bem, se ela tinha resolvido vir até a Toca, então ela pretendia falar com Rony ou teria continuado sem aparecer.

– Mione... – começou, mas uma voz se sobrepôs a dele chamando-a em voz alta.

Girou a cabeça a tempo de ver Rony correndo na direção dos dois. Hermione congelou ao seu lado.

– Mione... – Rony falou sem fôlego enquanto chegava ao lado deles. – Você...

– Oi Rony.

Depois disso, a coisa ficou um pouco constrangedora, pois ninguém sabia exatamente o que dizer ou por onde começar. De repente, era como se Rony e Hermione fossem estranhos e Harry estava definitivamente sobrando. Crescer é uma droga e o pior é que Harry não podia nem desejar voltar ao tempo em que os dois agiam diferente. Às vezes, parecia que eles nunca tinham agido de outro modo.

– Eu... eu vou entrar – anunciou, mas Hermione o olhou como se implorasse para ele ficar.

– Vai – disse Rony ainda com os olhos fixos em Hermione. – Mamãe e Gina devem estar querendo saber como foi sua conversa com a água morna.

– Está falando da Bridget? – Hermione parecia curiosa e desesperada por um assunto que mantivesse Harry ali. – Que tipo de conversa.

Harry abriu a boca para responder, mas Rony foi mais rápido.

– O Harry a dispensou.

– Oh! E... – ela queria continuar o assunto.

– Agora só falta a Gina terminar com o nojento do francês – afirmou Rony ainda olhando-a intensamente. Não parecia disposto sequer a piscar.

– Rony você não vai se meter...

– Não vai ser preciso. O difícil tem sido manter o Harryzinho aqui e a minha irmã suficientemente longe para que não fiquem grudados o dia inteiro enfeitando a cabeça do pobre Luc.

– Rony! – Reclamou Harry, mas Hermione, apesar de ter feito uma careta para o comentário grosseiro, virou-se para ele com um sorriso radiante.

– É verdade, Harry? Vocês se acertaram? Oh! Mérlin! Que coisa maravilhosa! – Ela pulou no pescoço de Harry abraçando-o verdadeiramente emocionada. – Eu sempre torci tanto. Vocês merecem mais do que ninguém. Ahh era exatamente assim que tinha que ser.

Harry teve de afastar o cabelo cheio da amiga para poder voltar a respirar, mas retribuiu o abraço. Era um doido, um idiota descuidado e um mentiroso (ou quase isso), mas não podia negar que nunca estivera tão feliz em toda a sua vida. E queria ver se alguém seria capaz de condená-lo. Ele merecia cada minuto e estava querendo ser egoísta, ao menos uma vez.

– Valeu, Mione!

O abraço durou um pouco mais do que o normal e quando Harry conseguiu afastá-la, percebeu que a amiga tremia e ele sabia que não era por ele e Gina, mas porque ele ia deixá-la a sós com Rony. Apesar do olhar de súplica, Harry se despediu dos dois e disse que ia entrar.

Durante todo o tempo até Harry sair e mesmo depois, Rony manteve os olhos fixos em Hermione e aquilo não só a estava deixando incomodada, mas absolutamente em pânico. Não queria magoar Rony. Mas, e se eles ficassem juntos e não desse certo? Se depois de algum tempo percebessem que era um erro e isso acabasse com a amizade deles? E se um dia, Rony deixasse de gostar dela daquele jeito? E, então ela ficaria triste e ferida sem o seu amor e sem o seu amigo. Podia arriscar tudo, menos perder Rony. Preferia tê-lo apenas como amigo do que perdê-lo por inteiro ou perdê-lo para sempre. Ahh droga! Por que eles tinham de ter crescido? A amizade deles não valia um risco tão grande.

– Você vai ficar olhando para os lados e torcendo as mãos para sempre? – Perguntou Rony incisivo, os olhos queimando sobre ela.

– Rony, eu... A gente...

O rapaz deu um passo em direção a ela ficando bem perto e Hermione imaginou que suas pernas deviam ter se transfigurado em pedra para não se mexerem e a deixarem ficar naquela situação. Por isso, respirou fundo, tomou coragem e falou rápida e eficientemente.

– Rony olha, eu sei que nós temos coisas mal resolvidas – falou com audácia e ele ergueu a sobrancelha – mas eu não estou em condições de me envolver com ninguém agora. Você sabe disso. Somos amigos há tanto tempo e eu realmente não quero que fique magoado comigo, então, porque não esquecemos o que houve em Chenonceau?

– Esquecer? – Não havia indignação nenhuma na voz dele. Talvez, decepção.

– Por favor, Rony. Pelo menos por enquanto. Podemos continuar como sempre fomos. Eu não consigo ficar muito tempo longe de você... e do Harry e da Gina. Você sabe disso. Não podemos simplesmente fazer de conta que não aconteceu, ou que aconteceu, mas que isso não alterou nada entre a gente.

– Apenas amigos?

– É – Hermione respondeu cheia de esperança.

– Não quero mais ser seu amigo, Hermione.

Os ombros da menina baixaram.

– Mas Rony...

– Me desculpe, mas você não me interessa mais como amiga. E eu acho que não estou a fim de fingir que isso ainda é possível.

– Francamente, Rony... – ela se preparou para argumentar.

– Eu não vou discutir, Mione. Não posso fazer isso dar certo sozinho e não vou nem tentar, mas também não vou me acomodar a essa situação apenas porque é mais confortável para você.

– Você disse que esperaria, eu... – ela voltou ao mesmo argumento que lhe lançara às margens do rio Cher, mas havia um certo desespero na voz dela e os olhos estavam cada vez mais brilhantes.

– É. Eu disse, mas cansei. Não estou mais a fim de esperar nada, nem de ficar querendo que você goste de mim como eu gosto de você. Enchi a paciência desse jogo.

– Eu não acredito que esteja dizendo isso.

– Que estou desistindo? Por quê? Você já desistiu, não desistiu?

– Não da nossa amizade. Ahh Rony, você sabe o quanto você e o Harry são importantes para mim. Não pode estar me dizendo isso.

– Pois eu estou. É isso, Mione. Você não pode continuar minha amiga como é do Harry. Não sou seu irmãozinho, não quero e não vou ser. E também não quero ficar por perto se você não quer nada comigo.

Ela abriu a boca chocada, os olhos arregalados e Rony não teve dúvidas de para onde seu cavaleiro ia se mover naquele tabuleiro.

– Você escolhe, Mione! Ou é nada ou é isso – e antes que ela pudesse reagir ele a envolveu fortemente pela cintura e beijou-a aproveitando os lábios entreabertos e mergulhando nela sem permitir que ela respirasse. Uma coisa o beijo em Chenonceau tinha ensinado a Rony: Hermione pensava mais devagar quando ele tocava nela. Tinha refletido sobre isso durante todo o final de semana e mais de uma vez cogitara usar isso a seu favor, só não o fizera por orgulho. Disse a si mesmo que faria apenas se ela viesse procurá-lo. E... ela tinha vindo.

Hermione, no entanto, não se abandonou tão facilmente. Ela colocou as mãos nos ombros dele e o empurrou com força até que ele rompesse com o contato dos lábios, mas não conseguiu que Rony soltasse a sua cintura.

– Não pode fazer isso, Rony!

– Por que não? Não somos mais amigos, lembra?

– Não pode sair me beijando sempre que tem vontade, desse jeito! – Ela lhe bateu com força no ombro.

– Desculpe – ele retornou com cinismo – mas eu não ouvi você dizer não.

A garota abriu a boca indignada, parecia prestes a mordê-lo de raiva e Rony adorou a reação. Estava na hora de Hermione parar de ver tudo tão racionalmente.

– Não? É o que você quer ouvir? Então eu vou gritar bem alto para que você ouça Ronald Weasley – ela continuava martelar o punho furiosamente no ombro dele. – NÃ...

Rony simplesmente aproveitou o território que o grito escancarara e voltou a beijá-la com lábios, língua, alma. Hermione bateu, pulou, empurrou, arranhou, mas Rony ainda não a ouvira dizer não e, se dependesse dele, ela não ia dizer nada por um bom tempo. Beijou-a até que o ataque passasse, até que ela parasse de espernear até que finalmente correspondesse. Então ele afastou o rosto do dela e a admirou. Era muito bom voltar a ver Hermione daquele jeito. Olhos brilhantes, rosto afogueado. Furiosa. Viva! Fazia dois anos que tudo o que ele via era a sombra pálida e cordata da menina por quem ele se apaixonara. Se era brigando com ele que Hermione voltava a ser o que era, então, era assim que ia ser.

– Quando foi que você virou um... um cretino sem moral, hein? – Ela voltou a forçar os braços para que ele a deixasse.

– Foi quando deixei de ser seu amigo.

– PARE DE DIZER ISSO!

Rony aproveitou que estavam ao lado da cerca de pedra que cercava a propriedade dos Weasley e erguendo-a pela cintura a obrigou a sentar no muro. Depois, com a mesma decisão abriu os joelhos dela se acomodou entre eles, continuando a segurá-la. Hermione estava cada vez mais indignada.

– Você acha que eu vou... ?

– Acho que faz algum tempo que você está precisando de um bom amasso com alguém que seja louco por você.

Hermione arregalou os olhos, mas Rony notou que ela estava ofegante com a proximidade dos dois. Apertou-a mais contra ele e aproximou o rosto do dela de forma que as bocas ficassem quase coladas.

– Mas se você disser não agora – sussurrou – eu juro que vou ouvir... Afinal, não posso te forçar a me amar – disse isso e esperou. Não se afastou um milímetro e esperou. Um segundo, cinco, dez. Devia ter forçado-a a beijá-lo até que ela dissesse sim. Quinze segundos. Por favor, faça alguma coisa! Vinte. Se for para me mandar longe, não faça nada.

Apavorado, Rony se separou dela o suficiente para olhar nos seus olhos. Hermione parecia totalmente perdida.

– O que eu faço, Rony? – Cochichou ela, mas o rapaz notou que as pernas dela o tinham envolvido sutilmente.

– Eu sou seu, querida. Faça o que quiser – respondeu no mesmo tom.

Ele falou meio em tom de piada, mas Mione como que possuída por alguma coisa poderosa, o levou a sério e, dessa vez, quem beijou foi ela. E com vontade. A amizade tinha definitivamente ido para o espaço.



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N/B: Ser beta das fics da Sally chega a ser covardia... Trabalho: nenhum. Prazer: sempre! É o paraíso da betagem! ;D - Sério, Anam! Você é tão cuidadosa ao escrever para nós, que só me resta aplaudir e me refastelar no privilégio de ser a primeiríssima a ler! =D - Irrepreensível! Em cada detalhe! *Assobiando e agitando pon-pons aqui* - Agora, deixando a beta de lado e acudindo a fã agitada dentro de mim... EU QUERO UM RON DESSE PARA MIM!!!! E o danado ainda vem com " Faça de mim o que quiser..." Afff, quase tive uma síncope apoplética aqui! Musos da literatura, acudam-me!!!! ;D - Para você, autora inspirada e talentosa, os beijos e parabéns da sua beta!! Para vocês, leitores, ajeitem-se confortavelmente e desfrutem, porque o capítulo está acachapantemente FOOOOFOOOOO!!!! Beijos a todos!!!


N/A: Apenas para diminuir a má impressão de quem está lendo as minhas duas fics, rsrs. Eu ainda sou querida, viram?

A música é What can I do?, do The Corrs. A letra e a tradução estão na comu do Orkut e a música no meu Multiply. (163 integrantes!!!! Muito obrigada!)

Gente, infelizmente, minhas N/As estão encolhendo de tamanho (falo infelizmente porque adoro escrevê-las), mas em compensação tenho atualizado com mais freqüência, não é? Mas é isso, ou demoraria muito mais tempo, então peço a compreensão dos que gentilmente comentam (por favor, não parem é tão bom saber o que vcs acharam). Hj para completar, ainda estou sendo expulsa do PC. Então, espero que entendam e aceitem meu obrigada geral e de coração.


Um beijo enorme e até o próximo!
Sally

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