ACERTO DE CONTAS



Não sei como eu consegui dormir depois de um dia como aquele. Agatha me contou o assunto da conversa, e eu quase matei Tiago Potter e cia, inclusive o Remo. Mas nada poderia ter sido pior do que a reação dele a essa minha tentativa de assassinato. Eu nunca esperava aquilo, talvez isso tenha me feito ficar calada, ou o fato da minha mente ter se esquecido do que era pensar. Nunca em toda a minha vida, até em meus sonhos mais terríveis, imaginei isso. Nunca me preparei para uma situação dessa. De certa forma é covardia me expor a uma 'nova situação' sem dar uma mísera dica do que iria acontecer. Ainda nem contei à Agatha.


Eu estava sentada na minha poltrona favorita quando Agatha chegou na sala comunal com uma cara de absoluta tristeza. Ela mal conseguia falar. Só fazia 'não' com a cabeça. Depois de algum tempo ela conseguiu fazer alguns movimentos com a mão e finalmente disse: "Eles são cruéis, Lily.".


Eu realmente levei muito tempo para me pronunciar. Estava me decidindo se perguntava o que tinha acontecido, ou tentava consolar Agatha de uma coisa que eu nem sabia o que era. Quando eu finalmente tinha planejado alguma coisa para dizer, Black, Potter e Pettingrew passaram pelo quadro da mulher gorda. Agora eu não sabia se perguntava à Agatha o que tinha acontecido, a consolava ou ralhava com eles por ter deixado a minha amiga naquele estado. Decidi por lançar a Potter o pior olhar que consegui fazer naquele momento e encaminhei Agatha para o dormitório.


Ela sentou na beirada de sua cama e eu na beirada da minha, que ela em frente à dela. Fiquei a olhando com uma cara de dúvida misturada com compaixão.


"Agatha, o que está errado? O que eles lhe fizeram?". Eu perguntei ainda incerta se devia mesmo falar.


"Eu não pensei que fosse tão óbvia, mas daí a eles se aproveitarem disso". Eu sinceramente não vi nenhum sentido naquela frase.


"Agatha...".


"Lily...". Ela me interrompeu. "Sabe o que eles me disseram?". Nessa hora ela imprimiu um tom ácido à sua voz. "Eles me disseram...". Ela vacilou. "... que o Lupin". E ela realmente falou o nome dele com desprezo. "Remo Lupin gosta de mim".


Eu não estava entendendo mais nada daquele estado de Agatha. Não era para ela estar feliz, radiante? Até cheguei a me arrepender do olhar irado que lancei ao Potter.


"Agatha. E porque você está assim, então?".


Ela arregalou os olhos, como se o fato de eu não ter entendido fosse o cúmulo.


"Lily, Remo Lupin! Você não vê? Os marotos queriam mais uma para a sua lista de trouxas!".


"Então você não acredita no que eles disseram?". Eu perguntei surpresa.


"Nos marotos? Acreditar nos marotos?". Ela realmente parecia bem brava. Levantou-se e se pôs a andar de um lado a outro do dormitório, praticamente gritado palavras de ódio. "Estúpidos idiotas!", "Eu nunca esperei isso do Remo também, Lily.", "Eu não caio na deles. Eles vão ter que melhorar muito para me enganar".


"Agatha...". Eu a tirei de seu acesso. "E se eles estivessem falando a verdade? Assim, só pra variar."


"É claro que eles não estavam falando a verdade. Provavelmente devem ter percebido que eu gostava do amiguinho deles e resolveram enganar a idiota aqui."


"Mas..."


"Lily, nunca vi o Remo ter problema de falar nada para ninguém. Se ele quisesse me dizer alguma coisa, ele me diria sem problemas. Isso é coisa dos marotos. Você viu como eles estavam tramando no café."


"Mas o Remo não parece disso".


"Isso mostra o quão pouco nós conhecemos qualquer pessoa".


"Eu nem sei o que dizer".


"Eu vou dormir e esquecer que esse dia existiu".


Ela foi ao banheiro, e quando entrou fechou a porta com muita força mesmo. Eu fiquei no quarto mais alguns minutos tentando absorver todas aquelas informações. Pensando pelo ponto de vista da Agatha, eles realmente tinham sido muito cruéis. Mas eu relutava em acreditar que o Lupin pudesse ter feito parte disso tudo. E foi com esse pensamento que eu desci decidida a sala comunal.


Os quatro marotos estavam sentados nas quatro poltronas no centro do salão. Nenhum deles falava. Tenho que confessar que por um momento pensei que estivessem decepcionados.


"Lupin". Remo estava sentado na poltrona mais próxima a lareira, e assim que eu o chamei ele me olhou. "Posso falar com você?". Procurava não olhar para nenhum outro maroto. Nunca soube a cara de Tiago Potter a essa minha pergunta.


"Claro Lily". Ele se levantou e me seguiu até uma distância segura para que não fossemos ouvidos.


"Porque você fez isso com Agatha?". Eu parti do princípio que aquilo tudo era mesmo brincadeira, mas no fundo esperava uma resposta do tipo: "Fiz o que?". Porém a que eu obtive foi um pouco diferente.


"Olha Lily isso foi idéia dos garotos, e eu..."


"Eu não acredito no que estou ouvindo."


"Eu sinto muito se..."


"Você está me dizendo que... Eu não acredito que...". Depois disso só havia uma coisa na qual eu conseguia pensar. "Tiago Potter! Quero falar com você!". Eu disse isso ainda olhando para Remo, depois me virei e encarei um Tiago, que aparentemente havia pulado de susto.


"Lily?". Ele disse.


"Vamos!". Eu me aproximei dele, e praticamente o puxando fiz com que ele saísse da sala comunal junto comigo.


"Lily, se Filch nos pegar uma hora dessas andando pelo castelo...".


"Ah, para com isso. Você nunca se importou. Mais uma detenção menos uma".


"Sim, mas lembre-se que eu tenho cinco detenções para cumprir ainda".


"Veja pelo lado positivo. Eu vou lhe fazer companhia em uma delas. Eu estou perdida. Monitora chefe levando detenção". Mas eu realmente não me importava se iria ser pega ou não andando pelo castelo. Eu só estava horrivelmente brava pelos marotos terem aprontado com Agatha daquela maneira. Eles podiam ser populares, engraçados, inteligentes, mas não tinham o direito de fazer isso com ninguém. Ainda andando pelos corredores do castelo eu comecei a falar. "Quando vocês acharam que tinham o direito de fazer isso com Agatha? Ela nunca fez nada para vocês. E se você quer saber, até defendia".


"Do que você está falando? O que fizemos com Agatha? Nós só falamos...".


"Pode para. Eu falei com o Remo, e ele disse que a idéia foi de vocês."


"Foi. Mas se você quer saber, foi Agatha quem fez algo para Remo!". E agora ele parecia tão furioso quanto eu.


"Como você se atreve...". Eu comecei, mas ele me interrompeu.


"Como VOCÊ se atreve?". Eu fiquei tão assustada com aquela reação, que por alguma razão me calei. "Nós só estávamos querendo ajudar. Falamos com Agatha do melhor jeito possível, e sem explicação ela sai correndo dizendo que nós éramos as piores pessoas do universo. Quer dizer, eu não entendo que fizemos de errado. E agora você vem me dizer que o nós fizemos algo para Agatha? O Remo está arrasado, se você quer saber.".


Ele não esperou que eu respondesse e começou a caminhar quase correndo para o salão comunal. Eu ainda fiquei parada no meio do corredor encarando as frias paredes do castelo. Depois, me lembrando que a minha natureza pedia oxigênio, eu respirei profundamente. O que afinal havia acabado de acontecer?


Depois de alguns minutos eu comecei a juntar tudo. Agatha achava que o que os marotos tinham dito era mentira. Os marotos, no entanto, falavam sério. Por achar que era mentira Agatha saiu correndo furiosa. Os marotos, então, ficaram frustrados na sua vã tentativa de bancar o cupido, e o Lupin, que gosta de Agatha, ficou magoado, porque aparentemente a garota o rejeitou. Se só essa confusão já não fosse o bastante, eu deixei tudo muito mais caótico.


Ainda sem me importar com a possível detenção, comecei a caminhar pelos jardins. A noite era de lua nova, ou seja, não havia lua no céu. Eu simplesmente odeio céus sem lua, parece sempre faltar alguma coisa.


Quando desci para descobrir se afinal o que Agatha pensara era verdade, deparei-me com um Remo Lupin que ainda não estava exatamente bem articulado, e se não fosse só isso, ainda o interrompi diversas vezes. Eu definitivamente sou uma péssima pessoa!


Então, descarreguei toda a minha raiva no Potter, que evidentemente, estava frustrado pelo amigo. E assim como eu estava preocupada com Agatha, ele estava sentindo mesmo pelo Remo. E agora eu me pergunto: de que adianta todo esse nobre sentimento se no final tudo não podia estar mais fora de lugar?


Não levei uma detenção. Não apanhei um resfriado, apesar de a noite estava realmente fria. Em compensação, deixei o que já era ruim pior ainda. Agatha continua pensando que Lupin não gosta dela e que tudo se tratava de uma brincadeira de mau gosto dos marotos. Lupin, por sua vez, acha que Agatha não gosta dele. Potter, que já não estava em seus melhores dias por seu plano não ter funcionado, agora parecia me odiar!


É tão estranho pensar que por um segundo eu realmente me senti mal por pensar que Potter me odiava. Eu me desculpei com ele depois que voltei para o salão comunal e percebi que tudo não passava de um terrível mal entendido. Eu me desculpei, apesar de ter prometido que nunca mais iria fazer isso.


Quando me senti capaz de voltar para a Grifinória, os quatro ainda se encontravam no salão comunal. Além deles, apenas um ou dois quintanistas. Eu me aproximei vagarosamente da poltrona de Potter, não queria chamar atenção, e quase sussurrando disse. "Desculpe".


Ele se virou assustado para mim. Não tenho certeza se ele já havia me notado.


"Lily, o que você disse?". E agora todos os marotos observavam a discussão.


"Eu pedi desculpas por ter gritado com você".


"Por ter gritado comigo? Então eu também lhe peço desculpas por ter gritado com você, Lily". Ironia? Aquele não era Tiago Potter.


"Você sabe o que eu quero dizer".


"Não, não sei".


Eu suspirei. Porque ele tinha que deixar tudo tão mais difícil?


"Eu queria pedir desculpas para você, e para você também Remo...". Disse me virando para o garoto, que observava tudo muito atentamente. "... por ter te acusado de algo que você não fez".


Tiago sorriu intensamente, como fazia quando ganhava uma taça de Quadribol. Tenho que admitir que aquilo me assustou um pouco. Quer dizer, Tiago vivia sorrindo e rindo.

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