Across the Universe



Capítulo 8


Across the Universe





Abriu os olhos bem devagarinho e ainda piscou várias vezes lentamente. Talvez tivesse sido apenas um sonho e Harry não queria acordar. Não queria ver que era outro dia, que já tinha amanhecido. E se tudo aquilo não tivesse sido mais que a sua imaginação? Então, Gina ainda era apenas a amiga com quem ele havia crescido, a irmã do Rony, a sua ex-namorada. Porém, havia algo de diferente. Uma quentura gostosa que vinha de dentro dele e não da manhã de verão que se anunciava quente, uma sensação nos lábios que lembrava uma coceira engraçada e prazerosa. Acabou abrindo os olhos em definitivo enquanto se esticava ao comprido na cama e colocava as mãos sob a cabeça. Não, tinha certeza, nenhum sonho teria condições de deixá-lo tão feliz. Olhou o sol brincando no teto e riu sozinho, ao mesmo tempo em que avaliava o grau de loucura em que vinha mergulhando na última semana. Sentia-se como um inseto que não conseguia evitar ir em direção a uma luz que, provavelmente, iria queimá-lo até os ossos.

Sinceramente? Harry estivera crente, durante todo o último ano, de que conseguira superar muito bem seus sentimentos por Gina. Na verdade, ele não ficaria na casa dos Weasley se não achasse isso realmente. Se ele acreditasse que, em uma semana, com os dois vivendo sob o mesmo teto, eles acabariam passando boa parte de uma noite maravilhosa, aos beijos, no quarto dela, nunca teria aceitado o convite do Sr. e da Sra. Weasley. Nunca.

Estava sorrindo de novo. Provavelmente não conseguiria mais parar sorrir. Não enquanto fosse possível lembrar da noite anterior e, ao mesmo tempo, ter certeza de que aquilo aconteceria de novo, e de novo, e de novo. Fechou os olhos lembrando da sensação, do calor, da textura, do cheiro dela... Sentou na cama de supetão colocando os pés no assoalho de madeira. Era melhor não lembrar com tantos detalhes ou acabaria indo parar novamente sob o chuveiro gelado. Seria a terceira ducha em menos de 24 horas (contando a que ele tomara, na noite anterior, quando os dois acharam que era melhor ele ir para o próprio quarto). E, com certeza, ele acabaria ainda mais louco se continuasse a contar isso também.

Além do mais, não havia nada resolvido entre ele e Gina. Os dois mal tinham conversado. Na verdade, estavam com saudades demais para conversar. Mas Harry sabia que, mais cedo ou mais tarde, teriam de fazer isso. Afinal, Gina ainda tinha um namorado e, deu um resmungo abafado, não era ele. Também havia Bridget. Harry não queria, de forma alguma, magoar a garota. Logo, era melhor conversar com ela antes que ele e Gina continuassem a... Continuassem exatamente o quê? O que tinham feito na noite anterior? O rapaz enfiou as mãos nos cabelos já normalmente revoltos. Era uma temeridade absoluta! Ele poderia fazer uma lista dos porquês aquilo tudo era o caminho do desastre. Estava sob o teto dos pais e irmãos dela. Tudo bem que eles o aprovavam, mas isso não queria dizer que ele poderia abusar. E era tão óbvio que os dois continuariam afundando naquele delírio mais e mais. Além disso, havia também aquela parte de Harry que se perguntava se ele queria mesmo algo tão sem limites quanto o que ele parecia sentir por Gina. Não é que ele quisesse se tornar um recluso ou um cara sozinho para o resto da vida, apenas... Apenas com Gina era diferente do que com qualquer outra garota. Era... maior do que ele...

Ainda assim, adoraria que esse fosse todo o problema. Não era. Havia coisas mais sérias, mais graves, que ele não contara a ninguém. Perguntava-se se Rony iria querer tanto que ele e Gina voltassem se soubesse, e o que diria Hermione dele ter escondido algo tão grave dos dois melhores amigos. Mas esse também era um dos problemas dele estar com Gina. Mesmo tendo toda aquela imensa lista de “nãos” diante dos olhos, Harry só conseguia pensar que ela ocupava o quarto ao lado do seu e de que ela, ao invés de se manter distante como fizera nos últimos dois anos, havia correspondido a todos os seus beijos.

Parou de raciocinar por um segundo enquanto voltava a ser invadido pela imagem de Gina em seus braços, o cabelo dela se espalhando como fogo pelas suas mãos, os suspiros cada vez que eles paravam para respirar um pouquinho. O devaneio durou o suficiente para que Harry se erguesse da cama e, passando a mão na toalha de banho, rumasse resignado para o chuveiro. Era melhor encarar os fatos. Não tinha a menor condição de continuar a agir sensatamente. Ou se acertava com Gina e esquecia todas as coisas que o fizeram evitar se envolver desde que a guerra acabara, ou acabaria se transformando em uma enorme uva passa muito branca e de óculos redondos.

Uns vinte minutos depois Harry, com os cabelos molhados, descia as escadas do segundo andar em direção à sala de estar da Toca. Percebeu enquanto cruzava pelo corredor que a porta do quarto de Gina estava fechada e não soube dizer se ela ainda estava ali ou não, mas também não teve coragem de bater. Contudo, precisou resistir bravamente ao impulso de colar o ouvido à madeira para divisar algum movimento lá dentro. No andar de baixo, a casa estava anormalmente quieta e vazia. Ele sabia que a Sra. Weasley não esperava que nenhum deles acordasse antes do meio-dia nas férias, por isso ela costumava fazer o almoço um pouco mais tarde o que justificava a ausência do som de panelas. Não havia sinal de Rony tampouco e Harry achava que não veria o amigo tão cedo. Conhecia Rony quando estava de mau humor. Ele costumava ficar insuportável e recluso. Por outro lado, sendo honesto, não tinha certeza de que cruzar com o amigo, no momento, fosse a melhor coisa a desejar.

Como devia ser pouco mais nove horas da manhã, Harry achou que, se não houvesse ninguém na cozinha, ele conseguiria surrupiar algumas torradas e dar um passeio no jardim para colocar a mente em ordem.

Mas havia alguém na cozinha. Harry se escorou ao batente da porta e ficou admirando Gina por um instante. A garota estava ao lado do balcão segurando um copo de suco de abóbora pela metade com uma das mãos e a outra pousada sobre a boca. Para ele, ela estava absolutamente maravilhosa nuns shorts e camisetas velhíssimos, os cabelos presos num rabo de cavalo frouxo, um dos pés descalços escorado sobre o outro joelho. Parecia estar longe demais para se dar conta de que ele estava ali. Harry sorriu conjeturando se, por acaso, ele não fazia parte do “planeta” em que Gina se encontrava naquele momento. A possibilidade o fez caminhar bem devagar até chegar por trás dela e não resistir a uma enorme necessidade de provocá-la. Harry se aproximou o suficiente para quase encostar os lábios na curva do pescoço de Gina e inspirou o perfume dela subindo até chegar à altura do ouvido. Pode ver a pele da menina arrepiar antes dele dizer baixinho:

– Bom dia.

Gina tremeu de alto a baixo e soltou o ar com um ruído rouco antes de se virar para ele com os olhos faiscando. Harry se obrigou a morder o lábio para não rir da expressão dela. Por um instante foi difícil saber se Gina iria azará-lo pelo susto ou ia pular no seu pescoço (de um jeito bom, claro). Para a sua decepção – porque ele jurava que ela tinha gostado e que seria a segunda alternativa – Harry não pode descobrir o que Gina ia fazer. Um animado "bom dia, crianças" fez a garota se mover rapidamente para longe dele e os dois baixaram as cabeças para esconder que tinham corado. O Sr. Weasley, no entanto, não pareceu notar. Não tinha os olhos neles, mas na edição matutina do Profeta Diário.

– Caíram da cama? – Perguntou bem humorado sentando-se à mesa.

Harry sorriu meio sem graça enquanto enfiava as mãos nos bolsos da bermuda.

– Bom dia, Sr. Weasley.

– Ué, papai – estranhou Gina, com a voz ligeiramente alterada – achei que há esta hora, você já estaria no Ministério.

– Ah, esta é a parte boa de se ter uma festa de grandes proporções no sábado. Mesmo que o nosso Ministério não tenha sido anfitrião, a maioria dos Departamentos esteve envolvido em algum tipo de cooperação mágica e isso significou folga na segunda de manhã. Só terei expediente à tarde. – Ele depositou o jornal sobre a mesa encarando os dois. – É claro que isso só é possível quando não ocorre nada de grave, como o que aconteceu na última Copa Mundial. Vocês devem lembrar.

– Como a gente ia esquecer, papai?

O Sr. Weasley lançou um olhar entristecido para Harry.

– Eu sei, eu sei... Vocês já tomaram café? – Perguntou, mudando de assunto.

– Eu estava tomando um suco – respondeu Gina. – Mas o Harry tinha acabado de entrar na cozinha quando você chegou. – Ela se virou para o garoto numa clara tentativa de parecer casual. – Você queria alguma coisa? – Dessa vez Harry implorou do fundo do seu coração que a Sr. Weasley tivesse voltado novamente os olhos para o jornal e não tivesse notado nem a expressão que ele não conseguiu conter, nem o vermelhão em que Gina ficou ao vê-la. A garota engoliu em seco arregalando os olhos e juntou o mais rápido que pode. – Café! Você quer tomar café, Harry?

Sem saber se ria da situação ou aparatava dali, Harry apenas confirmou com a cabeça. Gina começou a se movimentar com rapidez pela cozinha colocando sobre a mesa mais frutas, uma jarra de suco e, passando por trás de Harry para ir acender o fogão, lhe deu um empurrão cheio de significado em direção à mesa. Isso deixou o garoto novamente à beira de um ataque de riso. Felizmente o Sr. Weasley pareceu estar ainda concentrado no jornal, mas tão logo Harry sentou, ele fechou o Profeta e agradeceu Gina que colocava uma xícara de chá na sua frente.

– O jornal falou alguma coisa sobre a festa de sábado, Sr. Weasley? – Quis saber Harry numa tentativa de desviar os próprios pensamentos. Na verdade, não tinha o menor interesse pelo que quer que a imprensa bruxa tivesse comentado sobre a festa.

– Claro que sim. Acha que eles perderiam a oportunidade? – Disse o Sr. Weasley com voz de riso. – Várias críticas à organização francesa, outras tantas à Confederação Internacional e, claro – ele olhou para Harry com um ar resignado – várias insinuações ao seu respeito.

Harry revirou os olhos.

– Algo que eu deva dar atenção?

– Oh não. Nem se canse.

– Deve ser o mesmo lixo de sempre, Harry – disse Gina colocando uma fôrma de pão sobre a mesa e sentando em frente a ele. Harry gostou do tom irritado da voz dela. – Você sabe que aquele bando de urubus lesados não perde a oportunidade de citar o seu nome para venderem mais jornais.

– Eu gostaria muito que eles achassem outra pessoa para inventar notícias. Estou cansado de ficar desmentindo boatos idiotas. Sabe quantas vezes eu “dei entrada no St. Mungus com complicações devido a feitiços que recebi durante a guerra”? Só no ano passado foram oito vezes, de acordo com Rita Skeeter, e em todas as vezes, os curandeiros disseram que eu estava com um pé na cova. Quero ver a tiragem quando eles anunciarem a minha morte.

– E a sua ressurreição, então? – Caçoou Gina.

– Bem, eles juntariam isso a uma campanha para me matar, pois eu teria conseguido ficar tão perigoso quanto Voldemort.

– Uh – Gina fez uma expressão chocada – já pensou na manchete? Harry Potter invade o Ministério da Magia e exige que o Ministro lhe jure fidelidade eterna.

– Hei, boa idéia – disse Harry.

O Sr. Wealey que até então apenas acompanhava, interferiu.

– Não seria melhor você exigir o cargo de Ministro?

– Ora papai, pense grande! – Exclamou Gina alegremente. – Com tanto poder, por que o Harry vai querer ser Ministro? Eu acho Senhor do Mundo um título bem mais adequado e todos os Ministros e Presidentes do mundo mágico vão fazer fila para beijar a barra das vestes dele. Uau!! Isso seria uma manchete realmente legal! Já imaginaram a foto da capa?

Harry não agüentou mais, ao imaginar a tal foto, e gargalhou acompanhado pelo Sr. Weasley.

– Você é impossível Gina – comentou o pai afastando os óculos para enxugar os olhos, ao mesmo tempo em que ela caía na risada junto com eles.

– Que manhã animada – comentou a Sra. Weasley entrando pela porta que vinha do pátio. Ela trazia numa das mãos a tigela com que dava comida às galinhas e, na outra, o que pareceu a Harry ser uma revista. Pela capa, provavelmente, o Semanário das Bruxas. – Posso saber o porquê de tanto riso?

– Estamos planejando a ascensão do Harry a Senhor do Mundo, mamãe – informou Gina muito satisfeita.

– Que ótimo – retrucou Molly. – E quando será isso?

– Assim que ele morrer e ressuscitar mais poderoso que qualquer bruxo que já existiu. Acho que vão inclusive mudar o nome da Ordem de Mérlin. Ordem de Harry soa tão bem.

Apesar do tom jocoso de Gina, que continuou a fazer Harry e o Sr. Weasley rirem, a Sra. Weasley ainda tinha os acontecimentos da guerra e a perda de um filho pesando demais sobre ela e não pareceu achar tanta graça. Não gostava de brincadeiras que falassem em morte, ainda mais se referindo a alguma de suas crias. Harry incluído.

– Estamos brincando, mamãe – disse Gina vendo a expressão dela.

– Eu sei, apenas... – a Sra. Weasley deu um profundo suspiro enquanto largava a tigela que carregava e se voltava para eles com um sorrisinho. – Ora, não liguem para mim, estou ficando velha.

– Molly...

– É verdade, Artur. Mas, se querem saber, acho que o mundo não teria ninguém melhor para ser o seu Senhor do que o Harry.

– Eba! – Festejou Gina. – Você já tem o voto da mamãe.

– Obrigada pela confiança, Sra. Weasley, mas o cargo não me atrai.

– Ora... – a Sra. Weasley fez uma caretinha – mas pelo menos você já teria uma bela rainha.

Harry olhou imediatamente para Gina, mas ela não correspondeu o seu olhar. Parecia ter achado subitamente interessante a revista que a mãe segurava em frente ao corpo. A expressão dela fez Harry se dar conta de que a Sra. Weasley certamente não poderia estar se referindo a Gina. Isso fez com que ele também voltasse os olhos para Molly e, assustado, para a revista que ela tinha nas mãos. Bridget sorria para ele da capa de papel lustroso.

– Bem, de qualquer forma, querido, ao menos dessa vez Rita Skeeter foi bastante elogiosa com a menina. Parece que ela conversou com Bridget por uns instantes na festa. Acho que foi quando você foi atrás do Rony.

As entranhas de Harry baixaram desagradavelmente vários centímetros.

– Eu posso, Sra. Wealey?– Pediu apontando para a revista.

Ela prontamente lhe estendeu o exemplar.

– Talvez ela tenha exagerado um pouquinho – comentou enquanto Harry lia a manchete em letras vermelhas e bregas sob a imagem de Bridget, fotografada no Salão Luis XIV de Chenonceau.

O novo Amor de Harry Potter.

– Ahhh meu Deus! – gemeu Harry folheando a revista até chegar à reportagem.

Estava ilustrada com várias fotos de Bridget no mesmo cenário da capa, havia uma dos dois dançando e outra (que droga!) deles caminhando pelo bosque atrás do castelo de mãos dadas. Ele sabia que não ia querer saber nada do que estava escrito ali, ainda assim era impossível deixar de ver, mesmo de relance, todo o tipo de insinuação melosa que o artigo continha: “Harry Potter não está mais sozinho”; “– Ainda estamos nos conhecendo, falou a linda mais nova dona do coração do Eleito”; “a química entre os dois é visível”; “a Srta. Mansfield tem todas as condições de fazer o maior herói do mundo bruxo muito feliz”. – Eu não acredito que ela foi tão ingênua a ponto de falar com a Rita.

– Coitadinha – disse Gina de um jeito desagradável enquanto tentava olhar a revista se escorando sobre a mesa. A disposição para defender Harry das maldades escritas por Rita, certamente não se estendia a Bridget. – Eu garanto que nem passou pela cabeça dela aparecer no Semanário das Bruxas como “sua” namorada.

– Gina, ela não disse essas coisas. Você sabe as bobagens que a Skeeter inventa – contemporizou o Sr. Weasley fazendo com que Harry tivesse um imenso assomo de gratidão por ele.

– Inventa? – Molly continuava achando que, se saía numa revista, tinha um fundo de verdade. – Bem, ela exagera muitas vezes, mas eu achei que...

– Isso aqui é um monte de... – Harry segurou o palavrão – de mentiras, Sra. Weasley. – Ele fechou a revista com raiva depois de ler, numa outra passada de olhos, “espera-se para breve o anúncio do noivado”. – Bridget foi apenas um par para a festa. Não há nada entre a gente.

– Mas ontem quando ela veio aqui em casa...

– Veio como amiga, Sra. Weasley. Por favor, acredite em mim. Não tem uma única palavra nesse artigo que seja verdade – acrescentou quando não conseguiu impedir Gina de capturar a revista que ele havia fechado e começar a folheá-la.

– As fotos também não são verdadeiras? – Perguntou a garota num tom falsamente casual, com o rosto escondido pela revista.

Harry ia retrucar, mas o ciúme dela era tão evidente que, de alguma forma, sua imensa irritação com Rita Skeeter passou e ele apenas se encostou no espaldar da cadeira e se serviu de um copo de suco.

– Tanto quanto as que você aparece dançando com Luc – disse sem esconder a satisfação.

O Sr. Weasley puxou um pouco a revista sem tirá-la das mãos de Gina e olhou as fotos. Tinha um ar extremamente divertido e isso deu a Harry a quase certeza de que ele tinha pegado com clareza o teor das últimas frases. A Sra. Weasley também os olhava com uma sobrancelha erguida, como se estivesse percebendo alguma coisa.

– Não me parecem montagens – comentou Artur.

– É... não parecem – concordou Gina fechando a revista e passando-a para o pai.

Depois pegou um pêssego da fruteira e começou a descascá-lo como se nada no mundo merecesse mais atenção do que aquilo. Era óbvio que estava se esforçando para não parecer aborrecida, porém mal conseguia disfarçar o bico. Harry, no entanto, a achou tão adorável que teria pulado por cima da mesa e a beijado ali mesmo, se os pais dela não estivessem na sala. E, com certeza, era exatamente isso que a sua expressão denunciava naquele momento.

– É – comentou a Sra. Weasley num tom para lá de desconfiado e olhando de Harry para Gina – pelo visto não tem nada entre vocês mesmo. Hã... aconteceu alg...

– E o Rony, mamãe? – Gina interrompeu rapidamente. – Ele já deu sinal de vida hoje?

Foi como se Gina tivesse apertado no botão certo. Imediatamente a expressão desconfiada da Sra. Weasley passou para aflita.

– Ah, eu estou tão preocupada com o Rony. Nunca tinha visto o meu filho no estado em que ele chegou em casa daquela festa. E vocês viram como ele passou o dia de ontem? Ele contou alguma coisa a você, Harry?

– Nadinha, Sra. Weasley. E eu bem que tentei.

– Você poderia tentar falar com ele, Artur?

– Poderia – respondeu o Sr. Weasley cobrindo uma torrada com geléia – mas se ele não contou para o Harry porque iria contar para mim?

A Sra. Weasley não pareceu gostar muito do argumento.

– Eu falei para ele ir com calma. Eu tenho certeza de que aconteceu alguma coisa no meio dos planos malucos dele – falou quase para si.

– Planos? Que planos? – Perguntou Gina. – Está sabendo de algo que a gente não sabe, mamãe?

Harry tinha certeza de que vira a Sra. Weasley corar poucas vezes e esta foi uma delas.

– Não estou sabendo de nada, Gina. E se soubesse, deixaria para o seu irmão contar. Agora, se vocês já tomaram café, eu vou adiantar o almoço. Podem ir liberando a cozinha. Gina, você me ajuda. E, Harry querido, você me faria o favor de tentar saber como o Rony está? Quem sabe ele acaba dizendo algo para você?

– Claro, Sra. Weasley.

Mesmo que a sua prioridade fosse conversar com Gina e não com Rony, a Sra. Weasley não deixou lhe deixou muita opção e Harry acabou subindo os três andares até o quarto do amigo. Não é que ele não estivesse preocupado, mas a verdade é que as brigas de Rony e Hermione não pareciam tão desestabilizadoras quando ele tinha outras coisas para pensar. Coisas que envolviam Gina, beijos, horas com ela nos seus braços... Sacudiu a cabeça e pôs mais energia nos passos para chegar logo até a porta de Rony. Bateu com força umas duas vezes, como não recebeu resposta, girou a maçaneta e entrou. O quarto estava abafadíssimo, as cortinas e as janelas cerradas. Para quem entrava, parecia não haver uma única molécula de ar lá dentro.

– Rony? – Tentou divisar o amigo na semi-escuridão. – Cara, você vai morrer aqui dentro se não abrir a janela.

Harry cruzou o quarto e escancarou as cortinas e persianas para que o ar voltasse a circular. Rony, que estava sentado na cama, as costas coladas à parede, se limitou a erguer uma das mãos diante dos olhos. Era óbvio que ele estava acordado há muito tempo, e Harry se perguntou, pelo jeito dele, se Rony sequer tinha dormido.

– Sua mãe está preocupada com você.

O outro rapaz apenas lhe devolveu um olhar mortiço.

– É o que as mães fazem: se preocupam. É uma espécie de passatempo delas.

– Também estou preocupado.

– Você não é minha mãe, Harry.

– Ainda sou seu amigo, não sou?

Rony deu de ombros e voltou a olhar para o nada. Harry puxou uma cadeira e sentou em frente a ele.

– Me conta o que aconteceu – pediu com firmeza, dando mostras de que não desistiria fácil desta vez. Rony, no entanto, reagiu de um jeito bem menos combativo.

– Eu beijei a Mione – respondeu, sem nenhuma emoção na voz.

– Oh! – Harry não podia dizer que estava surpreso, mas também não sabia se poderia continuar aquela conversa. Sempre achava estranho conversar sobre Hermione com Rony. Pelo menos aquele tipo de conversa. – E como foi? – Perguntou incerto e recebeu em troca um olhar quase assassino.

– Fantástico! Olhe só para mim? Não pareço um cara que tem tudo o que quer? Vamos nos casar mês que vem e você vai ser o nosso padrinho.

– Tão ruim assim?

Rony baixou a cabeça frustrado.

– Ela... ela não quer ficar comigo, Harry.

– Não pode ser Rony. A Mione sempre gostou de você.

– O que você sabe? – Questionou o outro, cético. – Alguma vez ela te disse alguma coisa? Não. Eu sei que não.

Isso era verdade, mas Hermione sempre fora clara, ao menos para Harry, quanto a isso. E, embora ele tivesse consciência que por muito tempo agira com os dois melhores amigos com grande egoísmo, pois tinha medo de que se os dois se acertassem ele fosse excluído, Harry também sempre tivera certeza de os dois acabariam ficando juntos.

– É, falar ela não falou, mas, bem, mais de uma vez ela demonstrou. Você lembra como ela reagiu quando você namorou a Lilá? Ou nas vezes em que você saiu com alguma garota no último ano? Isso é bem claro para mim.

– É – Rony concordou tristemente. – Então me diz por que quando as coisas estão todas ajeitadas para dar certo, ela foge?

– Talvez, ela ainda precise de um tempo. Por causa do pai dela – sugeriu Harry.

– Foi o que ela disse.

– Então, isso não quer dizer que ela não queira ficar com você. Quem sabe se você for conversar com ela...

– Não.

– Mas Rony...

– Não, Harry. Eu não vou fazer mais nada. Agora quem tem que movimentar o jogo é ela. Eu já deixei bem claro o que eu quero, mas não vou ficar me humilhando. Ainda tenho meu orgulho.

– Essa é uma frase idiota.

– Exatamente. Vou fazer camisetas: orgulho de ser idiota. Mas não vou rastejar.

Os dois ficaram em silêncio por um tempo, até Harry falar com ironia.

– Certamente ela não vai achar que você está rastejando quando for informada que você está sem sair do quarto e sem dormir e, bem, quase sem comer, pelo que pude observar ontem... e hoje.

– Quem contaria isso para ela?

– Gina.

Rony soltou uma imprecação.

– A Gininha não pode manter a língua dentro da boca?

– Gina e Hermione são amigas, Rony. Mas, em minha opinião, sua irmã é o menor dos seus problemas. Continue assim e você vai ter é a Sra. Weasley tentando resolver o seu problema.

Imediatamente foi possível ver alguma vida voltando ao rosto de Rony.

– Ela não faria isso?

– Vai querer pagar para ver?

– Inferno! É exatamente o que eu preciso: minha mãe envolvida na minha vida sentimental. – Rony levantou da cama de um salto e foi em direção ao roupeiro. Abriu a porta e ficou olhando para dentro durante um tempo. – Quando foi que tudo ficou tão complicado, hein?

– Eu sei lá – respondeu Harry com sinceridade.

– Tudo o que tínhamos de fazer era mandar o cara de cobra para o quinto dos infernos para poder viver as nossas vidas. Por que simplesmente não fazemos isso?

Harry não respondeu. Não era uma resposta que ele dominasse. Dumbledore, certa vez, lhe falara das cicatrizes invisíveis que ficam depois de uma luta ou de uma grande dor. Ele se referia à Sirius e também ao Snape. Harry, provavelmente, era muito garoto para compreender como alguma coisa, que já tinha passado, podia continuar a machucar alguém mesmo quando sua vida parecia estar boa. Mas naquela época, Harry ainda não carregava em si tantos cadáveres, tantas perdas, tantas imagens de pesadelo que ele tentava esquecer todos os dias. Agora, ele conseguia entender muito bem o que Hermione estava sentindo, mas também compreendia Rony.

– Eu... nunca gostei de nenhuma outra garota em toda a minha vida – disse Rony ainda com o rosto escondido atrás da porta do roupeiro aberta.

– Eu sei – retorquiu Harry. – Você vai desistir?

O outro estendeu a mão para dentro do guarda-roupa e tirou uma toalha. Depois se voltou para ele e deu de ombros.

– Acho que eu só quero é ficar quieto – respondeu por fim e Harry ficou sem saber o que dizer para ajudá-lo. Não lhe agradava nem um pouco ver Rony sofrendo daquele jeito e ele sabia, quase por intuição, que certamente Hermione não estaria melhor. – E você?

– O que tem, eu? – Quis saber Harry tentando conter um sacolejar estranho dentro dele.

– Vai continuar saindo com a “água morna”?

– Está se referindo à Bridget?

– Quem mais?

As palavras pararam enroscadas na língua de Harry e ele não conseguia achar qual delas poderia servir de resposta. Ele já tinha sido bem mais rápido para mentir e despistar os outros, embora, verdade seja dita, nunca tivera de fazer isso com o Rony. Devia parecer um peixe de aquário abrindo e fechando a boca. O amigo franziu a testa.

– Aconteceu algo que eu não estou sabendo?

– Não. Quero dizer...

Rony estreitou ainda mais os olhos.

– Foi você quem tomou banho de madrugada?

– O quê?

– Eu não dormi esta noite e ouvi claramente quando alguém entrou embaixo do chuveiro de madrugada. Era você?

– O que tem a ver se eu tomei ou não banho de madrugada.

– Nada. É só um pouco suspeito.

– Você está precisando dormir, Weasley. Está começando a ter alucinações.

– É pode ser – disse Rony ainda desconfiado. Ele foi até a cômoda, abriu uma gaveta e pegou uma muda de roupas limpas. – Poderia ter sido a Gina, ela fez uma barulheira no quarto dela na outra noite. Você sabe o que foi?

– Deve ter sido quando ela arrancou o papel de parede.

– Gina te contou isso ou você esteve no quarto da minha irmã?

Que ótimo! Quando foi que ele tinha ficado tão estúpido? Ainda poderia negar, mas não achou que isso fosse ajudar em nada.

– Olha Rony, eu...

– Vocês ficaram?

– É, mas...

– No quarto dela?

– Não põe a sua cabeça suja para trabalhar, ok? Não aconteceu nada demais.

– Certo. E eu sou a Miss Magia 2000 – replicou Rony com sarcasmo.

– Estou falando a verdade, Rony! Pensei que você quisesse que a gente ficasse junto?

– E eu quero. Mas não é para você ir se enfiando no quarto da minha irmã na primeira oportunidade!

– Eu não... – Harry respirou. – Vamos deixar as coisas bem claras, há dois dias atrás você só faltava jogar a Gina no meu colo, agora você acha ruim a gente ter ficado junto. É meio difícil agradar você, não é?

– Oh, eu tenho que ficar agradado com um marmanjo freqüentando o quarto da minha irmãzinha debaixo do mesmo teto que os meus pais?

– Eu não estou “freqüentando” o quarto da Gina, Rony! Leia os meus lábios: não aconteceu nada demais!

– Você quer que eu acredite que você entrou lá e vocês ficaram só de mãos dadas?

Com esta Harry perdeu a paciência.

– Claro. É o que a gente faz quando está com a garota que a gente gosta. Não é exatamente o que a você planeja fazer quando se acertar com a Hermione? Ficar de mãos dadas.

As orelhas de Rony arroxearam quase imediatamente e ele avançou para cima de Harry parecendo dobrar de tamanho.

– Vai me bater? – Desafiou Harry.

– Não – respondeu Rony – mas estou pensando seriamente em deixar essa história escapar na frente do Carlinhos. Ele é o trasgo de estimação da família, sabe?

Harry riu com sarcasmo.

– Vocês cinco deviam fazer terapia.

– Tera... o quê?

– Esquece. Só me diz o seguinte: você prefere a mim ou ao francês com Gina?

Rony fez uma careta.

– Você – ele fez uma careta. – Grr... Nenhuma das imagens me agrada, mas no seu caso... Eu não tenho o que fazer, não é? – Ele cruzou os braços e analisou Harry antes de perguntar. – Ela estava fingindo indiferença, não estava? Ainda é louca por você.

Um calor bom tomou conta do peito de Harry.

– Eu espero que sim, Rony – falou com um grande sorriso.

– Ahh que droga! Saia da minha frente, tampinha! A sua felicidade está me dando engulhos.

Ele empurrou Harry da sua frente parecendo ao mesmo tempo exasperado e contente e saiu do quarto em direção ao banheiro. Harry riu do amigo e o seguiu descendo as escadas logo atrás dele.

– E a Mione?

– O que tem ela?

– O que você vai fazer?

– Já disse que não vou fazer nada, Harry. Agora é com ela.

– Mas Rony...

O outro parou diante da porta do banheiro com a mão na maçaneta.

– Talvez ela não goste tanto de mim quanto eu gosto dela, Harry. Talvez o que a gente tenha não seja nada parecido com o que você e a Gina têm. Eu não posso forçá-la a sentir o que eu sinto. Só posso esperar.

Ele entrou no banheiro antes que Harry pudesse retrucar qualquer coisa e depois, eles não voltaram a conversar sobre o assunto. O resto do dia foi normal, mas, ao mesmo tempo, estranho. Rony tentava parecer bem para que a Sra. Weasley não acionasse seus instintos protetores, contudo não foi uma nem duas vezes que ele ficou com o olhar perdido e o fato de estar claramente sem apetite já era, em si, bem preocupante. Por outro lado, Harry passou o dia querendo falar com Gina, mas o mundo estava disposto a conspirar contra isso. Após o almoço, a Sra Weasley alegou que precisava dela para fazer umas compras no Beco Diagonal e pediu a Harry que ficasse de olho em Rony. Quando voltaram, já quase no fim da tarde, as duas estavam escoltadas pelos gêmeos que tinham vindo para o jantar. Para completar, Fred e Jorge resolveram tentar animar Rony, o que significou que Harry teve de ficar o tempo todo segurando o amigo para que ele não partisse para cima dos irmãos. Ao menos conseguiu enviar uma coruja para Bridget marcando um encontro. Seria melhor falar pessoalmente que não poderia haver nada entre os dois. Também enviou um bilhete para Hermione para saber como ela estava, mas a amiga ainda não respondera.

Depois do jantar, Gina subiu alegando que iria escrever umas cartas e Harry torceu que estas incluíssem uma nota para Luc no mesmo tom da que ele enviara para Bridget. Na altura em que os gêmeos se despediram, Rony já tinha voltado a se entocar no próprio quarto e o Sr. e a Sra. Weasley tinha resolvido aproveitar o fato de que o verão tornava os dias excepcionalmente longos para darem uma caminhada pela propriedade. Harry pensou seriamente em ir até o quarto de Gina, mas depois achou melhor não. A verdade é que não tinha bem certeza do que fazer. Não sabia o quanto Gina poderia estar brava por causa das fotos no Semanário das Bruxas. É claro que não era uma raiva justa, pois afinal até o fim da noite de sábado não havia nada entre os dois, mas Harry achava que as garotas nem sempre eram muito racionais com essas coisas. Ele nem mesmo sabia o que ela estava pensando sobre eles terem ficado, pois ainda precisavam conversar sobre isso. Céus, ele realmente gostaria de saber como agir. Talvez, se ele fosse seguro e confiante como o Gui, não houvesse nenhuma dúvida, ou se ele tivesse aquele jeito todo cavalheiresco do Luc pudesse ter certeza de qual atitude seria melhor recebida. Mas Harry estava bem longe disso.

Exasperado consigo mesmo, ele acabou aparatando no telhado da Toca. Talvez dali conseguisse pensar em qual seria a melhor atitude a tomar agora. Esperar que Gina viesse procurá-lo ou ir até ela sem saber o que esperar. E ainda havia Rony e Hermione. Harry realmente queria poder ajudar os dois. Mal dava conta de sua própria vida amorosa, mas não podia ficar indiferente à tristeza dos amigos. Por outro lado, também não se achava a melhor pessoa do mundo a dar conselhos para nenhum deles. Ficou tão absorto em tentar achar saídas para tudo aquilo que só percebeu que não estava mais sozinho quando alguém se apoiou no seu ombro e se sentou ao seu lado.

– E aí? – Perguntou Gina tirando rapidamente a mão que se apoiara nele e enlaçando as pernas com os braços.

Harry mal conseguiu conter a felicidade de vê-la ali. Ela tinha procurado por ele!

– Como me achou? – Tão logo perguntou se sentiu um imbecil. Isso importava? Ela tinha vindo atrás dele e ele queria saber como? Parece até que estava se escondendo quando na verdade tudo que ele queria era que ela estivesse exatamente ali.

– Desculpe se invadi seu “lugar secreto”.

– Não. Você não invadiu, eu apenas queria saber... Er... foi a Mione que te contou?

Gina olhou para ele de um jeito estranho, depois sorriu e voltou a mirar o horizonte.

– Oh – Harry ficou ainda mais sem graça ao se dar conta. – Foi você que contou para a Mione que este era... o meu lugar secreto.

Ela confirmou com a cabeça.

– Desculpe. Sei que não devia, mas naquele dia em que você e o Rony brigaram me pareceu ser a melhor coisa a fazer.

– Você não precisa se desculpar, Gina. Foi bom você ter contado, eu... – Harry olhava para ela hipnotizado. – Como você sabia?

Ela sorriu e deu de ombros, como se não fosse importante, depois mudou de assunto.

– Mamãe passou a tarde me lançando indiretas.

– É – ele assentiu passando a mão pelo cabelo. – Eu achei que ela tinha ficado desconfiada. E seu pai também. Ela falou alguma coisa contra?

– Contra você? A mamãe? Seria mais fácil ela adotar uma manticora. Ainda assim tive de ouvir um enorme sermão sobre honestidade, sobre não brincar com os sentimentos dos outros e trair a confiança de quem gosta da gente. Você sabe. Todo o desfile da sabedoria politicamente correta da Sra. Weasley.

Harry brincou com o cadarço do tênis.

– E você não concorda com ela?

– Nossa, que conceito você tem de mim, hein? Acha que vou ficar saindo com dois caras ao mesmo tempo?

– Eu não disse isso.

– O que aconteceu ontem não foi um plano meu, ok? Só aconteceu. Eu não teria...

– Gina – chamou interrompendo-a – eu não estou dizendo nada disso. Fui eu quem te agarrou, lembra?

– Oh, e eu disse que não várias vezes – ela retrucou sarcástica.

Os dois ficaram em silêncio por alguns instantes e depois começaram a rir. Ficaram rindo um longo tempo, mais de nervoso do que por achar aquilo tudo realmente engraçado.

– Pensei que tivesse acabado para você – ela disse finalmente.

– Eu também, mas...

– O quê?

– Quando eu voltei, após derrotar Voldemort, eu achei... – Gina franziu a testa olhando fixamente para ele. – Bem, você não deu nenhum mostra de que... De que a gente... Você sabe. Aí achei que, você também não queria mais nada comigo e me pareceu que era melhor assim.

– Você passou um ano inteiro me ignorando, Harry.

– Eu queria te proteger.

– E eu nunca questionei isso. Mas se você tivesse dado qualquer mostra de que tinha voltado para mim, eu certamente teria pulado nos seus braços. – Ela deu um suspiro exasperado. – Droga, Harry! Eu disse que não desistiria de você tão fácil. Qual parte disso você não ouviu?

Ele baixou a cabeça. Sentia-se o homem mais feliz do mundo ao ouvir aquilo, mas tinha que ser honesto com Gina.

– Escute Gina. Tem algumas coisas que aconteceram, coisas que eu não contei e eu quero que você saiba.

– Você derrotou Voldemort, não derrotou?

– Sim, eu derrotei, mas...

– Ele era o motivo por você não ficar comigo, não era?

– Era. Só que tem outras coisas que você não sabe.

– Tudo o que eu preciso saber é: você ainda me quer?

Harry ergueu os olhos até encontrar os dela.

– Tem alguma dúvida disso?

– Quer?

– Mais do que eu poderia dizer.

Se ainda havia alguma parte dele que teimasse em resistir, ela acabou de falecer no instante em que Gina sorriu.

– É só isso que eu preciso saber – ela murmurou antes de colar os lábios nos dele.

Foi como uma avalanche. Num instante ele estava ali, consciente do telhado, do vento, da luz do longo crepúsculo de verão, no outro estava sendo transpassado pelo universo inteiro. Harry circulou o rosto de Gina com as mãos e puxou-a para si aprofundando o beijo que, se era possível, parecia ainda melhor que os da noite anterior. Melhor do que qualquer outro. Melhor porque não seria o último. Ele tinha esquecido o quanto aquilo – estar com Gina – o fazia se sentir poderoso, invencível, vivo. Mergulhou a mão direita sob os cabelos dela e a puxou ainda mais para perto. Esqueceu de ter medo, de querer fazer tudo certo, de pensar em ter cuidado, de ser ele. Não tinha idéia de como o beijo de Gina conseguia fazer isso, mas tinha certeza de que era só o beijo dela que fazia isso. Quando ela espalmou as mãos no seu peito e o empurrou de leve se afastando, Harry não conseguiu conter um gemido de protesto.

– Isso seria bem melhor – ela deu uma risadinha nervosa – se os discursos da minha mãe não ficassem voltando a minha cabeça a todo o momento. Me desculpe.

– Não tem problema – ele afastou uma mecha de cabelo que havia caído sobre o rosto dela. – Eu entendo.

– Talvez seja melhor a gente terminar os nossos outros relacionamentos antes de começar este, não acha?

Harry deu um sorriso de lado.

– Eu vou repetir o que disse para sua mãe hoje pela manhã: eu não tenho nenhum relacionamento, além deste. Você sim.

– Hei! – Ela fuzilou-o com os olhos, indignada. – Isso me deixa numa situação bem confortável, não é mesmo?

– Eu não falei nenhuma mentira – Harry se defendeu. – Mas admito que quero que você termine com o “francês” o mais rápido possível. Aí você não ficará ouvindo os discursos da sua mãe na sua cabeça enquanto me beija.

– Ok – Gina ajeitou a camiseta e se afastou um pouco mais dele, aborrecida. – Você tem toda a razão. Vamos agir corretamente. Acho que podemos esperar até eu falar com o Luc. Até lá, eu não vou beijar ou tocar em você, certo? Boa noite, Harry.

E juntando a ação às palavras, Gina se ergueu para ir embora, mas Harry não deixou. Puxou-a para baixo e num movimento rápido a fez deitar sobre o telhado aprisionando-a com os braços.

– Eu acho que tem um jeito de você não se sentir culpada por estar comigo.

Ela estreitou os olhos, que brilhavam tanto que pareciam refletir as estrelas.

– É mesmo? E qual é?

– Não reaja, aí a culpa vai ser só minha – falou enquanto descia a cabeça em direção ao pescoço dela e passava a dar beijinhos.

– Isso é... muito cavalheiro da sua parte – Gina respondeu, sem fôlego.

– Eu sei. Eu jamais a comprometeria – disse prosseguindo um caminho ascendente em direção ao rosto dela com os lábios. E um caminho descendente com as mãos, que escorregaram até as pernas, cuja visão revelada pelos shorts o tinha tirado do prumo o dia todo.

– Eu... tenho certeza... disso – ela respondeu num soluço.

– Ótimo – pressionou o corpo contra o dela mantendo-a encarcerada sob ele. Gina mordia o lábio inferior quando Harry voltou a fitá-la. – Então, tudo o que tem a fazer é ficar quietinha.

– Não vou emitir um único som – ela garantiu, puxando o ar pela boca.

– Eu não disse isso – sussurrou antes de voltar a beijá-la mais uma vez.



xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx


N/B: Eu estou chique demais! Deixando N/B na fic de minha Anam!!! =D - Minha querida e talentosíssima colega Sally! Ler seus capítulos é um privilégio e um prazer! É muito bom viajar nas suas palavras que me fazem sentir estar ali, no meio da trama! Dentro das mentes e dos corações de nossos amados heróis! Apenas descrições primorosas em seus muitos detalhes tem esse efeito, e você, Anam, é mestra nelas!!! Que continue a ter todas as musas literárias por madrinhas, e os deuses das letras por guardiões! Beijo grande, amiga! Parabéns pelo capítulo! P.s.: Amei as cenas quentiiiisssss!!! P.s.2: Como assim “coisas importantes e perigosas que não contou para ninguém”? Ai...)


N/A: A música é Across the Universe, dos Beatles. Um clássico. Admito que desta vez a letra teve bem menos a ver com a escolha do que o ritmo, mas ainda assim acho que coube bem legal.

Desculpem a nota rápida, mas se não for assim, não posto hj.

Regina McGonagall: Valeu amiga.

Priscila Louredo: Ah ele vai dar jeito sim, aguarde e confie, rsrs. Beijão, amada.

BERNARDO CARDOSO SILVA: Que bom que gostou, Be. Mas pode dizer que está supimpa, rsrsrs, até fofo eu aceito, hihi. Beijão.

Drika Granger: Puxa, que delicia de comentário, Drika. Espero continuar correspondendo e quanto às músicas é só acessar o meu Multiply. O link está no fim desta página. Beijos.

Lica Martins: Linda!! Novo capítulo para vc e a Cacá se divertirem, hehe. Promessa cumprida. Tenho achado maravilhoso conversar com vc. Manda um beijão meu para a sua gatinha e para vc também.

#Belle Sarmanho#: Brigadão Belle. Pois é, ninguém sai de uma guerra sem marcas profundas, mesmo alguém tão inteligente quanto a Mione. Fico feliz que esteja curtindo também o Retorno, aquela fic é os meus den-dens. Ainda teremos mais jogo de xadrez, pode deixar (ainda mais depois desses elogios), mas, como disse o Rony, agora é com a Rainha, hehe. Um grande beijo.

Rafaela Porto: Hahaha... ok, não conto que já vivi rsrs. Sabe que tenho estudado os mecanismos da paixão para homens e mulheres? Essa fic está me saindo quase um tratado hahaha. Mas acho que ler bem apaixonada deve ter outro gosto, né Fá? Te adoro, querida.

Srtáh Míííhh: Valeu, Mi!! Pois é, a Bridget não é má, ela é só tonta. E o Luc... digamos que ele não entrega os pontos facilmente, hehe. Fico feliz que esteja gostando e já esperando a UA, tenho grandes planos para esta fic. Aguarde. Beijão!

Tatiane Evans: Brigadão, Tati. Que bom que está gostando também do Retorno e fico feliz que R/H tenha te laçado, hehe. Mas, nos dois casos, acho que você já intuiu a máxima dessa fic. Amor mal resolvido só aumenta. Meu tempo de ler anda bem escasso (para não dizer nulo), mas assim que eu puder passo na sua fic, ok? Beijão querida e muito obrigada por comentar.

Maria Lucinda Carvalho de Oliveira: Pode deixar! E obrigada. Beijos!

Luisa Lima: Hahahaha! Vertigem só de ler? Uauuuuu!! Adorei! Obrigada, obrigada, obrigada, querida. Eu fico tão feliz em ler seus comentários, fico sempre me sentindo, rsrs. Mas muito mais do que isso, eu fico pensando que realmente encontrei o caminho do que eu quero fazer. Só posso é te agradecer de novo e de novo. Beijão!

LiLi Negrão ( Liz): Menina!! Vc ainda lembra das frases do filme!!! Ahh, mas ele não é maravilhoso? O filme e o Bowie, claro, hehe. Confesso que me inspirei direto na cena do Baile de máscaras dentro da bolha de sabão. Sonhei anos com aquele vestido, hehe. Quanto ao harry, acho que não concordo com vc, hehe, ele me pareceu bem espertinho agora. E sobre o Rony... Céus, a fila já está dobrando a esquina, hahaha. Beijo grandão querida!

Iris Potter: Que lindo Íris!!! Você descreveu com perfeição. Nada como amar, não é? Adorei vc dizer “nossa” história. É mesmo. Eu adoro partilhá-la com vcs. Beijão querida!

Sônia Sag: Ahh Anam, brigadão, por tudo. Pela força, pela segurança, pelo amparo e carinho. Estou sentindo uma tremenda falta de vc. A frase foi sobre a sua sugestão, claro, e fico muito feliz que vc tenha gostado. Quanto ao calor, bem estou com a mão no termostato e subindo devagarinho hihihi. Beijos enormes.

andressa domingues: Que bom que vale a pena Andressa. Acredite, eu preferia ser bem mais constante, uma pena que a vida real não me acompanha. Espero que curta esse tb. Beijão.

Pamela Black: Brigadão, amiga!! Ahh no fim, vc veio e a gente não pode se ver. O que achou da minha terra? Espero que tenha curtido, mas deve ter pegado um monte de chuva, não é? Espero que este capítulo traga colorido tb (adorei aquela frase hehe). Beijo grande!

Lili Coutinho: Errar é humano e nossos heróis são beeeem humanos hahaha. Que bom que gostou. Beijão.

Gina W.Potter: Vc sabe que eu concordo, não é? Só com os dois juntos é que tem graça, hehe. Deu para suspirar mais um pouquinho? Rsrs Beijão!

Charlotte Ravenclaw: Quem agradece sou eu querida. O apoio e a amizade. Obrigada por TUDO!! Bjão!

Dibiela: Valeu querida!

Tonks Butterfly: Eu tb acho que era o melhor para a Mione fazer, mas acho que o medo dela está justamente na intensidade da cura hihi. Obrigada pelos elogios, Tonks, espero que tenha curtido esse tb. Um beijo enorme.

Hannah Burnett: Quem entende cabeças apaixonadas? Hihi. Beijos.

Mimi Potter: O pior é que inicialmente era para ser uma comédia, rsrs. Mas acabou nisso. Obrigada pela leitura. Bj.

Patricia Ribeiro: Aqui está o capítulo novo e espero que vc continue curtindo (acho que neste não teve choro, não é?). Bjus,

MarciaM: Pedido atendido, huahuahuahua! Brigadão querida.

Sô: Não foi tão rápido, mas aqui está. Espero que goste desse tb Sô.

Eleonora: Teve que ser esta primeiro, Eleonora. O Retorno exige bem mais e o meu tempo só deu para a Just. Mas espero que vc tb tenha gostado desse. Bjs.

Morgana Black: Obrigada, obrigada, obrigada, Morg. Adorei vc dizer que sou uma das poucas autoras que te faz ler um romance, ainda mais H/G. Neste capítulo... bem, eu sei que vc não curte Bestles, mas achei o ritmo deste capítulo nessa música. Espero que goste. Um beijo enorme.

Gianna: =D Adoro quando alguém grita antes de comentar, hehe. Obrigada, querida. Beijão!

*♥*Naty L. Potter*♥*: Obrigada, obrigada, obrigada!!! Querida, pode deixar que assim que der apareço na sua fic. Promessa! Bjs.

Amanda Regina Magatti: Bem, depois daquele beijo no Salão Comunal, vc achava que ele não era de tomar atitude, rsrsrs. Claro que não. Harry rules, hehe. Beijos querida.

MiLiNhA pOtTer: Eu sei que parei, hahaha (risada maléfica), mas vamos devagar e sempre hehe. Beijão!

gabizinha: Obrigada de coração querida. Ler isso é a maior recompensa para quem escreve. Muito obrigada, denovo. Bjs.

Suzana Barrocas: Espero que o seu PC se recupere logo, porque adoro os seus comentários gigantescos =D Fico feliz que tenha gostado deste capítulo. Beijos.

Adriana Roland: Brigadão, querida!

Grazy DSM: Sumidaaaaa!!! Essa sua faculdade é boba, feia e má por não deixar vc aparecer mais vezes (humpf). Ok, a minha tb é. Saudades, querida!

Paty Black: Manaaaaaaaa!!!! Cadê a Separados???? Para de me torturar, pleaseee. Que bom que vc gostou deste. Beijos!

jkrowling_fan: Puxa, fiquei muito lisonjeada com o seu comentário. Muito obrigada mesmo. Beijos e espero que tenha gostado deste capítulo tb.


Beijos estalados
Sally


Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.