MAR DE DÚVIDAS



Eu não sei se serei capaz de colocar em palavras. É realmente difícil expressar tantos sentimentos ao mesmo tempo. O pior disso tudo são as fases. Porque no começo você tem a fase, que na minha opinião, é a mais saudável mentalmente. Sinceramente, você não tem que fazer nada a não ser sentir raiva! Sentir muita raiva! Não precisa necessariamente pensar sobre o que você está sentido, você simplesmente sente e isso faz muito bem. E foi isso que eu fiz! Eu senti muita raiva de Potter. Eu lembro que quando cheguei na sala comunal naquele dia, eu só faltava ter realmente um troço. A Agatha me fez respirar continua e pausadamente.


A segunda fase continua a ser muito interessante. É nela que você está com imaginação suficiente para bolar mil e um planos de vingança. Normalmente ninguém pensa em dar o troco do mesmo jeito, costumam tentar deixar o tormento ainda maior. E foram planos desses tipos que eu tentei fazer. Potter tinha que ter um segredo, todo mundo tem, eu teria que descobrir o segredo dele...


Mas como toda fase passa, aquela brilhante fase, também passou, e eu entrei numa fase, que eu odeio admitir, é muito mais realizável, porém muito branda. É a fase do 'Eu não acredito que isso aconteceu comigo!', 'Porque logo eu?', 'O que eu fiz para merecer tamanho fardo?' .


Finalmente vem a fase da aceitação. Você acaba até acreditando em destino, porque é tão mais fácil pensar que o que aconteceu tinha que acontecer, e não podia ter sido de outro jeito. Isso me satisfez.


Mas o que eu não consegui perceber é que conforme foram passando as fases a minha raiva foi abrandando. E esse foi o meu grande erro, porque se eu não tivesse deixado isso acontecer, hoje, eu não estaria nessa situação.


A última, e mais terrível fase são a da dúvida. Você nunca consegue terminar um pensamento. Tudo vive na base do 'Porque...?', 'Será que...?', 'Talvez...'. E ao mesmo tempo em que você vive num mar de pontos de interrogação, você se culpa imensamente por ter cogitado idéias benevolentes, quando o sujeito realmente não merece.


Então, depois de todo esse misto de sentimentos, você fica tentando achar as respostas para as suas dúvidas, ou volta desde o começo, negando a todas. E é assim que eu me sinto. Não sei que caminho tomar...


Para tudo isso não ficar mais confuso do que já está, ai vai o que aconteceu a quatro dias atrás, terça-feira.


Eu sempre achei que terça era melhor que segunda, mas de agora em diante eu mudo a minha opinião. Terça feira é o pior dia da semana. Eu acordei de bom humor por tudo ter dado certo para a Agatha e Remo, desci animada para tomar café, animação que durou durante quase todo o meu dia. Apenas no final da tarde a conjuntura mudou.


Remo veio me avisar que terça era o primeiro dia da detenção do Potter e do Black, eu lembrei a ele que os dois também teriam que ficar em detenção no sábado, em decorrência do episódio do Snape. Aliás, eles devem estar a cumprindo nesse momento. Isso explica a ausência do Potter no salão comunal.


De qualquer forma, eu e Remo apenas teríamos que deixa-los na sala de troféus, porque pela décima vez, eles teriam que poli-los. Agatha, no entanto, me pediu gentilmente para que eu os levasse até lá sozinha. Até agora eu não entendo o sentido disso, eles mais do que ninguém conhecem o caminho para aquela sala. Suponho que seja para garantir que eles chegariam mesmo até lá, e não ficariam admirando o céu pelo meio do caminho.


Quando chegamos lá é que as coisas ficaram muito estranhas. Black começou a tentar achar qualquer tipo de desculpa para sair da sala.


"Lily, eu acho que bati o meu braço em uma estátua quando estávamos caminhando. Acho que vou na ala hospitalar...". Ele disse já saindo.


Eu achei aquilo tudo muito estranho, mas não pude deixar de me preocupar, porque afinal, eu realmente achei que ele estivesse falando sério.


"Deixa eu ver, talvez eu possa ajudar".


"Não se preocupe. Tenho certeza que não levará mais do que dois segundos para a enfermeira resolver".


"Mas Black". Ele, que eu presumo que já estivesse no corredor, apenas berrou um "O que?" em resposta.


"Não se esqueça da detenção!".


"Claro que não vou me esquecer!". Mais um berro, e um eco.


Eu me voltei para Potter, que me olhava com um interesse aterrorizante. Andei até o outro lado da sala, porque para ele poder me alcançar, no mínimo teria que dar três passos. Tempo o suficiente para, em caso de qualquer problema, eu sacar a minha varinha.


"As instruções que me foram passadas é que você e Black vão dividir os troféus do lado esquerdo da sala, e...O que você está fazendo, Potter?". Tiago caminhava em minha direção, porém de uma forma um tanto quanto apreensiva demais. E foi isso que me assustou. Ele deu de ombros e disse: "Andando?".


"Po...Pode ficar parado. Você não consegue ouvir parado?"


"E quem disse que eu quero ouvir?". Agora definitivamente ele estava me assustando. Voltou a caminhar, mas dessa vez muito mais decidido. Eu logo pensei, ainda falta um passo, isso quer dizer, pegue a sua varinha Lílian Evans!!! Mas quem disse que eu fui capaz de realizar esse movimento absolutamente simples, que teria evitado tantos transtornos?


"Potter você precisa...". Eu nunca cheguei a terminar aquela frase. Eu nem me lembro mais o que iria dizer. Só sei que tudo fora tão rápido que em um instante eu estava falando, em outro beijando Tiago Potter! Eu parecia ter esquecido o que era pensar. Sinceramente, hoje analisando de fora, eu diria a mim mesma usando um dos tons mais bravos da minha mãe, daqueles que ela só usa com Petúnia: 'Lilian Evans o que você pensa que está fazendo?!'. Só sei que se alguém me perguntasse isso naquela hora, eu realmente não saberia o que responder, porque aparentemente a minha mente achava mais interessante um grande vazio do que 'Potter, o que você está fazendo?'. Sinceramente, eu teria me contentado com menos, apenas um empurrão seria o suficiente. Mas eu não fiz nada disso, e se não bastasse eu fiz o que não deveria. Realmente eu estou perdida.


Quando finalmente ele me soltou eu ainda levei alguns segundos para entender tudo o que tinha acontecido. Ele me olhava de um jeito estranho, mas eu quando decidi olhar para ele, fiz questão de ser muito clara! Acho que nunca olhei tão brava para uma pessoa do que quando olhei para Tiago. Ele percebeu, é claro, mas só agiu quando eu já estava saindo da sala. Pisava fundo, e só não berrava porque a minha voz ainda não tinha voltado. Só sei que já estava quase fora da sala dos troféus quando Potter me segurou pela mão e disse: "Olhe Lily, desculpe eu...". Mas eu o interrompi, e disse ainda rouca "Desculpe?". Ele aparentemente não sabia o que responder, porque passou a mão nervosamente em seus cabelos. Eu revirei os olhos e finalmente consegui me ver livre daquele tormento.


Nunca caminhei tão rápido até o salão comunal como naquele dia. Pelo menos os meus pés pareciam ter consciência do que eu tinha acabado de fazer. E era com se um filme insuportavelmente insistente continuasse a passar na minha mente. Só que dessa vez, para o meu terror, em câmera lenta. Eu via Potter caminhando, e de repente me envolvendo. Eu sinceramente tinha vontade de chorar, não de tristeza ou qualquer coisa parecida, mas de raiva.


Cheguei ainda atormentada no salão comunal, e como se tivesse a uma distância incrível, eu ouvia Agatha me chamar e fazer perguntas. Eu me arrependo agora de ter sido tão insensível, mas eu simplesmente a deixei falando sozinha e subi para o dormitório para tentar dormir e acordar no dia seguinte com a certeza que tudo não se tratava de mais um terrível sonho com Tiago Potter.


Entretanto quando eu acordei no dia seguinte, me deparei com o abominável fato que aquilo tudo havia mesmo acontecido. Eu deitei novamente na cama, me sentindo completamente derrotada. Eu lembro de ter pensado muito amargamente, agora Potter já tem o que tanto queria.


Nos dias que se seguiram, parecia que pelo menos um dos meus desejos tinha sido concedido. Potter não veio falar comigo. Nem uma única vez. Obviamente eu notei os olhares curiosos dele. Devia estar se sentindo muito satisfeito.


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Eu disse alguma coisa como mar de dúvidas há vinte minutos atrás? Eu não tinha noção do que era um mar de dúvidas. Tão logo eu mencionei que Tiago não veio falar comigo, quem subitamente eu vejo parado na minha frente? Ele estava calmamente com os braços cruzados me olhando como se EU quem tivesse feito a besteira toda.


"Até quando você vai ficar fingido que eu não existo?". Eu o olhava incerta se realmente deveria responder.


"Você não estava em detenção?". Eu desviei rapidamente, e como se ele realmente não estivesse lá abri qualquer um dos meus livros. Ele pareceu ficar ainda mais bravo com essa minha reação. Sentou a minha frente, como quando me convidou para ir à Hogsmead. Pensando nisso, ele podia realmente ir esquecendo Hogsmead!


"Lily, me escute". Ele disse isso bem mais doce do que há dois segundos atrás. Como se quisessem me convencer de que o escutar era uma ótima coisa a se fazer. E eu bestamente não respondi nada. Isso deve tê-lo feito achar que ele realmente deveria continuar.


"Olha naquele dia..."


"Você já tinha tudo planejado". Eu o interrompi, e agora eu parecia decidida a dizer tudo o que havia me passado pela cabeça.


"Não exatamente planejado". Ele respondeu nervoso com a perspectiva de eu começar a falar. "Eu só havia mencionado à Sirius..."


"Mencionado o que?".


"Algumas coisas. Mas Sirius realmente leva muitas coisas em consideração".


"Eu posso estar louca, mas não foi o Sirius quem me beijou".


"Não". Por um momento eu achei que ele estava sem palavras, mas logo depois ele começou a falar rapidamente. "Olha Lily, eu realmente não me controlei, e segui em frente no meu suposto plano com o Sirius".


"Me sinto muito melhor em saber que aquilo tudo foi fruto de um descontrole".


"Lily..eu".


"Eu não acredito que passei as duas últimas semanas realmente cogitando a possibilidade de você ser um cara legal, que..."


"Eu sou um cara legal!". Ele aparentemente se arrependeu de ter me interrompido quando eu o olhei furiosa.


"Eu estava cumprindo a minha função de monitora chefe lindamente, quando sem explicação Black reclama de dor no braço. Eu não acredito que fiquei realmente preocupada! Mas eu não esperava que quando me virasse, e fosse lhe passar as orientações, eu fosse surpreendida com.."


"...com um beijo?"


"É". Eu respondi muito contraria por ele ter completado o meu pensamento.


"Você me beijou de repente, eu nem tive chance de..."


"De o que? O que você teria feito?"


"Qualquer coisa!"


"Bem...". Ele começou muito calmamente. "Eu posso estar louco.". Ele disse me imitando, e apesar da minha clara cara de desgosto ele continuou. "Mas você correspondeu." Completou muito marotamente, me olhando de lado e passado a mão na parte de trás do cabelo.


Eu abri a minha boca, muito revoltada. Milhares de insultos explodiram na minha cabeça. Mas eu queria o pior deles. Na minha indecisão de qual era eu acabei não dizendo nada. Potter simplesmente disse uma das piores coisas que eu era capaz de ouvir. Simplesmente por ser uma terrível verdade!


Vendo que o meu humor parecia piorar gradativamente depois do que ele dissera, ele deve ter achado que para sua saúde física e mental era melhor se retirar. Mas eu ainda continuei nervosamente o mirando, e quando ele percebeu, que por alguma razão estúpida, eu não conseguia para de o olhar, ele sorriu. Isso me irritou tanto que eu disse a mim mesma que precisava do meu diário imediatamente.

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